Pressinto que o mundo cresce de teus dedos
quando num clarão mortal se rasgam asas
e faces lívidas de anjos
choram suas raízes arrancadas do chão.
Quando o vento grita em teus cabelos
que não é o mar a seara que se ondula.
Quando um perfil destrói em si a noite
e o teu peito,
onde límpida era a sua côr.
Quando uma árvore frutifica a sua solidão
e se ilumina
com um súbito canto
ou um vulto quase irreal de ser tão breve.
Quando, de olhos sangrentos,
sentes nitidamente o anoitecer
e exausto abandonas a cabeça a mãos ausentes:
náufrago de veias que prolongam a terra,
transfigurado no rosto
onde a manhã te anuncia o seu regresso.
Qualquer caminho leva a toda a parte
Qualquer caminho
Em qualquer ponto seu em dois se parte
E um leva a onde indica a estrada
Outro é sozinho.
Uma leva ao fim da mera estrada. Pára
Onde acabou.
Outra é a abstracta margem
……
No inútil desfilar de sensações
Chamado a vida.
No cambalear coerente de visões
Do […]
Ah! os caminhos estão todos em mim.
Qualquer distância ou direcção, ou fim
Pertence-me, sou eu. O resto é a parte
De mim que chamo o mundo exterior.
Mas o caminho Deus eis se biparte
Em o que eu sou e o alheio a mim
[…]
Romancero viejo
España experimentó una gran ola de italianismo que invadió la literatura y las artes plásticas durante el siglo XVI y que es uno de los rasgos de identidad del Renacimiento: Garcilaso de la Vega, Juan Boscán y Diego Hurtado de Mendoza introdujeron el verso endecasílabo italiano y el estrofismo y los temas del Petrarquismo; Boscán escribió el manifiesto de la nueva escuela en la Epístola a la duquesa de Soma y tradujo El cortesano de Baltasar de Castiglione en perfecta prosa castellana; contra estos se levantaron nacionalistas como Cristóbal de Castillejo o Fray Ambrosio Montesino, partidarios del octosílabo y de las coplas castellanas, pero igualmente renacentistas. Romancero nuevo
En la segunda mitad del siglo XVI ambas tendencias coexistieron y se desarrolló la ascética y la mística, alcanzándose cumbres como las que representan San Juan de la Cruz, Santa Teresa y Fray Luis de León; el petrarquismo siguió siendo cultivado por autores como Fernando de Herrera, y un grupo de jóvenes nuevos autores comenzó a desarrollar un Romancero nuevo, a veces de tema morisco:Lope de Vega, Luis de Góngora y Miguel de Cervantes. Via.
En sus últimos años de vida Lope de Vega se enamoró de Marta de Nevares, en lo que puede considerarse “sacrilegio” dada su condición de sacerdote; era una mujer muy bella y de ojos verdes, como declara Lope en los poemas que le compuso llamándola “Amarilis” o “Marcia Leonarda”, como en las Novelas que le destinó.
Canta Amarilis, y su voz levanta
mi alma desde el orbe de la luna
a las inteligencias, que ninguna
la suya imita con dulzura tanta.
De su número luego me trasplanta
a la unidad, que por sí misma es una,
y cual si fuera de su coro alguna,
alaba su grandeza cuando canta.
Apártame del mundo tal distancia,
que el pensamiento en su Hacedor termina,
mano, destreza, voz y consonancia.
Y es argumento que su voz divina algo tiene de angélica sustancia, pues a contemplación tan alta inclina.
Constituindo a etapa mais fecunda e gloriosa das Artes e das Letras em Espanha, o período compreendido entre o Renascimento e o Barroco, isto é, o Siglo de Oro, estendeu-se ao longo de quinhentos e seiscentos. Nessa época a ficção do país vizinho alcançaria o apogeu de universalidade e expressão com o “Dom Quixote”, a obra-prima de Miguel de Cervantes, e outros géneros literários onde sobressaem as obras picarescas Lazarillo de Tormes, de autor anónimo, cuja edição mais antiga data de 1554, concebida em forma de autobiografia e num estilo epistolar como se de uma longa missiva se tratasse, e Guzmán de Alfarache, publicada, em duas partes, na viragem do século, da autoria de Mateo Alemán, escritor que estabeleceu e consolidou as suas tipologias características. Além disso, foi também a época dourada da poesia, visto Juan Boscán e Garcilaso de la Vega terem adaptado o género lírico transalpino ao castelhano e proporcionado que a sua expressão máxima fosse conseguida na prosa de Santa Teresa de Ávila e na poesia mística de Frei Luis de León e São João da Cruz. João Chambers. Para ouvir no Musica Aeterna de hoje.
