Arquivo de Abril, 2011
Foi muito intimista, o concerto de ontem na Igreja de St. Maria do Castelo, integrado no 17º Festival Internacional de Música de Castelo Branco e do qual já aqui tinha dado nota. O ideal, como dizia hoje um amigo, seria se houvesse menos luz; No entanto, a posição privilegiada em que me encontrava permitiu gravar a maior parte das peças em vídeo, apesar da fraca expectativa em relação à qualidade do produto final; Ainda assim, tenciono partilhar o que puder no tubo. No final, tive ocasião de cumprimentar os músicos e constatar que Savall é de facto um ser humano luminoso e afável.
Várias vezes destruída ao longo dos séculos e sucessivamente reedificada, a igreja de Santa Maria do Castelo, localizada no interior da primitiva alcáçova, é actualmente o resultado de inúmeras intervenções arquitectónicas.
Desconhecemos a data da sua fundação, sendo certo que já existia em 1213, pois a igreja aparece referenciada nessa data, no foral de Pedro Alvito.
Na centúria de seiscentos, tal como aparece na planta da vila, a igreja apresentava ainda uma traça tipicamente românica, de planta rectangular com abside arredondada. Esta essência românica conservar-se-ia pelo menos até ao início do século XVIII, segundo as descrições no Tombo da Ordem, de 1706.
Apesar de ter sido muito afectada por sucessivos confrontos nos séculos XVII e XVIII (1640 – Guerra da Independência; 1704 – Guerra da Sucessão de Castela; 1762 – Invasões Franco-Espanholas e 1807 – Invasões Francesas), foram sobretudo as obras realizadas no último quartel do século XIX que contribuíram para a descaracterização da traça original, deixando apenas vestígios na fachada Norte, que ficou parcialmente soterrada.
“O portal principal, guarnecido com círculo de meia laranja em pedra, fundado em quatro colunas – obra antiga que dizem ser dos templários, com uma janela exterior. Porta travessa a Sul e seis frestas gateiras três por cada banda que dam luz à dita igreja… No interior, um coro situado sobre a porta principal o qual ao prezente esta de todo arruinado”
Pouco se sabe de Tomás Luis de Victoria (1548-1611), assumindo-se que, com excepção de um período da juventude em que foi enviado para Roma e onde rapidamente foi reconhecido como sucessor de Palestrina, teria passado a maior parte da vida direccionado para a espiritualidade, num mosteiro da sua Espanha natal.
Da sua obra, composta na totalidade por música sacra, escolho para esta Sexta-Feira Santa um tema do Ofício de Trevas, interpretado pelo agrupamento The Sixteen, dirigido por Harry Christophers. Para ouvir à luz das velas.
Muro-Arte
Johann Sebastian Bach [1685-1750], George Frideric Handel [1685-1759] e Domenico Scarlatti [1685-1757] foram três personalidades fundamentais do Barroco Tardio que, por coincidência, nasceram no mesmo ano. Em comum, possuem também o facto de terem sido exímios intérpretes e improvisadores, e compositores de génio no domínio da música de tecla, ainda que a produção que destinaram a instrumentos como o órgão, o cravo ou o clavicórdio ocupe lugares bem diversos no seu percurso individual. Se hoje recordamos Scarlatti como um compositor indissociável do repertório para cravo (posteriormente adoptado pelos pianistas), a música de tecla ocupa um lugar relativamente circunscrito na produção de Handel e assume-se como um dos pilares centrais no desenvolvimento de Bach enquanto compositor. […]
Excerto de Bach, Handel e Scarlatti:Três Mestres da Música de Tecla do Barroco,
Cristina Fernandes, em catálogo da 7.ª edição do Festival Terras sem Sombra.
O segundo evento terá lugar a 16 de Abril, pelas 21h30, na igreja de Santo Ildefonso, matriz de Almodôvar, que recebe um concerto do cravista francês Pierre Hantaï, intitulado “Peregrinações – No 3º Centenário de D. Maria Bárbara, Princesa de Portugal”. O espectáculo gira em torno da música para tecla do século XVIII e incide em obras de Bach, Handel e Scarlatti.
Ligações recomendadas sobre o Festival:
O primeiro semestre de 1961 abalou, de facto, a Humanidade. Começou logo com os EUA a cortar relações com Cuba, embora sem prejudicar o negócio dos charutos. Do mal o menos. Em 4 de Fevereiro, avançámos rapidamente e em força para… Angola, o que nos valeu uma reprimenda do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Feitios! A 11 de Abril, tinha início em Jerusalém o julgamento de Adolf Eichmann, acusado de prejudicar seriamente as relações de boa vizinha que os alemães pretendiam manter com o resto da Europa. No dia seguinte, a 12 de Abril, um russo de nome engraçado tornava-se no primeiro ser humano a viajar no espaço – Yuri Gagarin demorou menos de duas horas a completar uma órbita terrestre. Lucky Bastard !
Em Maio, assim de repente, o único acontecimento relevante de que me recordo, ocorreu na Maternidade Alfredo da Costa. 🙂
Les dormeurs, de Abril de 1965, é uma das últimas grandes obras de Pablo Picasso. Especula-se que o casal que dorme representa o artista e a sua mulher de então, Jacqueline Roque. Picasso morreu a 8 de Abril de 1973 em Mougins, onde realizou Les dormeurs. As suas últimas palavras:
Fruto das limitações de espaço no Tubo, tive de compôr a Sinfonia em dois andamentos. 🙂
Na continuação do post anterior – Os Seis órgãos da Real Basílica de Mafra, onde foi apresentada a obra de João José Baldi – Gloria (da Missa para coro e seis órgãos) que encerrou o XIII Festival Internacional de Órgão de Lisboa, o programa segue com a Sinfonia para a Real Basílica de Mafra, de António Leal Moreira (1758-1819).
A concluir a série de três posts dedicados ao Concerto, será apresentado Cantochão – Ave maris stella (arranjo para coro e seis órgãos de João Vaz).
O conjunto dos seis órgãos da Basílica, único no Mundo, foi construído a pedido do Rei D.João VI pelos organeiros António Xavier Machado Cerveira e Joaquim António Peres Fontanes. Os trabalhos prolongaram-se ao longo das primeiras duas décadas do século XVIII; Concebidos como um todo, os seis instrumentos foram concluídos (e inaugurados?) entre 1806 e 1807. Nesse período, a primeira invasão francesa e o exílio da Família Real interromperam drasticamente a actividade musical na Basílica e a utilização regular do conjunto. A inexistência de repertório específico inspirou António Leal Moreira (1758-1819) para compôr a “Sinfonia para a Real Basílica de Mafra” (o vídeo será publicado amanhã).
Após duzentos anos de silêncio e mais de uma década de restauro, os seis órgãos da Basílica voltaram a tocar em Maio de 2010, naquele que foi por muitos considerado “o concerto do século”. O XIII Festival Internacional de Órgão de Lisboa terminou ontem com a repetição do concerto de inauguração.