Arquivo de Junho, 2004

Até os esprememos!

“Reconhecendo a influência invariável do desejo sobre a nossa natureza apaixonada, então esforçamo-nos para obter a paz de espírito, de que resulta a capacidade para argumentar. Embora tal atitude não seja fácil de manter, todas as coisas nobres são tão difíceis quanto raras“.



Espinosa nasceu na Holanda, filho de judeus portugueses aí exilados.

Por quem torceria hoje?



VAMOS A ELES!!!

VAN DER SAR, REIZIGER, STAM,BOUMA, VAN BRONCKHORST, COCU, VAN DER MEYDE, DAVIDS, KLUIVERT, VAN NISTELROOIJ, VAN DER VAART, MAKAAY, WESTERVELD, SNEIJDER, DE BOER, OVERMARS, VAN HOOIJDONK, HEITINGA, ROBBEN, SEEDORF, BOSVELT, ZENDEN, WATERREUS.

Destas 23 laranjinhas,

Vamos pegar em 11 e fazer um belo sumo…


O poeta pede a seu amor que lhe escreva


Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

Garcia Lorca

Senhor Europa

Com a Europa do futebol em casa, o anúncio do convite feito a Durão Barroso para assumir o tão delicado cargo de presidente da Comissão Europeia introduz nas nossas relações com a nova Europa uma nota de proximidade e de familiaridade “europeístas” de que o nosso país bem precisava para sair da sua conhecida morosidade nessa matéria. De um dia para o outro vai ser “chique” ser europeu agora que o rosto da Europa é a cara decidida e ainda juvenil do nosso primeiro-ministro. Talvez se perceba, enfim, até que ponto a nossa distracção europeísta, o nosso desencanto em relação à Europa que as últimas eleições confirmaram, eram mais amuo ou ressentimento em relação ao centro que não nos via tanto como nós gostamos de ser vistos do que distância e indiferença assumidas e, sobretudo, justificadas. Para europeístas militantes a conversão não surpreenderá. Há muito que quem não anda neste mundo apenas por ver andar os outros sabe que o nosso destino, que outrora se jogou no mundo por conta da Europa, se joga agora na Europa por conta do mundo.

O acesso de um português a Senhor Europa, além de facto político importante que é, no âmbito europeu, é um facto ainda mais importante no plano nacional, se é que se podem separar. Nenhum outro se lhe pode comparar desde o 25 de Abril, salvo o da nossa adesão à Comunidade Europeia, em boa hora promovida pelo então Presidente Mário Soares. Só que, entretanto, o contexto europeu e internacional mudou e esta nossa implicação ao mais alto nível na construção de uma Europa em crise não tem para nós menos alcance que o dessa adesão feita ainda por cálculo político e num clima de esperança.

Que Portugal trás Durão Barroso a esta Europa que recebe ordens dos Estados Unidos como se fosse a Grécia do tempo de Cícero? Em alguma imprensa europeia, que em geral tem recebido a candidatura de Durão Barroso com aplauso, o nosso actual primeiro-ministro é apresentado, uma vez como o melhor amigo de Blair outra como filoamericano, o que é e não é a mesma coisa. O filoamericanismo de Durão Barroso (o homem da cimeira dos Açores) não é na actual circunstância um “handicap”, mesmo na perspectiva da esquerda. O filoamericanismo não é obrigatoriamente um alinhamento acrítico pela actual política da administração Bush. Quem faz política a médio prazo, na Europa, não se pode dar ao luxo de ser, por conta de antagonismos passados, antiamericano por princípio. Mais decisiva é ou será a opção especificamente europeia do nosso antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e futuro presidente da Europa. Nesse sentido, a sua real ou suposta opção “blairista” importa mais que o seu alinhamento táctico com a política imperialista de Bush. Paradoxalmente, este seu novo cargo – de escolha pessoal e de incidência nacional – impõe-lhe deveres de “neutralismo” virtual em matéria de escolha europeia. É aí que a experiência de diplomata e o seu instinto o servirão. Não custa imaginar que a natureza do novo espaço político onde vai ser obrigado a agir, a espécie de liberdade que através dele alcançará, não tenham sido factores determinantes para ter aceitado a sua alta missão. Terá de fazer esquecer que, em circunstâncias graves para o destino europeu, integrou uma das “europas” em litígio e que não foi a “velha” de baptismo “rumsfeldiano”, quer dizer precisamente aquela que tão penosamente há uns bons quarenta anos tenta construir a única Europa. Essa mesma Europa que agora vai representar oficialmente e que terá de defender de todos os cavalos de Tróia que não desistiram de enterrar.

Guardado estava o bocado para quem o havia de comer. A saída por cima pela Europa, como toda a gente se lembra, era o sonho de António Guterres. Só ele saberá por que e a que preço renunciou a um destino europeu que lhe estava destinado. Nisto, como no resto, Durão Barroso é o seu sucessor miraculoso. Este último talvez tenha tido, como político responsável que é, escrúpulos análogos aos de António Guterres, mas as circunstâncias políticas de um e outro eram diferentes. O partido de Guterres não podia deixar partir o seu patrão. Guterres não tinha motivos imperativos para o abandonar. Nessa altura, pelo menos. Durão Barroso, mesmo sem as desastrosas eleições europeias, tinha muitos para se ver livre de uma coligação política e, sobretudo, ideologicamente contranatura. Essa coligação era uma duvidosa noiva. A Europa vale bem uma missa e esta é pontifical. E o país?

Provavelmente, e segundo o nosso reflexo clássico, a pátria política – ou a política nela – estará mais interessada pela inédita e insólita situação criada pelo abandono da cadeira de São Bento que pela ascensão ao Olimpo europeu por Durão Barroso interposto. Se não fosse o futebol, a esta hora, a cara classe política estaria vivendo uma efervescência digna de Verão quente ou pelo menos morno, depois de dois anos de marasmo dividido a meias entre maioria e oposição. E talvez já o esteja. Formalmente, não há razões para isso, mas psicologicamente, não faltam. A saída de Durão Barroso (política), por mais patrióticos que sejam os seus motivos, tinha de suscitar, mais que não fosse pela analogia espanhola, uma vontade de preencher o vazio objectivo do poder tornado palpável pela ausência de quem o encarnava. Uma solução meramente mecânica da questão não estará à altura do acontecimento. E ninguém o saberá melhor que o Presidente da República, garante do nosso equilíbrio político, que nunca é meramente formal. Há momentos em que se pode dar tempo ao tempo, outros são de urgência e do risco que ela implica. É a primeira vez que Jorge Sampaio se encontra numa situação em que nenhuma fórmula e nenhum conselho lhe podem indicar o caminho certo. Talvez seja esse o preço a pagar para sermos “alguém” na Europa. Seria extraordinário que tendo chegado lá e ocupando o seu ponto mais alto para ajudar a fazê-la, tivéssemos em casa, para levar a cabo essa tarefa, um Governo tão híbrido, no qual algumas das estrelas são há muito, de profissão e tradição, sólidos pilares do antieuropeísmo. Velho e novo. Possa a nova situação esclarecer o que é menos um enigma que uma aberração.

Texto de Eduardo Lourenço no Público.

Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo

Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.
Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.
E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.

Ricardo Reis, Odes

A Bandeira não é um produto do marketing!


[…] Ela é tão nossa já, a guiar-nos os passos…

De tal forma diz Pátria, essa bandeira bela,

Que ou esta Pátria vive erguendo-a bem nos braços

Ou esta Pátria morre amortalhada nela!

Bernardo Passos

A Bandeira Nacional não é um cachecol onde é permitido todo o tipo de inscrições!

A Bandeira Nacional é o símbolo da República!

É lamentável que, a coberto da euforia em torno da Bandeira Nacional, exista tão mesquinho aproveitamento e manipulação do seu simbolismo, que haja quem queira fazer deste país uma república das bananas!

A memória do povo é curta!

O Felipão está quase assegurado até 2006!

Onde é que estão as vozes dissonantes?!

Pois é!

Por causa disto corremos o risco de perder com a Holanda!!

Resisti à tentação enquanto pude:

1. É extraordinário como a possibilidade de o Primeiro Ministro português vir ocupar a cadeira de Presidente da Comisão Europeia nos próximos cinco anos tem sido relegada para segundo plano.

2. É pouco menos que surrealista a onda de contestação que se gerou face à hipótese de Pedro Santana Lopes vir a substituir o Primeiro Ministro – PSL já se pronunciou sobre o assunto?

Será que o homem que serve na Câmara de Lisboa, com um orçamento superior ao de vários ministérios, se sujeitaria a ser alvo de tanta contestação, antes sequer de tomar posse? Não creio. PSL é ambicioso, mas não é estúpido!