Em 1521, vive-se o início perturbado dum grande império que abre à Espanha as portas da Europa renascentista e impregnada pelas ideias da Reforma, em guerra com a França, por rivalidade na disputa do trono da Alemanha.
Com o poeta Juan Boscán, a quem ficará ligado na sua vida e na sua obra, desde o seu desenvolvimento até à sua publicação póstuma, Garcilaso participou na defesa da ilha de Rodas, atacada pelos turcos, em 1522.
O período mais fecundo da sua obra corresponde aos anos de 1533-36, quando Garcilaso, em Nápoles e relacionado com poetas e humanistas italianos, tinha assimilado por completo o espírito e o sentido artístico do Renascimento.
No verão de 1535, Garcilaso tomou parte na expedição do Imperador carlos V a Tunes: foi ferido em combate, o que não o impediu de participar no ataque a fortaleza da Goleta. In “Garcilaso de la Vega – Antologia Poética”, de José Bento
SONETO XXXIII – A BOSCÁN DESDE LA GOLETA
Boscán, las armas y el furor de Marte,
que con su propria fuerza el africano
suelo regando, hacen que el romano
imperio reverdezca en esta parte,
han reducido a la memoria el arte
y el antiguo valor italïano,
por cuya fuerza y valerosa mano
África se aterró de parte a parte.
Aquí donde el romano encendimiento,
donde el fuego y la llama licenciosa
solo el nombre dejaron a Cartago,
vuelve y revuelve amor mi pensamiento,
hiere y enciende el alma temerosa,
y en llanto y en ceniza me deshago.
Souvent, pour s’amuser, les hommes d’équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.
À peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l’azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d’eux.
Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu’il est comique et laid!
L’un agace son bec avec un brûle-gueule,
L’autre mime, en boitant, l’infirme qui volait!
Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l’archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l’empêchent de marcher.
“Vê, meu filho: estes olhos sem fundo fitando o caminhante que este quadro contempla
enquanto apontas aquele corpo alado,
o nobre corpo alado entre rostos e mãos,
são os teus.
Tu és este menino
senhoril e assombrado diante dos senhores.
No teu lenço, minha firma e uma data;
na língua antiga dessa ilha secreta
que me sagrou na luz que não virá ungir-me
escrevi claramente:
“domeniko theotokópoli o fez
1578”.
Não este quadro mas a ti, nesse ano.
Proclamo assim no rigor desta linguagem,
pertença minha como de ninguém,
que te amo sobre todas as coisas:
és a obra mais sonhada e mais gerada
em mim, que existo para minhas obras.
És tão pequeno, não sei quem irás ser,
talvez não te distingas entre quem é turba
e de ti falem só por seres meu filho,
tenham tua face porque segunda vez
te dou a vida neste painel sem preço,
sustendo aí tua carne e sua graça
quando nem se suspeite o lugar de tuas cinzas.
Estes traços e cores, o vasto alento
que de mim pus neste espaço fugaz
irão levar-me longe, onde serei falado
por gentes de hoje que jamais verei,
por outras que o futuro há-de trazer-me.
Mas tu és o meu júbilo íntimo,
a mão que estreito, o corpo que adormeço
enquanto eu vivo for, corpo de mim.
Que me importa a minha obra,
importando-me muito mais que tudo, sempre,
que me dá o meu génio, dando tanto,
– se valores vãos contigo comparados,
embora os louve para dourar meu vazio?
Minha sombra ir-se-á puindo como sombra,
de nada servirá minha ambição
de querer permanecer e eternizar-me
contra o tempo feroz, dissimulado.
Alguns séculos que resistam minhas telas
ante a erosão dos juízos e dos astros
serão apenas um soluço irremível.
