CONFERÊNCIA DE IMPRENSA – APRESENTAÇÃO
4 Dezembro 2013 – Casa da Imprensa
MAIS DE UM SÉCULO DE HISTÓRIA
Passado mais de um século e inúmeras obras de remodelação, três designações diferentes e alguns dos melhores momentos da história do cinema, o antigo Salão Ideal, nascido em 1904, é hoje a mais antiga sala de cinema de Lisboa ainda em actividade.
Em 1904, João Freire Correia, fotógrafo de renome e que viria a fundar em 1909 a famosa Portugália Filmes, associa-se a D. Nuno de Almada para adquirir um recinto abandonado na Rua do Loreto. Nesse mesmo ano, deslocam-se a Paris – onde tinham sede a Léon Gaumont e a Pathé Frères – para adquirir as aparelhagens de projecção de que necessitavam.
Assim nasceu o Salão Ideal. O animatógrafo começou por passar inicialmente fitas mudas mas rapidamente passou, em 1908, com a nova gestão de Júlio Costa e João Almeida, a exibir fitas faladas, animadas por detrás da tela por quantos actores fossem necessários para interpretarem os diálogos e sons dos filmes. No elenco desses artistas estava o então bombeiro voluntário António Silva, que mais tarde se tornou num ícone do cinema português.
O novo animatógrafo falado causou tal espanto e curiosidade que o eléctrico que passava na rua se via obrigado a suspender a marcha devido à multidão que esperava para assistir às famosas fitas faladas. Júlio Costa era filho de um comerciante que depressa ficou conhecido por ter fundado a mais conhecida produtora e distribuidora do início do século XX, a Empresa Cinematográfica Ideal.
Em Novembro de 1925, os edifícios com os números 13 a 19 da Rua Loreto e 12 a 18 da Rua da Horta Sêca foram comprados, pela quantia de 230 contos, pela agora conhecida como Casa da Imprensa.
A Caixa de Previdência e o Sindicato dos Profissionais da Imprensa instalam-se na Rua do Loreto a 24 de Janeiro de 1926, e foi essa coabitação que deu origem ao nome de Casa da Imprensa.
A Caixa de Previdência ocupa a Sobre Loja, com serviços administrativos e posto médico, e o Sindicato o primeiro andar, continuando o animatógrafo Salão Ideal a funcionar.
O que era um barracão no início do século passaria, décadas mais tarde, a ser uma sala de cinema respeitada. De 1949 a 1956 o Cinema Ideal passou por inúmeras alterações todas da autoria do arquitecto João Simões que para o efeito estudou vários cinemas estrangeiros, como o Astra de Milão e o Waterloo em Londres.
Em 1978, seriam realizadas novas obras de remodelação no Cinema Ideal, que daí em diante passou a adoptar a designação Cine Camões.
No inícios dos anos 90 o Cine Camões conhece nova gestão e muda outra vez de nome, tornando-se o Cine Paraíso que pouco depois começa a programar filmes para adultos (pornografia) até à actualidade.
O cinema da Rua do Loreto é uma sala de referência para Lisboa, pela sua história e pela sua vivência, e é, como escreveu em 1978 o Dr. Manuel Félix Ribeiro, fundador da Cinemateca Portuguesa, “…não só o mais antigo cinema de Lisboa como o que, por mais longo período e ininterruptamente, tem continuado a trabalhar”.
É esta história e esta memória que agora iremos recuperar e devolver à cidade de Lisboa!
Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa 1896-1939, M. Félix Ribeiro, IPC/CN, 1978
Um novo cinema no coração de Lisboa
O projecto que agora apresentamos é o da renovação e recuperação da mais antiga sala de cinema da cidade de Lisboa.
Aberta em 1904 como Salão Ideal, ela conheceu depois durante décadas as designações de Cinema Ideal e, já nos anos 70, de Cine Camões e depois Cine Paraíso. E irá agora retomar a sua designação inicial.
É a única sala de cinema que sobreviveu no centro histórico da cidade e é um exemplar único de “cinema de bairro”, com Foyer, Plateia e Balcão.
O espaço do cinema foi agora ‘descascado até ao osso’ e vai ser completamente renovado e reequipado com projecção digital de imagem e som, novas cadeiras e novo écran. E um projecto da autoria do arquitecto José Neves.
É um projecto em que trabalhamos há alguns anos e que finalmente é possível concretizar, graças ao interesse e à colaboração da Casa da Imprensa, proprietária do edifício, sem a qual nada disto poderia acontecer.