3. Ao contrário do que diz Abrupto, parece-me que os portugueses estão muito bem informados sobre tudo; muita tem gente tem opinião formada sobre o assunto – ainda não se sabe o que vai acontecer, mas já se sabe o que não vai acontecer..

M`espanto com a miríade de constitucionalistas encartados que existem neste país!

4. Seja quem fôr O Escolhido, a oposição vai ter de o engolir, uma vez que a actual oposição não tem credibilidade.. e além disso, o Presidente é uma pessoa sensata!

5. Verdadeiro milagre, a manifestação espontânea de ontem em Belém; Inicia-se uma nova forma de intervenção política – o telemóvel.

6. Os unanimismos são pouco saudáveis, mesmo na nossa democracia.

7. A frase “melhores dias virão” não se aplica… porque tem estado um tempo fantástico!

The dreams in which I’m dying are the best I’ve ever had..!

All around me are familiar faces

Worn out places

Worn out faces

Bright and early for the daily races

Going no where

Going no where

Their tears are filling up their glasses

No expression

No expression

Hide my head I wanna drown my sorrow

No tomorrow

No tomorrow

And I find it kind of funny

I find it kind of sad

The dreams in which I’m dying are the best I’ve ever had

I find it hard to tell you

I find it hard to take

When people run in circles its a very very

Mad world

Mad world

Children waiting for the day they feel good

Happy birthday

Happy birthday

And I feel the way that every child should

Sit and listen

Sit and listen

Went to school and I was very nervous

No one knew me

No one knew me

Hello teacher tell me what’s my lesson

Look right through me

Look right through me

And I find I kind of funny

I find it kind of sad

The dreams in which I’m dying are the best I’ve ever had

I find it hard to tell you

I find it hard to take

When people run in circles its a very very

Mad world

Mad world

Enlarging your world

Mad world

Gary Jules, para a banda sonora de Donnie Darko

Over and over again.. lindo! lindo!

Pouco importa… mas é bom!

(…) Portugal não acaba de vencer o Euro, mas que importa agora isso se a delícia se mantém no olhar de cada um de nós.

Portugal não acaba de vencer o Euro mas não importa, o momento é, agora, de suprema alegria.

Que importa que aquele fantástico golo de Rui Costa (logo de Rui Costa!) não tenha conseguido iluminar de vez o caminho vitorioso dos portugueses; (…) que tenha sido obrigado a viver aqueles segundos de desespero quando a sua bola de penalidade saiu por cima da trave de James;

que importa agora ter-nos parecido mal a substituição de Luis Figo ou a infelicidade naquele toque de cabeça de Costinha que isolou Owen para o primeiro golo inglês;

que importa agora saber se Hélder Postiga não marcava um golo à muito tempo, se ele escolheu uma noite sublime para se reencontrar com o seu destino de ponta-de-lança;

que importa agora saber como a estrelinha seguiu, leal, o notável coração da equipa nacional naquele precioso momento, a escassos minutos do final do jogo, em que Sol Campbell atirou de cabeça à trave da baliza de Ricardo.

Parecia o destino a querer escrever no céu as iluminadas palavras do sucesso português.

Portugal não acaba de vencer o Euro, mas acaba de justificar a comunhão deste ideal entre os portugueses e a sua Selecção.

O que se viveu na Luz não é já a força de um enorme coração; é a força de um coração que já não cabe no País(…)

João Bonzinho, in A Bola, hoje

Tratado de Windsor na gaveta..

É curioso como nasceu o Tratado de Windsor, ou «a mais velha Aliança do Mundo»..!

A aliança política entre as duas coroas derivou da Guerra dos Cem Anos.

O motivo próximo foi a ambição partilhada pelo Rei português D. Fernando e pelo Duque de Lancaster – ambos se diziam legítimos pretendentes ao trono de Castela, daí o tratado ser básicamente contra Castela e Aragão.

O papel das tropas inglesas foi importante para dissuadir os castelhanos, embora tenham submetido a população portuguesa às maiores selvajarias, tendo inclusivamente cercado e atacado terras amuralhadas.

Perante os protestos de D. Fernando, os populares decidiram defender-se a eles próprios, infligindo pesadas baixas aos «aliados» britânicos.

Na História mais recente, não necessitámos da ajuda dos amigos ingleses para derrotar os espanhóis, assim como hoje vamos lutar com armas e dentes contra o nosso aliado ancestral..!

Vamos reescrever a História!

Vamos a eles!

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