Arquivo de Setembro, 2005

Blasfémias

Após o debate de anteontem, tive o grato prazer de conhecer alguns dos rostos que fazem o Blasfémias, bem como os de alguns convivas que se juntaram à liça.
Excelentes anfitriões, apesar do café, que só se podia tomar no bonito espaço do último piso do Rivoli.
Quanto aos temas fracturantes, espero que continuem a ser debatidos nos blogues, com mais profundidade e de forma menos politicamente correcta.

Após o debate de ontem na Sic-Notícias, onde o próximo maire de Lisboa fez de MMC gato-sapato, não podia ter descido ao nível do seu oponente.
Perdeu uma soberana oportunidade de clarificar desde já porque o candidato socialista é um erro de casting em Lisboa.
Quando se detém este nível de responsabilidade, deve-se possuir poder de encaixe para estes golpes baixos; Se um dia fôr afrontado na rua por um cidadão, não vai certamente reagir assim, Professor!
Por isso – e só por isso – deve um pedido de desculpas.. Aos lisboetas!

As Banhistas, de Ingres

Jean-Auguste-Dominique Ingres ( 1780-1867), que elegeu este tema como um dos seus favoritos, expôs a sua obra em simultâneo com o trabalho de Delacroix descrito no post anterior, no Salão de Paris de1824. Para sua surpresa, foi aclamado como um dos artistas que se opunham ao Novo Romantismo.


A Banhista, 1808

Neste seu primeiro estudo sobre o nú feminino, o apelo estético reside na monumentalização da figura individual.


A Grande Odalisca, 1814

“Quanto mais simples forem as formas, maior a beleza e a força.”


O Banho Turco, 1862

Nesta obra-prima realizada nos últimos anos de vida, Ingres retoma as banhistas e odaliscas dos primeiros anos. Os motivos para estas formas femininas idealizadas que vivem apenas para a beleza e prazer, são baseados em relatos pormenorizados do oriente – descrições sobre os banhos no harém de Maomé – e as cartas onde Lady Montagu descreve os banhos turcos.

Pela beleza abstracta, a magnífica pele branca como leite, as formas graciosas dos seus corpos e os seus cabelos e pela sua sensualidade, as banhistas possuem uma inocência paradisíaca, sem gestos ou comportamentos indecorosos entre si.
A beleza intangível das mulheres – suspensa no tempo – é obtida com grande economia de meios, através dos subtis jogos de luz que lhes moldam as formas e a pele.

Within the Realm of a Dying Sun

Força é pois ir buscar outro caminho!
Lançar o arco de outra nova ponte
Por onde a alma passe – e um alto monte
Aonde se abra à luz o nosso ninho.

Se nos negam aqui o pão e o vinho,
Avante! é largo, imenso, esse horizonte…
Não, não se fecha o Mundo! e além, defronte,
E em toda a parte há luz, vida e carinho!

Avante! os mortos ficarão sepultos…
Mas os vivos que sigam, sacudindo
Como o pó da estrada os velhos cultos!

Doce e brando era o seio de Jesus…
Que importa! havemos de passar, seguindo,
Se além do seio dele houver mais luz!

Antero de Quental

Veritas

Maus tratos, como agressão física e abuso sexual; Negligência e carências económicas das famílias, são as principais causas encontradas na investigação efectuada pela Comissão Nacional de Saúde da Criança e do Adolescente (CNSCA).
A terrível revelação de que milhares de crianças hospitalizadas estavam – e estão – em risco social; que quatro a seis em cada dez dessas crianças tem menos de dois anos.
É este, o Portugal do século XXI?

Fonte: Diário de Notícias


Maternidade, de Pablo Picasso

Se puderes guardar o sangue frio diante
de quem fora de si te acusar, e, no instante
em que duvidem de teu ânimo e firmeza,
tu puderes ter fé na própria fortaleza,
sem desprezar contudo a desconfiança alheia…

Se tu puderes não odiar a quem te odeia,
nem pagar com a calunia a quem te calunia,
sem que tires daí motivos de ufania,
sonhar, sem permitir que o sonho te domine,
pensar, sem que em pensar tua ambição se confine,
e esperar sempre e sempre, infatigavelmente…

Se com o mesmo sereno olhar indiferente
puderes encarar a Derrota e a Vitória,
como embustes que são da fortuna ilusória,
e estóico suportar que intrigas e mentiras
deturpem a palavra honesta que profiras…