Avançamos para este projecto com a firme convicção de que ele é absolutamente necessário para a cidade de Lisboa e para todos os que gostam de cinema.
Queremos, antes de mais, um cinema para mostrar cinema português, cinema europeu e em geral todos os grandes filmes de todos os países e de todos os tempos.
Um cinema que recupere o gosto pela cinefilia, o gosto de ver filmes numa sala de cinema, com a melhor qualidade de projecção de imagem e som e conforto.
Um cinema virado para a cidade e a comunidade, que funcione em articulação com a Junta de Freguesia, as escolas e todas as instituições e organizações culturais e recreativas da sua área, sabendo inserir-se numa zona da cidade que conhece uma grande renovação e animação urbana.
Um cinema que, em articulação com um segundo espaço, de animação e de convívio – o Salão Ideal, no piso do mesmo edifício e que lhe é imediatamente superior -, funcione com uma Cafetaria, Livraria e Biblioteca de Cinema e DVDteca, onde regularmente tenham lugares debates, workshops, outras projecções e concertos e tudo o mais.
Iniciativa da Midas, este projecto terá como responsável da Programação e da Animação, uma Associação Cultural Cinema Ideal, que reúne uma dúzia de pessoas da área do cinema, entre produtores, realizadores e actores, e será acompanhado por um Conselho de Curadores de duas dezenas de pessoas, que colaborarão nas mais diversas iniciativas e zelarão pela diversidade, abertura e qualidade do seu trabalho.
O Cinema Ideal funcionará diariamente do meio-dia à meia-noite, sete dias por semana, procurando ter sempre dois filmes em estreia e organizando regularmente sessões especializadas, quer viradas para públicos específicos, quer com grandes clássicos ou documentários ou curtas-metragens.
Um cinema único
E em todo o centro histórico de Lisboa, este é o único cinema que sobrevive numa zona que tem vindo a conhecer uma profunda reanimação urbana, numa cidade que foi perdendo todos os seus cinemas históricos.
O mais antigo cinema de Lisboa
Na rua do Loreto, junto ao Largo do Camões, discretamente inserida num prédio pombalino existe ainda hoje em dia uma sala de cinema: aberta em 1904, é uma das mais antigas ainda em actividade em todo o mundo.
E apesar de aparentemente discreta (talvez porque na última década exibiu apenas cinema pornográfico) é uma sala que tem um charme muito próprio e uma arquitectura de cinema como já não sobrevive mais nenhuma entre nós, com o seu foyer, balcão e plateia, e mais de duzentos lugares.
Ideal, Camões, Paraíso, Ideal
Tendo começado com a denominação de Salão Ideal (sendo salão a designação habitual das primeiras salas de cinema), ficou depois cinema Ideal -e conheceu uma renovação profunda, no princípio dos anos 50, que sobreviveu até hoje, quando foi construído, nas suas traseiras, o novo edifício da Casa da Imprensa – tendo nos anos 70 a sua denominação sido alterada para Cine Camões e mais recentemente para Cine Paraíso.
O Salão Ideal
No mesmo edifício, no piso imediatamente superior, e em articulação com o espaço de foyer do cinema, funcionará um espaço de quase duzentos metros quadrados em que sobressai uma ampla sala virada à Rua do Loreto, e onde funcionará um serviço de Cafetaria de apoio ao cinema, mas que será sobretudo um outro espaço de convívio e animação.
A Livraria e outras coisas
Nesse espaço de convívio com mais de cinquenta lugares sentados poderão ter lugar outro tipo de projecções e sessões (debates, colóquios e workshops, concertos de câmara), que conviverão com o espaço da Livraria e um mais especializado de Biblioteca de Cinema e DVDteca (onde poderá ser possível ver umas centenas de filmes à escolha).
Associação Cultural, Conselho de Curadores
Sendo este projecto uma iniciativa da Midas, a programação e a animação destes espaços ficará a cargo de uma Associação Cultural Cinema Ideal, junto da qual um Conselho de Curadores, de duas dezenas de pessoas, acompanhará toda a programação contribuindo com ideias, sugestões e sobretudo críticas.
Renovação da sala
Tendo o espaço da sala características absolutamente únicas remetendo para uma velha tradição de cinemas de bairro, a nossa intervenção será apenas ao nível do restauro e do reequipamento, isto é de novos revestimentos do chão e de pinturas de tectos e paredes, nova instalação eléctrica e de ar condicionado.
