O “Cântico dos Cânticos”, admirável poema lírico hebraico que se refere ao livro canónico do Antigo Testamento, escrito, talvez, no século IV a.C. e atribuído, por uma longa tradição, ao Rei Salomão, ilustrado através de obras, sobre excertos dali extraídos, da autoria de Marc-Antoine Charpentier, Alexander Agricola, Jacob Clemens non Papa, Giovanni Pierluigi da Palestrina, Antoine de Févin, Gioseffo Zarlino, Heinrich Schütz, Adrian Willaert, Nicolas Gombert, Cristóbal de Morales, Domenico Mazzocchi e Heinrich Isaac. João Chambers
Em “Istanbul”, Jordi Savall reúne a música praticada na corte otomana do século XVII com repertório tradicional sefardita e arménio num aliciante mosaico de ritmos e cores
O diálogo entre culturas musicais diferentes e a combinação das tradições musicais populares e eruditas são componentes essenciais do percurso artístico de Jordi Savall. Num dos seus últimos CDs – entretanto saiu já um outro importante projecto no formato de livro-disco (“Le Royaume Oublié”), dedicado à Cruzada Albigense, que será objecto de recensão num dos próximos suplementos – o músico catalão propõe um interessante cruzamento entre a música praticada no Império Otomano do século XVII com a música tradicional sefardita (dos judeus oriundos de Espanha e Portugal) e arménia, populações representadas entre os músicos da corte de Istambul. O projecto reúne músicos da Turquia, da Arménia, de Israel, de Marrocos e da Grécia, além do agrupamento de Savall (Hespèrion XXI), e tem como ponto de partida o “Livro da Ciência da Música”, antologia reunida por Dimitrie Cantemir (1673-1723), príncipe da Moldávia, que chegou a Istambul em 1693.
Nesta cidade viveu cerca de duas décadas, primeiro como penhor da fidelidade do seu pai ao sultão, depois como representante diplomático do pai e do irmão enquanto governadores da Moldávia. Era um apaixonado pela história, pelo estudo das religiões, pela filosofia, pelas artes e pela música e conta-se que era um excelente intérprete de tanbur, instrumento de cordas dedilhadas da família do alaúde. No “Livro da Ciência da Música” reuniu 355 composições (nove das quais compostas por ele próprio), formando assim a mais importante colecção de música instrumental otomana dos séculos XVI e XVII conhecida.
As peças seleccionadas para a gravação são intercaladas por improvisações formando um aliciante mosaico de cores e ritmos. Constituem também um catálogo de melodias, modos, ritmos de grande complexidade e de instrumentos exóticos (duduk, ney, oud, kamancha, tanbur, entre outros). Está implícita um forte componente de recriação, mas não é tanto a reconstituição histórica que está em causa; antes, um exercício criativo de música viva que combina o passado e o presente, as músicas do mundo e a experiência no âmbito da tradição erudita ocidental.
Mas as classificações são o menos importante perante um resultado sonoro que é frequentemente hipnótico e revelador de músicos com forte carisma, criatividade e grande domínio técnico.
Texto de Cristina Fernandes, publicado no ÍPSILON em 27-01-2010
O realizador de rádio António Cartaxo reuniu no livro “Efemérides românticas” a vida e obra artística de seis compositores cujas datas de nascimento ou morte são recordadas entre 2009 e 2011. Félix Mendelssohn nasceu em 1809, Frédéric Chopin e Robert Schumann em 1810, e Franz Liszt em 1811.
São seis centenários ou bicentenários que aqui se celebram, tendo os astros querido duplas efemérides para Albéniz e para Mahler, nascidos em 1860, há 150 anos.
Com Sonho de Uma Noite de Verão e a Gruta de Fingal, de Mendelssohn, a música sinfónica dá um passo decisivo do Classicismo para o Romantismo. Por seu turno, no fim do século, as sinfonias de Mahler percorrem já as avenidas do pós-Romantismo. Entre ambos, os outros compositores que celebramos neste livro exprimem, cada um à sua maneira, a crença romântica na concepção da música como linguagem da emoção e como expressão directa da sua vida e da sua psicologia.
Para o autor, faz sentido marcar estas efemérides na medida em que “apesar de serem sempre tocados, nestas alturas de efemérides concentramos mais a nossa atenção naquilo que criaram, oq ue nos permite ouvir mais e apreciar a obra de determinado compositor”.
