Archive for the ‘ Música ’ Category

Papa Filmes

A uma pessoa beata é comum chamar de papa-hóstias; no meu caso, aplica-se mais a expressão papa filmes, no sentido cinéfilo. Como isto anda tudo ligado, a propósito das nomeações de Conclave lembrei-me, primeiro, do momento delicado do Papa Francisco e do filme de Fernando Meirelles – Dois Papas (2019), sobre uma hipótese de relação entre Bento XVI (Anthony Hopkins) e o futuro Papa Francisco (Jonathan Pryce). Depois, de um filme de Nanni Moretti, Temos Papa (2011), este com um tema mais próximo de Conclave. Anteriormente, de Marco Bellocchio tivemos Kidnapped: The Abduction of Edgardo Mortara, que por cá passou apenas com o título O Rapto, um filme de revolver as entranhas…


Voltando à noite dos óscares, Conclave, com sete nomeações, não venceu nenhuma das principais: melhor filme, actor principal (Ralph Fiennes) ou actriz secundária (Isabella Rossellini); Venceu na categoria de Argumento Adaptado mas talvez não desmerecesse na de Melhor Guarda-Roupa e de Melhor Design de Produção.
Com a ressalva de não ter ainda visto O Brutalista, a banda-sonora de Daniel Blumberg parece consistente mas a estatueta ajustava-se melhor a Volker Bertelmann, para Conclave. Mas que sei eu?


Finalmente, é com agrado que partilho com o Papa Francisco o gosto em matéria de filmes preferidos: “A festa de Babette” (1987), de Gabriel Axel.

‘Mackie Messer’ (Mack The Knife), por Schiller

Nos 125 anos sobre o nascimento do compositor de origem alemã Kurt Weill [1900-1950], o standard Mackie Messer (Mack The Knife), produzido em 1928 para a Ópera dos Três Vinténs (Die Dreigroschenoper) de Bertolt Brecht, que chegou a ser cantarolado pelo próprio dramaturgo, tem sido interpretado por músicos tão distintos como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald ou, mais recentemente, pela elegantíssima soprano Ute Lemper.


Em 2021, o compositor e produtor musical alemão Christopher von Deylen (conhecido com o nome artístico Schiller) apresentou no Festival Kurt Weill em Dessau, Alemanha Central, uma versão eletrónica desta peça.

‘Epitaphium Carpentarii’, de Charpentier

Marc-Antoine Charpentier [1643-1704], que morreu neste dia 24 de Fevereiro em Paris, está entre os compositores mais importantes do período barroco francês, tal como os contemporâneos Jean-Baptiste de Lully [1632-1687], François Couperin [1668-1733] ou Jean-Philippe Rameau [1683-1764].
A música de Charpentier mistura os estilos francês e italiano; este último sob influência, entre outros compositores, de Giacomo Carissimi. Em França, trabalhou para o rei Luís XIV e para os jesuítas em Paris, notabilizando-se pelas composições de música sacra, que rivalizavam com as de Lully.


«J’étais musicien, considéré comme bon parmi les bons, ignare parmi les ignares. Et comme le nombre de ceux qui me méprisaient était beaucoup plus grand que le nombre de ceux qui me louaient, la musique me fut de peu d’honneur mais de grande charge… […] guéris, purifie, sanctifie les oreilles de ces hommes pour qu’ils puissent entendre le concert sacré des anges ! »

Texto de Charpentier, extraído do seu Epitaphium Carpentarij H.474  – cantata escrita em 1687 para 6 vozes e baixo contínuo.


O título desta obra, em forma de tombeau, sugere uma homenagem sentida a um colega compositor, mas o texto em latim identifica na composição dois amigos, três anjos e o fantasma do próprio Charpentier, tornando-a no seu próprio epitáfio.
Gravada em 2006 pelo conjunto  Il Seminario Musicale, dirigido pelo contratenor Gérard Lesne, conta com os seguintes solistas:

Umbra: Gérard Lesne, contratenor | Ignatius: Cyril Auvity, tenor | Marcellus: Edwin Crossley-Mercer, barítono
Primeiro Anjo: Kaoli Isshiki, soprano | Segundo Anjo: Chantal Santon, soprano | Terceiro Anjo: Magid El-Bushra, contratenor

 

Quid audio, quid murmur / Amici viatores nolite timere / O aeternitas quam longa, o vita quam brevis / Musicus eram inter bonos / Dic nobis, umbra chara / Ah, socii! qui carissimi nomen habebat / Cantique des anges: Profitentes unitatem, veneremur trinitatem / O suave melos!

O meu violão é maior que o teu alaúde

Em dia de aniversário do virtuoso Andrés Segovia [21 Fev 1893 – 2 Jun 1983], regresso a John Dowland para dedilhar virtualmente a canção If my complaints could passions move, originalmente escrita para alaúde, e a transcrição de Segovia para o violão clássico. 


 

‘First Booke of Songes or Ayres’, de John Dowland

John Dowland [1563-1626], compositor e alaudista inglês de quem no próximo ano se comemoram os 400 anos da morte, publicou em 1597 em Londres o seu Primeiro Livro de Canções ou Ayres, um cancioneiro com 21 peças para alaúde. Este género musical, que floresceu em Inglaterra entre o final do século XVI e o início do século XVII, teve na poesia de Thomas Campion [1567-1620] e no alaúde de John Dowland os mais expressivos representantes.

O grupo britânico de música antiga Consort of Musicke, fundado em 1969 pelo alaudista Anthony Rooley, gravou em 1976 para a L’Oiseau-Lyre o álbum duplo Dowland: First Booke of Songes, do qual fica a canção melancólica Come Again: Sweet Love Doth Now Invite, interpretada pelo tenor Martyn Hill, pelo viola baixo Trevor Jones e por Anthony Rooley no alaúde.


‘Paixão Segundo São Marcos’, de Johann Georg Künstel

De Johann Georg Künstel [ca. 1645 – 1695], organista e compositor do período barroco alemão, a sua Paixão Segundo São Marcos, composta entre 1691 e 1694 em Coburg na Baviera, onde morreu neste dia 20 de Fevereiro, há 330 anos.


Álbum: Künstel: Markuspassion | Ensemble Polyharmonique, dirigido por Alexander Schneider | Christophorus Records, 2019

‘Shhh / Peaceful’, de Miles Davis

Do álbum de estúdio ‘In a Silent Way’ de Miles Davis, gravado numa única sessão nos estúdios da CBS em 18 Fevereiro 1969, a composição Shh / Peaceful, escrita por Miles, preenche o lado A do disco. A fusão resultante da introdução de instrumentos elétricos foi a antecâmara de Bitches Brew (1970). 


Miles Davis (tpt); Wayne Shorter (ss); John McLaughlin (el-g); Herbie Hancock (el-p);
Chick Corea (el-p); Joe Zawinul (org); Dave Holland (b); Tony Williams (d)

‘A Arte do Trio’ na Sonata de Corelli

Na passagem de mais um aniversário do nascimento de Arcangelo Corelli [1653–1713], compositor e violinista do barroco italiano cujo contributo para o desenvolvimento da música instrumental foi fundamental, em particular a sonata a três e o concerto grosso, a Sonata “La Follia”, Opus 5, em sol menor, n.º 12.
O estilo introduzido por Corelli, disseminado na Europa por músicos que com ele contactaram, como Georg MuffatFrancesco Gasparini  e Francesco Geminiani, foi de enorme importância para a consolidação da linguagem orquestral e do violino no início do século XVIII em toda a Europa.

A propósito da efeméride, o Musica Aeterna dedicou ontem a primeira de duas emissões à admiração mútua entre Francesco Geminiani e Arcangelo Corelli.


Álbum: Frans Brüggen – Frans Brüggen Edition – Vol. 2 • Italian Recorder Sonatas – ℗ Teldec, 1995
Frans Brüggen, flauta · Anner Bylsma, violoncelo · Gustav Leonhardt, cravo

‘Requiem’, de Johann Joseph Fux

Na passagem do ducentésimo octogésimo quarto aniversário sobre a morte de Johann Joseph Fux [ca. 1660 – 1741], compositor e teórico musical austríaco do barroco tardio que exerceu o cargo de Kapellmeister na Catedral de Santo Estêvão em Viena, o solene Kaiserrequiem K 51–53 em Dó menor para cinco vozes, originalmente escrito em 1720 para o funeral de Eleonora Magdalena, viúva do Sacro Imperador Romano-Germânico Leopoldo II, foi posteriormente executado em outras cerimónias fúnebres da Côrte.
Composto pelo Introitus, Kyrie, a sequência Dies irae, o ofertório Domine Jesu Christe, Sanctus, Benedictus, Agnus Dei e a comunhão Lux aeterna, integra o álbum Johann Joseph Fux, Johann Caspar Kerll: Requiems | ℗ Outhere, 2016. Tem como intérpretes os Ensembles L’Achéron e Vox Luminis, com direcção de Lionel Meunier.


‘Free for All’, de Art Blakey

O colectivo Jazz Messengers, liderado durante mais de três décadas por Art Blakey [1919-1990], teve um dos momentos altos da sua existência quando, em 10 de Fevereiro de 1964, entrou nos estúdios Van Gelder para gravar ‘Free for All’. O álbum seria lançado no ano seguinte pela Blue Note. Fica a extraordinária faixa-título, de Wayne Shorter [1933-2023]


Art Blakey, bateria | Freddie Hubbard, trompete | Curtis Fuller, trombone
Wayne Shorter, saxofone tenor | Cedar Walton, piano | Reggie Workman, baixo