Cinema Digital
Ao nível do equipamento cinematográfico propriamente dito, o cinema será equipado com projecção de imagem e som DIGITAL, que permita exibir filmes de todas as espécies e em todos os suportes, novo ecrã e novas cadeiras, procurando a melhor qualidade possível.
E agora, um cinema novo
O projecto que vamos concretizar é o do restauro e renovação profunda do Cinema Ideal, devolvendo-o à cidade
de Lisboa e com uma programação de cinema independente.
O Cinema Ideal será assim um cinema com as melhores condições técnicas de projecção de imagem e som do cinema Digital, mas também um espaço do maior conforto e qualidade.
Um novo foyer
Tão importante como a profunda renovação que a sala do cinema irá sofrer, será a do espaço que lhe dá acesso, o foyer ligado à rua, que será também ele já uma espaço de convívio com balcão de cafetaria e mesas de leitura e de estar, espaço onde haverá também já livros e DVDs e jornais para consulta, em articulação com o Salão Ideal.
Uma nova fachada
Para além da renovação destes espaços, o cinema passará também a ter de novo uma relação com o exterior, com a rua, retomando a antiga caixa de luz e néons, típica dos cinemas de bairro e onde se destaque a sua programação e as suas actividades paralelas, transmitindo a animação que correrá entre portas para o exterior.
Os filmes
O Cinema Ideal será um cinema completamente diferente dos cinemas de centro comercial, programando filmes independentes (portugueses, europeus, de outras cinematografias menos conhecidas) de todos os géneros (ficção, documentário, animação, curta-metragem), mas sobretudo criando regularmente outros acontecimentos à volta dessa programação.
Todos os dias, o dia todo
Com esses filmes e com a sua localização privilegiada, o cinema funcionará catorze horas por dia, com pelo menos seis sessões diárias. E os filmes serão, sempre que possível, estreias exclusivas deste cinema.
Os ‘outros filmes’
Para além da programação de filmes em estreia, o cinema organizará regularmente sessões de reposição de clássicos, bem como sessões vocacionadas para públicos específicos – como o escolar e os idosos.
Sendo nosso objectivo colaborar estreitamente com as Juntas de Freguesia limítrofes, com as escolas e centros de dia da zona em que está inserido.
Os outros à volta
Além dessas instituições o cinema procurará também, sempre que possível abrir-se à actividade cultural que o circunda, quer colaborando com os teatros, as galerias, os museus, os bares e os clubes e as associações culturais e recreativas que lhe são vizinhos.
Um cinema para todos
Para além de estar sempre aberto a todos os pequenos distribuidores independentes e aos produtores e realizadores portugueses em geral, também se associará com os mais importantes festivais de cinema que têm lugar na cidade de Lisboa (Indie, DOC, Queer, Festa do Cinema Francês e Italiano, etc).
A MIDAS começou a sua actividade no Verão de 2006, fundada por pessoas com larga e longa experiência no meio cinematográfico, nomeadamente no desenvolvimento do maior grupo português de produção, distribuição e exibição cinematográfica e audiovisual, entre 1990 e 2005.
Desde então criou um catálogo de edição DVD com mais de 200 títulos, estreou nos cinemas 60 novos filmes, sendo também produtora de documentários e longas-metragens. Tem nomeadamente o privilégio de ser a produtora de João Canijo e a editora de Pedro Costa ou João Salaviza. Produziu um dos mais extraordinários sucessos do cinema português dos últimos anos -Sangue do Meu Sangue de João Canijo -, tendo trabalhado também com realizadores como Fernando Lopes ou Jorge Silva Melo, e produzido para a RTP2 uma série sobre Figuras Relevantes da Cultura Portuguesa, entre muitos outros.
Nos cinemas estreou diversas Palmas de Ouro do Festival de Cannes, como A Turma e O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores, ou acontecimentos como O Cavalo de Turim do húngaro Béla Tarr, Habemus Papam de Nanni Moretti, Pina de Wim Wenders ou Filme Socialismo de Jean Luc-Godard, mas também grandes portugueses como Rafa de João Salaviza, Fantasia Lusitana de João Canijo, Ne Change Rien de Pedro Costa ou A Corte do Norte de João Botelho.
