In Memoriam – Enrique Morente

A 12 dias de completar 68 anos, Enrique Morente, considerado  o grande inovador do Flamenco, não resistiu ao maldito. O El País e a sua jornalista Amelia Castilla honram a memória de mais um Grande de Espanha que deixa saudades.

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

Poema de DAVID MOURÃO-FERREIRA
Gravura de ALBRECHT DÜRER – NATIVITY, 1504

Julian Assange: O mundo precisa da WikiLeaks – porquê?

O Hacker mais famoso do momento, na primeira pessoa. O justiceiro do século XXI que deixa os media muito mal na fotografia e que simultaneamente se serve dos jornalistas para fazerem (por ele) o trabalho sujo.
Não me convences, rapaz.

Divino Sospiro – Telemann, O Paradigma do Barroco

DIVINO SOSPIROTelemann, Paradigma do Barroco Europeu | CCB, 11 Dez 2010 – 19:00

DIVINO SOSPIROViolino principal e direcção musical ENRICO ONOFRI

Primeiros Violinos ENRICO ONOFRI, Iskrena Yordanova, Elisa Bestetti, Reyes Gallardo, Josef Hohn | Segundos Violinos Alfia Bakieva, PAOLO PERRONE, LEONOR DE LERA, MIRIAM MACAIA | Violas Massimo Mazzeo, NUNO MENDES | Violoncelos DIANA VINAGRE, ANA RAQUEL PINHEIRO | Contrabaixo Marta Vicente | Oboés PEDRO CASTRO, ANDREIA CRAVALHO | Alaude PIETRO PROSSER | Fagotes JOSÉ GOMES | Cravo Miguel Jalôto
Programa – Georg Philipp Telemann
Ouverture Volker Ouverture TWV 55: B5 | Concerto para 3 violinos e cordas | Sinfonia Spirituosa TWV 44:1 | Concerto para oboé | Ouverture Les Nations ancienne et moderne TWV 55: G4
Biografia de DIVINO SOSPIRO (Via)
Divino Sospiro, orquesta barroca portuguesa fundada por el músico italiano Massimo Mazzeo, nació de la colaboración de músicos que compartían principios estéticos y su residencia en Portugal. Desde su creación Divino Sospiro se ha ganado un reconocido lugar entre las formaciones especializadas en música antigua de mayor rigor y calidad.
Con un repertorio que representa la esencia de su tiempo, Divino Sospiro interpreta sus conciertos siguiendo rigurosamente las directrices estéticas y estilistas de los periodos clásicos y barrocos. Entre sus conciertos podemos destacar diferentes colaboraciones en Folles Journée 2003, 2005, y 2006, seguido de una gira por Italia con un gran recibimiento tanto por el público como por la crítica. Ha sido también invitado por prestigiosos festivales e instituciones tales como: “Los Encuentros de Música Antigua de Loulé”, el Festival de Leiria, el Festival de “Ille de France” en Paris (concierto que fue grabado por Radio France, La Folle Journée Nantes, Lisboa, Tokio (con un éxito que superó cualquier expectativa), el Teatro Nacional de Sao Carlos en Lisboa, el Festival “Varna Summer” (Bulgaria), Febrero Lírico en San Lorenzo de El Escorial así como la clausura del Festival de Ambronay.
En mayo de 2006 Divino Sospiro realizó una gira en Japón. Debido al gran éxito obtenido recibió el encargo por parte de NICHION de grabar un CD con repertorio de Mozart; dicha grabación tuvo lugar en Portugal en el Centro Belém el 11 de noviembre de 2006 y desde su aparición en el mercado japonés han sido numerosos los galardones cosechados, incluso el sello de “Bestseller” así como la permanencia durante varias semanas en los primeros puestos de ventas en tiendas especializadas como “Tower Records”. Por otro lado existe el inminente proyecto de crear el sello “Sospiro” que se especializará en la grabación del espléndido repertorio portugués de los siglos XVII y XVIII.
A lo largo de su trayectoria has sido muchas y notables las colaboraciones de Divino Sospiro tanto de solistas como de directores: Christophe Coin, Katia y Marielle Labeque, Rinaldo Alessandrini, Chiara Banchini, Alfredo Bernardini, Enrico Onofri, Alexandrina Pendatchanska, Gemma Bertagnolli, Maria Cristina Kiehr, Vittorio Ghielmi entre otros.
Divino Sospiro está activamente involucrado en la docencia musical barroca proporcionando clases magistrales dadas por los violinistas barrocos Chiara Banchini y Enrico Onofri en colaboración con la Escuela de Música del
Conservatorio Nacional en el Centro Cultural de Belém en Lisboa. En dichas actividades han participado también Rinaldo Alessandrini, Alfredo Bernardini, Alberto Grazzi, Vittorio Ghielmi, Maria Cristina Kiehr, Gustav Leonhardt. Es digna de mención la inauguración del curso magistral de música antigua de la Universidad de Evora. Divino Sospiro ocupa en estos momentos el puesto de orquesta residente del Centro Cultural de Belén en Lisboa y su director habitual es Enrico Onofri con quien la agrupación mantiene una continua y preciada relación artística.