O artigo de Anthony Tommasini , crítico do The New York Times, estabelece uma interessante comparação entre Frédéric Chopin e Robert Schumann, em contraponto a J.S Bach, no que constitui um excelente prelúdio para as comemorações do 200º aniversário do nascimento dos dois compositores românticos.
Hoje, uma multidão rodeará o seu túmulo, na pequena localidade de Samois-sur-Seine, perto de Fontainebleau. Django Reinhardt, guitarrista e compositor de jazz, nasceu a 23 de Janeiro de 1910. O pai do jazz cigano foi um personagem misterioso, parco em palavras e pouco interessado no reconhecimento e na glória, tão imprevisível como desconcertante. No seu centenário, edições discográficas como Generation Django, com a participação de Biréli Lagrène e o defunto Henri Salvador, recordam um dos ciganos mais universais da história.
Filho de Laurence Négros Reinhardt, bailarina e cantora, e de Jean-Baptiste Eugène Weiss, violinista e guitarrista, Jean Baptiste Reinhardt nasceu no seio de uma família de artistas, na localidade belga de Liberchies. Aos oito anos, o clã Reinhardt estabeleceu-se num dos acampamentos ciganos que rodeavam Paris. Dele se dizia ser capaz de interpretar qualquer peça, só de ouvi-la uma vez; Com apenas 14 anos, tocava banjo, bandolim, guitarra e violino.
A 1 de Outubro de 1940, Reinhardt, acompanhado pelo Quinteto do Hot Club de França, que formou juntamente com o violinista Stéphane Grappelli, gravou Nuages, um êxito retumbante que todos os cantores conhecidos disputavam o privilégio de interpretar. Curiosamente, os seus problemas com as forças de ocupação começaram no dia em que foi convidado a actuar perante Hitler. Decidido a não comparecer, Django procurou refúgio por duas vezes na neutral Suíça, pedido que foi negado em ambas ocasiões pelo mesmo motivo: nem ser negro nem judeu.
A 31 de Janeiro de 1946, en plena celebração do Armistício, Reinhardt e Grappelli gravaram a célebre versão de A Marselhesa com ritmo swing, nos estúdios de Abbey Road, em Londres. O fim das hostilidades marcou o início do fim da sua carreira. Incapaz de se adaptar às novas tendências musicais, Reinhardt passou a dedicar cada vez mais tempo à pintura. A sua tournée pelos Estados Unidos com a orquestra de Duke Ellington foi um fracasso, completado pelo segundo concerto em Carnegie Hall ao qual chegou atrasado, por ter ficado a jogar bilhar com estranhos. Os últimos dias da vida de Django foram passados em Samois-sur-Seine. Faleceu a 16 de Maio de 1953, vítima de ataque cardíaco. Texto traduzido do artigo deC. García Martínez– El Pais – 23/01/2010
A São Tomé, cujo dia se comemora hoje, o Musica Aeterna dedica dois programas com a adaptação do capítulo a ele dedicado na “Legenda Áurea” de Tiago de Voragine. Publicado em 1260, o livro foi escrito em latim popular para tornar acessível a divulgação da vida dos 180 santos mais conhecidos, de quem, até então, só existia tradição oral.
Podcasts: 1ª parte – 2ª parte
Johann Sebastian Bach – Cantata “Unser Mund sei voll Lachens” -BWV 110
No século XIII, quando instituições como as corporações de ofício estavam no seu auge e, ao mesmo tempo, floresciam as primeiras universidades, Voragine quis oferecer uma dádiva ao povo, ocupado em construir igrejas e catedrais, ávido por conhecer a verdadeira fé. Escreveu então, com fervor e entusiasmo, uma história, retratando os conhecimentos e lendas acumulados com o passar dos séculos, sobre a vida dos santos. Nasceu assim o primeiro livro religioso realmente acessível a todos: a Legenda Sanctorum, ou “O Livro dos Santos”. Rapidamente, a obra recebeu o nome de Légende Dorée — Legenda Áurea, porque, dizia-se então, o seu conteúdo era de ouro.
O texto maravilhou os pintores da Renascença, que nele encontravam fonte inesgotável de inspiração. Artistas como Giotto, Fra Angelico, Piero della Francesca, etc., emprestaram o seu génio para exaltar cenas da vida de santos e enriquecer as igrejas, conventos e mosteiros com frescos, retábulos, vitrais e polípticos.
