Jazz às Quintas
Entre Maio e Agosto – sempre às 22:00 – Horas na Cafetaria Quadrante, CCB.
6 de Agosto – Que o jazz de Nova Iorque está em ebulição já sabia quem atenta no que por lá se passa, mas se quisermos falar de autênticas surpresas aí a acontecer por estes dias temos de referir um nome em especial: Kris Davis. 2008 foi o ano da consagração desta pianista, compositora e improvisadora nascida no Canadá, devido ao lançamento de dois discos magistrais, ambos editados na Península Ibérica: Rye Eclipse (pela editora espanhola Fresh Sound New Talent) e Fiction Avalanche (pela portuguesa Clean Feed). A generalidade da crítica internacional não tem sido contida no elogio ao refrescamento desta área musical trazido pelo surgimento em cena desta extraordinária performer, falando-se muito em especial do seu “espírito de aventura”.
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QUARTETO L. A. JUMPING PULGAS: Lars Arens, trombone – Mário Delgado, guitarra – André Carvalho, contrabaixo – Bruno Pedroso, bateria
16 de Julho – Lars Arens tem um longo percurso de colaborações com figuras tão representativas da imensa variedade do jazz como John Taylor, Mike Richmond e Vince Mendoza. Radicado em Portugal desde 2001, fundou com o igualmente alemão Johannes Krieger a Tora Tora Big Band, dedicada a um groove jazz dançável. Mário Delgado é um dos mais notáveis guitarristas nacionais, ligando a linguagem do jazz à influência de Jimi Hendrix, Bruno Pedroso revela a sua versatilidade criativa na bateria e, por sua vez, André Carvalho é ainda um nome pouco conhecido do jazz em Portugal por ter estudado em Berlim, mas decididamente surpreenderá no contrabaixo. Com tais músicos, tudo é possível.
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Carlos Barretto “LOKOMOTIV” – Mário Delgado, guitarra – Carlos Barretto, contrabaixo – José Salgueiro, bateria
2 de Julho – Três músicos com licença para experimentar sem limites, criando um som único de grande coesão e beleza, alicerçado na cumplicidade, na abertura de espírito e sobretudo no trabalho intenso desenvolvido ao longo de tantos anos, fazendo deste trio um dos mais interessantes “combos” do panorama actual. Depois da Suite da Terra, Silêncios, Radio Song e Lokomotiv, um novo CD está em preparação, e serão esses novos temas apresentados em première neste concerto obrigatório.
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25 Junho 2009 – Nasceu em Lisboa em 1961. Filho de mãe pianista, começou muito cedo os seus estudos musicais, na Academia de Santa Cecília, iniciando-se rapidamente no piano. Posteriormente, ingressou no Conservatório Nacional, onde, em 1984, obteve o diploma do Curso Superior de Piano com a classificação máxima.
Com uma bolsa de estudo da Secretaria de Estado da Cultura, muda-se imediatamente para Paris. Aí, durante três anos, aprofunda os seus estudos no Conservatório de Rueil-Malmaison e obtém sucessivamente as mais altas distinções – Médaille d’ Or, Prix Jacques Dupont, Prix d’ Excellence e Prix de Perfectionement. Na área da música popular, participa como pianista acompanhante em numerosos discos de artistas nacionais. Destaca-se a sua colaboração com Fausto (Por este rio acima), José Mário Branco (Ser solidário), Vitorino (Eu que me comovo por tudo e por nada), Filipa Pais (L’Amar) e Sérgio Godinho. Foi com este último que desenvolveu um trabalho mais intenso: acompanhou-o em espectáculos e colaborou, primeiramente como músico (1981), no disco Canto da boca, sendo mais tarde o arranjador e director musical dos álbuns Coincidências e Tinta permanente.
Com Jorge Reis, Mário Franco e José Salgueiro grava Serra sem fim, o primeiro disco em seu nome. Presentemente, as suas “working bands” são NASCER (com Ricardo Dias e Peter Epstein), que se dedica à música tradicional portuguesa e sefardita, o trio As Sete Ilhas de Lisboa, música improvisada com Paulo Curado e Bruno Pedroso e o trio COR com Cláudio Puntin e Samuel Rohrer. Toca também regularmente em duo com o contrabaixista Carlos Bica. Para além disto, continua o seu trabalho a solo, os CD Roda e Memórias de Quem são os excelentes exemplos da melhor maneira de lhe ouvir toda a sua magia, a solo.
