Praia do Valmitão

Praia do Valmitão

Corpus Christi

Após completar a Sala da Assinatura, Rafael começou a decoração da contígua Sala de Heliodoro, o que decorreu entre 1511 e 1514. Originalmente concebida como sala de audiências privadas com o Papa Júlio II, que morreu entretanto, foi o seu sucessor, Leão X (Giovanni de Medici, filho de Lorenzo, o Magnífico) a concluir a escolha dos quatro temas que visavam documentar em diferentes momentos históricos, desde o Antigo Testamento até à Idade Média, a protecção milagrosa concedida por Deus à Igreja, ameaçada na sua fé: Missa de Bolsena,  Libertação de São Pedro,  Encontro de Leão O Grande com Átila e a Expulsão de Heliodoro do Templo.

A Missa de Bolsena, representada a seguir à Expulsão de Heliodoro do Templo, teve lugar em Bolsena, perto de Orvieto.
Em 1263, um sacerdote da Boémia, perturbado pela dúvidas sobre a doutrina da transubstanciação, ou seja, a transformação do pão e do vinho no sangue e no corpo de Cristo, iniciou uma peregrinação a Roma. De caminho, celebrou missa em Bolsena, onde, durante a consagração da Eucaristia começou, milagrosamente, a sangrar. De cada vez que limpava o sangue, aparecia uma cruz ensanguentada no pano utilizado, um milagre que dissipou as dúvidas do atormentado padre. O pano tornou-se uma relíquia venerada, tendo permanecido na Catedral de Orvieto para homenagear a ocasião.

Em Missa de Bolsena, tal como na representação anterior, Rafael fez do Papa Júlio II testemunha do milagre que teve lugar quase três séculos antes; Em Setembro de 1506, Júlio II havia parado na Catedral de Orvieto para ver o pano manchado de sangue ali depositado e assim demonstrar a sua ligação ao milagre pelo qual a Festa de Corpus Christi havia sido instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264.
Para ser celebrada na Quinta-Feira a seguir à Festa da Santíssima Trindade, que acontece no Domingo depois de Pentecostes, a Festa de Corpus Christi acontece 60 dias após a Páscoa, podendo ocorrer entre os dias 21 de Maio e 24 de Junho.

A Memória

A memória foi um género literário
quando ainda não tinha nascido a escrita.
Veio a ser depois crónica e tradição
mas já fedia como um cadáver.
A memória vivente é imemorial,
não surge da mente, não se enraiza nela.
Junta-se ao existente como uma auréola
de névoa na cabeça. Está já esfumada, é duvidoso
que regresse. Nem sempre tem memória
de si.
Poema de Eugenio Montale, extraído de «Caderno de Quatro Anos» (1960 e 1973-1977)
Gravura de William Blake, extraída do poema ilustrado “Jerusalém”

O verdadeiro museu está lá fora

Os Lusitanos

“Os Lusitanos… Usam um pequeno escudo de dois pés de diâmetro, côncavo para diante, suspenso com talabartes de couro: com efeito, não possuem nem braçadeira nem asa. Além disso, usam ainda punhal ou gládio. A maior parte usa couraças de linho; poucos, cotas de malha e um capacete de tríplice cimeira, ao passo que os demais têm elmos de nervos. Os peões usam também polainas de couro e cada um traz diversos dardos; e alguns lanças com ponta de cobre.”

Estrabão (63 a.c. – 19/20 d.C. ou 58 a.c. – 25 d.C.) – Geografia, Livro III, Lusitânia
Museu do Côa, 2011 – Imagem do Vale do Forno – Rocha 6

Pentecostes


Feira Medieval de Marialva

A aldeia histórica de Marialva, no concelho de Mêda, promove no dia 12 de Junho uma Feira Medieval, de modo a valorizar e divulgar o seu legado histórico. A Feira terá o seu início pelas 14 horas com uma arruada. Às 14h30, será lida a Carta de Feira como forma simbólica de abertura. Pelas 16 horas poderão ser apreciadas as danças camponesas com malabaristas, saltimbancos e trovadores. Mais tarde, às 16h30, será encenado o roubo e julgamento do ladrão bem como a dança moura e venda de escravos. A partir das 17 horas realiza-se a encenação de um contrato de casamento, uma mostra de armas, falcoaria e assalto ao castelo. Às 21 horas decorre a actuação de um Grupo de Música Medieval. A iniciativa surge pela mão da Câmara Municipal de Mêda e pelo Agrupamento de Escolas do concelho.

