The Grand Turk Giving a Concert to his Mistress

Charles-André van Loo (1705–15 Julho 1765) foi o mais célebre de uma dinastia de pintores de sucesso. Originária de França e fixada na Holanda, a família incluía o avô Jacob van Loo (1614-1670), o irmão Jean-Baptiste (1684-1745) e o sobrinho Louis-Michel (1707-1771).
Estabeleceu-se em Turim em 1727, onde casou com a cantora de ópera Christina Antonia Somis, identificada nesta obra como a pianista que canta a famosa ária Admeto, de Handel.
Em 1734 voltou a Paris onde, no ano seguinte, se tornou membro da Real Academia de Pintura.
Esta obra, de 1737,  é um dos primeiros trabalhos do artista encomendados pelo Rei Louis XV, que o nomeou Primeiro Pintor da Corte em 1762 e, um ano mais tarde, Director da Academia.
A cena, supostamente oriental, é na realidade um concerto de câmara europeu num cenário turco imaginário, muito popular nos anos de 1730.

Charles André van Loo - The Grand Turk Giving a Concert to his Mistress, 1737 - Wallace Collection, Londres

Terminar em beleza

Os Amores de Astrée e Celadon (2007) encerraram o capítulo histórico, iniciado com A Inglesa e o Duque (2001) e Agente Triplo (2004) que, sinceramente, achei uma pessegada.
O venerável Eric Rohmer (1920-2010) foi respeitado como poucos cineastas, pela forma como nos dava a ver a narrativa, arte evidenciada nos Contos das Quatro Estações, a minha série preferida.

Herbie Hancock’s all-star set

Legendary jazz musician Herbie Hancock delivers a stunning performance alongside two old friends – past drummer for the Headhunters, Harvey Mason, and bassist Marcus Miller.
Listen to the end to hear them sweeten the classic “Watermelon Man.”

à grande vitesse pour la nouvelle année, s`il vous plaît!

Da magnífica Exposição «Art Déco, 1925» que hoje terminou na Gulbenkian, sendo impossível escolher a que melhor ilustra o Renascimento da Arte, as Portas de Brandt – autor do gradeamento que ligava o Grand ao Petit Palais -, simbolizam assim a entrada no Novo Ano. 🙂

Princípios que presidiram à organização da Exposição de 1925
Reunir numa exposição internacional, com a colaboração de artistas, industriais e artesãos, todas as artes decorativas: artes da madeira, da pedra, do metal, da cerâmica, do vidro, do papel, dos tecidos, etc., quer se aplicassem a objectos utilitários ou sumptuosos ou até mesmo à arquitectura.
– Não admitir nenhuma cópia ou pastiche, devendo os objectos expostos corresponder à modernidade. Contribuir assim para um verdadeiro renascimento da arte.
– Procurar definir a identidade e supremacia da produção francesa no âmbito do mercado internacional e assegurar a sua autoridade como árbitro do gosto e como produtor de artigos de luxo manifestamente produzidos num novo estilo moderno.
– Criar uma arte mais acessível, verdadeiramente democrática. Se até à data as obras modernas eram únicas, industrializadas e feitas em série, permitiriam servir um público economicamente alargado e mais modesto
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Edgar Brandt - Portas de Elevador, c.1925 - Ferro forjado, vidro, bronze dourado e patinado, 240 x 85 cm (cada) © Fundação Calouste Gulbenkian / Foto: Carlos Azevedo

ART DÉCO
Designação dada na década de 1960 à expressão artística que surge no primeiro quartel do século XX, e que obteria grande sucesso no período entre as duas guerras, tempo de grande controvérsia, transformações sociais, tecnológicas, económicas e políticas.
Para muitos visitantes da Exposição das Artes Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris em 1925, a impressão mais surpreendente era a de um mundo material que, embora ainda mantendo resíduos da tradição, tinha sido transformado pela introdução de novos materiais e novas técnicas, mas sobretudo pela linguagem visual, pela cor e pela iconografia.
Nos anos de 1920, os modelos decorativos tendem a simplificar as formas, a abandonar a aplicação de ornamentos tridimensionais e deram lugar a motivos abstractos, geométricos e de formas aerodinâmicas, inspirados pelo cubismo, construtivismo, artes primitivas exóticas, essencialmente a africana, e outras fontes «avant-garde».
A Art Déco cria, assim, uma estética decorativa mais compatível com os novos materiais e as tecnologias da produção em série, em vez de uma linguagem figurativa dependente do trabalho manual dos objectos de luxo tradicionais.
O formulário Déco expande-se nos finais de 1920 e na década de 1930 em países europeus e também nos Estados Unidos da América, onde é muito apreciado, chegando mesmo ao Japão e à China.
No entanto, cerca de 1927-1928, a Art Déco em França entrava já em declínio. Assistiu-se ao seu descrédito e à sua marginalização, que persistem até à década de 1960, altura em que os pós-modernistas e os comerciantes de arte a redescobriram no contexto da reacção ao Modernismo.