Um luminoso Monteverdi

As ligações referem-se à série de vídeos dedicados aos Concertos Promenade da BBC, Setembro de 2010.
Claudio Giovanni Antonio Monteverdi,1567 – 1643 – Vespro della Beata Vergine, 1610 / SV 206 | Monteverdi Choir | London Oratory Junior Choir | Schola Cantorum of The Cardinal Vaughan Memorial School | English Baroque Soloists | His Majestys Sagbutts and Cornetts | Conducted by John Eliot Gardiner

Com a devida vénia a Cristina Fernandes, que escreveu a crítica para o Público de 02-12-2010.
Em 2010, comemoram-se quatro séculos da publicação das Vésperas da Beata Virgem, de Monteverdi, em Veneza, pelo que esta obra paradigmática dos inícios do Barroco tem um lugar de destaque nas programações de várias instituições. Em Portugal, contamos com duas interpretações por músicos de alto nível num curto espaço de tempo. A primeira teve lugar na segunda-feira, na Gulbenkian, com o coro La Capella Ducale e o ensemble Musica Fiata, sob a direcção de Roland Wilson, e no dia 8 será possível ouvir a versão do agrupamento La Venexiana, dirigido por Claudio Cavina, no Centro Cultural de Belém.

As Vésperas de Monteverdi são uma obra de transição entre o antigo e o novo, que leva ao ponto mais alto, quer a herança da polifonia renascentista, quer as experiências florentinas e venezianas dos inícios do século XVII (como a monodia acompanhada e a policoralidade). À estrutura litúrgica tradicional do Ofício de Vésperas (com os seus Salmos, Antífonas, Hino e Magnificat), Monteverdi acrescentou quatro “concertos” para vozes solistas e baixo contínuo (por vezes também designados por motetes), onde explora características do novo estilo barroco, e a belíssima Sonata sopra Sancta Maria, onde a melodia de cantochão emerge sobre uma luxuriante textura instrumental.

Cada trecho tem uma constituição vocal e instrumental diversa, mas de uma maneira geral Robert Wilson dividiu os seus 10 cantores em dois coros, de modo a potenciar o jogo da policoralidade. O efeito a esse nível foi discreto e o resultado ganharia com uma acústica com mais ressonância, mas tal só seria possível num espaço mais adequado à música desta época do que o Grande Auditório Gulbenkian. Embora menos exuberante do que as interpretações por agrupamentos italianos, La Capella Ducale e o grupo Musica Fiata ofereceram uma versão luminosa das Vésperas que se foi tornando mais envolvente à medida que a obra avançava. O início tímido, com um Dixit Dominus algo linear e pouco pujante, contrastou com a transparência dos planos sonoros, a energia rítmica e as sedutoras nuances de colorido que caracterizaram o Magnificat no final.

Jan van Bijlert – The Concert, 1635-40

Entre outros belos momentos, destaca-se o Nisi Dominus ou o concerto Audi Coelum, com a solução bem conseguida de colocar o cantor responsável pelo eco fora do palco. Tal como sucedia na época de Monteverdi, os cantores responsáveis pelos solos são os mesmos que fazem as partes corais, demonstrando em geral uma sólida qualidade nas duas vertentes. No entanto, deveriam ter ido mais longe no plano da retórica musical e da relação texto-música. Por exemplo, o dueto de sopranos Pulchra es foi algo superficial e houve passagens (como na Sonata sopra Sancta Maria) com algumas imprecisões ou pequenas dessincronizações rítmicas.

