Archive for the ‘ Museus ’ Category

Aniversário

Berthe Morisot (1841-1895), Marie Bracquemont (1840-1916) e Mary Cassat (1844-1926) são as três  grandes figuras femininas do Impressionismo. Também Madame Cassat faria anos hoje.

Mary Cassatt – Lydia Crocheting in the Garden at Marly, 1880

Mary Cassatt – Lydia Crocheting in the Garden at Marly, 1880
Metropolitan Museum of Art, New York

Cassatt and her family spent the summer of 1880 at Marly-le-Roi, about ten miles west of Paris. Ignoring the village’s historic landmarks in her art, Cassatt focused instead on the domestic environment. Here, she portrayed her elder sister, Lydia, fashionably dressed and insulated by a walled garden from any modern hurly-burly. Lydia is absorbed in the sort of old-fashioned handicraft that was increasingly prized by the well-to-do as factory manufacture by working-class women escalated. Although Cassatt was generally uninterested in plein-air painting, she captured the effects of dazzling sunlight beautifully in this work, especially in Lydia’s large white hat. Via.

Fuga para o Egipto

Fuga para o Egipto - Policarpo de Oliveira Bernardes, c. 1730 - Museu Nacional do Azulejo

 

O Pathos de John Martin

Pintor inglês e gravador de mezzotint, célebre pelas suas cenas melodramáticas e eventos cataclísmicos povoados de figuras minúsculas colocadas em enormes cenários arquitectónicos, John Martin (1789-1854) teve tanto de popular pelas suas gravuras como de polémico pelo sensacionalismo vulgar das suas pinturas.
Martin trabalhou os meios tons não só na reprodução das suas obras, mas também em composições originais. Particularmente notáveis são as suas ilustrações para a Bíblia e para o Paraíso Perdido do Milton.

John Martin – Dilúvio, 1828

O trabalho de John Martin era dedicado à ideia de declínio e queda. Eram por isso frequentes nos seus trabalhos as alusões aos movimentos femininos que denunciavam a corrupção social e sexual, que teriam estado na origem da queda da antiga Babilónia.Ideias que, embora afastadas do centro de influência das suas gravuras como fonte para os trabalhos de reconstituição da antiga Mesopotâmia nas recentes escavações arqueológicas no Iraque, demonstram o processo metaléptico de Eric Voegelin, pelo qual a moderna visão cultural é influenciada pelo desejo de saber, pela necessidade de questionar o fundamento da participação divina na natureza humana.

‘The broad walls of Babylon shall be utterly broken, and her high gates shall be burned with fire; and the people shall labour in vain…’, Jeremiah (51:58)

John Martin (1789-1854) – The Fall of Babylon, 1835 – © Trustees of the British Museum

Bordalo Pinheiro

Século XX. Azulejaria de autor, modernista, moderna e contemporânea
Raphael Bordallo Pinheiro – Painel de azulejos relevados com gafanhotos, c. 1905,
Museu Nacional do Ajulejo

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S. Jerónimo viajou para a Holanda e o Titus sentado à secretária chega a Portugal

Quatro anos depois de ter estado exposta em Viena, mais propriamente na Galeria Albertina, a obra S. Jerónimo, do pintor alemão Albrecht Dürer (Nuremberga, 1471-1528), voltou a ser retirada do primeiro piso do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa. Desta vez, o destino da pintura, um óleo sobre madeira de carvalho datado de 1521, foi o Museu Boijmans van Beuningen, em Roterdão, que solicitou ao MNAA o quadro de Dürer para o integrar na exposição Imagens de Erasmus.

Em contrapartida, o museu nacional propôs uma permuta e pediu “uma boa peça da colecção” pertencente à instituição holandesa, contou ao PÚBLICO o director do MNAA, Paulo Henriques. A resposta agradou sobremaneira à direcção do museu lisboeta: o Boijmans van Beuningen expedia para Lisboa o Titus sentado à secretária (1655), de Rembrandt (1606-1669), uma das obras-primas do pintor, nunca exposta em Portugal.
Atendendo à elevada importância de S. Jerónimo – é a única pintura de Dürer no país (a Fundação Gulbenkian possui alguns desenhos), está classificada como tesouro nacional e o MNAA aponta-a como uma das “dez obras de referência” do museu -, Paulo Henriques pediu ainda desenhos e gravuras de Rembrandt, o que permitiu organizar a exposição que se inaugura no dia 16, numa das salas do MNAA. O quadro Titus sentado à secretária (retrato a óleo do filho do pintor) estará acompanhado por mais oito obras: desenhos de Saskia (mulher de Rembrandt), de Titus e da mãe do pintor; e ainda duas gravuras (uma anunciação do nascimento de Jesus e uma adoração dos pastores). Esta exposição com trabalhos de Rembrandt, inédita na história do MNAA, ficará até 8 de Fevereiro, data em que encerra também Imagens de Erasmus, em Roterdão. Refira-se ainda que somente a Fundação Gulbenkian possui, na sua colecção, duas obras do pintor holandês. O Museu de Arte Antiga tem, segundo o seu director, uma gravura e desenhos cuja atribuição a Rembrandt não está confirmada.

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Albrecht Dürer – Heiliger Hieronymus, 1521

Dürer pintou S. Jerónimo em Antuérpia, em Março de 1521. Escreveu então no seu diário: “Pintei cuidadosamente S. Jerónimo e ofereci-o a Rui de Portugal.” O painel – único quadro religioso que pintou – foi exibido na capela privada do diplomata de Antuérpia e mais tarde trazido para Portugal.

A figura do santo é baseado num desenho de um velho homem barbudo. No desenho, inscreveu Dürer: “O homem tinha 93 anos e era ainda saudável e forte.” O crânio na pintura que Dürer também tinha esboçado separadamente (Graphische Sammlung Albertina, Viena), provavelmente era provavelmente o “pequeno crânio” que tinha adquirido anteriormente em Colónia.

Nesta obra, S. Jerónimo exibe as características enrugadas do velho de 93 anos e repousa a mão direita na cabeça em pose comtemplativa. Com o dedo da mão esquerda, toca suavemente o crâneo, símbolo da perenidade da vida. O crânio é simbolicamente colocado entre a Bíblia aberta e o tinteiro, numa alusão ao tradutor do Livro Sagrado.  O velho S. Jerónimo olha angustiadamente para fora do quadro.

Rembrandt - Titus sentado à secretária, 1655

Rembrandt – Titus sentado à secretária, 1655

Filho de Rembrandt e Saskia Uylenburgh, Titus nasceu em 1641. Após a morte prematura de sua mãe, Titus foi entregue aos cuidados de Geertge Dircx e mais tarde de Hendrickje Stoffels que, após a falência de Rembrandt, criou com Titus um negócio de arte de modo a liquidar as dívidas do pai, de quem recebeu formação artística. Morreu em 1668, um ano antes da morte de Rembrandt.

A figura de Titus aparece em várias pinturas de Rembrandt: quer como monge, quer vestindo um traje elegante com boina ecorrente de ouro.

Nesta obra, é visto como aluno sentado à escrivaninha, divagando sobre o seu trabalho. Com a mão direita, segura a caneta de pena com que escreve e, com a esquerda, o porta-canetas e o tinteiro. Os braços e os documentos são fruto de pinceladas únicas e na escrivaninha vemos as marcas da espátula de Rembrandt.

A saída temporária do S. Jerónimo foi sujeita à autorização prévia do Ministério da Cultura, tal como a lei estabelece na expedição de bens nacionais. Mas o seu estatuto de “peça central” do MNAA exigiu “muita ponderação”, notou Henriques. “A ponderação do empréstimo foi muito bem feita e teve em conta a altíssima qualidade da exposição do Boijmans van Beuningen”, disse, apontando ainda que o óleo se encontra em “excelentes condições”. “Não tem quaisquer problemas de conservação”, assegurou. A estas circunstâncias favoráveis acresceu o “grande empenho” da embaixada dos Países Baixos em Lisboa, que permitiu que a permuta fosse concretizada “sem encargos financeiros” para o MNAA.
O empréstimo do quadro (foi oferecido por Dürer, ainda em 1521, ao diplomata português em Antuérpia Rui Fernandes de Almada, tendo sido comprado pelo Estado em 1880) não é inédito. Mas a sua saída temporária já foi proibida, há três anos. Em 2004 esteve patente numa mostra dedicada a Dürer em Viena, na Galeria Albertina, juntamente com os quatro desenhos preparatórios de S. Jerónimo. Contudo, um ano depois, quando o Museu do Prado, em Madrid, organizou uma exposição dedicada ao artista, inédita na Península Ibérica (57 desenhos e 29 gravuras) e solicitou ao MNAA o quadro, o Estado recusou o empréstimo. “Não passou por mim”, disse Henriques, referindo que, na altura, era Dalila Rodrigues quem dirigia o museu.

