‘In caelestibus regnis’, de Pergolesi

De Giovanni Battista Pergolesi [1710-1736], compositor do barroco italiano que morreu neste dia 16 de Março com apenas 26 anos de idade, a antífona “In caelestibus regnis” (1731), interpretada pelo contratenor britânico Michael Chance, dirigido por Robert King durante a gravação do álbum Pergolesi: Stabat Mater; Salve Regina in A Minor que a orquestra The King’s Consort realizou em 1988 para a Hyperion Records.


‘The Sky Will Still Be There Tomorrow’, de Charles Lloyd

Completa hoje 87 anos e com as faculdades intactas Charles Lloyd, o lendário saxofonista oriundo de Memphis que na segunda metade da década de 50 se mudou para Los Angeles e se juntou a Ornette Coleman, Billy Higgins, Eric Dolphy e Bobby Hutcherson para actuar em clubes de jazz; Ou que na segunda metade da década de 60 liderou um quarteto que incluía Keith Jarrett e Jack DeJohnette e, no mesmo período, colaborou com Cannonball Adderley

Entre 1989 e 2012, Manfred Eicher produziu praticamente duas dezenas de álbuns de Lloyd para a ECM. Desde então, juntou-se à Blue Note, onde gavou uma dezena de trabalhos, o mais recente duplo LP ‘The Sky Will Still Be There Tomorrow’ de 2023 e lançado em 2024, para o que reuniu um quarteto onde teve a companhia do pianista Jason Moran, o baixista Larry Grenadier e o baterista Brian Blade. Fica a faixa homónima que dá o título ao álbum.


‘Voyager’s Return’, de Adolph Gottlieb

Durante a Segunda Guerra Mundial, o pintor do expressionismo abstracto americano Adolph Gottlieb [14 Março 1903 – 4 Março 1974] esteve em contacto com os surrealistas europeus exilados em Nova Iorque, o que o levou a criar a série Pictograph [1941–51], em que explorou a ligação entre passado e presente através de arquétipos da arte tribal. Fica a obra Voyager’s Return, de 1946, actualmente no Whitney Museum of American Art em Nova Iorque.


‘Ricercare’, de Vincenzo Capirola

De Vincenzo Capirola (1473? – 1548?) compositor da Renascença, autor da obra Compositione di messer Vincenzo Capirola gentil homo bresano, um livro de tablaturas para alaúde (Veneza, 1515- 1520), a composição Recercar II:XIII, com Paul O’Dette no alaúde.


Album Alla Venetiana – Early 16th Century Venetian Lute Music, Harmonia Mundi, 2005

Mês de Março – ‘Cultivo dos campos’

Iluminura extraída do Livro de Horas ‘Les très riches heures du duc de Berry’, obra-prima do século XV criada pelos irmãos Limbourg (Paul, Herman e Johan). Destinado aos fiéis católicos leigos, este extraordinário livro de orações é fonte de riquíssima iconografia sobre o quotidiano no final da Idade Média. Será em breve exibido no Musée Condé, no Château de Chantilly, destaca o Financial Times.

Folio 3 verso – Calendário para o mês de Março: Trabalhos no campo
Pintura iniciada entre 1411 e 1416 pelos irmãos Paul, Herman e Johan Limbourg (castelo de Lusignan) e concluída por Barthélemy d’Eyck por volta de 1445

©Photo. R.M.N. / R.-G. OjŽda


Superior – A carruagem do Sol cruza o céu entre as constelações de Peixes e Carneiro.
Centro – O castelo de Lusignan, localizado em Poitou, foi reconquistado e reabilitado pelo Duque de Berry durante a Guerra dos Cem Anos. A torre Poitevine, encabeçada por um dragão alado, evoca a lenda de Mélusine, por quem o duque nutria afecto. Segundo a fada Mélusine, que construiu o castelo para o seu esposo, o Conde Raymondin, fê-lo prometer que não tentaria vê-la ao sábado – neste dia, a parte inferior do seu corpo assume a forma de uma serpente, sinal de fertilidade. Porém, num sábado, o senhor do castelo surpreendeu Mélusine tomando banho e ela escapou pela janela do castelo sob a forma de um dragão.
Inferior – Abaixo do Castelo de Lusignan, um pelourinho assinala uma encruzilhada na intersecção de quatro campos trabalhados de diferentes maneiras. Os camponeses aproveitam a Primavera para arar, semear, podar as  vinhas e pastorear ovelhas. Esta composição serve de regra para a maioria das pinturas de calendário: os dois primeiros planos são reservados para a descrição das obras e particularidades do mês, enquanto ao fundo se destaca a silhueta de um dos castelos ducais.


Guillaume de Machaut [ca. 1300-1377] – Moteto Diex, Biauté, Douceur, Nature, Virelai 19 
Album: Machaut: A Lover’s Death · The Orlando Consort · ℗ 2025 Hyperion Records

‘La voz humana’, de Pedro Almodóvar

A peça ‘La Voix humaine’ do multi-facetado Jean Cocteau [1889-1963], foi escrita em 1929 para um único acto com uma única personagem feminina. Depois da primeira adaptação para cinema que Pedro Almodóvar realizou em 1988 com Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, a sua primeira curta-metragem em inglês de aproximadamente 30 minutos com Tilda Swinton (2020) é uma a experiência muito bem sucedida.