Se puderes, ao ver em pedaços destruída
pela sorte maldosa, a obra de tua vida,
tomar de novo, a ferramenta desgastada
e sem queixumes vãos, recomeçar do nada…

e tendo loucamente arriscado e perdido
tudo quanto era teu, num só lance atrevido,
se puderes voltar à faina ingrata e dura,
sem aludir jamais à sinistra aventura…

Se tu puderes coração, músculos, nervos
reduzir da vontade à condição de servos,
que, embora exausto, lhe obedeçam ao comando…

Se, andando a par dos reis e com os grandes lidando,
puderes conservar a naturalidade,
e no meio da turba a personalidade,
impávido afrontar adulações, engodos,
opressões, merecer a confiança de todos,
sem que possa contar, todavia, contigo
incondicionalmente o teu melhor amigo…

Se de cada minuto os sessenta segundos
tu puderes tornar com teu suor fecundos…

a Terra será tua, e os bens que se não somem,
e, o que é melhor, meu filho, então serás um Homem!

Carta ao filho, de Rudyard Kipling
Tradução de Alcantara Machado

momentos de felicidade

Vencer o primeiro clássico do Centenário.

Ter o estádio inteiro em festa, onde – num derby equilibrado – a felicidade esteve do lado da equipa mais alegre, mais concretizadora das oportunidades criadas; ainda assim, podia ter sido mais feliz!
Depois, ter um Tello capaz de grandes apontamentos como o cruzamento para um grande golo do levezinho.

Ver que o jovem está tão crescido como jogador!

Enfim.. ser sócio do Sporting Clube de Portugal

Arte Rupestre do Vale do Côa – Penascosa

Nesta zona de vale mais aberto do rio Côa, forma-se uma praia relativamente extensa, cujas areias poderão estar a tapar mais rochas gravadas para além das que já são conhecidas.
Pela topografia do local, propícia ao estabelecimento de acampamentos, deve ter sido em tal contexto de habitat que tiveram lugar estas actividades artísticas.
Porém, as escavações realizadas revelaram a ausência de níveis arqueológicos que comprovassem tais ocupações, os quais devem ter sido erodidos no início do Holocénico, o período geológico em que vivemos actualmente.
Os depósitos fluviais actualmente observáveis no fundo do vale são relativamente recentes, tendo a sua parte superior sido acumulada apenas no decurso do último milénio.

Penascosa

Boa parte dos suportes das gravuras parece estar num estado adiantado de fragmentação.
Uma vez que há diversos exemplos de gravuras desenhadas de modo a aproveitar os espaços definidos pelos blocos fragmentados, pode deduzir-se que seria já esse o aspecto das rochas no Paleolítico, quando foram gravadas.
Tal como na Canada do Inferno, todas as figuras conhecidas foram feitas sobre as superfícies verticais criadas pela clivagem dos xistos. Para além dos painéis mais conhecidos, com gravuras executadas por picotagem e por abrasão, foram recentemente descobertas algumas rochas profusamente gravadas com motivos filiformes.

Rocha 3

Embora a representação de cavalos e cabras no mesmo painel pareça ser a forma mais frequente de associação entre diferentes espécies animais, a associação cavalo-auroque – típica da arte paleolítica – está igualmente bem documentada.

Detalhe representando movimento (Ver figura no decalque de côr verde)

Fonte dos textos: Parque Arqueológico do Vale do Côa

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Antecâmara – IV

Está em elaboração o Estatuto do gestor público.
Do Conselho de Ministros de ontem, sairam medidas como:
Descrição obrigatória das remunerções dos gestores nos relatórios de gestão;
Limites para os complementos de reforma e restrições ao uso dos benefícios antes dos 65 anos;
Prémios de desempenho dependentes do cumprimento dos objectivos.

A moralização, no entanto, não afasta os gestores públicos dos Mercados, ou seja, para ter os mais competentes, é necessário apresentar-lhes pacotes salariais atraentes.
Os milagres custam dinheiro!

ÁREA III – SERVIÇOS PÚBLICOS, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DESPESA PÚBLICA

1. Qual o nível objectivo de Despesa Pública face ao PIB para daqui a 4 anos? Quais as medidas para alcançar esse objectivo?