Tendo nascido a 6 de Dezembro de 1929 em Berlim, o maestro austríaco Nikolaus Harnoncourt completa hoje 80 anos, com um percurso de praticamente seis décadas dedicadas à música. É obra!
Entre 1952 e 1969, Harnoncourt foi violoncelista na Orquestra Sinfónica de Viena, dirigida por Herbert von Karajan. Em 1953 fundou o agrupamento Concentus Musicus de Viena, dedicado a interpretações com instrumentos de época do Barroco. Neste período, gravou a integral das Cantatas de Bach, durante a década de 70 atirou-se a Claudio Monteverdi e na década de 80 a Wolfgang Amadeus Mozart. Para se ter uma ideia da ampla discografia de Harnoncourt, recomenda-se uma visita a estapágina.
Claudio Monteverdi | Vespro della beata Vergine | Nicolaus Harnoncourt
Opera “Armida”, de Joseph Haydn | Dueto: Cara, sarò fedele – Armida: Cecilia Bartoli, Rinaldo: Christoph Prégardien
Orquestra: Concentus Musicus | Maestro: Nikolaus Harnoncourt
O Palácio de Schönbrunn, em Viena, o cerimonial de corte da casa de Áustria durante os séculos XVII e XVIII e as criações sacras, concertantes e camerísticas de Franz Xaver Richter, docente e teórico alemão que viveu de 1709 a 1789 e de quem se assinalaram no passado dia 1 os trezentos anos do seu nascimento.
Aplicando-se a premissa quer ao Norte e ao Oeste protestantes, quer ao Centro e Sul católicos, do mundo Barroco europeu, foram, basicamente, as obras pertencentes ao universo das artes plásticas que marcaram, de forma indelével, o património intelectual e espiritual do Velho Continente. Por outro lado, e com excepção da francesa, a literatura de finais do século XVII e inícios do XVIII iria cair num esquecimento quase absoluto, apenas se encontrando vestígios da alemã no canto litúrgico e em algumas peças oriundas da tradição popular. Também na música, durante um longuíssimo período de tempo, não se prestou a devida atenção ao espólio de muitos dos criadores da época e fruto do talvez mais fecundo movimento artístico das últimas décadas, que nos tem proporcionado, ano após ano, a redescoberta de um património que oitocentos deturpou ou, simplesmente, negligenciou, pôde, pouco a pouco, começar a ser redescoberto na sua contextualização histórica. As artes continuaram, pois, a difundir-se apenas no seio da grande tradição arquitectural, à qual se sujeitaram, incluindo a escultura e a pintura, a totalidade das expressões decorativas. Tendo em conta o facto de se manterem como testemunhos vivos de culturas prestigiadas e de uma forma de viver pertencente ao passado, os monumentos mais visitados e admirados por esse mundo fora são, de um modo geral, os templos coroados por grandiosas cúpulas, as imponentes casas senhoriais e, fora das cidades, integrados num panorama adequado, os mosteiros e os castelos. Além disso, também o palácio real representa um ponto de atracção particular, devido à circunstância de, na sua história, a harmoniosa aliança entre a arquitectura e o paisagismo, ou melhor, entre a ciência e a natureza, continuar a agradar e a interessar as populações hodiernas.João Chambers
O fim do “Antigo Regime” e as guerras e reformas na Europa da Idade das Luzes assinalados através de criações de Marc-Antoine Charpentier, Franz Xaver Richter, de quem se assinala, no próximo dia 1 de Dezembro, o tricentenário do nascimento, Wolfgang Amadeus Mozart, André Campra, Francesco Provenzale e Charles Avison.
Para ouvir no Musica Aeterna de hoje.
Francisco Guerrero, que viveu entre 1528 e 1599, é considerado – com Tomás Luis de Victoria e Cristóbal de Morales -, um dos grandes nomes da música sacra espanhola do Renascimento e um dos maiores compositores espanhóis de sempre. Em 1589, no regresso de uma viagem à Terra Santa, foi sequestrado por piratas, aventura narrada no livro Viaje de Jerusalem, publicado em 1590.
Jos d'Almeida é um compositor de música electrónica épico sinfónica, podendo este género ser também designado como Electrónico Progressivo. Na construção de um som celestial, resultante da fusão de várias correntes musicais, JOS utiliza os sintetizadores desde o início dos anos 80.
Chuck van Zyl
Chuck van Zyl has been at his own unique style of electronic music since 1983. His musical sensibilities evoke a sense of discovery, with each endeavor marking a new frontier of sound.