Arquivo de Maio, 2004

Inesperadamente, morreu o golfinho bébé que estava no Zoo Marine de Albufeira a ser tratado, com tantos cuidados, tanto carinho, e que já tinha conquistado a simpatia dos portugueses, fruto do acompanhamento diário que a SIC fazia da sua evolução.

Merecem uma palavra de apreço todos os que passaram horas a fio dentro da piscina com o golfinho bébé.

Para além da desilusão profissional por não terem conseguido salvá-lo, nos trinta e tal dias em que conviveram diariamente, criaram, e demonstravam-no constantemente, uma relação afectiva muito forte, e por isso devem estar a passar um momento difícil.

Internet Addiction Disorder

A Blogosfera dá para tudo

Pessoas

que não se conhecem

que cultivam amizades

que sofrem

que se insultam

de verdade

que me fazem sentir vivo

que já estão mortas e não sabem

que explicam porque se vão embora

explicaram ao que vinham?

divertidas

apaixonadas

muito

inteligentes, sensíveis

que escrevem mal

que se fartam de escrever

e dizem pouco

como diz o Gasel

um post não precisa ter muita conversa para ser interessante

Não sei para onde caminha esta comunidade

talvez para nenhures

o que seria pena, mas

este frémito parece estar a desgastar muita gente

todos os dias fecham janelas

abrem outras, é certo

Amanhã é outro dia

Boa noite

não quero acreditar ( post editado)

Que o ex-treinador do benfica disse que espera ver o Mónaco ganhar ao FC Porto!

(afinal o senhor disse que quer que o Morientes jogue bem e ganhe o jogo – o que, sendo uma afirmação diferente, vai dar ao mesmo!)

Que o porta-voz dos Inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras disse, a propósito da requisição civil anunciada pelo governo caso façam greve durante o Euro, que esta seria uma lei ilegal!

Cantilena Para Um Tocador De Flauta Cego



White Faun playing the Double Flute – Picasso

Flauta da noite que se cerra,

Presença líquida de um pranto,

Todos os silêncios da terra

São as pétalas do teu canto.

Espalha teu pólen na alfombra

Do catre que por fim te acoite

Mel de uma boca de sombra

Como um beijo na boca da noite

E pois que as escalas que cansas

Nos dizem que o dia acabou,

Faz-nos crer que os céus dançam

Porque um cego cantou.

Marguerite Yourcenar, Tradução de Mário Cesariny

presunção de liberdade

Fechado numa casca de noz

eu poderia julgar-me rei

de um espaço infinito…

Shakespeare, Hamlet

Quizz

Gosto muito de cinema!

E a Maria também! Por isso, para ela, que teve a ideia, e também para os amigos cinéfilos, aqui fica o desafio.


Origens – I

Vila Nova de Foz-Côa



Há cerca de vinte mil anos, o homem desceu os vales do Côa e do Douro pescando e caçando para sobreviver, e, gravando com sílex os painéis do rijo xisto de ambas as margens.



Mais recentemente, na segunda metade do século XX, acompanhado pelos primos, descia da vila e pisava, quem sabe, as mesmas pedras que o homem do paleolítico..

Saíamos de manhã.

O trajecto até ao rio que nos esperava lá em baixo, era percorrido aos saltos entre amendoeiras, figueiras e vinhedos das encostas do Douro, que nos alimentavam o corpo e as brincadeiras.



Por volta da hora do almoço já estávamos a tomar banho na margem esquerda do rio.

Por várias vezes fomos arrastados pelas fortes correntes, indo normalmente parar à retorta, uma curva providencial que desdenhava, fruto da imaturidade da adolescência!

Os primos diziam que a Senhora da Veiga, que ainda lá está na capela perto da margem, nos protegia.

Se a família soubesse..



A Igreja Matriz de Foz Côa, onde casaram os meus pais, é Monumento Nacional e tem o seu maior valor no desenho do alçado frontal, do período gótico- manuelino.

No pórtico existem duas esferas armilares, encimadas uma, pela Cruz de Cristo e outra pela Flor-de-Lis. Dois escudos com as armas reais ladeiam o nicho onde se alberga uma imagem de Nª. Srª. da Piedade, ou do Pranto, de calcário do séc. XVI.