A flor que és, não a que dás, eu quero

Ad juvenem rosam offerentem
A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço?
Tão curto tempo é a mais longa vida,
E a juventude nela!
Flor vives, vã; porque te flor não cumpres?
Se te sorver esquivo o infausto abismo,
Perene velarás, absurda sombra,
O que não dou buscando.
Na oculta margem onde os lírios frios
Da infera leiva crescem, e a corrente
Monótona, não sabe onde é o dia,
Sussurro gemebundo.
Ricardo Reis, 1923
Hans Baldung Grien – “Three Ages of Man”, 1539

O meu Gaugin favorito no Thyssen

Na passagem do centésimo sexagésimo terceiro aniversário do nascimento de Paul Gaugin, partilho com entusiasmo este “Rua de Rouen” de 1884, que trouxe como recuerdo da visita à Colecção Carmen Thyssen-Bornemisza.
Obrigatório, numa passagem por Madrid!

Museo Thyssen- Bornemisza | Paul Gaugin - Street in Rouen_1884

Calle de Ruán es uno de los más ambiciosos paisajes —y de mayor formato— de los pintados por Gauguin durante su estancia en esta localidad del noroeste de Francia entre enero y noviembre de 1884. En ese periodo, en el que dejó de ser un pintor amateur y comenzó a dedicarse de forma plena a la pintura, Gauguin realizó numerosos paisajes y algunos retratos y naturalezas muertas. Pintado con un estilo impresionista, de pinceladas discontinuas aplicadas con toques muy uniformes, en el que aún se aprecian deudas de Cézanne y Pissarro , representa una solitaria calle de las afueras y no un paisaje puramente campestre como puede parecer a primera vista. Según recoge el reciente catálogo razonado de Daniel Wildenstein , los árboles de la derecha de la composición podrían identificarse con los del cementerio monumental de Ruán, situado muy cerca de los barrios de Bihorel y de Sapins , donde residía el artista.
El tratamiento en perspectiva de caminos y calles era, en 1884, uno de los motivos fundamentales del impresionismo pero, tal y como señala Ronald Pickvance , «Gauguin introduce una provocativa variante al utilizar este tema con un brusco giro en la carretera que diluye la inevitable curva en el final de la composición, permitiendo así cerrar el espacio del fondo» . A ese punto de fuga están anclados los grandes chopos, que hacen de contrapunto vertical de la acentuada línea oblicua del camino y junto a los que se puede entrever un grupo de casas. Según ha apuntado Guillermo Solana, esta manera de «(no) mirar la ciudad desde el campo» le sirve a Gauguin para acentuar la soledad bucólica de esa figura femenina de espaldas, el único personaje de la escena . Este modo de evocar la soledad a través del tratamiento del paisaje, sobre todo en el gran espacio abierto del primer plano, es interpretado por Sarah Whitfield como un primer paso hacia la pintura más expresiva y simbolista de los años posteriores .
Por su tamaño, por su temática y por su estilo, es bastante creíble la hipótesis de que se trate del cuadro que Gauguin expuso en la octava y última exposición impresionista de 1886 con el título de Camino de Ruán . Gauguin presentó diecinueve pinturas y un pequeño relieve que había regalado a Pissarro en 1882. La crítica reaccionó con bastante indiferencia ante las obras del pintor, aunque aparecieron algunas menciones a su trabajo, como la del crítico Gustave Geffroy , que escribía: «M. Gauguin ha expuesto diecinueve telas entre las que hay algunas naturalezas muertas, pero sobre todo paisajes. Ha elaborado sauces, pequeñas charcas, alrededores de granjas, caminos, y ha bosquejado una vista de Ruán. Hay una gran consistencia en la mayor parte de estos estudios y la armonía es el efecto dominante» .
Paloma Alarcó

A música, sim a música…

A música, sim a música…
Piano banal do outro andar.
A música em todo o caso, a música..
Aquilo que vem buscar o choro imanenre
De toda a criatura humana
Aquilo que vem torturar a calma
Com o desejo duma calma melhor…
A música… Um piano lá em cima
Com alguém que o toca mal.
Mas é música…
Ah quantas infâncias tive!
Quantas boas mágoas?,
A música…
Quantas mais boas mágoas!
Sempre a música…
O pobre piano tocado por quem não sabe tocar.
Mas apesar de tudo é música.
Ah, lá conseguiu uma música seguida —
Uma melodia racional —
Racional, meu Deus!
Como se alguma coisa fosse racional!
Que novas paisagens de um piano mal tocado?
A música!… A música…!

Álvaro de Campos, 1934
Gravura de Hans Baldung Grien “Music”, 1529