Regresso à Escola de Atenas

A Sala da Assinatura contém os frescos mais famosos de Raffaelo Sanzio de Urbino (1483-1520), que assinalam de forma singular o início dos trabalhos do grande artista no Vaticano e o começo do Renascimento. O ambiente assume o nome do mais importante tribunal da Santa Sé, “Segnatura Gratiae et Iustitiae”, presidido pelo Pontífice, que utilizou esta sala até meados do século XVI. Originariamente, a Sala havia sido convertida por Júlio II (Pontífice entre 1503 e 1513) em biblioteca privada; o programa iconográfico dos frescos, executado entre 1508 e 1511, destinava-se assim a esta função, tendo sido certamente estabelecido por um teólogo, que propôs a Rafael representar as quatro faculdades clássicas do espírito humano, dando mostras de um elevado grau de liberdade intelectual: a Verdade, o Racional, o Bem e o Belo.
A Verdade sobrenatural está ilustrada na Disputá do SS. Sacramento (ou teologia); Na parede directamente oposta, o Racional está representado na Escola de Atenas (ou a filosofia); o Bem está expresso na das Virtudes Cardinais e Teológicas da Lei e finalmente O Belo na Poesia, representado no Parnaso, com Apolo e as Musas.

Esta vista parcial da Sala da Assinatura no Vaticano mostra Parnasus (Poesia) na meia-lua da esquerda e A Escola de Atenas (Filosofia) na meia-lua da direita

A Escola de Atenas, cujo nome original Causarum Cognitio se manteve até ao século XVII, foi inspirada no projecto do grande arquitecto renascentista Donato di Angelo del Pasciuccio (1444-1514), conhecido como Bramante, para a renovação da Basílica de S. Pedro.
Na obra, que representa a verdade adquirida através da razão, duas figuras centrais retratam a essência dos pensadores da Antiguidade Clássica e, simultaneamente, o tempo de Rafael: Platão aponta para o céu enquanto segura o seu livro Timeo, ladeado por Aristóteles com a Ética; Pitágoras é representado de lado, de modo a permitir observar a explicação do diatessaron; Reclinado nos degraus da escada, Diógenes sugere a leitura; À sua frente, Eráclito, o filósofo pessimista com traços de Miguel Ângelo; À direita, Euclides ensina geometria, Zaratustra segura o Globo Celestial e Ptolomeu o Globo Terrestre, tendo por companhia o próprio Rafael.

Em lugar de a ilustração recorrer às figuras alegóricas, como era hábito nos séculos XIV e XV, convocando o olhar para o infinito, Rafael submete o espaço pictórico às leis do plano, revelando conhecimento da arquitetura dos banhos romanos, fazendo a síntese entre o pagão e o profano. Perante esta composição expansiva, o espectador quase se alheia do facto de o espaço ser mal iluminado.

Escola de Atenas

Dispostas da esquerda para a direita, as solenes figuras de pensadores representam um verdadeiro debate filosófico: astronomia, geometria e aritmética são descritas de forma concreta, num imponente plano arquitectonicamente convergente para o eixo central do espaço abobadado.

Epicuro? afastado do centro da cena filosófica...

No primeiro plano à esquerda, um rapaz segura a tábua da harmonia musical diante de Pitágoras. Ao centro, Hypatia de Alexandria e Parmenides

Hypatia de Alexandria, a astrónoma e filósofa que os cristãos queimaram e arrastaram pela cidade, olha discretamente para o espectador; Uma hábil subversão de Rafael, tendo em conta que a obra está no Vaticano.

Platão e Aristóteles, considerados os principais representantes da filosofia grega durante toda a Idade Média, caminham em diálogo no topo das escadas

Em atitude filosófica, Diógenes de Sínope reclina-se nos degraus, numa expressão de despojamento em relação às necessidades materiais e a um estilo de vida

A figura de Heraclitus (Michelangelo?) - reclinado sobre o bloco de mármore - terá sido associada mais tarde

Euclides desenha uma figura geométrica perante um grupo de jovens.

A figura de costas com o Globo é provavelmente Ptolomeu, tendo à sua frente Zaratrusta com a esfera. À direita: Rafael de chapéu escuro e o seu amigo Sodoma

As figuras desta composição não se atropelam nem são sufocadas pelo aglomerado; sugerem movimento, numa celebração do pensamento clássico liberal, onde tudo é discutido e exercitado. A ironia reside na inserção de Sodoma e (da imitação) do próprio Rafael, numa apologética improvável à República de Platão e à própria filosofia.

Apolo e Minerva

O Cálice de Antióquia

Descoberto no início  do século XX, este cálice faz parte de um conjunto de objectos litúrgicos do século VI que foram encontrados em 1908 na cidade de Kaper Koraon, a sudoeste de Antióquia, uma cidade tão importante para os cristãos como Roma ou Alexandria. Sendo na altura identificado como o Santo Graal, o cálice usado por Cristo na Última Ceia, terá sido concebido como homenagem após a sua morte.