fonte: Público

Iconografia do Natal

Encontros no MNAz - Iconografia do Natal

Destaques do Programa.

  • Uma herança de afectos: A Natividade na Cultura Portuguesa
  • A Natividade na Escultura, entre a Idade Média e o Renascimento
  • A Natividade de barro: os presépios barrocos
  • A natividade no teatro de Gil Vicente
  • Aspectos da Natividade na iconografia da pintura do século XVI
  • A Natividade na pintura barroca portuguesa
  • A Natividade na pintura contemporânea
  • O percurso de uma Natividade: desde a Igreja de Santo André até ao Museu Nacional do Azulejo

 

Sábado à noite temos visita guiada a uma obra prima da escultura barroca portuguesa do século XVIII, com autoria de Dionísio e António Ferreira (pai e filho), o Presépio da Igreja da Madre de Deus. Entrada livre.
Tendo estado cerca de 200 anos afastado do Convento, após a extinção das Ordens Religiosas em 1830, o Presépio regressou em 2006 pela mão de Paulo Henriques, agora Director do MNAA.

Programa:

21h00, Concerto 
Alunos do Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa e da Escola Profissional Metropolitana de Música

22h00 – 23h00
Visitas orientadas: 
– Painéis de azulejo e pinturas da igreja da Madre de Deus
– Painel de “Nossa Senhora da Vida” , cerca de 1580
– Painel “Os Reis Magos” da autoria de Jorge Barradas
– Presépio da Madre de Deus

Não há registo exacto do número de peças que poderiam formar o presépio da Madre de Deus. Presentemente é composto por 42 peças, com diferentes tamanhos (de 15cm a 70cm), as quais compõem um dos primeiros exemplares de grandes presépios em terracota, que corresponde bem ao gosto português pelos presépios.

A Sagrada Família, um conjunto de anjos que tocam, a adoração dos pastores, os reis magos que aparecem em último plano ainda a cavalgar em direcção à sagrada família fazem parte do conjunto. Característica desta obra também é o facto de as figuras serem retratadas tal como eram no princípio do Séc. XVIII: o camponês que trata dos queijos, outro que toca sanfona, um casal de camponeses com as crianças, criando uma grande associação com a realidade da época.

“Há um realismo barroco na forma verdadeira como tudo é descrito, mas tudo está cheio de um espírito muito voluptuoso, os tecidos são muito belos, as figuras muito bonitas, sendo também um veículo de espiritualidade para todo o conjunto”, descreve Paulo Henriques, Director do Museu Nacional do Azulejo.

O restauro demorou alguns anos. Neste processo “fomos à descoberta das cores iniciais das figuras”, relata, num trabalho levado a cabo por uma restauradora.

O presépio tem uma dimensão teatral, porque as peças que estão mais próximas são maiores e as que se encontram mais distante são mais pequenas, igualando assim o efeito da perspectiva.

Desmontada em 1830, esta obra integrou o património do Estado, dado o encerramento das instituições monásticas, e encontrava-se no Museu Nacional de Arte Antiga. O presépio foi reunido e conservado, chegando em grande parte até aos nossos dias.

“A circunstância feliz agora permite o regresso à Casa do Presépio que existe no Convento da Madre de Deus”, sublinha o Director do Museu Nacional do Azulejo. “Sempre houve um espaço que se chamava a casa do presépio, sendo um espaço reservado que albergava o presépio no antigo Convento de Clarissas da Ordem de São Francisco, que iniciou o culto pelos presépios”, acrescenta.