Em compensação, o ensemble Musica Fiata demonstrou virtudes como o brilho da sonoridade dos sopros (trombones e cornetos) e um óptimo trabalho ao nível do baixo contínuo (órgão, chitarroni, harpa dupla, violone e lirone), que não se limitou a uma realização básica de preenchimento da harmonia, mas operou um verdadeiro diálogo com o conjunto e deu destaque à identidade de cada instrumento. Quer pela prestação dos músicos de Robert Wilson, quer pelo poder avassalador da extraordinária música de Monteverdi, a assistência foi tomada pelo entusiasmo no final, aplaudindo longamente em pé.

Cristina Fernandes

La Venexiana | Vésperas de Monteverdi

LA VENEXIANAVespro della Beata Vergine, 1610 | Centro Cultural de Belém, 8 Dez 2010 – 17:00

Para celebrar os 400 anos das Vésperas de Monteverdi, obra-prima do barroco italiano, representativa das melhores técnicas vocais da época, Claudio Cavina traz a Lisboa o consort La Venexiana.
Dono de uma extensa discografia, nomeadamente de uma edição de Monteverdi para a etiqueta Glossa, este ensemble vocal e instrumental é detentor de inúmeros prémios internacionais e é aclamado por todo o mundo como um dos melhores da actualidade.

CLAUDIO CAVINA direcção musical | ROBERTA MAMELI soprano | VALENTINA COLADONATO soprano | ANDREA ARRIVABENE contralto | DANIELE MANISCALCHI tenor | BALTAZAR ZUNIGA tenor | RAFFAELE GIORDANI tenor | MARIO CECCHETTI tenor | MARCO BUSSI baixo | SALVO VITALE baixo

Musica Fiata + La Capella Ducale | Vésperas de Monteverdi

Vespro della Beata Vergine (1610), de Monteverdi, é uma genial combinação entre a tradição e a inovação. Ao mesmo tempo que herdeira da polifonia quinhentista, lança as bases do pleno estilo barroco. O coro La Capella Ducale e o ensemble Musica Fiata interpretam esta obra apaixonante quatro séculos depois da publicação da partitura em Veneza.

Coloquei a Brochura no Issuu

Lisboa, Tejo e tudo

‎[…]O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.‎[…]

(do “Guardador de Rebanhos” – Alberto Caeiro)

Arpad pinta Maria Helena a pintar Arpad…

Arpad Szenes – Maria Helena VI, 1942

 

Aniversário de José Bento

No septuagésimo oitavo aniversário do meu roncinante amigo, fica a homenagem ao vulto da cultura portuguesa a quem, em 2006, foi atribuído o 1º Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura. É de sua autoria a monumental tradução de Don Quixote de La Mancha de Cervantes, com ilustrações de Lima de Freitas e editada pela Relógio D’ Água.

Recomendo ainda a audição do  Musica Aeterna de Julho de 2009 que o amigo João Chambers dedicou ao Siglo de Oro, que inclui alguns trechos das traduções de José Bento, com quem tive o grato prazer de ouvir este extraordinário podcast.

Sandro Botticelli – Giovanna degli Albizzi Receiving a Gift of Flowers from Venus, 1486

Para Botticelli

Pressinto que o mundo cresce de teus dedos
quando num clarão mortal se rasgam asas
e faces lívidas de anjos
choram suas raízes arrancadas do chão.

Quando o vento grita em teus cabelos
que não é o mar a seara que se ondula.

Quando um perfil destrói em si a noite
e o teu peito,
onde límpida era a sua côr.

Quando uma árvore frutifica a sua solidão
e se ilumina
com um súbito canto
ou um vulto quase irreal de ser tão breve.

Quando, de olhos sangrentos,
sentes nitidamente o anoitecer
e exausto abandonas a cabeça a mãos ausentes:
náufrago de veias que prolongam a terra,
transfigurado no rosto
onde a manhã te anuncia o seu regresso.

in Silabário, de José Bento