Archive for the ‘ Exposições ’ Category

Um Universo Deslumbrante

Um Universo Deslumbrante” é uma exposição internacional que celebra os 50 anos do Observatório Europeu do Sul (ESO); Mostra o Cosmos captado nos seus diferentes observatórios, situados em alguns dos lugares mais inóspitos da Terra.

A galeria de 50 imagens visualmente deslumbrantes vai estar em exibição em vários países da Europa.
Portugal, membro de pleno direito do ESO desde 2001, vai também receber o evento, associando-se ao ESO num importante marco na história da astronomia na Europa.
A exposição estará em exibição, de 28 de Setembro a 24 de Novembro de 2012, no Planetário do Porto. Em Lisboa, em local a anunciar. Via.

Um Gosto Português. O uso do azulejo no século XVII

O Museu Nacional do Azulejo, dando continuidade à sua política de investigação e divulgação da Azulejaria portuguesa, vai inaugurar, no próximo dia 3 de julho, uma exposição intitulada “Um Gosto português. O uso do Azulejo no século XVII”.
A exposição apresenta-se em cinco núcleos que dão conta da riquíssima variedade da produção seiscentista, mostrando-se padrões, azulejos ornamentais e painéis figurativos de temática religiosa e profana.
Peças de joalharia, têxteis, mobiliário e faiança tridimensional, são também apresentadas, confrontando temas e motivos decorativos com os azulejos.
Na mesma ocasião, publica-se o catálogo, com textos de vinte especialistas e chancela da Babel.
Tendo o Azulejo começado a ser produzido, em Lisboa, cerca de 1560, foi no século XVII, ainda num contexto de União Ibérica, que se viria a afirmar como uma arte identitária da cultura portuguesa.
Com os módulos de repetição, constituindo padrões – cuja grande diversidade e criatividade se encontram plenamente representadas na presente exposição –, o Azulejo português começou a ser pensado como elemento estruturante de arquiteturas, em revestimentos interiores, por vezes monumentais.
Na mesma época, a Igreja e a Nobreza encomendaram, para o revestimento dos seus espaços –, igrejas, conventos, quintas e palácios –, azulejos figurativos que refletem o gosto, mas também a necessidade de afirmação política e social de cada um destes grupos.
Defendendo a interdisciplinaridade com as ciências exatas e a novas tecnologias, apresentam-se, ainda, nesta exposição, resultados de análises efetuadas sob coordenação do Eng.º João Mimoso (LNEC), bem como um sistema de informação sobre azulejaria portuguesa, AZ infinitum – Sistema de Referência & Indexação de Azulejo, resultante da articulação de várias bases de dados e fruto da colaboração entre a Rede Temática em Estudos de Azulejaria e Cerâmica João Miguel dos Santos Simões (IHA-FLUL) e o Museu Nacional do Azulejo.
O Departamento de Conservação e Restauro do Museu Nacional do Azulejo, contando com a colaboração de um numeroso grupo de voluntários, foi responsável pelo tratamento de várias dezenas de painéis que, pela primeira vez, se mostram ao público.
Também na área do inventário, foi decisivo o trabalho dos voluntários do Museu, colaborando no inventário do “Fundo Antigo” no âmbito do programa “Devolver ao Olhar”, desenvolvido com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Graças a estas duas atividades, é possível apresentar azulejos seiscentistas até agora desconhecidos dos próprios estudiosos, sendo essa uma das principais mais valias da presente exposição.
Assumindo-se como a primeira grande publicação sobre o azulejo português do século XVII – desde que, em 1971, a Fundação Calouste Gulbenkian editou a obra de João Miguel dos Santos Simões Azulejaria em Portugal no século XVII –, o catálogo tem coordenação científica do Museu Nacional do Azulejo e a colaboração de uma vintena de especialistas.
Fontes: Museu do Azulejo e Facebook

Museu do Côa – “Nós na Arte”

A Exposição “Nós na Arte – Tapeçaria de Portalegre e Arte Contemporânea” resulta de uma parceria entre a Fundação Côa Parque e o Museu da Presidência da República. As obras expostas em tapeçaria reproduzem trabalhos de Almada Negreiros em painéis de 4mx2,5m, obras que já percorreram outros locais, dando agora uma oportunidade sublime aos naturais da região do Côa e não só!
De 18 de Maio a 30 de Setembro de 2012, no Museu do Côa. Via José Ribeiro.

Lúmen

A força invisível da mão que segura o corpo contorcido de Cristo, descido da cruz.

Um corpo que se abandona, mas que nunca mais deixará de ser habitado, primeiro fóssil luminescente, em seguida luz pura.

Este corpo é já vestígio, memória. Mas é também recomeço. Indício.
Caminho para a luz. Para o que é ígneo.
A evocação do fogo que arde sem se ver, como uma paixão que se derrama numa intensidade luminosa.

Semelhante paixão (ou natureza) está contida na rocha, no sílex, que, raspado, produz faúlhas nos ramos retorcidos da árvore, combustível.
Será talvez uma oliveira, talvez não. Se for oliveira, então evoca a luz, a imortalidade, a relação cósmica, a morte e o monte famoso.

Imagens da Exposição de fotografias «Lúmen», de André Gomes.
Museu Nacional de Arte Antiga (Abril-Maio de 2006).

«Memórias da Politécnica – Quatro séculos de Educação, Ciência e Cultura»

O Museu Nacional de História Natural e da Ciência inaugura hoje a exposição «Memórias da Politécnica – Quatro séculos de Educação, Ciência e Cultura».
Um dos pontos altos da mostra é o túmulo seiscentista de Fernão Telles de Menezes (1530–1605), com 6,5 metros de altura, que depois de ter sido redescoberto é pela primeira vez exposto ao público.
Ao Ciência Hoje, Fernando Pereira, comissário da exposição, explica que o túmulo “esteve instalado num arco aberto na capela-mor do que foi a igreja desse Noviciado e do Colégio dos Nobres e que foi depois transformada no Átrio da Escola Politécnica e hoje é o Átrio do Museu Nacional de História Natural e da Ciência. Com essa reconstrução, em meados do século XIX, o túmulo foi desmontado e colocado numa cavalariça do Picadeiro do Colégio dos Nobres que mais tarde foi transformada em casa de função, o que levou ao emparedamento do mesmo. Assim ficou dezenas de anos até que foi desentaipado em Abril de 2011 e agora restaurado e recolocado num lugar próximo da implantação original”.
Desde o início do século XVII que o local conhecido como Politécnica, onde hoje se encontra o Museu Nacional de História Natural e da Ciência, alberga ininterruptamente instituições de ensino, ciência e cultura.
A primeira instituição foi o Noviciado da Cotovia (1603-1759), cujo fundador foi Fernão Telles de Menezes, seguindo-se o Colégio dos Nobres (1761-1837), a Escola Politécnica (1837-1911) e a Faculdade de Ciências (1911-década de 1990).
A exposição que hoje inaugura para todos os públicos, desde nacionais a estrangeiros e em particular para os públicos escolares, “chama a atenção para a importância das sucessivas instituições de educação, ciência e cultura que habitaram no local e por onde passaram, ao longo de quatro séculos, grandes vultos da cultura e da ciência portuguesas”, refere Fernando Pereira.
Pontos altos da mostra
«Memórias da Politécnica – Quatro séculos de Educação, Ciência e Cultura» integra importantes obras artísticas, documentos históricos e originais de colecções científicas que se estendem do século XVII ao XX, como os quadros setecentistas «Panorama da Cidade de Lisboa antes do terramoto de 1755» e «Visão perspética de Goa», um raro frontal de altar sino-português do séc. XVIII, objectos do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, um raro telescópio de mesa setecentista, espécimes do Real Museu das Necessidades, uma carta manuscrita de Charles Darwin ao naturalista português Arruda Furtado e objectos queimados pelo grande incêndio da Faculdade de Ciências em 1978.
Susana lage, in Ciência Hoje