Esta peça tinha um grande peso na instituição dentro dos objectos rituais e litúrgicos tinha um peso central. É uma obra muito importante que se encontrava na Capela de Santo António, “regressa agora ao seu lugar de origem. Vamos poder usufruir de uma peça de escultura que é uma obra prima da escultura portuguesa”, frisa Paulo Henriques.

Tradição portuguesa

Há uma tradição de escultura em terracota em Portugal. O Director do Museu nacional do Azulejo afirma que este exemplar, a partir de hoje, disponível ao público, será dos primeiros exemplares de grandes presépios em terracota, correspondendo bem ao gosto português pelos presépios. Feitos de barro cozido, modelados por mãos de grande mestre, levam um preparo de gesso para receber a pintura de grande rigor e qualidade. Por último recebem uma folha de ouro.

O século XVIII é considerado o século de ouro dos presépios portugueses, modelados pelos Franciscanos, Dominicanos e portugueses vindos recentemente de Itália onde tinham estudado por conta de fidalgos. Os frades de Alcobaça e de Mafra, as escolas de Lisboa e do Alentejo, e artistas como Joaquim Machado de Castro e Alexandre Guisti tomaram- se famosos nesta época.

Machado de Castro, artista de Coimbra nascido em 1731, é um dos mais conhecidos escultores de presépios, tendo modelado inúmeros trabalhos deste género, cheios de fantasia, humanismo e imaginação. António Ferreira foi outro barrista da mesma época que modelou figurinhas cheias de fantasia, que se encontram no convento da Cartuxa de Laveiras e no da Madre de Deus em Lisboa.

No século XIX as guerras que se fizeram sentir em Portugal fizeram com que não houvesse ambiente para se fazerem presépios. A extinção de conventos levou a que muitos presépios desaparecessem. Em algumas casas particulares nobres, os seus presépios também se perderam, no entanto ficaram frequentemente as figuras principais: o Menino, a Virgem, S. José, o burro e a vaca.

No século XX e até hoje as tradições dos presépios não desapareceram. Um pouco por todo lado esta tradição mantém-se com recurso a uma genuína criatividade e, por vezes até, alguma aventura.

O gosto pelo presépio que marca esta época do ano, tem características na sua descrição que se estendem aos dias de hoje: pequenos episódios que não se relacionando directamente com a cena central, ajudam a retractar o quotidiano da época “chegando mesmo a contar uma história para além da cena principal” declara Paulo Henriques. A roupa e os tecidos, são características deste tipo de presépios, sendo também documento da época em que a obra foi feita. Via.

Cenas de divertimento e sedução

Visita ao Museu nacional de Arte Antiga, em 10 Obras de Referência – 29 de Outubro de 2008
Visita orientada por Ana castro Henriques e Anísio Franco

‘Conversação’, 1663-1665

 

Cenas de divertimento e sedução num interior luxuoso, associando pictoralmente um subtil e refinado tratamento da luz com um espaço rigorosamente construído em perspectiva, esta obra de Pieter de Hooch (1629-1684) é uma das mais representativas e magistrais deste contemporâneo de Johannes Vermeer. É também um interessante jogo de ambiguidades interno à própria imagem, o significado da composição extravasando a mera representação de uma cena galante do quotidiano de Amesterdão pelos meados do século XVII. A habitual designação da pintura – Conversação – não passa talvez de um pobre eufemismo moderno.

Museu do Côa

Vídeo com imagens das obras do Museu, Julho de 2008

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O Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa será o segundo maior museu (em área) de Portugal, a seguir ao de arte antiga de Lisboa. O Projecto ganhador do concurso internacional é de autoria dos arquitectos Pedro Tiago Lacerda Pimentel e Camilo Bastos Rebelo, PORTO

