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‘POSSESSIO MARIS’

Neste 21 de Outubro em 1520, dia em que o navegador Fernão de Magalhães ‘descobriu’ a passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico, hoje conhecida como Estreito de Magalhães, fica a exaltação de Fernando Pessoa na segunda parte da ‘Mensagem‘, dedicada ao Mar Português:



POSSESSIO MARIS
VIII – FERNÃO DE MAGALHÃES
No vale clareira uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto –
Cingi-lo, dos homens, o primeiro –,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.

Exposição – Fernando Pessoa, Plural como o Universo

Fundação Calouste Gulbenkian | De 10 Fev 2012 a 30 Abr 2012 |
Curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith | Imagens de Márcia Lessa
Exposição dedicada a Fernando Pessoa e aos seus heterónimos, que pretende mostrar toda a multiplicidade da obra do grande poeta de língua portuguesa, conduzindo o visitante numa viagem sensorial pelo universo de Pessoa, para que leia, veja, sinta e ouça a materialidade das suas palavras. Com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith, nesta exposição encontra-se um espaço repleto de poemas, textos, documentos, fotografias e pintura, onde se incluem raridades como a primeira edição do livro Mensagem, com uma dedicatória escrita pelo poeta.
Nascida de uma colaboração entre a Fundação Roberto Marinho (Brasil) e o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, com o apoio da Fundação Gulbenkian, esta exposição foi inaugurada em São Paulo, em 2010, e apresentada no Rio de Janeiro em 2011. Em Lisboa, na Fundação Gulbenkian, a exposição assinala o Ano do Brasil em Portugal.

Fernando Pessoa, Plural como o Universo tem várias componentes. Um dos espaços é reservado à apresentação, em compartimentos delimitados, do ortónimo e dos quatro mais importantes heterónimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares. Noutra parte, encontra-se uma recolha de textos, cuja tónica é mostrar como puderam conviver, no espírito de Pessoa, os heterónimos, os escritos autointerpretativos e todos os outros projetos que o poeta ia desenvolvendo, num processo dinâmico e simultaneamente solitário. A exposição inclui ainda documentos inéditos, pinturas e alguns objetos nunca antes expostos em Portugal.
Os visitantes têm à sua disposição exemplares de toda a obra de Fernando Pessoa, em português e traduzidos para outras línguas, para que esta mostra possa também ser uma oportunidade para a leitura ou releitura, num espaço pouco usual, dos múltiplos e diferenciados escritos do poeta.
A componente multimédia da exposição é constituída por filmes, vozes e sons, poemas ditos e páginas de livros que, com um só toque do visitante se alternam e folheiam, fazendo uso das tecnologias atuais. O visitante pode escolher assim o seu próprio percurso perante a multiplicidade de escritos e registos existente.

Se num dia escuro de Fevereiro um viajante…

O vento sopra lá fora.
Faz-me mais sozinho, e agora
Porque não choro, ele chora.

É um som abstracto e fundo.
Vem do fim vago do mundo.
Seu sentido é ser profundo.

Diz-me que nada há em tudo.
Que a virtude não é escudo
E que o melhor é ser mudo.

Fernando Pessoa

Caspar David Friedrich – Monk by the sea, c. 1809

Mensagem – 75º Aniversário

Para comemorar o 75º aniversário da “Mensagem de Fernando Pessoa, reproduzo aqui as ligações para as entradas com os capítulos que fui publicando ao longo primeiro semestre de 2004 no Luminescências.
Neste dia enevoado, em que se comemora uma independência nacional inexistente e em que, apesar de tudo, é melhor estar na Europa que fora dela, sabe bem reler a exaltação de Pessoa aos grandes portugueses da nossa História. Sem sebastianismo messiânico… 🙂

Há exactamente 75 anos, no dia 1 de Dezembro de 1934, a editora Parceria António Maria Pereira, de Lisboa, publicava o volume de poemas “Mensagem”. O autor, Fernando Pessoa, tinha então 46 anos – morreria quase exactamente um ano depois, a 30 de Novembro de 1935 – e, em formato de livro, descontado um folheto, depois repudiado, no qual defendia uma ditadura militar para Portugal, editara apenas alguns opúsculos de poesia inglesa.

Lançamento de uma edição fac-similada marca 75 anos da “Mensagem” de Fernando Pessoa

1ª Parte – O Brasão
I- Os Campos – Primeiro: O dos Castelos / Segundo: O das Quinas
II – Os Castelos – Primeiro: Viriato / Segundo: Ulisses / Terceiro: O Conde Dom Henrique / Quarto: Dona Tareja / Quinto: Dom Afonso Henriques / Sexto: Dom Dinis / Sétimo (I): Dom João I; Sétimo(II): Dona Filipa de Lencastre
III – As Quinas: Primeira – Dom Duarte, Rei de Portugal / Segunda – Dom Fernando, Infante de Portugal / Terceira – Dom Pedro, Regente de Portugal / Quarta – Dom João, Infante de Portugal / Quinta – Dom Sebastião, Rei de Portugal

IV – A Coroa, Nun`Álvares Pereira / V – O Timbre, A Cabeça do Grifo – O Infante Dom Henrique
2º Parte – Mar Português – Possessio Maris
I – O Infante / II – Horizonte / III – Padrão / IV – O Mostrengo
V – Epitáfio de Bartolomeu Dias / VI – Os Colombos / VII – Ocidente / VIII – Fernão de Magalhães
IX – Ascensão de Vasco da Gama / X – Mar Português / XI – A Última Nau / XII – Prece
3ª Parte – O Encoberto

I – Os Símbolos – Primeiro: Dom Sebastião / Segundo: O Quinto Império / Terceiro: O Desejado / Quarto: As Ilhas Afortunadas / Quinto: O Encoberto
II – Os Avisos – Primeiro: O Bandarra / Segundo: António Vieira / Terceiro

III – Os Tempos – Primeiro: Noite / Segundo: Tormenta / Terceiro: Calma / Quarto: Antemanhã / Quinto: Nevoeiro