Em DVD, para lá de Colecções próprias de perfil cultural – como a de filmes sobre Arquitectos, Escritores e Artistas – tem edições de prestígio sobre a História do Cinema, sobre Fotografia, mas sobretudo com ampla representação de alguns dos maiores cineastas do mundo como Martin Scorsese, Moretti, Kiarostami, Godard, Rohmer, Greenaway, Glauber Rocha, Víctor Erice, Resnais, Kaurismaki, Kusturica, Tarkovski, Téchiné, Jacques Demy, Jean Rouch, Cassavetes, John Ford, Bresson, aradjanov, Kitano…
No projecto do Cinema IDEAL e da associação cultural que será responsável pela sua programação e animação, a MIDAS irá ser o parceiro catalisador daquele que será seguramente o mais fantástico projecto ligado ao cinema com lugar na cidade de Lisboa, mas com impacto em todo o país.
“Os mais lindos e originaes espectaculos de Lisboa…deliciosos quadros dramáticos…a maior novidade do seculo XX…. Ir ao Salão Ideal é o mesmo que ir a um theatro e assistir à representação de várias peças de diversos generos em poucas horas. Hoje a bella charge “Vingança de um cabelleireiro” e outros soberbos numeros.”
MEMÓRIA DESCRITIVA
O antigo Cinema Ideal, inaugurado em 1904, é uma das salas de cinema mais antigas de Portugal. Tendo recebido a última remodelação importante nos anos 1950, segundo projecto do Arquitecto João Simões, esta sala veio a sofrer uma alteração significativa no fim dos anos 1970 que desvirtuou a sua qualidade original e, sobretudo, a sua relação com a rua, situação que se manteve até hoje.
A presente proposta para a requalificação do Cinema Ideal tem como objectivo principal, ao reconstituir uma relação privilegiada com a cidade, devolver a esta sala de Cinema a sua dignidade, entretanto esquecida. A configuração longitudinal do conjunto formado pelo Átrio e Foyer, abrindo-se à Rua do Loreto, será recuperado enquanto lugar público e espaço de divulgação da arte cinematográfica.
A Sala de Cinema, com saída directa para a Rua da Horta Seca, será reabilitada, de forma a adequar-se às exigências actuais e às tecnologias de projecção mais recentes, mantendo no essencial o seu carácter arquitectónico. José Neves, Arq.
José Neves
Nasceu em Lisboa em 1963 e licenciou-se em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa em 1986, ano em que integrou a representação nacional da 2ª Bienal de Jovens Artistas dos Países Mediterrânicos em Salónica, a convite da Secretaria de Estado da Cultura.
Entre 1986 e 1990 colaborou no atelier de Duarte Cabral de Mello e a partir de 1991, ano em que abriu atelier próprio, participou em diversos trabalhos com Vítor Figueiredo. Em 1993 fundou José Simões Neves, Gabinete de Arquitectura.
A Escola Francisco de Arruda (Prémio Secil 2012), a Escola Marquesa de Alorna (obra nomeada para o Prémio Secil 2012), o Bar Praia Azul (obra nomeada para o Prémio Nacional de Arquitectura em Madeira 2013), a Casa do Moinho (1º Prémio de Arquitectura da Câmara Municipal de Torres Vedras 1996-2001 e obra nomeada para o Prémio Secil 1998), o Edifício C6 da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (obra nomeada para o Prémio Secil 2004) encontram-se entre os projectos que realizou. Foi ainda premiado em diversos concursos para edifícios públicos tais como para o Centro de Artes do Carnaval, em Torres Vedras, a Reitoria da Universidade Técnica de Lisboa, a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Minho, a Escola Básica de Ílhavo ou o Mercado de Levante de Almada.
Desde 1989 ensinou na Universidade Lusíada, na Universidade Autónoma e na Faculdade de Arquitectura da U.T.L. e actualmente é Professor Convidado no ISCTE-IUL.
Entre os trabalhos que tem desenvolvido, paralelamente, sobre as relações entre a Arquitectura e o Cinema, encontra-se o ciclo de conferências “O Lugar dos Ricos e dos Pobres no Cinema e na Arquitectura em Portugal”, que programou, enquanto coordenador do Núcleo de Cinema da F.A./U.T.L., para a Cinemateca Portuguesa entre 2007 e 2008 e cuja publicação se encontra actualmente a preparar com a editora Dafne.
Jos d'Almeida é um compositor de música electrónica épico sinfónica, podendo este género ser também designado como Electrónico Progressivo. Na construção de um som celestial, resultante da fusão de várias correntes musicais, JOS utiliza os sintetizadores desde o início dos anos 80.
Chuck van Zyl
Chuck van Zyl has been at his own unique style of electronic music since 1983. His musical sensibilities evoke a sense of discovery, with each endeavor marking a new frontier of sound.
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