A capela-Mór da Igreja Matriz é uma obra riquíssima em talha, em pintura e em escultura. Do lado norte do sacrário, está a imagem da Padroeira da Paróquia, Nª. Srª. do Pranto. É a Pietá, imagem do séc. XVII. Nas paredes laterais da capela-Mór encontram-se várias pinturas a óleo sobre madeira, da autoria de artistas da Escola de Grão Vasco.

Vila Nova de Foz-Côa teve três forais.

O primeiro e o segundo, dados por D. Dinis, fundador e povoador da localidade, a 21 de Maio de 1299 e a 24 de Julho de 1314, respectivamente.

O terceiro foi dado por D. Manuel a 16 de Junho de 1514.

D. João I elevou-a à categoria de vila.

D. Manuel mandou edificar a Igreja Matriz.

Por último Foz Côa é elevada a cidade em 12 de Julho de 1997



O Pelourinho, de granito do século XVI, está situado na Praça do Município.

Sustentado por quatro degraus, tem os bordos superiores do capitel ornados por cordões. O remate da cabeça é feito por um grupo de coruchéus, sobre os quais se erguem a esfera armilar e a flor-de-lis.

Plantou-me aqui e arrancou-me daqui.

E nunca mais as raízes me seguraram bem em nenhuma terra.

Miguel Torga

História Trágico-Marítima



Maria Helena Vieira da Silva

1944, óleo sobre tela, 81 x 100 cm

Centro de Arte Moderna

Mar!

Engenhosa sereia rouca e triste!

Foste tu quem nos veio namorar,

E foste tu depois que nos traíste!

Mar!

E quando terá fim o sofrimento!

E quando deixará de nos tentar

O teu encantamento
!

Miguel Torga

blogus interruptus

Nos próximos dias não vou poder cumprir um dos rituais diários, o de visitar amigos na blogosfera.

Desde o início do ano tenho-me habituado aos posts, aos comentários e, aquilo que me tem dado mais prazer, a estabelecer cumplicidades!

Aos amigos que têm a gentileza de visitar o meu cantinho desejo uma boa semana, com um sorriso!

Meus amigos, desculpai-me

pois, inadvertidamente, vos iludi.

Bem sei agora que de mim

vós todos esperáveis um poeta completo,

alguém como um semideus

que conseguisse se embrenhar no segredo do cosmo,

capaz de sofrer a angústia do big-bang inicial

e de viver o gozo, supremo e espasmódico,

de algum astro recém-nascido.

Não, meus amigos.

Decididamente não sou eu o poeta que buscais.

Para desfazer qualquer dúvida que ainda remanesça,

permiti que vos diga, num rasgo de confessada humildade,

que eu jamais consegui decifrar o código de angústia

do riacho que, perdido, serpenteia pela floresta;

que eu, embora tenha me esforçado ao extremo,

ainda não traduzo fielmente a voz do vento andarilho,

mexeriqueiro bailarino a confabular com as árvores

os segredos trazidos de distantes paragens.

Tende em mente que minha sensibilidade

é suficiente apenas para entender

que a cor avermelhada da aurora

se deve ao sangue das paixões sublimadas.

É honesto dizer ainda que não tenho tido êxito

ao tentar compreender as conversas informais das estrelinhas

quando, nas noites frias de inverno,

se reúnem para tricotar suas nuvens de algodão.

Bem se vê que é indevido o vosso comportamento

quando, em contato com meus versos humildes,

vos dizeis maravilhados das palavras desconexas

que, presunçosamente, apelidei de poesia.

E, para melhor vos iludir,

fiz do meu verbo uma argamassa

composta de dores e amores,

de sonhos e prantos e sorrisos e lágrimas.

Porque – é forçoso reconhecer! –

este vosso amigo, longe de ser um poeta pleno,

ainda não conseguiu ir além do coração do homem.

Solange Rech

Do amante

Ai, a carne é fraca, não tem discussão

E eu, que enfraqueci mulher de amigo

Evito o meu quarto, dormir não consigo

Vejo-me à noite: atento a qualquer som!

E isso advém de o seu quarto afinal

Ser contíguo ao meu.

O que me consome

É que eu ouço tudo, quando ele a come

E se não ouço, penso:

é pior o mal!

Se já tarde os três bebemos um copito

E eu noto que o meu amigo não fuma

E, quando a mira, põe olhos em bico

Encho o copo dela a deitar por fora

E obrigo-a a beber, se não colabora,

P’ra ela à noite não dar por nenhuma.

Poema de Bertolt Brecht, gravura de Pablo Picasso