Relevância da Questão
Sem uma despesa pública controlada e competitiva face a outros países não será possível ter um sistema fiscal competitivo que estimule o investimento e o trabalho.
Uma Despesa Pública elevada pode revelar uma asfixia da sociedade civil e da iniciativa privada. Actualmente a Despesa Pública representa cerca de 48% do PIB, o que coloca Portugal na média Europeia mas com uma tendência crescente face a uma tendência decrescente dessa média.
Os dois principais factores de pressão na Despesa Pública são o custo com pessoal dos funcionários públicos e as contribuições para a Segurança Social.

2. Quanto e como se vai reduzir o peso das despesas com funcionários públicos no PIB? Que política de pessoal para a administração Pública? Que incentivos à produtividade? Que incentivos à mobilidade e requalificação?

Relevância da questão
Para um rácio de despesa total 1.3 p.p. abaixo da média europeia, as despesas com pessoal representam uma proporção 40% superior à média europeia. Esta desproporção é um sinal de ineficiência da administração e uma explicação do elevado nível da despesa.
Gestores públicos vão ganhar menos

3. Que objectivo para o défice público estrutural e para a dívida pública? Com que acções se propõe alcançar esse objectivo: impostos, despesa, ou outra?

Relevância da Questão
A acumulação de dívida pública (cujo rácio está actualmente acima dos 60%, valor de referência do PEC) é um encargo transmitido às gerações futuras (constituindo direitos de saque sobre os seus impostos).
O envelhecimento da população vai aumentar as necessidades futuras de despesa (pensões e saúde, nomeadamente) pelo que a dívida transmitida à geração futura vai tornar mais difícil mobilizar recursos para aquelas necessidades, obrigando a aumentar impostos para níveis incomportáveis ou a cortar nos benefícios sociais.

4. Que objectivo para a carga fiscal sobre a economia? Que impostos se pretende modificar e com que impacto? IRS, IRC, IVA, outros?

Relevância da questão
Os recursos desviados da economia privada diminuem a capacidade de investimento deste sector, afectando a eficiência da economia.
Nos últimos 10 anos, enquanto a carga fiscal (sobre o PIB) média europeia se manteve estável, em Portugal aumentou 2.5 pp.

5. Como assegurar a transparência e credibilidade das contas públicas? Como assegurar a transparência de todas as responsabilidades do Estado financeiras do Estado (incluindo as que estão fora do perímetro de consolidação das Administrações Públicas?)

Relevância da questão
O conhecimento da dimensão dos problemas é um dado fundamental para a sua possível solução.
As empresas públicas geralmente deficitárias (transportes nomeadamente) são um instrumento de acção social do Estado e como tal as suas responsabilidades financeiras são dívida do Estado que não costuma aparecer nas estatísticas oficiais por supostamente reportarem ao “universo empresarial”.
O aumento não acompanhado destas responsabilidades é uma forma de aumento encapotado de dívida pública, com as mesmas consequências da dívida “oficial”.

Ligações perigosas


The Rape of Ganymede, de Damiano Mazza – 1570-90

Ganymede, um belo pastor, foi arrebatado das colinas por Zeus – sob a forma de águia – e levado para o Monte Olimpo.

Da interpretação dos sonhos

Pelo menos dois ilustres lampiões, este senhor e este senhor devem estar a sofrer oscilações no tálamo cortical.
Em vigília, desejariam que o guarda-redes do Sporting Clube de Portugal e da Selecção de todos nós, estivesse ao serviço do glorioso..
Durante o sono profundo, convencem-se que o treinador do Sporting é esperto e que vai convocar o Ricardo para o derbymedo, muito medopensam eles de que!
Eu sei que a realidade é dura, por isso belisquem-se – não estão a sonhar – terão de enfrentar a contingência de o Ricardo ser titular, não porque o treinador seja esperto, claro, mas pela simples razão de que é o melhor guarda-redes a jogar em Portugal!
O que deverão considerar como uma lisonja.

Saudações Leoninas

Vale encantado II

Após meia-hora de carro por uma estrada sinuosa, ladeada de amendoeiras, chegar a este lugar sem saída e ter este rio e estas montanhas só para mim, constituem o maior prazer solitário destes tórridos dias de verão.
Do verão inteiro, melhor dizendo.
A água fresca e calma do Douro, o silêncio absoluto, adiam a vontade de fazer o caminho de regresso..


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Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria…
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga