Archive for the ‘ Património ’ Category

Museu e Vale do Côa

Os políticos (ver artigos mais baixo) brindam-nos com conversas redondas:  Pinto Ribeiro tira coelhos da cartola sem explicar como faz o truque, o que é normal num ilusionista; Carrilho brinca ao toque e foge, quando em tempo útil teve os meios e o tempo necessário para evitar que o Parque fosse votado ao abandono, como agora refere. Resta-me o conforto de saber que no próximo fim-de-semana vou disfrutar daquelas montanhas e, se conseguir, ver como ficou o Museu 🙂

Vídeo com imagens das obras do Museu, Julho de 2008

Vila Nova de Foz Côa, Guarda, 29 Ago (Lusa) – O ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, desafiou sexta-feira à noite, à chegada a Foz Côa, os municípios do Vale do Côa a criarem uma sociedade anónima juntamente com ministérios para gestão do Museu e Vale do Côa.
O modelo que gostaria que fosse aplicado é um modelo que envolvesse todos os municípios do Vale do Côa“, disse Pinto Ribeiro, que falava na sessão de boas-vindas no salão nobre da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa e à Agência Lusa.
O governante defendeu que todos os 10 municípios que compõem a Associação de Municípios do Vale do Côa “fizessem provavelmente uma sociedade anónima com um terço, onde outros 33 por cento sejam do Ministério do Ambiente e outros 33 por cento do Ministério da Cultura, formando três parceiros com uma gestão que seja feita sobretudo a partir daqui“.
José António Pinto Ribeiro considerou até a possibilidade da incluir na sociedade anónima o Ministério da Economia e do Turismo, encontrando assim uma solução de “30 por cento para os municípios, 30 por cento para o Ministério da Cultura e 20 para o Ministério do Ambiente e outros 20 para o Ministério da Economia e do Turismo“.
Isto é, vamos encontrar uma solução em que estejam envolvidas todas as entidades que podem dar o apoio a este movimento, mas que ao mesmo tempo estejam as pessoas que garantam que esta sociedade seja, de facto, um instrumento e um motor de construção e discurso de identidade e uma solução para que as pessoas que daqui saíram possam voltar“, salientou.
O ministro da cultura acredita que é possível partir desse ponto “para depois fazer uma rede ainda maior com o Museu do Douro, com Zamora, Valadolid e com outras entidades que possam sustentar esse crescimento“.
Segundo José António Pinto Ribeiro, vai ser definido um prazo de seis meses para se constituir uma sociedade de gestão do Museu e do Vale do Côa e dotá-la com os capitais necessários, pelo que está convencido que, “se isso puder ser feito“, a região do Vale do Côa conseguirá “resolver sistematicamente os seus problemas“.
Pinto Ribeiro chegou já ao romper da noite a Vila Nova de Foz Côa com “grande curiosidade“, sobretudo “para ver“, porque quando chegou ao ministério “a primeira reunião de trabalho e serviço foi acerca do atraso das obras do Museu do Côa“.
Isto é vosso“, frisou, e “se não for feito por vocês e apropriado pelas pessoas daqui não será nada“, sublinhou.
Uma das coisas que vim fazer foi ouvir localmente o meu aluno – Emílio Mesquita, presidente da autarquia de Vila Nova de Foz Côa -, que um dia foi a Lisboa pedir-me para prestar mais atenção a este território“, acrescentou, recordando sempre ouvir dizer que neste território «são nove meses de Inverno e três de Inferno». Via.

Vista do Côa, a partir da Foz. O museu está situado do lado direito da encosta, por cima do meu Portal

Manuel Maria Carrilho, o ex-ministro da Cultura que lançou o projecto do Parque do Côa e a sua bem-sucedida candidatura a Património Mundial, mostra-se perplexo com as medidas que o seu sucessor ontem anunciou. “O momento parece-me impróprio, atendendo ao contexto quase eleitoral em que estamos, os objectivos são insólitos, à luz das exigências de protecção de um património mundial, e toda essa conversa das percentagens parece-me também um bocado obscura”, afirmou Carrilho. O actual embaixador de Portugal na UNESCO recorda ainda que “o Estado português assumiu compromissos muito claros em relação ao raríssimo e valiosíssimo património paleolítico do Côa” e sublinha que a maior parte dos sítios que hoje correm riscos de desclassificação o devem, justamente, a questões relacionadas com os respectivos modelos de gestão.
Carrilho reconhece que o Côa tem “problemas evidentes”, mas assaca-os ao “abandono a que o projecto foi votado a partir de 2001”, lembrando que “o parque tem hoje metade dos guias de que dispunha nessa data, quando o que estava previsto era ter o quádruplo”, e que a sua frota de jipes nunca foi renovada. “É isso que deve ser alterado”, diz, “mas sem que o Estado se demita de responsabilidades que em exclusivo lhe cabem”. Via.

Martinho da Arcada – Quem é amigo?

“A notícia da minha morte foi um manifesto exagero”. Mark Twain

O Martinho da Arcada não é um café qualquer. Tal como A Brasileira do Chiado e o Café Nicola em Lisboa, o Café Majestic, o Velasquez e o Guarany, no Porto. Todos pertencem ao nosso património histórico e cultural.
O Café mais antigo do país tem uma profunda ligação histórica e cultural com a cidade de Lisboa, desde que abriu as portas, cerca de duas décadas após o Terramoto de 1755.
É parte integrante do Terreiro do Paço e por essa circunstância monumento nacional.
Tem mesas “reservadas” para Fernando Pessoa, José Saramago e Manoel de Oliveira.

Café Martinho da Arcada, Julho de 2008

Ruído? Sempre houve. A origem do problema presente está directamente ligada ao Projecto de requalificação do Terreiro do Paço, que – tal como está apresentado, transfere a esmagadora maioria do trânsito da Avenida Ribeira das Naus para a Rua da Alfândega e Rua do Arsenal – se se mantiver, além de duplicar o número de transportes públicos que já ali circulava anteriormente, tornará permanente o caos de trânsito que se vive hoje naquelas artérias. Quem vai ter vontade de ir ao Martinho?

Sempre que existem obras, a vida das pessoas é afectada mas, quando terminam, a vida volta ao normal.
Em 5 de Outubro de 2010, a Monarquia Republicana vai comemorar o Centenário e o Terreiro do Paço vai estar num brinco mas, no dia seguinte, o inferno voltará.
Talvez o Martinho da Arcada já não esteja aberto, nessa altura.

Café Martinho da Arcada, Julho de 2008

Se o senhor António não conseguir manter o negócio, fecha a porta e vai à vida dele. Lisboa fica sem o Martinho da Arcada e uma parte da sua história ficará por contar. É assim…
O proprietário, o Ministério das Finanças, segundo julgo saber, não terá dificuldade em encontrar utilidade para o espaço; Pode transformá-lo num Museu, ligando o Martinho ao piso de cima, ou numa galeria, ou até, em conjunto com a Câmara, torná-lo num espaço de cultura e lazer.
O Martinho da Arcada pode vir a ser um Museu mas, como diz o senhor António, gostava que fosse um Museu vivo e não um Museu morto.

Luis Machado, um amigo da casa que dinamizou as Conversas à Quinta Feira durante algum tempo no início da década de noventa e em 2005 promoveu As Noites do Martinho, vai fazer regressar as tertúlias em Setembro, num conjunto de sete sessões. É um contributo, entre outros possíveis, para que o Martinho da Arcada continue vivo.

Café Martinho da Arcada, Julho de 2008

Tempos Fortes – História de Lisboa

Na zona superior do Palácio do Beau Séjour, junto do aromático jardim dos alecrins, o Gabinete de Estudos Olisiponenses inaugura um novo espaço vocacionado para exposições a céu aberto, com aproveitamento do efeito cénico proporcionado pelas variações de luz natural e da combinação de fragrâncias do jardim exótico.

Ao longo da alameda, 20 painéis alusivos a momentos que foram decisivos para o rumo da nossa história, desde a época romana até à actualidade, são evocados à maneira de uma viagem no tempo com o objectivo de contribuir para despertar o interesse do público pela história da capital.
Ao longo do percurso, bancos de pedra convidam a uma pausa com vista privilegiada sobre o jardim romântico, único nesta freguesia, fomentando igualmente a sua função social e de lazer. Via.

Escola Primária Nº 2

Foi na Escola Primária nº 2, na Rua das Gaivotas ao Conde Barão, que fiz a instrução primária, com a saudosa Dona Isaura. Foi neste recreio que brinquei durante dois anos. Segundo li, O edifício seiscentista, de seu nome Palácio Alarcão, onde “Se encontra instalada a Escola Primária Central Nº 2 (com entrada pelo nº 8), o Sindicato único dos Professores, criado depois do 25 de Abril (com entrada pelo nº 6 era a sede da “Liga Nacional 28 de Maio”, do Coronel Santos Pedroso) e os Serviços Administrativos do Clube Nacional de Natação (porta nº 2), tudo da Rua das Gaivotas. Com frente para o Conde Barão, os velhos estabelecimentos comerciais, “Cutelaria Salgueiros”, “Casa dos Parafusos”, (com curiosa frente de azulejos) e a “casa do Chumbo”. Segundo registos do final de 2008, Uma firma de fixações, parafusos e outros metais chamada Pecol está no Palácio Alarcão, onde aluga duas fracções, Uma por 57,07 euros e outra por 62 euros.

Para tristeza minha, o estado actual é este:


O clarão que ilumina o seu próprio caminho…

Entender o texto espiritual alquímico Rosarium Philosophorum pelo misticismo, constitui exercício idêntico àquele de entender a poesia através de fábulas e parábolas.

Foto de JTM

Foto de JTM

 

Parece-me esta a introdução ideal para assinalar a presença do radiestesista  Tom Graves em Portugal. O autor de Agulhas de Pedra (Zéfiro), propõe – em confronto com a arqueologia convencional – um conjunto de princípios e finalidades para os círculos de pedras (cromeleques), que justificam a existência uma cultura megalítica de antas e menires com mais de 50 mil anos , período muito anterior ao proposto pelos arqueólogos que, segundo Tom Graves, não introduzem a sacralidade na equação.

Hoje, a convite da Comissão das Celebrações do Equinócio e do Solstício, de que o amigo Jorge Trabulo Marques é membro, Tom Graves irá ao local sagrado de Tambores-Chãs para, no Santuário Rupestre próximo de Vila Nova de Foz Côa, estudar as pedras do sol e, quem sabe, confirmar a sua teoria de que «Em toda a parte existe uma interacção entre as pessoas e o lugar – e o lugar também tem as suas escolhas.»  

 

É precisamente aqui que se centra a minha curiosidade:

Na tentativa de compreensão do “espírito do lugar” (genius loci) e conhecimento dos Mistérios da Terra.

Equinócio – Nos Alinhamentos Sagrados dos Tambores

Vodpod videos no longer available.

Informação detalhada sobre a celebração deste ciclo da natureza, aqui.

Castelo Velho – Freixo de Numão

Descoberto em 1980 pelo arqueólogo António Sá Coixão, investigado e musealizado pela Prof.ª Susana Oliveira Jorge entre 1989 e 2003, este Castro, cuja história começa por volta do início do terceiro milénio a.C. (mais ou menos cinco mil anos), está implantado em Freixo de Numão, concelho de Vila Nova de Foz Côa. Foi inaugurado a 3 de Agosto de 2007.

Vodpod videos no longer available.

more about “Castelo Velho – Freixo de Numão“, posted with vodpod

Da colina onde se situa, avista-se O Monte de São Gabriel, a Meseta e a Serra da Marofa. Porque, possivelmente, o vale do Côa serviria de ponto de passagem, a sua localização era magnífica; Funcionava como centro comunitário para as populações agro-pastoris que se fixavam em lugarejos espalhados pelo vale (do outro lado do vale, sensivelmente a cinco quilómetros, situam-se as gravuras rupestres).

as fotos abrem numa nova página, com dimensões de 2048 x 1536

Este local era habitado por uma elite que assegurava a sua manutenção e se encarregava de organizar as festas das colheitas, com rituais de carácter profano.

Este tipo de Castro não tinha funções de fortificação, o que nos dá uma ideia da vivência e das crenças dos povos primitivos que por aqui passaram.

O projecto de arquitectura que inclui um centro interpretativo, é da responsabilidade dos arquitectos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez e o projecto de restauro é de Joaquim Garcia.

Só não previram que as aves que por ali andam não estão habituadas a obstáculos e muitas morrem no choque com as vidraças do Centro. Façam qualquer coisa, pela saúde dos bichos.

__________________________________________________________________________

Castelo Velho é um sitio rodeado por linhas de água; Este povoado tem no centro um recinto, delimitado por muralhas e do lado sul uma rampa pétrea que por sua vez este ano foi desmontada, sendo mesmo a primeira vez que se realiza este tipo de desmonte em Portugal. No interior do recinto existe uma torre rodeada por quatro estruturas, há depois uma linha de muralha interrompida. Há outras estruturas subrectangulares e um grande torreão anterior a toda a estrutura pétrea. Este complexo foi todo construído de uma só vez (cerca de 3000 a.C.) e todo o conjunto foi mantido até 1300 a.C., tendo uma ocupação desde o Calcolítico ao Bronze Pleno. Trata-se de um recinto com uma área relativamente pequena, cujo interior tem também estruturas pequenas: recinto superior, rampa pétrea, murete descontínuo, plataformas que se desenvolvem ao longo da arriba. As rampas pétreas desenvolvem-se todas no sentido sul, no lado de menor acesso, mas de maior monumentalidade. É um paradoxo em termos de acessibilidade e defesa. Ao longo do tempo, preservou-se e reutilizou-se globalmente as muralhas e a torre central, embora talvez, não lhes dando a mesma função. As muralhas podem ter sido reduzidas a muretes delimitadores do espaço interior do povoado, perdendo a eventual capacidade defensiva. Este sítio está rodeado por um conjunto de montes mais altos que o sítio propriamente dito, apesar de ter uma grande visibilidade na paisagem.

De facto, a sua função não é facilmente inserível no contexto doméstico, é um local que de habitação tem muito pouco e a explicação simbólica e ritual começa a fazer mais sentido. Castelo Velho vem colocar uma nova questão no contexto dos povoados Calcolíticos: trata-se de um sítio com uma função social mais especializada que nos outros locais onde ocorriam cerimónias que utilizavam estas estruturas de formas variadas. A arqueologia tem dificuldade em definir ritual, pois até agora só há uma estrutura com deposição de ossos humanos.

Castelo Velho tem uma visibilidade bastante grande, avistando-se até Espanha, logo a monumentalidade deste sítio era para ser vista, era essa a sua função, servia para ser observada. Além disto deveria ser um local fechado, pelo menos no recinto superior, onde se erguia uma estrutura de madeira e argila, até porque se trata de uma zona ventosa. O símbolo deste povoado é o peso de tear, alguns têm uma decoração típica. Usavam grandes lajes de xisto aproveitando as suas faces naturais, o xisto era preso pela terra argilosa da região junta com água.

A primeira fase construtiva do sítio é anterior ao terceiro milênio a.C., quando se registrou uma breve ocupação que, entretanto, permitiu fossem erguidas estruturas habitacionais, como testemunham alguns buracos de poste, lareiras e fragmentos cerâmicos. Data desse período a edificação de um torreão com evidências de ter sido utilizado até cerca de 1300 a.C.

Uma segunda fase construtiva registrou-se entre cerca de 2900 a.C. e o início do segundo milénio a.C., abrangendo a edificação, na cota mais alta do esporão, do que se considera um “monumento” de planta sub-elíptica delimitado por uma pequena muralha e complementado, a Sul, por um recinto subcircular, bem como uma plataforma intermédia circundada por uma rampa ou talude, com átrio. Datam deste período algumas cabanas a ele associadas e diversos fragmentos de cerãmica, dormentes e moventes graníticos, pontas de seta, pesos de tear, diversos objetos de cobre e um de ouro, contas de colar e outros elementos de adorno.

Uma terceira fase construtiva decorreu entre o início do segundo milénio a.C. e 1300 a.C., enquanto as primitivas estruturas continuavam a ser utilizadas, enquanto se reconstruia uma rampa e se erguiam estruturas perecíveis. Data desta fase um espólio constituído por vasos cerãmicos, com motivos decorativos.

Uma quarta fase construtiva, mais recente, consistiu na petrificação da zona “monumental”.

fontes: ippar e wikipédia

Roteiro para o Património

fonte: Presidência da República, sublinhados meus.

Conceito de Património

1.1. O conceito de património evoluiu consideravelmente, desde o início da segunda metade do século XX até hoje.

Essa evolução, sendo particularmente visível no espaço cultural europeu, tende, no entanto, a generalizar-se por todo o mundo, devido à influência de organizações internacionais, como a UNESCO.

Em primeiro lugar, tende a expandir-se a toda a gama de manifestações culturais, em que a actividade humana se revela na pluralidade das suas facetas e na sua interacção com o meio natural.

Em segundo lugar, de uma perspectiva exclusivamente historicista, em que se privilegiava o significado, a singularidade e a monumentalidade dos edifícios e objectos, subestimando a articulação com a sua envolvente geográfica e social, passou-se modernamente a um conceito de património que tende a abarcar, não tanto monumentos isolados, como sobretudo conjuntos urbanísticos, sítios, paisagens naturais e/ou culturais, ou ainda territórios na sua globalidade. É o caso, por exemplo, do Alto Douro Vinhateiro e da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, sítios portugueses inscritos na lista do Património Mundial por se registar neles uma interacção particular entre as condições naturais e o trabalho humano.

1.2. Em consequência desta evolução do conceito de património, as áreas classificadas tendem a expandir-se, vindo, por um lado, os centros históricos das cidades a abarcar uma superfície cada vez maior face à periferia urbana e, por outro lado, as paisagens históricas a institucionalizar-se e a ser protegidas como paisagens culturais.

Em toda a Europa, o território culturalmente classificado ou inscrito em zonas de protecção tem vindo a aumentar significativamente.

1.3. A situação daqui decorrente leva a que o património tenha de ser considerado interdisciplinarmente e exija políticas concertadas entre vários sectores, designadamente:

  1. Cultura
  2. Gestão urbanística
  3. Ambiente e Conservação da natureza
  4. Ordenamento do Território
  5. Desenvolvimento Regional
  6. Turismo

1.4. Pelas implicações que assume actualmente, uma política de defesa, preservação e promoção do património tem de congregar esforços de diverso tipo.

  1. Estado central
  2. Autarquias
  3. Igreja, enquanto matriz inspiradora de vários tipos de arte e detentora, em Portugal, de uma enorme variedade de importantes bens classificados
  4. Escolas, enquanto centros privilegiados de educação para o património
  5. Empresas, que além de não lesar no prosseguimento da sua actividade privada o património comum, devem ainda contribuir para a sua preservação
  6. Cidadãos em geral

Coordenadas

A preocupação crescente das sociedades contemporâneas em relação ao património tem vindo a desenvolver-se, fundamentalmente, em torno de três coordenadas:

  • identidade nacional;
  • coesão social;
  • desenvolvimento sócio-económico.

Continuar a ler

Sintra – Parque da Pena

Um dos locais de eleição das minhas paixões!

Sinto-me a caminhar sobre um colchão. O solo, forrado por espesso e fofo tapete formado por milhares (milhões?) de folhas secas, amortece cada um dos meus passos. A densa ramagem dos velhos castanheiros e carvalhos que rodeiam o trilho forma uma espécie de túnel, mergulhado numa semiobscuridade apenas entrecortada por alguns raios de sol, em caprichosos padrões de claro-escuro. As brumas em que a serra acordou envolvida já se dissiparam e o dia está agora magnífico, primaveril.

Estou na serra de Sintra, em pleno Parque da Pena, lugar de mistério e sedução, verdadeiro refúgio natural a dois passos da Vila Velha e a menos de uma vintena de quilómetros de Lisboa. Lá fora, bem perto, agita-se o turbilhão urbano, com ruídos estridentes e agressivos, contudo, aqui apenas me são dados ouvir os sons da natureza.

O Parque da Pena é como que um jardim selvagem, onde a cuidada intervenção humana se conjuga de forma harmoniosa e subtil com os já de si admiráveis espaços naturais deste trecho da serra. As paisagens construídas e as múltiplas edificações que se descobrem um pouco por todo o lado, de modo algum afectam, antes reforçam e completam, o encanto do lugar.

Desde o imponente Palácio da Pena, a coroar umas agrestes escarpas, às múltiplas fontes de águas cristalinas, aos bancos rústicos, dispostos sabiamente nos locais mais aprazíveis, às pequenas e elegantes pontes que cruzam regatos sussurrantes, tudo parece disposto em comunhão com a natureza.

O Parque da Pena é o resultado do sonho de um homem, Fernando Saxe Coburgo-Gotha, príncipe austro-húngaro que veio a ser D. Fernando II de Portugal, por casamento com a rainha D. Maria II.

Numa área um pouco superior a duzentos hectares — que inclui os terrenos circundantes do Palácio da Pena, a Tapada do Mouco e o perímetro murado do Castelo dos Mouros — Fernando II, o príncipe artista, reuniu uma tremenda variedade vegetal e paisagística, desde os escarpados rochosos das zonas mais altas, agrestes e varridos pelos ventos, até aos vales abrigados, recobertos de luxuriantes fetos tropicais. Muitas das cerca de duas mil espécies vegetais implantadas no parque vieram das mais diversas partes do mundo, de modo a recriar ambientes exóticos e contrastantes.

Vieram túias e sequóias da América do Norte, araucárias do Brasil, criptomérias do Japão, cedros do Médio Oriente, fetos da Nova Zelândia. A plantação — iniciada em 1840 e que durou várias décadas — foi dirigida pelo próprio príncipe. Todos os espaços foram cuidadosamente arquitectados, a arrumação das manchas de arvoredo meticulosamente estudada, a alternância e contraste do porte da vegetação avisadamente pensado. Percorrer os inúmeros caminhos que serpenteiam através do parque — existem no interior do Parque da Pena cerca de 72 quilómetros de caminhos e veredas — é para mim uma experiência fascinante. Apesar de já aqui ter vindo dezenas de vezes, cada visita reserva-me, invariavelmente, a descoberta de novos motivos de interesse. Coisas simples. O padrão geométrico de um tronco caído, algum recanto em que ainda não tinha reparado, um rochedo de forma singular, o voo fugaz de uma ave, um qualquer pormenor curioso — e quantas vezes efémero — o pulsar da natureza, que se renova ao longo do ano. Em cada estação este ecossistema pujante, meio selvagem meio humanizado, se renova com diferentes roupagens.

Diz-se que Richard Strauss, o compositor e chefe de orquestra alemão, após visitar a Pena exclamou: “Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia, o Egipto, e nunca, nunca vi nada que se comparasse com a Pena. É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de Klingsor — e lá no alto está o castelo do Santo Graal.” Perante tal cenário, não posso deixar de lhe dar razão.

Na Primavera são as flores, de todas as cores, das vulgares violetas às mais exóticas, trazidas de outras paragens, os rododendros, as azáleas. Pica-paus tamboreiam ruidosamente a madeira, marcando o seu território, trepadeiras, pardacentas e de bico longo e recurvado, fazem os seus números acrobáticos correndo para cima e para baixo agarradas à casca rugosa das árvores, enquanto vão debicando à procura de alimento, gaios de plumagens vistosas parecem relâmpagos de azul, voando de tronco em tronco.

Depois o Verão. O Verão no Parque da Pena traz-me reminiscências de uma catedral. Como num templo gótico, sob o denso manto das copas altas, apenas se filtra uma luz difusa e ténue, e desfrutamos aqui de uma sensação única de frescura, enquanto o sol no zénite requeima a planície circundante. Os troncos esguios evocam majestosas colunas de pedra e as pequenas clareiras, de longe em longe, como que explosões de luz e cor, fazem lembrar vitrais multicoloridos. Aproveitando o calor, surgem os insectos. Borboletas de tons brilhantes esvoaçam na luz, libélulas, de frágeis asas transparentes e enormes olhos facetados, repousam nos galhos esguios, ondulando levemente ao sabor da brisa, e se olharmos com mais atenção, por todo o lado encontraremos uma miríade de outros pequenos seres, vistosos e chamativos ou discretos e miméticos. Com sorte, ainda conseguiremos vislumbrar uma família de coelhos mordiscando a erva tenra.

As primeiras chuvas, anunciando a chegada do Outono, trazem consigo novas e profundas mudanças. É nesta altura do ano que a natureza se pinta com a sua paleta mais feérica, desde as ramagens das árvores até ao chão pejado de folhas secas, formando, por vezes, padrões de rara beleza. Despontam os cogumelos, em grande profusão e com uma variedade extraordinária. Descobrem-se fungos minúsculos, de apenas alguns milímetros de comprimento, e grandes cogumelos com perto de 20 centímetros de diâmetro, acastanhados, vermelhos-vivo, negros, amarelos, brancos, cinzentos, de quase todas as cores imagináveis. As formas são ainda mais diversas e, por vezes, bizarras: filiformes, ao feitio de pétala, lembrando diminutos corais ou pequenas esponjas, pequenos guarda-sol ou globos rugosos que libertam uma nuvem de esporos ao mais leve toque.

Quase imperceptivelmente chega o Inverno. Os regatos correm agora apressados, escondidos por entre a densa vegetação rasteira ou saltitando de pedra em pedra, em turbilhões alvos de espuma. Predominam nesta época os verdes-cinza, apenas abrilhantados pelo fulgir das camélias, em grande número nos vales abrigados.

Grandes aranhas castanhas, com motivos cruciformes no abdómem e aspecto feroz, tecem enormes teias, que resplandecem adornadas por um sem-número de gotículas deixadas pelo orvalho da manhã.

Em alguns locais vêem-se azevinhos de folhas escuras e lustrosas e frutos escarlate.

Texto de Ana Guerra

http://www.parquesdesintra.pt/default.htm