Exposição – Fernando Pessoa, Plural como o Universo

Fundação Calouste Gulbenkian | De 10 Fev 2012 a 30 Abr 2012 |
Curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith | Imagens de Márcia Lessa
Exposição dedicada a Fernando Pessoa e aos seus heterónimos, que pretende mostrar toda a multiplicidade da obra do grande poeta de língua portuguesa, conduzindo o visitante numa viagem sensorial pelo universo de Pessoa, para que leia, veja, sinta e ouça a materialidade das suas palavras. Com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith, nesta exposição encontra-se um espaço repleto de poemas, textos, documentos, fotografias e pintura, onde se incluem raridades como a primeira edição do livro Mensagem, com uma dedicatória escrita pelo poeta.
Nascida de uma colaboração entre a Fundação Roberto Marinho (Brasil) e o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, com o apoio da Fundação Gulbenkian, esta exposição foi inaugurada em São Paulo, em 2010, e apresentada no Rio de Janeiro em 2011. Em Lisboa, na Fundação Gulbenkian, a exposição assinala o Ano do Brasil em Portugal.

Fernando Pessoa, Plural como o Universo tem várias componentes. Um dos espaços é reservado à apresentação, em compartimentos delimitados, do ortónimo e dos quatro mais importantes heterónimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares. Noutra parte, encontra-se uma recolha de textos, cuja tónica é mostrar como puderam conviver, no espírito de Pessoa, os heterónimos, os escritos autointerpretativos e todos os outros projetos que o poeta ia desenvolvendo, num processo dinâmico e simultaneamente solitário. A exposição inclui ainda documentos inéditos, pinturas e alguns objetos nunca antes expostos em Portugal.
Os visitantes têm à sua disposição exemplares de toda a obra de Fernando Pessoa, em português e traduzidos para outras línguas, para que esta mostra possa também ser uma oportunidade para a leitura ou releitura, num espaço pouco usual, dos múltiplos e diferenciados escritos do poeta.
A componente multimédia da exposição é constituída por filmes, vozes e sons, poemas ditos e páginas de livros que, com um só toque do visitante se alternam e folheiam, fazendo uso das tecnologias atuais. O visitante pode escolher assim o seu próprio percurso perante a multiplicidade de escritos e registos existente.

Claude Monet (1840-1926) “Ramo de Girassóis”, 1881

Óleo sobre tela, 101 x 81,3 cm | Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque. Doação de Mrs. H.O. Havemeyer, 1929
Esta tela foi apresentada na sétima exposição ” impressionista “1882, obtendo uma excelente recepção dada a sua natureza enérgica e ousada. Neste momento da sua carreira, Monet começava a distanciar-se da sua anterior identidade enquanto uma das principais figuras do que então era o “movimento impressionista ” firmemente estabelecido, desenvolvendo uma técnica e explorando fromas de projecto artístico – em particular, variações seriais – de carácter marcadamente diferente.
Monet escolhia estes girassóis no seu próprio jardim em Vétheuil, representado aqui o aspecto fresco das flores, mas também o rápido definhar da folhagem. As flores encontram-se no que aparenta ser uma jarra chinesa ou japonesa de loiça azul e branca, que por sua vez assenta numa toalha ou num tapete de vibrante padrão vermelho. Os girassóis projectam-se em sentido ascendente, contorcendo-se e ultrapassando o limite da tela à direita e quase tocando à esquerda. Duas flores no alto e uma outra, em representação frontal, ao centro, formam um triângulo de três espécimes magníficos.
Após uma observação atenta, a sua vibração cromática deve-se a uma interacção de amarelos e vermelhos cuidadosamente construída , evidenciando-se graças ao opulento fundo de azuis e rosas difusos e aos intensos vermelhos, azuis e verdes da toalha. O recurso a contrastes de cores complementares aplicadas em pinceladas e retocadas diversas vezes é característico da alteração registada na técnica de Monet nesta fase. O que torna esta obra tão irresistível é o contraste estabelecido entre o notável efeito visual deste ramo selvagem e o fervilhar quase incoerente da superfície pintada da toalha ou da folhagem quando observada de perto.
Neil Cox, comissário da exposição A Perspectiva das Coisas. A Natureza-morta na Europa (1840-1955)
por: Teresa Pizarro, in
 Molduras – Antena 2

«Le Carnet de La Califonie» – Picasso em Cascais

Exposição: Picasso – «Le Carnet de La Califonie»
Centro Cultural de Cascais | 29 de Outubro a 8 de Janeiro de 2012
Uma vez mais ao abrigo do protocolo de colaboração celebrado em 1997 com a Fundação Bancaja, a Fundação D. Luís I apresenta até 8 de janeiro, no Centro Cultural de Cascais, uma importante coleção de 39 trabalhos da obra gráfica de Pablo Picasso. Trata-se da produção realizada pelo artista espanhol durante o período em que viveu com a sua mulher Jacqueline Roque, na vila La Californie, em Cannes, entre 1955 e 1960. A exposição tem como ponto de partida os esboços realizados pelo pintor, posteriormente reproduzidos na suite Le Carnet de La Californie, que foi adquirida pela Fundação Bancaja em 2007, e será complementada com gravuras, livros ilustrados e escritos da autoria do pintor, também pertencentes à colecção. As obras produzidas por Picasso nesta fase refletem a inspiração na atmosfera luminosa da casa e nos objectos que o rodeava, transmitindo a felicidade do pintor durante este período.

Em La Californie, Picasso transformou uma sala grande em ateliê, espaço que se tornou ele próprio protagonista de muitas das suas obras. O “regresso” ao tema do ateliê como inspiração foi igualmente interpretado como uma homenagem póstuma a Henri Matisse, que havia falecido em 1954. Esta ligação a Matisse foi também transposta para o uso das cores e para o caráter ornamental que caracteriza uma parte dos trabalhos da série.
A exposição apresenta obras em que Picasso utiliza várias técnicas gráficas (gravura calcográfica, água-tinta, linóleo e litografia), bem como alguns dos livros ilustrados pelo artista no seu atelier de La Californie, como os delicados e inovadores livros realizados com Pierre André Benoît, que contêm poemas de Reve Crevel, Jean Cocteau, ou o poema-objeto de Tristan Tzara. Destaque ainda para o livro La tauromaquia que fez para o editor catalão Gustavo Gili; o livro que contém os retratos do seu amigo Max Jacob ou os que ilustram poemas de Paul Éluard e do poeta local Henri-Dante Alberti. Via.

Cenas Religiosas dos séculos XIV-XVII

Encuentros. Escenas religiosas de los siglos XIV al XVIII 

De 2 de Agosto a 4 de Setembro de 2011 | Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid
Da selecção de obras da Colecção Permanente em exposição, escolhi duas, porque entendo serem verdadeiramente excepcionais! Vale a pena abri-las, bem como os links das restantes mencionadas.
Con ocasión de la celebración de la Jornada Mundial de la Juventud que tendrá lugar en Madrid del 16 al 21 de agosto, el Museo Thyssen-Bornemisza organizará una exposición que reunirá una selección de pinturas de gran calidad procedentes de los fondos de la Colección Permanente de Pintura Antigua. Las obras, que abarcan cronológicamente desde el siglo XIV al siglo XVIII, ilustran diversos encuentros de Cristo en tres etapas de su vida.
Entre las obras expuestas, los visitantes podrán admirar la tabla Cristo y la samaritana, obra de Duccio di Buoninsegna, gran maestro de la pintura sienesa del siglo XIV, y compararla con este mismo encuentro descrito por Il Guercino, destacado pintor del Seicento cuya composición desprende gran naturalismo y serenidad. Dentro de la escuela de pintura italiana destaca la pareja de lienzos de Giovanni Paolo Panini, La expulsión de los mercaderes del templo y La piscina probática, pintados en Roma hacia 1724 y cuyas escenas, con numerosos grupos de personajes, se organizan en el marco de monumentales arquitecturas.

Alberto Durero – Jesús entre los doctores, 1506
Las escuelas del Norte estarán bien representadas en la exposición. Uno de los primeros encuentros es el tema de la tabla de Durero Jesús entre los doctores, considerada una de las obras maestras de la Colección tanto por su técnica como por la originalidad de su composición. Mientras que el cobre de Jan Brueghel I narra el milagro de Cristo en la tempestad del mar de Galilea en un paisaje de gran realismo y paleta cromática muy viva. Dos escenas de interior describen otros instantes del proceder del Salvador como son los casos de Marinus van Reymerswaele con La vocación de san Mateo y Matthias Stom con su lienzo La Cena de Emaús, cuya técnica de claroscuro recuerda el estilo de la pintura de Caravaggio. Via.

Marinus van Reymerswaele – La vocación de san Mateo, c. 1530

Bosch e o seu Círculo

Bosch e o seu Círculo 
De 14 de Julho a 25 de Setembro de 2011 | Museu Nacional de Arte Antiga

Esta exposição, realizada em parceria com o Museu Groeninge (Bruges, Bélgica), coloca o Tríptico das Tentações de Santo Antão do MNAA criticamente em confronto com o Tríptico do Juízo Final, executado por um colaborador próximo de Hieronymus Bosch e o Tríptico das Provações de Job, executado por alguém que imitou o estilo do Mestre. A exposição debruça-se sobre as variantes ou os traços comuns de processo criativo destes trípticos, análise também apoiada em exames laboratoriais. Será a primeira vez que se juntam, em Portugal, três grandes pinturas de Bosch e do seu círculo.

A SALA mais procurada pelos visitantes do Museu do Prado, sobretudo por um público jovem, curioso e fascinado, é decerto aquela em que se expõem os três célebres trípticos de Jheronimus Bosch (Hertogenbosch, 1453?-1516). A razão é basicamente idêntica à que Filipe II, coleccionador devotado e compulsivo do pintor, sugeria numa carta aos filhos quando da sua visita a Lisboa em 1581: «Lamento que vós e vosso irmão não tivésseis tido a oportunidade de assistir à procissão [do Corpo de Deus] da maneira como aqui se faz, visto que nela se incorporam alguns diabos semelhantes aos dos quadros de Bosch que, julgo, vos causariam admiração». Neste Verão de 2011, o MNAA tem o privilégio de também reunir na galeria de pintura europeia, numa única sala, três trípticos do universo figurativo de Bosch, graças não já à fortuna de um antigo coleccionismo régio, mas a uma excelente parceria de empréstimos realizada com o Museu Groninge de Bruges (Bélgica), de onde provêm as duas obras confrontadas com o tríptico residente, o das Tentações de Santo AntãoOs três trípticos compõem, na sala 61, um interessante dispositivo de descoberta e comparação visuais, ensaiando uma proposta rara de contacto com a experiência visionária de Bosch, das categorias com que esta se impregnou e consolidou – o monstruoso, o grotesco, o demoníaco, o escatológico –, através de um reportório iconográfico dominante na sua pintura, profundamente religiosa e moralizante (não «herética», nem «surrealista»), dedicada à exploração dos exemplos morais da vida penitencial dos eremitas ou aos fins últimos da humanidade, como o de uma ideia, doutrinal, para o fim dos tempos.

TRÍPTICO DO JUÍZO FINAL | Oficina de Jheronimus Bosch | Século XVI, 1ª metade
Óleo sobre madeira de carvalho | 99,2 x 60,5 cm (painel central) | 99,5 x 28,7 cm (volantes)
Bruges, Museu Groninge
Proveniência: colecção E. Cavet, vendido no Hôtel Drouot, Paris, em 1906. Entra em 1907 na colecção Seligman , Paris. Comprado por Auguste Beernaert que o doa à cidade de Bruges, passando ao Museu Comunal.
Essa ideia encontra-se magnificamente encenada no Tríptico do Juízo Final, em cuja pintura central preside, na parte superior, o Cristo Pantocrator, inscrito num círculo de luz e ladeado por uma corte de Apóstolos e pelos anjos das trombetas apocalípticas. A linha de horizonte é comum aos três painéis, pretendendo unificá-los como referentes a um só lugar, espelho de toda a Terra, desvendando-se no volante direito os inquietantes fogos, construções, seres demoníacos e suplícios que caracterizam o Inferno e as suas Portas e que já «invadem», amplamente, o espaço da representação central, onde se não conta a clássica ressurreição dos mortos mas uma alegórica loucura humana e as desgraças que ela arrasta consigo. Pelo contrário, no volante esquerdo, a paisagem e os seres que a habitam configuram as delícias de um lugar paradisíaco, ameno e musical, onde se ergue a Fonte da Vida e de onde se evolam, como diminutas figurinhas aladas, na parte superior, os que alcançam o Paraíso Celeste. No tríptico da Academia de Belas-Artes de Viena, que é compositiva e estilisticamente o mais próximo deste, é o episódio dos Anjos Caídos que se representa no volante equivalente, associado à visão do Pecado Original e da Expulsão de Adão e Eva do Paraíso terrenal. Por outro lado, no Juízo Final de Bruges, há vários pormenores figurativos que parecem ser retomados a partir do Tríptico das Tentações de Santo Antão.

TRÍPTICO DAS TRIBULAÇÕES DE JOB – Continuador de Jheronimus Bosch | Século XVI, 2ª metade
Óleo sobre madeira de carvalho | 98,3 x 72,1 cm (painel central) | 98 x 30,3 cm (volantes)
Bruges, Museu Groninge
Proveniência: Conhecida desde 1890, a obra foi depositada pela Igreja de Hoecke (arredores de Bruges) no Museu Comunal de Bruges em 1931.
A relação com a obra do MNAA é bem evidente, do ponto de vista temático e iconográfico, no que se refere ao Tríptico das Tribulações de Job. O painel central trata o protagonista defrontando-o com as tentações de múltiplas figuras aduladoras e maléficas, como sucede ao príncipe dos eremitas na pintura de Lisboa. Ele resistirá, pela vocação do despojamento e a inquebrantável razão da fé, num exemplo multiplicado pela atitude dos eremitas inscritos nos volantes: Santo Antão, à esquerda, mais uma vez assolado por demónios e pela tentação da Carne; S. Jerónimo, à direita, nas suas práticas penitenciais diante do crucifixo. Ambas as representações, nos volantes, são largamente devedoras do chamado Tríptico dos Eremitas, obra considerada autógrafa de Bosch que pertence ao Palácio Ducal de Veneza.

PAINEL CENTRAL
Se o Tríptico do Juízo Final é considerado, pela sua apreciável qualidade de execução pictural, uma peça ainda cronologicamente próxima de Bosch e atribuível a um seu discípulo competente e com acesso a modelos de oficina, já o Tríptico das Tribulações de Job não poderá deixar de considerar-se trabalho de um continuador ou imitador da segunda metade do século XVI (como aliás indicam os brasões inscritos nos reversos dos volantes ou as características da moldura do tríptico). Numa obra com tão ampla fortuna e posteridade, como a de Bosch, são especialmente importantes os problemas técnicos e de distinção autoral. A reunião destes três trípticos em Lisboa será assim ocasião para uma série de exames científicos, à estrutura material e ao processo criativo destas pinturas, conduzidos por uma equipa do projecto internacional «Bosch Research & Conservation Project», cujos resultados, obtidos a partir da análise de todas as pinturas atribuídas a Bosch, serão divulgados em 2016, ano do 5º centenário da morte do pintor.

SANTO ANTÃO (VOLANTE ESQUERDO)

S. JERÓNIMO (VOLANTE DIREITO)