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18 Junho 2009 – Após alguns anos como sideman, o baterista Jorge Moniz achou chegada a altura de formar o seu próprio quarteto com alguns músicos portugueses com quem mais se identifica, Júlio Resende no piano, Mário Delgado na guitarra e João Custódio no contrabaixo. Este quarteto apresentará as suas composições escritas nos últimos anos, a que se juntarão algumas de Júlio Resende e Mário Delgado. Estas, seguem na sua maioria uma linha de difícil catalogação que cruza as influências do jazz com músicas de cariz tradicional, portuguesa e do Norte de África. Esta “etnicidade” é resultante de ritmos não convencionais na música ocidental e de melodias de sonoridade próxima da musica árabe, enriquecida, por sua vez, pela electrónica das guitarras e do vigor da secção rítmica. O som da banda importa também traços da música contemporânea ocidental, onde se vislumbram compositores como Bartók ou Stravinski. A conjugação destes vários elementos resulta numa música de forte identidade.
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BEN VAN GELDER, saxofone alto, sax – ANDRÉ FERNANDES, guitarra – NELSON CASCAIS, contrabaixo – JOÃO LENCASTRE, bateria
11 Junho 2009 – Bem pode João Lencastre apresentar-se na sua página do Myspace, com humor, como um mau baterista, completamente desprovido de sentido de tempo e incapaz de manter um “beat”. O certo, mesmo, é que se tornou numa referência incontornável do novo jazz feito em Portugal. E com as melhores das companhias: David Binney, Phil Grenadier, Leo Genovese e Thomas Morgan acompanham-no no recente álbum B-Sides, assim como Bill Carrothers foi o convidado especial do seu disco de estreia, One!, contando ainda na sua actividade com a cumplicidade de músicos como André Fernandes, André Matos, Demian Cabaud, Carlos Martins, Mário Franco e Jesse Chandler. Fernandes volta agora ao seu convívio e acrescentam-se ao rol o contrabaixista Nelson Cascais e o saxofonista alto Ben Van Gelder. Entre estes, o primeiro é um dos valores já tomados como seguros da jovem geração de “jazzmen” nacionais, enquanto o segundo, com apenas 21 anos de idade, está a impor as suas perspectivas na mais difícil das metrópoles, Nova Iorque. Depois de estudos com George Coleman, George Garzone e Lee Konitz, chamou a atenção de músicos como Jean-Michel Pilc, Ari Hoenig e James Genus, e com eles entrou no circuito dos clubes e dos palcos. Uma lufada de ar fresco.
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4 Junho 2009 – Com carácter de câmara (sem bateria, o que lhe dá maior liberdade ao nível da gestão dos tempos, dos espaços e das dinâmicas) e vocação improvisadora, Daniel Levin Quartet alia as configurações do jazz com as perspectivas que nos chegam da música erudita desde Anton Webern. A esse molde adiciona ainda uma sólida aplicação das técnicas extensivas de exploração dos instrumentos em presença, assim ampliando as possibilidades da música que pratica. O curioso é que as partituras-base do quarteto são escritas pelo violoncelista Daniel Levin, tendo a voz como referência e não o seu cordofone, o que em muito contribui para a dimensão humana e orgânica do projecto. E bem servido este está: nos EUA, Levin conta apenas com a concorrência de Fred Lonberg-Holm, Erik Friedlander e Tomas Ulrich no domínio da improvisação, Nate Wooley impôs-se como um inovador radical do trompete, Matt Morané conhecido por ter expandido a paleta sonora do vibrafone de forma muito pessoal, e Peter Bitenc é o exemplo acabado do contrabaixista que atravessa fronteiras de estilo e idioma.
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NELSON CASCAIS, contrabaixo – DESIDÉRIO LÁZARO, sax tenor – ANDRÉ FERNANDES, guitarra JOÃO PAULO, fender rhodes – MARCOS CAVALEIRO, bateria
28 Maio 2009 – Músico incontornável da cena nacional, a ele recorrem também todos quantos precisam de um pilar sólido para os seus próprios conceitos, como André Fernandes, Carlos Martins, Abe Rabade, Perico Sambeat, Jesus Santandreu, Maria João, Mário Laginha, Benny Lackner, Pedro Moreira, Bernardo Sassetti, e tantos outros. Foi com alguns deles que Cascais formou o projecto Guruka, e só a leitura dos nomes em questão é uma garantia de qualidade: além de Fernandes e Moreira, estão envolvidos o grande pianista que é João Paulo Esteves da Silva (neste contexto concentrado num instrumento “vintage”, o Fender Rhodes) e Marcos Cavaleiro. A música a ouvir, desta vez ao vivo, pretende equilibrar escrita e improvisação de modo orgânico, conciliando num mesmo objecto a diversidade de influências estéticas de cada uma das personalidades associadas.