‘Bags Meets Wes!’

Na semana que antecedeu o Natal de 1961, o genial vibrafonista Milt Jackson [1923-1999] e o talentoso guitarrista de jazz Wes Montgomery [1923-1968], que nasceu neste dia 6 de Março, reuniram em Nova Iorque um quinteto de estrelas que incluía o pianista Wynton Kelly [1931-1971], o contabaixista Sam Jones [1924-1981] e o baterista Philly Joe Jones [1923-1985], para gravar o álbum Bags Meets Wes!, que seria lançado pela Riverside no ano seguinte.
Fica a composição hard-swing “Jingles” de Montgomery


Kalorama’25, Lisboa

Pela primeira vez no Kalorama’24, tive oportunidade de assistir a concertos inesquecíveis, mas que pouco  contribuiram para a descarbonizaçãoMassive Attack e LCD Soundsystem.
Como recompensa, fui surpreendido com espectáculos sensacionais de artistas que não conhecia ou nunca tinha visto, como a DJ coreana Peggy Gou, a encantadora Olivia Dean, por bandas calorosas como o quinteto de jazz Ezra Collective ou os argentinos Bandalos Chinos, pelo som do frenético nigeriano Burna Boy que incendiou o Vale de Chelas, ou por impressionantes vozes como a da britânica Raye (que brilhou no medley de James Bond na cerimónia dos óscares) e das norte-americanas hardcore Beth Ditto dos Gossip ou Alison Mosshart dos The Kills, e ainda a da jovem londrina Fabiana Palladino (filha do mítico “Pino”); por fim, dois grandíssimos concertos, Jungle e Death Cab For Cutie do notável Ben Gibbard.
Abanou-se muito a carola, nos três últimos dias d’ Agosto…


A edição de 2025 inaugura o Verão. Entre 19 e 21 de Junho, vamos ter no Parque da Bela Vista malta nobinha como os britânicos Pet Shop Boys, FKA Twigs, Damiano David, Jorja Smith, Father John Misty, The Flaming Lips playing ‘Yoshimi Battles The Pink Robots’, L’Impératrice, Róisín Murphy, Scissor Sisters, Boy Harsher, Branko, Best Youth, jasmine.4t,  Kelly Lee Owens, Model/Actriz… (em actualização).

Esporadicamente, serão inseridos videoclipes das bandas anunciadas; também em construção está uma Playlist no Spotify.


Papa Filmes

A uma pessoa beata é comum chamar de papa-hóstias; no meu caso, aplica-se mais a expressão papa filmes, no sentido cinéfilo. Como isto anda tudo ligado, a propósito das nomeações de Conclave lembrei-me, primeiro, do momento delicado do Papa Francisco e do filme de Fernando Meirelles – Dois Papas (2019), sobre uma hipótese de relação entre Bento XVI (Anthony Hopkins) e o futuro Papa Francisco (Jonathan Pryce). Depois, de um filme de Nanni Moretti, Temos Papa (2011), este com um tema mais próximo de Conclave. Anteriormente, de Marco Bellocchio tivemos Kidnapped: The Abduction of Edgardo Mortara, que por cá passou apenas com o título O Rapto, um filme de revolver as entranhas…


Voltando à noite dos óscares, Conclave, com sete nomeações, não venceu nenhuma das principais: melhor filme, actor principal (Ralph Fiennes) ou actriz secundária (Isabella Rossellini); Venceu na categoria de Argumento Adaptado mas talvez não desmerecesse na de Melhor Guarda-Roupa e de Melhor Design de Produção.
Com a ressalva de não ter ainda visto O Brutalista, a banda-sonora de Daniel Blumberg parece consistente mas a estatueta ajustava-se melhor a Volker Bertelmann, para Conclave. Mas que sei eu?


Finalmente, é com agrado que partilho com o Papa Francisco o gosto em matéria de filmes preferidos: “A festa de Babette” (1987), de Gabriel Axel.

‘Mackie Messer’ (Mack The Knife), por Schiller

Nos 125 anos sobre o nascimento do compositor de origem alemã Kurt Weill [1900-1950], o standard Mackie Messer (Mack The Knife), produzido em 1928 para a Ópera dos Três Vinténs (Die Dreigroschenoper) de Bertolt Brecht, que chegou a ser cantarolado pelo próprio dramaturgo, tem sido interpretado por músicos tão distintos como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald ou, mais recentemente, pela elegantíssima soprano Ute Lemper.


Em 2021, o compositor e produtor musical alemão Christopher von Deylen (conhecido com o nome artístico Schiller) apresentou no Festival Kurt Weill em Dessau, Alemanha Central, uma versão eletrónica desta peça.