Árvore de Natal

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“Voyage à travers l’impossible”, de Méliès – 1904

No dia em que se celebram os 150 anos do nascimento do realizador de “Le voyage dans la lune”  de 1902, considerado o primeiro filme de ficção científica, recordo outra criação de Georges Méliès (1861-1938):  “Voyage à travers l’impossible” de 1904.
O texto foi retirado da página de Pedro Foyos, que decidiu evocar o extraordinário percurso de vida  do “mágico do cinema”.

Na esteira de A Viagem à Lua (1902), este filme celebra historicamente a consolidação da ficção científica nos alvores maravilhosos do cinema. Georges Méliès, no apogeu da criatividade, apercebera-se que o género cativava públicos diferenciados, a começar pelas crianças, e insistiu na fórmula das viagens fantásticas pelos espaços siderais. A Viagem à Lua havia sido, de facto, um grande êxito. O pioneiro francês, sob a torrente dos incentivos e louvores arrebatados, resolveu-se, então, a levar mais longe a sua fantasia soberba.
Desta vez, a viagem seria extravagantemente impossível, incluindo uma passagem pelo Sol. Nem mais, nem menos. Nos seus quase trinta minutos de projecção,Viagem Através do Impossível é uma obra-prima da incipiente e ingénua expressão cinematográfica, com o génio de Méliès a operar magias e deslumbramentos inesperados. Anunciado, na época, como o mais fantástico filme de sempre, esta obra é claramente uma versão aumentada e melhorada de A Viagem à Lua, repetindo algumas das conceções primordiais do guião anterior, inclusive a forma como a expedição colide com o Sol (aqui representado, como sucedia com a Lua, por uma face humana, resplandecente). Os exploradores – doze sábios acompanhados das respectivas esposas – procedem do Instituto da Geografia Incoerente (!) e defrontam-se com vicissitudes inúmeras, de um cómico pueril. Quadros belos e primitivos como as quimeras infantis. De trambolhão em trambolhão, muitos desastres tresloucados (uma grande explosão, inclusive, conduzi-los-á ao hospital…), acabam por levar a bom termo o homérico cometimento, sendo acolhidos, no regresso, com frenéticas demonstrações de folia.
Com a extensão invulgar, para o tempo, de 380 metros (a popularidade da fita foi tão grande que o cineasta adicionar-lhe-ia três cenas extra, perfazendo meia hora de projecção – facto inédito), continuam a prevalecer neste filme as convenções estéticas do teatro filmado, com Méliès desdobrando-se nas funções de produtor, distribuidor, realizador, argumentista, encenador, maquetista, director do guarda-roupa e… actor. Era a época do cinema puramente artesanal. Não muito depois, sob o ímpeto suicida de concorrer com a Pathé, que começava a assentar as primeiras pedras do edifício da grande indústria cinematográfica, Méliès declinaria gradualmente para a produção caudalosa, repetitiva, excessiva e vulgar.
Naquele ano de 1904, todavia, ele era ainda o artífice quase isolado que maravilhava multidões com fantasias e trucagens nunca vistas. No seu estúdio envidraçado de Montreuil – o primeiro do mundo – pintava cenários prodigiosos que refulgiam ao Sol. As filmagens, realizadas sempre com a luz natural envolvente, subordinavam-se às coordenadas solares. Um dia, ao dar-se conta de que o Sol era, em simultâneo, a convergência e a irradiação da sua arte, pintou-o e viajou até ele. A viagem não é impossível.
Texto de Pedro Foyos

 

Terrence Malick

O realizador de ‘A Árvore da Vida‘, obra prima absoluta do cinema e um dos grandes filmes deste século, completa hoje 68 anos. 
Integrado num Ciclo paralelo à Retrospectiva Nicholas Ray, nos dias 19 e 21 de Dezembro a Cinemateca exibe  “BADLANDS” – Os Noivos Sangrentos, de 1973.

A primeira longa-metragem de Malick é um thriller inspirado num caso verídico que teve lugar nos anos 50 no sudoeste dos EUA, e ecoa o percurso de Bonnie e Clyde na década de 30. Martin Sheen e Sissy Spacek formam o par de jovens que têm de enfrentar a oposição paterna para a sua união. Daí resulta o assassinato do pai da rapariga e, depois, uma série de crimes e uma feroz perseguição, com a imprensa a explorar o carácter passional dos acontecimentos. As influências de Malick, como os seus fi lmes posteriores confi rmariam, não se reduzem a Ray; mas, depois de Ray, quem mais soube filmar assim os anos 50 e os “rebeldes sem causa”?

Bach transcendente

Por Cristina Fernandes, in Ípsilon – 16-Novembro-2011

Uma superlativa interpretação de Philippe Herreweghe e do Collegium Vocale Gent

Nas duas últimas décadas Philippe Herreweghe tem sido responsável por algumas das mais belas gravações das Cantatas de Bach. Ao contrário de outros maestros que se lançaram na ambiciosa aventura da integral (como é o caso de Ton Koopman, John Eliot Gardiner ou Masaaki Suzuki), Herreweghe tem optado antes por uma selecção criteriosa de cantatas, unidas por vínculos temáticos diversos, sem a preocupação de ser exaustivo.
Este último volume, intitulado “Jesu, deine Passion“, constitui uma espécie de coroa de glória desse percurso, já que é excepcional a todos os níveis. Toda a música que Bach escreveu é de qualidade superior, mas as quatro Cantatas agora registadas (BWV 22, 23, 127 e 159) representam pontos culminantes do génio do compositor pela sua exaltante inspiração e pela densidade da própria construção musical.
As Cantatas BWV 22 e 23, destinadas ao primeiro domingo antes da Quaresma, funcionaram como “peças de concurso”, quando Bach se candidatou ao lugar de Kantor da Igreja de São Tomé em Leipzig, pelo que é natural que o compositor se tenha esmerado na sua concepção. As BWV 127 e 159 foram escritas para o mesmo serviço litúrgico nos anos seguintes.
A interpretação de Herreweghe e dos seus músicos é primorosa, tanto nos planos técnico e estilístico, como no modo em que combina emoção e espiritualidade. As intervenções do coro revelam uma luminosa transparência, os solistas – a soprano Dorothee Mields, o contralto Matthew White, o tenor Jan Kobow e o baixo Peter Kooy – cantam com enorme convição e um sentido retórico apurado da relação texto-música e os instrumentistas são exemplares, com destaque para os belíssimos solos de oboé (com o grande Marcel Ponseele), que dialogam com as vozes em múltiplas árias. Também as flautas de bisel têm intervenções eloquentes (por exemplo, na ária “Die Seele ruht”, cantada com delicada sensibilidade por Dorothee Mields) ou os trompetes no recitativo “Wenn einstens die Posaunen Schallen”, verdadeira cena dramática evocadora do Juízo Final. A Cantata BWV 159 recorda o universo da “Paixão segundo São Mateus”, destacando-se a poderosa ária de baixo “Es ist vollbracht” e a ária de contralto “Ich folge di nach”, que se desenrola em contraponto com o soprano que entoa a estrofe do conhecido coral “Ich will hier bei dir stehen”.

“Música Antigua” – Cantigas de Santa Maria

A  Mostra Espanha 2011 traz as Cantigas Galaico-Portuguesas a Coimbra. O grupo Música Antigua, que no próximo dia 5 de Dezembro se apresentará em concerto no XIV Festival de Música Antigua de Úbeda y Baeza sob a direcção de Eduardo Paniagua, recupera e interpreta as Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio, bem como a música contemporânea deste singular rei poeta. O concerto na cidade dos estudantes realiza-se a 30 de Novembro, às 21h30, no Teatro Académico de Gil Vicente – Fundação Cultural da Universidade de Coimbra.

Até ao século XIV, o idioma utilizado na poesia e nas canções nos reinos de Castela, Leão e Portugal era o antigo idioma galego, tecnicamente designado galaico-português. Na corte de Afonso X, o Sábio, a língua castelhana é definitivamente considerada como o idioma oficial para os documentos científicos e históricos, suplantando o latim.

Paula vega (soprano), Luis Vincent (countertenor), Cesar Carazo (tenor, viol), Wafir Sheik (‘ud), Luis Delgado (zanfona, vihuela, dotar, santur, tromba marina, tambourine, percussion), Eduardo Paniagua (psaltery, recorders, ney, fahl, shawm, krumhorn, tar, bells, tambourine, percussion)

Nicholas Ray – Retrospectiva na Cinemateca

WE CAN’T GO HOME AGAIN – INTEGRAL NICHOLAS RAY

Em 2011 Nicholas Ray (nascido Raymond Nicholas Kienzle, no Wisconsin) faria cem anos, e a data é o pretexto para voltar a uma retrospectiva integral da sua obra, num remake revisto e aumentado do histórico Ciclo organizado pela Cinemateca em 1985. A retrospectiva, que se concluirá em Janeiro de 2012 com a projecção da versão recentemente restaurada de WE CAN’T GO HOME AGAIN (o derradeiro filme realizado por Nicholas Ray), abre no dia 2 com a primeira apresentação em Portugal do fi lme de Susan Ray (a sua última mulher) sobre Nick, DON’T EXPECT TOO MUCH, estreado no último Festival de Cinema de Veneza, à semelhança da nova versão WE CAN’T GO HOME AGAIN. É o melhor preâmbulo possível para o Ciclo: centra-se no que designa pelo “tempestuoso romance de Ray com Hollywood”, e é um retrato da vida, do trabalho e da influência de Nick Ray, com recurso a testemunhos, imagens e documentos de arquivo inéditos. É com este filme que a retrospectiva arranca, seguindo-se a íntegra da obra de Ray, de THEY LIVE BY NIGHT (1949), o seu filme de estreia que nos confronta pela primeira vez com a marginalidade das suas personagens “nunca propriamente apresentadas a este mundo em que vivemos”, a LIGHTNING OVER WATER (1980), filme de Ray e Wenders ou só filme de Wim Wenders (as opiniões divergem), já em Janeiro. Neste mês, entre os primeiros, estão os incontornáveis IN A LONELY PLACE, JOHNNY GUITAR, REBEL WITHOUT A CAUSE (pelo qual foi nomeado para um Oscar de Melhor Realizador) ou BIGGER THAN LIFE.

Mas, a par destas obras maiores, em Dezembro teremos ainda oportunidade de ver alguns dos seus filmes menos vistos como A WOMAN’S SECRET e HOT BLOOD, dois títulos que não são exibidos na Cinemateca precisamente desde a retrospectiva de 1985. O primeiro foi o filme que marcou o seu encontro com Gloria Grahame. Menosprezado pelo próprio Ray, que sempre disse ter sido obrigado a realizá-lo para satisfazer a RKO, A WOMAN’S SECRET revela muitas das qualidades que marcariam o seu trabalho futuro.
O segundo, que tem no seu centro Jane Russell, uma “proposta” de Howard Hughes, se bem que tenha sido olhado de viés por grande parte da crítica, foi descrito por Jean-Luc Godard, um dos grandes admiradores da obra de Ray, como um filme “fantasticamente belo”. Ao longo de toda a vida, sempre que lhe fizeram a sacramental pergunta sobre os filmes de que mais gostava, Ray incluiu IN A LONELY PLACE, a par de REBEL WITHOUT A CAUSE e THE LUSTY MEN. Frequentemente juntou-lhes THEY LIVE BY NIGHT e JOHNNY GUITAR. Como escreveu João Bénard da Costa a propósito de IN A LONELY PLACE (que começa por citar Bernard Eisenschitz, que dedicou a Ray uma das mais belas biografias que até hoje sobre ele foram escritas), em palavras que se podiam aplicar a todos ou quase todos os “rays”: “Filme ‘entre a espada e a parede’ como disse Eisenschitz, a um passo do abismo, do caos? É verdade. Mas nisso mesmo reside, como em todos os grandes filmes de Ray, o seu imenso fascínio. Uma só falha, ou um só excesso e toda a estrutura se desmoronaria, de tal modo se articula em torno do insólito, de tal modo são tão frágeis os seus alicerces.”
Eis uma oportunidade única para rever a obra de um dos grandes nomes do cinema clássico de Hollywood, mas também de um dos seus maiores rebeldes.
NICK RAY: ECOS, DESCENDÊNCIAS E PROLONGAMENTOS
Os filmes de Nicholas Ray despertaram paixões e ele próprio, a sua figura, pelo seu percurso, pelo seu carisma, despertou paixões. Muitos cineastas (europeus, sobretudo) o citaram expressamente. Houve mesmo quem fosse ao encontro dele, caso consagrado de Wim Wenders, que o filmou por duas vezes. E em vários, de Jarmusch a Godard, de Fassbinder a Almodóvar, a influência de Ray fez-se sentir de variadas maneiras, mais declarada ou mais subrepticiamente, enquanto homenagem directa ou enquanto inspiração longínqua. Neste Ciclo paralelo à retrospectiva Nicholas Ray que iniciamos este mês, vamos então seguir, em filmes de outros cineastas, o seu rasto, os seus “ecos, descendências e prolongamentos”. Via http://www.cinemateca.pt/

Camille Pissarro

Filho de um criptojudeu português, Camille Pissarro  nasceu a 10 de Julho de 1830, no seio de uma família abastada.
Em 1855 instalou-se em Paris para se dedicar à pintura na Académie Suisse. Visitou a Exposição Universal, onde teve contacto com as obras de Camille Corot e Eugène Delacroix. Em 1859 participou pela primeira vez no Salon, onde conheceu Claude MonetAuguste Renoir e Alfred Sisley. Durante a década de 1860 continuou a apresentar os seus trabalhos em Salons sucessivos, cessando a sua participação em 1870. Sob influência de Georges Seurat, foi co-fundador do Impressionismo e o único do grupo – que integrava artistas como Paul Cézanne e Paul Gauguin – a ter as suas obras presentes nas oito exposições impressionistas, realizadas entre 1874 e 1886. Morreu em Paris, neste dia 13 de Novembro, no ano de 1903.