Do Relatório do Júri:
Além do valor cultural e patrimonial presente em todos os trabalhos hierarquizados, o trabalho apresentado pelos Arquitectos Pedro Lacerda Pimentel e Camilo Bastos Rebelo propõe criar uma peça de cariz escultório e emblemático, assumidamente contemporâneo, e acrescentando mais-valias à paisagem.
Apresenta uma organização muito compacta, uma figura forte, capaz de responder com clareza e intensidade aos valores da paisagem e do território.
O júri considerou a solução arquitectónica extraordinária e carismática. Uma inventiva e adequada resposta à integração na envolvente. O acesso revela-se bem pensado, introduzindo um compasso de espera entre a chegada, com uma noção clara da paisagem e da envolvente, e a descida ao espaço do museu.
Os conceitos utilizados na memória descritiva são notáveis e reveladores da consistência da proposta. Os espaços expositivos estão bem organizados e o acesso aos serviços bem resolvido.
A estrutura funcional apresenta-se adequada às exigências expressas no programa de intervenção, tendo contudo alguns aspectos que requerem maior reflexão. A solução demonstra flexibilidade evolutiva. Boa exequibilidade da solução, à luz dos actuais modos de construção.

Da Memória Descritiva do Concorrente:
“os temas abordados são diversos, resultando de uma dinâmica de trabalho que procura cruzar factores exteriores, como topografia e acessibilidades, e factores de conteúdo programático.
O desafio de fundir estes factores torna-se explicito no conceito da intervenção conceber um museu enquanto instalação na paisagem.

Conceito:
A Arte Rupestre que qualifica de forma única as margens do Rio Côa é provavelmente a primeira forma de “Land Art” da História da Humanidade. Esta condição revelou-se desde logo o motor de construção da ideia do projecto. A “Land Art” caracteriza-se genericamente de duas formas distintas.
Na primeira a condição de intervenção na paisagem é executada com elementos naturais promovendo continuidade, onde a geometria de carácter abstracto se impõe destacando a intervenção. Na segunda a estratégia é a de trabalhar um corpo, desenhado especificamente para um lugar promovendo um diálogo intimo entre artificial/natural e aumentando deste modo a complexidade temática da composição do mesmo.
O território sugere neste caso uma dupla leitura, pois é o suporte natural da paisagem, com que se pretende intervir e dialogar, mas é também a consequência da intervenção do homem numa natureza modelada, enfatizando a condição artificial.
No caso do Museu parece ser importante o sentido afirmativo do corpo, quer na sua leitura de intervenção na paisagem, quer quanto à sua natureza tipológica que deve ser formalizada enquanto massa física, não deixando quaisquer ambiguidades e equívocos quanto à sua localização e conteúdo.”

“Corpo: A forma / volume do corpo é triangular e resulta de três condições topográficas. O corpo triangular é lapidado pela geometrização abstracta da topografia, que no ponto mais alto do terreno (implantação) está entalado entre dois vales (Vale José Esteves e o Vale do Forno) e abre uma terceira frente ao encontro dos rios Douro e Côa.”

“Matéria: Para a plasticidade da matéria do corpo interessa considerar três temas: a massa, textura e a sua cor. Das possibilidades analisadas prevalecem duas: o xisto como sendo o material local e existindo em abundância, mas também pelo factor de ser o suporte escolhido no Paleolítico para o registo das gravuras. O betão interessa pelas suas características plásticas e tectónicas, mas também como material que aparece recentemente na paisagem do Douro em construções de médio e grande porte. No entanto, este, usado na sua cor natural, cinzento, promoveria alguma ruptura com o terreno onde predomina o castanho amarelado do xisto. Deste modo a proposta é que a matéria do corpo seja betão com inertes e pigmento de xisto resultando numa massa híbrida. Esta composição é sugerida nas eiras de secagem da amêndoa que pontuam alguns terrenos da envolvente, embora com a predominante xisto.

No seguimento deste texto de Rui Resende, via Arquitectura.pt, ver também a apreciação Sobre o Museu do Côa, e esta coisa portuguesa de chamar ao terreno a responsabilidade sobre o projecto

Cadeira de D. Afonso V

Visita guiada à “Cadeira de D. Afonso V” (último quartel do séc. XV), no âmbito do programa de visitas guiadas a 10 obras de referência do MNAA – 25 de Junho, 18:00 horas

Cadeira de Braços (Estadela)
Portugal, 2ª metade do século XV.
Carvalho, A 180 x L 68 x P 52,5 cm