Mas em ti continuarei, no testemunho
que entregarás aos filhos dos teus filhos,
que o perpetuem de geração em geração:
em sua palavra em sangue a ansiar vida,
no que de ínfimo façam, pois o homem
– seja quem for – só faz coisas mesquinhas,
estarei, então um nome, ou já nem isso. Tudo o que não sejas tu agora é nada.
in Silabário, de José Bento – Relógio D’Água, 1992
Celebramos hoje o Príncipe dos Poetas. No dia em que passam quatrocentos e vinte e nove anos sobre a sua morte, vale a pena recordar dois conjuntos de textos que analisam as referências astronómicas utilizadas por Camões em “Os Lusíadas”:
Em primeiro lugar, a Professora Carlota Simões desenvolveu no Portal do Astrónomo oito temas (A viagem de Vasco da Gama – A Lua – O Sol – As Ursas – O Cruzeiro do Sul – As dez esferas – O firmamento – Os céus – O movimento dos auges e estrelas fixas ) que permitem conhecer um pouco da obra de Luciano Pereira da Silva – A Astronomia de “Os Lusíadas”.
Numa série de artigos publicados entre 1913 e 1915 na Revista da Universidade de Coimbra, LPS mostra que “Camões tinha um conhecimento claro e seguro dos princípios da astronomia, como ela se professava no seu tempo”e deduz que as ideias astronómicas de Camões decorrem das anotações de Pedro Nunes sobre os textos de Johannes de Sacrobosco, cuja obra Camões mostra conhecer com rigor, quando no Canto X coloca na voz da Deusa Tethis a descrição do mundo tal como esta é descrita no “Tratado da Sphera” , considerada a principal fonte astronómica de “Os Lusíadas”, a par da informação recolhida nos diários de bordo da viagem de Vasco da Gama e nas tábuas náuticas.
Vês aqui a grande máquina do Mundo,
Etérea e elemental, que fabricada
Assim foi do Saber, alto e profundo,
Quem é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e sua superfície tão limada,
É Deus; mas o que é Deus, ninguém o entende,
Que a tanto o engenho humano não se estende.
Da árvore solitária imana o sentimento de melancolia do poeta.
Piet Mondrian – Avond (Evening); Red Tree, 1908.
Haags Gemeentemuseum, The Hague
O Homem que Contempla
Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.
E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.
Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anónimos.
Triunfamos sobre o que é Pequeno
e o próprio êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno nem o Extraordinário
serão derrotados por nós.
Este é o anjo que aparecia
aos lutadores do Antigo Testamento:
quando os nervos dos seus adversários
na luta ficavam tensos e como metal,
sentia-os ele debaixo dos seus dedos
como cordas tocando profundas melodias.
Aquele que venceu este anjo
que tantas vezes renunciou à luta.
esse caminha erecto, justificado,
e sai grande daquela dura mão
que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos já não o tentam.
O seu crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo cada vez maior.
Rainer Maria Rilke, in Das Buch der Bilder – O Livro das Imagens, 1902
Tradução de Maria João Costa Pereira
Criar-me, recriar-me, esvaziar-me, até
que o que de mim um dia, morto, vá
para a terra, não seja eu; enganar honradamente,
plenamente, com vontade firme,
o crime, e deixar-lhe este espantalho negro
do meu corpo, como sendo eu!
E esconder-me,
a sorrir, imortal, nas margens puras
do rio eterno, árvore
– num poente imarcescível –
da imaginação mágica e divina!
The deck is dazzle, fish-stink, gauze-covered buckets.
Gelatinous ingots, rainbows of wet flinching amethyst
and flubbed, iridescent cream. All this
means he’s better; and working on a haul of lumpen light:
polyps, plankton, jellyfish and sea butterflies, the pteropods.
“So low in the scale of nature, so exquisite in their forms!
You wonder at so much beauty — created,
apparently, for such little purpose!” They lower his creel
to blue pores of subtropical ocean. Wave-flicker, white
like a gun-flash over the blown heart of sapphire.
Peacock eyes, beaten and swollen,
tossing on lazuline steel.
in Darwin: a life in poems (2009), de Ruth Padel – descendente de Darwin
Jos d'Almeida é um compositor de música electrónica épico sinfónica, podendo este género ser também designado como Electrónico Progressivo. Na construção de um som celestial, resultante da fusão de várias correntes musicais, JOS utiliza os sintetizadores desde o início dos anos 80.
Chuck van Zyl
Chuck van Zyl has been at his own unique style of electronic music since 1983. His musical sensibilities evoke a sense of discovery, with each endeavor marking a new frontier of sound.