Celebração da Primavera

Um Trampolim no Ártico?

polar-bear 

Sim. Para o urso pular!

Mas não de contentamento, pelo

caminho que as coisas estão a levar…

As 53 estações do Tokaido

Museu Gulbenkian, Galeria de Exposição Permanente – Até 31 de Maio de 2009

A série de gravuras «Estações do Tokaido» adquirida por Calouste Gulbenkian integra-se no conjunto de cerca de 200 estampas japonesas dos séculos XVIII e XIX. Assinadas por três grandes mestres Hiroshige (1797-1858), Kunisada (1786-1865) e Kuniyoshi (1797-1861), as 55 estampas, editadas c. 1845, por diferentes editores, ilustram lendas e contos relacionados com as estações do Tokaido. 
 O Caminho do Mar do Oriente

O Tokaido (O Caminho do mar do Oriente) era a principal via terrestre do Japão feudal. Percorria cerca de 500 km entre a antiga capital imperial, Quioto e a verdadeira capital – Edo (Tóquio), capital militar dos Tokugawa. No século XVII, Ietyasu Tokugawa, um poderoso dáimio (senhor feudal e membro da nobreza militar), conseguiu pacificar e unificar o Japão e estabelecer um sistema organizativo com o objectvo de limitar o poder dos senhores feudais. Ao longo do caminho, foram criados pela administração Tokugawa 53 seki (postos de vigia), controlados por guardas que proibiam a passagem aos viajantes que não possuíssem a documentação adequada para prosseguir a jornada.   
      
Entre os viajantes do Tokaido, destacavam-se as comitivas que faziam parte do séquito dos dáimios, enviadas para a corte do xógun (comandante militar do imperador, com residência oficial em Quioto), para aí permanecer durante um ano, e deste modo evitar a organização de qualquer rebelião contra o poder imperial. 
     

 

 

Os dáimios eram obrigados a prestar vassalagem ao imperador, tendo de percorrer o Tokaido para cumprir as visitas cerimoniais.  As 53 estações (sem contar com a do início e do término), situadas ao longo do caminho, abrigavam não apenas as comitivas dos senhores feudais mas todo o tipo de viajantes, mercadores, peregrinos e camponeses. Viajar nesta estrada, tão concorrida, era uma aventura pelas surpresas, riscos e dificuldades e também pelas intempéries que particularmente no Inverno assolavam a região. A maior parte dos viajantes demorava duas semanas a percorrer os 500 quilómetros a pé, alugando por vezes cavalos e palanquins para atravessar rios e lagos, desfrutando da paisagem ou das casas de chá. Outros, prolongavam a viagem, permanecendo por vezes vários dias na mesma estação.  

No percurso ao longo da costa (em parte o Pacífico, em parte o mar interior), su cedem-se paisagens magníficas e variadas, incluindo lugares onde as montanhas subitamente irrompem no mar. Esta estrada tem ainda muitos outros motivos de interesse: santuários, como o de madeira de Nikko, cataratas, lagos tranquilos como o Biwa, e o famoso monte Fuji, que podia ser observado ao longo do percurso.

O Tokaido era também uma rota necessária para o comércio de todo o género para abastecer as populações que em Edo, no início do século XIX, se estimavam em cerca de 1 milhão de habitantes.

 

 

 

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Hiroshige e o Tokaido
utagawa-kuniyoshi-estacao-16-kambara1O caminho do Tokaido teria provavelmente caído no esquecimento, se não tivesse sido imortalizado por uma série de 55 gravuras de  Ando Hiroshige (1797-1858), um dos maiores mestres da arte da estampa japonesa. 
Em 1832, Hiroshige viajou ao longo do Tokaido, de Edo até Quioto, como membro de uma delegação oficial transportando cavalos que deveriam ser apresentados na corte imperial. Os cavalos eram uma oferta simbólica  anual ao xógum, em sinal de reconhecimento pelo estatuto divino do imperador. 
As paisagens ao longo do percurso causaram uma profunda impressão ao artista, que foi realizando vários esboços durante a viagem de ida e de volta para Edo.
Depois do seu regresso, começou imediatamente a trabalhar nas primeiras estampas desta série.
No total, ao longo de toda a sua vida, realizou mais de três dúzias das estações do Tokaido, em colaboração com outros artistas.

 

 

 

 

Exposição relacionada: L`estampe japonaise – images d`un monde éphémère. Via RAF.