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21 Maio 2009 – Lançou mais de 200 discos num espectro musical que vai dos blues e do jazz ao rock “no wave” e ao techno, passando pela música para orquestra e pelo noise. As suas composições foram interpretadas por RadioSinfonie Frankfurt, Ensemble Modern, Ensemble Rezonanz, Continuum, Flux Quartet, Kronos Quartet e Zeitkratzer, e os seus colaboradores incluíram já o cantor qawaali Nusrat Fateh Ali Khan, a lenda dos blues Hubert Sumlin, o dramaturgo Dael Orlandersmith, a violoncelista Frances-Marie Uitti, os escritores de ficção científica Jack Womak e Lucius Shepard, os gigantes do jazz Sonny Sharrock, Jack DeJohnette e Oliver Lake e o líder dos Master Musicians of Jajoukah, Bachir Attar. Lidera os projectos Carbon, Orchestra Carbon, Tectonics e Terraplane, e um dos mais recentes álbuns do músico, Sharp? Monk? Sharp! Monk!, que consiste na interpretação em guitarra acústica solo de peças de Thelonious Monk. Elliott Sharp virá interpretar temas de Monk e outras pérolas do seu mais recente disco na Clean Feed, Octal: Book One, na guitarra Koll de 8 cordas, construída de propósito para si pelo luthier Saul Koll.
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NOBUYASU FURUYA saxofone tenor, clarinete baixo e flauta HERNANI FAUSTINO contrabaixo GABRIEL FERRANDINI bateria
14 Maio 2009 – Japonês de nascimento, mas presentemente a viver em Lisboa depois de uma estada em Berlim, Nobuyasu Furuya veio agitar as águas da cena jazzística e improvisada portuguesa com o seu sopro ora extremamente possante (algures entre Archie Shepp e Peter Brotzmann), ora controlado com um rigor implacável (o mesmo das cerimónias de chá, das árvores bonsai e dos jardins de pedra tipicamente nipónicos), nos seus três instrumentos de eleição: o saxofone tenor, o clarinete baixo e a flauta. Começou por se dedicar à música barroca europeia, mas depressa foi conquistado pelo free jazz, que vem tocando nos mais variados contextos, de pequenas formações a “big bands”. Compôs igualmente para dança, teatro e cinema e passou pelas cenas noise e ska-core do “underground” de Tóquio. Interessou-se pela música clássica otomana, que estudou na Turquia. Por cá, teve muitos aplaudidos encontros com três dos mais internacionais praticantes da improvisação: Carlos “Zíngaro”, Ernesto Rodrigues e Rodrigo Amado, mas foi com o contrabaixista Hernâni Faustino e o baterista Gabriel Ferrandini que formou o trio que ora se apresenta. Com tais músicos na secção rítmica, conhecidos pelo impacto das suas prestações, o seu propósito é claro: mostrar que a “new thing” nascida na década de 1960 ainda não morreu.
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AVRAM FEFER, saxofone tenor e clarinete baixo – CARLOS BARRETTO, contrabaixo – HARRIS EISENSTADT, bateria
7 Maio 2009 -Todos os três são compositores com perspectivas muito próprias e improvisadores inventivos, e todos os três são instrumentistas completos. Barretto é muito mais do que um ritmista – as suas capacidades como construtor de edifícios musicais transcendem os vulgares papéis e funções do contrabaixo. Fefer é pródigo na expressão das complexidades da alma humana seja em que formato for (be bop, free jazz, trip-hop, jungle, drum ‘n’ bass, acid jazz, world jazz), e neste contexto não será diferente. Um estudioso das músicas de África, Eisenstadt é, por sua vez, o melhor exemplo de como o sentido de “drive” não exclui o uso do intelecto – neste particular, entende a percussão num pequeno combo como Duke Ellington “via” o piano na sua orquestra.