Cadeira de estado, ou estadela, terá sido usada por D. Afonso V (1438-81) quando se recolhia no Convento do Varatojo, nos arredores de Torres Vedras, que fundou em 1470.
O seu nome deriva do “solium romano”. Assento nobre, tinha o espaldar elevado e as ilhargas como que a proteger quem nela se sentava. Era difícil de remover em consequência do peso da madeira maciça e da parte inferior ser construída como um cofre. Encostada ou não a um dossel, com ou sem sobrecéu, não dispensava a almofada sobre o assento e uma segunda para os pés.
É uma peça de grande raridade, não só por ser sobrevivente único de uma época em que os móveis de assento eram escassos como pela carga simbólica de que um móvel deste tipo se reveste na esfera social.
A cadeira de estado situava-se no topo da pirâmide hierárquica dos móveis de assento, usada pelo rei ou por quem simbolizava o poder no âmbito restrito da nobreza ou do clero.
O protocolo em torno do “estar sentado” era rigoroso, fixando-se em prerrogativas de estatuto social, como na maior ou menor carga de elementos decorativos do móvel, na riqueza dos tecidos que o cobriam, ou ainda do tipo de assento e a sua colocação no aposento, muitas vezes acompanhado de planta e desenho.
A raridade dos móveis deste período deve-se não só às parcas exigências de comodidade, como à precaridade das matérias-primas e aos rudimentares processos construtivos, reflectindo ainda os costumes de uma corte itinerante.

A cadeira de D. Afonso V apresenta características semelhantes às cadeiras góticas, flamengas e francesas do final do séc. XV. A influência da arquitectura é evidente não só na decoração como na verticalidade dominante.
Com uma gramática decorativa de cariz arquitectónico em que se destacam os arcos ogivais, as rosáceas e os contrafortes, o móvel gótico integra ainda elementos inspirados no vocabulário têxtil.
A rigidez parietal da construção, que o rigor das superfícies ortogonais denuncia, é compensada pela decoração entalhada que, citando mais uma vez a arquitectura, nos traz a delicadeza do rendilhado que a ogiva gótica estrutura.

Via Museus na Escola

El desnudo de Velázquez

Até 24 de Fevereiro no Museu do Prado, a Exposição Fábulas de Velázquez: Mitología e Historia Sagrada en el Siglo de Oro é uma oportunidade rara para descobrir a narrativa histórica em Velázquez. De um total de 52 obras expostas, de Ticiano a Rubens, o pintor sevilhano contribui com 28.

Em destaque no núcleo El desnudo – La narración, esta
Vénus ao Espelho (1644-48), que pertence à National Gallery de Londres, e que pode ser vista ao lado de El dios Marte e Mercurio y Argos.

Desde finales de los años treinta, Velázquez produjo varias obras mitológicas, que se cuentan entre las más importantes y originales de su tiempo, y que le sirvieron para entablar un fructífero diálogo con la tradición pictórica. Fueron cuadros en los que culminó su tendencia a subrayar los valores asociados al color frente a los del dibujo, y a convertirlo en el principal instrumento expresivo. En eso, continuó la tradición a la que pertenecían Tiziano y Rubens, cuyas obras abundaban en las Colecciones Reales españolas y se convertirían en dos de los principales puntos de referencia para el desarrollo de su estilo.

La mitología propició un acercamiento al desnudo, un tema cargado de connotaciones. Es la forma que la tradición occidental ha vinculado más estrechamente a la idea de arte, la que expresaba mejor los valores del color, y al mismo tiempo, el lugar donde confluían los límites del arte y la decencia. A través de La Venus del espejo, Velázquez supo hallar una alternativa a los desnudos de Tiziano o Rubens, y al mismo tiempo demostró el lugar tan singular que ocupaba en relación con sus colegas españoles, pues su posición en la corte le permitió sustraerse a las restricciones morales en materia de desnudo femenino que atenazaban a estos. En Marte utilizó una gama cálida y suntuosa, modeló las formas a base de luz y color y destruyó los límites entre el cuerpo y su entorno, buscando transmitir una sensación de vida y transitoriedad, lo mismo que hizo con Mercurio y Argos. Al mismo tiempo, conservó su gusto por la paradoja narrativa, y en vez de utilizar rasgos heroicos para representar al dios de la guerra, lo pintó cansado y melancólico.