Relativismo Moral

O jovem pai de Aveiro foi acusado de negligência grosseira ao esquecer-se do seu bébé dentro do carro, onde morreu por hipertermia. Antes disso, tinha-se esquecido de deixar o seu bébé no infantário.
Amá-lo-ia menos que ao outro filho? Menos do que eu amo a minha filha?
No entanto, a superioridade moral vigente, alheia às responsabilidades próprias na formação dos novos escravos com que alimenta o mercado de trabalho, não hesita em julgar, a começar na praça pública – com que legitimidade?-, a tragédia familiar e a culpa eterna de um homem que nunca se perdoará por este esquecimento fatal. Sem compaixão.

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Iluminura – A Torre de Babilónia

As primeiras representações visuais da bíblica Torre de Babel vêm da Idade Média; A partir do século XI, encontram-se decorações arquitectónicas, que pretendiam dar ênfase às técnicas e materiais utilizados na construção da época.

Nesta iluminura de Jean de Courcy, embora, quer o Rei Nimrod – o lendário edificador da Torre – quer a Torre propriamente dita, pareçam à primeira vista europeus,  o artista fez um esforço para lhes conferir algum exotismo oriental. A armadura de Nimrod, os minaretes da Torre e os anjos, são típicos elementos da linguagem visual da Europa Medieval.

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La Bouquechardière - Jean de Courcy

Chronique dite de la Bouquechardière par Jean de Courcy (c.1350-1431).
Les Troyens, Maître de l’Echevinage de Rouen (15e siècle)
MS 728/312 folio 181v – Musee Conde, Chantilly, France

A dificuldade em identificar a eventual destruição da Torre em documentos de autores gregos que possam ter testemunhado esse período, levam a especular que possam ter existido duas Torres, a primeira construida por Nimrod, a segunda por Semiramis.

Journey to the Centre of the Earth

Que belo fim de tarde, no frenesim de Londres!  Em visita relâmpago, para (finalmente) ver a Exposição Babilónia – Mitos e Realidades – British Museum -, aproveito o tempo disponível para descomprimir de quatro dias na CeBIT. Cansado mas… vamos ver onde me levam as pernas. Depois de comprar um mimo para a boneca, tempo  ainda para beber um copo de tinto Merlot do Chile no All Bar One em Leicester Square e, em Covent Garden, degustar um naco de carne suculenta, muito bem acompanhado de outro tinto, desta vez um Malbec da Argentina. Não há crise que nos valha! 🙂

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Piccadilly Circus

Os Novos Clássicos

Celebra-se por estes dias meio século de um filme italiano à séria, La Dolce Vita (1959).
Federico Fellini, que não dirigia filmes, antes era dirigido por eles, contribuiu, com esta obra seminal, para mudar o cinema que se fazia no período do pós-guerra. Uma das cenas memoráveis deste fresco é protagonizada por Anita Ekberg e Marcello Mastroianni na Fonte dos Trevos, em Roma. Via BBC.

 

Os novos primitivos

Les joueurs de football, 1908

Henri Rousseau - Les joueurs de football, 1908

 
Nous te saluons
Gentil Rousseau tu nous entends
Delaunay sa femme, monsieur Queval et moi
Laisse passer nos bagages en franchise à la porte du ciel
Nous t’apporterons des pinceaux des couleurs et des toiles
Afin que tes loisirs sacrés dans la lumière réelle
Tu les consacres à peindre comme tu tiras mon portrait
La face des étoiles.

Guillaume Apollinaire

O Pathos de John Martin

Pintor inglês e gravador de mezzotint, célebre pelas suas cenas melodramáticas e eventos cataclísmicos povoados de figuras minúsculas colocadas em enormes cenários arquitectónicos, John Martin (1789-1854) teve tanto de popular pelas suas gravuras como de polémico pelo sensacionalismo vulgar das suas pinturas.
Martin trabalhou os meios tons não só na reprodução das suas obras, mas também em composições originais. Particularmente notáveis são as suas ilustrações para a Bíblia e para o Paraíso Perdido do Milton.

John Martin – Dilúvio, 1828

O trabalho de John Martin era dedicado à ideia de declínio e queda. Eram por isso frequentes nos seus trabalhos as alusões aos movimentos femininos que denunciavam a corrupção social e sexual, que teriam estado na origem da queda da antiga Babilónia.Ideias que, embora afastadas do centro de influência das suas gravuras como fonte para os trabalhos de reconstituição da antiga Mesopotâmia nas recentes escavações arqueológicas no Iraque, demonstram o processo metaléptico de Eric Voegelin, pelo qual a moderna visão cultural é influenciada pelo desejo de saber, pela necessidade de questionar o fundamento da participação divina na natureza humana.

‘The broad walls of Babylon shall be utterly broken, and her high gates shall be burned with fire; and the people shall labour in vain…’, Jeremiah (51:58)

John Martin (1789-1854) – The Fall of Babylon, 1835 – © Trustees of the British Museum

no matter how hard you try…

Ainda relacionado com o Julgamento Divino, Run On, de Moby.