Camille Pissarro – O bosque de Marly, 1871 | Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid

Musica Aeterna – Richard Hooker (1554-1600)

Os textos aqui reproduzidos, foram amavelmente cedidos por João Chambers, a quem ficamos a dever a absolutamente admirável emissão do Musica Aeterna do passado sábado, dia 5 de Novembro, e que tem hoje a segunda parte.

PRIMEIRA PARTE
A vida e a obra do eclesiástico e influente teólogo Richard Hooker (1554-1600), cuja ênfase na razão e na tolerância influenciaram, de sobremaneira, o pensamento anglicano, explicitadas através de repertório dos contemporâneos William Byrd, Alfonso Ferrabosco, “o Filho”, Robert Carver, Nicholas Ludford, John Dowland, John Sheppard, John Cooper, Christopher Tye, Peter Philips, Thomas Tallis e Robert Hales (Sábado, 5 de Novembro de 2011).
A finalizar a primeira de uma série de duas emissões dedicadas a Richard Hooker, eclesiástico e influente teólogo, natural de Exeter, que viveu de 1554 a 1600 e cuja ênfase na razão e na tolerância influenciaram, sobremaneira, o pensamento em voga na época, escutámos de Thomas Tallis, autor de génio contemporâneo que, para além de Gentleman da prestigiada Chapel Royal, foi responsável máximo por todo o repertório apresentado na corte de Henrique VIII, o motete para quarenta vozes intitulado Spem in alium. Elaborado, sob encomenda de Thomas Howard, quarto duque de Norfolk, cerca de uma década antes da morte durante o reinado de Maria Tudor, filha do monarca, esta sublime criação teve como intérprete o conjunto I Fagiolini num superlativo desempenho dotado de uma expressividade e de um misticismo absolutamente tocantes. Dirigiu Robert Hollingworth.
SEGUNDA PARTE
A vida e a obra de Richard Hooker, eminente teólogo que defendeu e fundamentou uma posição equilibrada em relação à Reforma enquanto fenómeno europeu, conforme delineada pelo compromisso isabelino e pelos “Trinta e Nove Artigos”, e cujo pensamento ficou associado à apologia de uma “via média” e à génese do anglicanismo, ilustradas através de criações dos contemporâneos Thomas Tomkins, William Byrd, Nicholas Ludford, Robert Carver, Orlando Gibbons, Alfonso Ferrabosco, “o Pai”, John Cooper, Robert White, Peter Philips e Thomas Campian (Sábado, 12 de Novembro de 2011).

V Ciclo de Concertos “Som das Musas” em Vila Flor

No ano em que se comemoram os 750 anos do nascimento do Rei Trovador, realiza-se a 5ª edição do “Festival Som das Musas”, entre 11 e 13 de Novembro, oom direcção artística e musical de Pedro Caldeira Cabral.
D. Dinis, Rei Poeta, aquando da sua passagem por este burgo até então denominado por “Póvoa d´Álem Sabor”, ficara encantado e rendido à beleza da paisagem e, em 1286, carinhosamente a re-baptizou de “Vila Flor”. Cerca de 1295, D. Dinis manda erguer, em seu redor, em jeito de protecção, uma cinta de muralhas com 5 portas ou arcos. Resta o Arco de D. Dinis, monumento de interesse público.

Foto retirada de http://descobrir-vilaflor.blogspot.com/

Programa

Música em São Roque – Ensemble Vocal Introitus

Época de Ouro da Polifonia Ibérica
Tomas Luis de Vitoria nos 400 anos da sua morte
Igreja do Instituto de São Pedro de Alcântara | 6 de Novembro de 2011 | Ensemble Vocal Introitus
in Notas ao Programa:
Escreve o cronista D.Nicolau de Santa Maria que, depois de Filipe II ter assistido às cerimónias da Semana Santa no Escorial, perguntou ao Capelão-mor da sua corte: “Que vos parece? Hauerá por ventura em toda a Christandade Igreja ou Mosteiro, em que se fação os officios diuinos com a perfeição com que se fazem neste meu Escorial? Respondeo o Bispo: Se Vossa Magestade me der licença direi aonde os vi, & ouui fazer tão bem, & melhor. El Rey admirado da resposta perguntou: E aonde? Disse o Bispo: Com licença de Vossa Magestade, em o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em Portugal, que he de conegos Regrantes de S.Agostinho”
Este é um dos episódios que mostra o alto nível de qualidade da música que se compunha e interpretava em Portugal durante o século XVII.