A rica ornamentação é constituida por arabescos de motivos vegetais, pássaros, um cordeiro, um coelho e doze figuras humanas sentadas segurando pergaminhos, sendo duas delas possivelmente imagens de Cristo e as restantes imagens de dez dos doze apóstolos, ou filósofos do período clássico, entre os quais o cronista Malalas de Antióquia, que tentou estabelecer a ligação entre o cristianismo e a filosofia clássica.

O Cálice de Antióquia - 1ª metade do século VI bizantino. Ouro e prata

A Natividade Mística, de Botticelli

Não existe nenhuma evidência documental que comprove se foi seguidor de Savonarola; No entanto, alguns dos trabalhos tardios de Botticelli, como A Natividade Mística, são inspirados nos seus sermões, podendo concluir-se que o artista foi atraído de forma decisiva pelo papel central que Savonarola teve nos meios político e cultural dos finais do século XV.

Tem sido sugerido que A Natividade Mística, o único trabalho existente assinado por Botticelli, foi concebida para as suas devoções privadas, ou para alguém próximo.
Não sendo uma obra convencional, pois os acontecimentos tradicionais do nascimento de Cristo, da adoração dos pastores e dos Reis Magos está ausente, esta obra inspira-se  nas Profecias da Revelação de São João e inclui, simbolicamente, textos em latim e em grego.

Em A Natividade Mística, Botticelli estabelece uma ruptura com o realismo pictórico da época, patente na desproporcionada figura do Menino, obrigando a Virgem Maria a estar inclinada dentro do estábulo.
Sob a inscrição “Glória a Deus nas Alturas e Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade” (Lucas 2:14), os anjos no céu dançam empunhando ramos de oliveira, com os quais coroam os pastores, simbolizando a paz.
Sobre o telhado do estábulo, o Céu, que se abre para revelar o Paraíso, deixa cair algumas coroas douradas.
Os anjos que apontam para o berço seguram a inscrição “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
Em baixo, os anjos abraçam os homens, enquanto pequenos demónios emergem das profundezas.

Sandro Botticelli – A Natividade Mística, cerca de 1500

São Tomé e a Legenda Áurea

São Tomé, cujo dia se comemora hoje, o Musica Aeterna dedica dois programas com a adaptação do capítulo a ele dedicado na “Legenda Áurea” de Tiago de Voragine. Publicado em 1260, o livro foi escrito em latim popular para tornar acessível a divulgação da vida dos 180 santos mais conhecidos, de quem, até então, só existia tradição oral.

Podcasts: 1ª parte Link do ficheiro áudio em formato Windows Media Áudio – 2ª parte Link do ficheiro áudio em formato Windows Media Áudio

Johann Sebastian Bach – Cantata “Unser Mund sei voll Lachens” -BWV 110

No século XIII, quando instituições como as corporações de ofício estavam no seu auge e, ao mesmo tempo, floresciam as primeiras universidades, Voragine quis oferecer uma dádiva ao povo, ocupado em construir igrejas e catedrais, ávido por conhecer a verdadeira fé. Escreveu então, com fervor e entusiasmo, uma história, retratando os conhecimentos e lendas acumulados com o passar dos séculos, sobre a vida dos santos. Nasceu assim o primeiro livro religioso realmente acessível a todos: a Legenda Sanctorum, ou “O Livro dos Santos”. Rapidamente, a obra recebeu o nome de Légende Dorée — Legenda Áurea, porque, dizia-se então, o seu conteúdo era de ouro.

O texto maravilhou os pintores da Renascença, que nele encontravam fonte inesgotável de inspiração. Artistas como Giotto, Fra Angelico, Piero della Francesca, etc.,  emprestaram o seu génio para exaltar cenas da vida de santos e enriquecer as igrejas, conventos e mosteiros com frescos, retábulos, vitrais e polípticos.


Artemisia, de Rembrandt

A seguir à morte de Mausolus, o Sátrapa de Caria, na Ásia Menor, Artemisia mandou erguer em memória do seu rei e marido um grande monumento, o Mausoléu de Halicarnassus, que foi uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Desconheço se outras haverá, mas estas duas interpretações  da obra são inspiradoras: na primeira, Artemisia terá, simbolicamente, bebido as cinzas de Mausolus; Mais romântica é a da representação do amor que Rembrandt nutre por sua mulher, Saskia.

Rembrandt – “Artemisia”, 1634. Museu do Prado, Madrid

As Três Graças, de Rubens

As Três Graças – 1639, um dos últimos trabalhos de Peter Paul Rubens (1577-1640), ilustra a grande capacidade do artista em manipular as cores primárias para obter os tons da pele humana – com realce para o azul -, aqui utilizado numa proporção que cria uma aparente semelhança entre os tons da pele humana e os do céu.

“Elas eram as deusas do charme prazenteiro, das acções caridosas e da gratidão, sem elas nada seria gracioso ou agradável. Elas transmitiam amizade às pessoas, verticalidade de caráter, doçura e conversação. Apresentadas como três belas virgens, ou estavam completamente nuas, ou envoltas num fino tecido transparente. Mantinham-se juntas, de forma que só duas estivessem viradas para o espectador e uma permanecesse de costas”

Pieter Pauwel Rubens – As Três Graças, 1639