Arquivo de 23 de Maio, 2004

Origens – I

Vila Nova de Foz-Côa



Há cerca de vinte mil anos, o homem desceu os vales do Côa e do Douro pescando e caçando para sobreviver, e, gravando com sílex os painéis do rijo xisto de ambas as margens.



Mais recentemente, na segunda metade do século XX, acompanhado pelos primos, descia da vila e pisava, quem sabe, as mesmas pedras que o homem do paleolítico..

Saíamos de manhã.

O trajecto até ao rio que nos esperava lá em baixo, era percorrido aos saltos entre amendoeiras, figueiras e vinhedos das encostas do Douro, que nos alimentavam o corpo e as brincadeiras.



Por volta da hora do almoço já estávamos a tomar banho na margem esquerda do rio.

Por várias vezes fomos arrastados pelas fortes correntes, indo normalmente parar à retorta, uma curva providencial que desdenhava, fruto da imaturidade da adolescência!

Os primos diziam que a Senhora da Veiga, que ainda lá está na capela perto da margem, nos protegia.

Se a família soubesse..



A Igreja Matriz de Foz Côa, onde casaram os meus pais, é Monumento Nacional e tem o seu maior valor no desenho do alçado frontal, do período gótico- manuelino.

No pórtico existem duas esferas armilares, encimadas uma, pela Cruz de Cristo e outra pela Flor-de-Lis. Dois escudos com as armas reais ladeiam o nicho onde se alberga uma imagem de Nª. Srª. da Piedade, ou do Pranto, de calcário do séc. XVI.

A capela-Mór da Igreja Matriz é uma obra riquíssima em talha, em pintura e em escultura. Do lado norte do sacrário, está a imagem da Padroeira da Paróquia, Nª. Srª. do Pranto. É a Pietá, imagem do séc. XVII. Nas paredes laterais da capela-Mór encontram-se várias pinturas a óleo sobre madeira, da autoria de artistas da Escola de Grão Vasco.

Vila Nova de Foz-Côa teve três forais.

O primeiro e o segundo, dados por D. Dinis, fundador e povoador da localidade, a 21 de Maio de 1299 e a 24 de Julho de 1314, respectivamente.

O terceiro foi dado por D. Manuel a 16 de Junho de 1514.

D. João I elevou-a à categoria de vila.

D. Manuel mandou edificar a Igreja Matriz.

Por último Foz Côa é elevada a cidade em 12 de Julho de 1997



O Pelourinho, de granito do século XVI, está situado na Praça do Município.

Sustentado por quatro degraus, tem os bordos superiores do capitel ornados por cordões. O remate da cabeça é feito por um grupo de coruchéus, sobre os quais se erguem a esfera armilar e a flor-de-lis.

Plantou-me aqui e arrancou-me daqui.

E nunca mais as raízes me seguraram bem em nenhuma terra.

Miguel Torga

História Trágico-Marítima



Maria Helena Vieira da Silva

1944, óleo sobre tela, 81 x 100 cm

Centro de Arte Moderna

Mar!

Engenhosa sereia rouca e triste!

Foste tu quem nos veio namorar,

E foste tu depois que nos traíste!

Mar!

E quando terá fim o sofrimento!

E quando deixará de nos tentar

O teu encantamento
!

Miguel Torga

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