mitos e realidades

 

Ilustração de Michael Zichy

Ilustração de Michael Zichy

 

 

Tens a coisa pequena mas que importa
se a questão nunca é do tamanho.
Ela pode ser grande e já estar morta
ou pequena e campeã do arreganho.

Ao centímetro não há felicidade
que possa ser medida, pois então!
Para poder impôr-se, a coisa há-de,
muito mais que tamanho, ter tesão.

É tudo o que deves ter em conta.
O resto é conversa rasa e tonta
se não promoçãozinha pessoal.

Só tens de cumprir o compromisso.
E não te esqueças nunca para isso,
tomar o compromisso também vale.

 

poema nono dos Sonetos eróticos & irónicos & sarcásticos & satíricos & de amor & desamor & de bem & e de maldizer do poeta Joaquim Pessoa
Litexa Editora, 2008

Au fil du temps

Excelente, a homenagem no âmbito do centenário do nascimento de Maria Helena, na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva!

Com A Exposição Au fil du temps: um percurso fotobiográfico de Maria Helena Vieira da Silva, percorremos a vida da que que foi a artista portuguesa de maior notoriedade internacional no séc. XX: desde o nascimento, a infância e juventude em Lisboa, a passagem por Paris, com fotografias sensacionais da casa-atelier do Boulevard Saint-Jacques onde viveu com Arpad, os cerca de sete anos de exílio no Brasil durante o período da Segunda Guerra e em Portugal, nas décadas de setenta e oitenta. O amor que a uniu a Arpad Szénes é tema central da fotobiografia, com imagens de grande cumplicidade…

O Catálogo custa 25 euros.

Vieira da Silva na casa-atelier do Boulevard Saint-Jacques

Vieira da Silva na casa-atelier do Boulevard Saint-Jacques

BIOGRAFIA

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), pintora de origem portuguesa, nasceu em Lisboa, no seio de uma família que cedo estimulou o seu interesse pela pintura, pela leitura e pela música, filha única de Marcos Vieira da Silva e Maria da Silva Graça. Os três primeiros anos da sua vida são pontuados por viagens a França e Inglaterra, e em 1910, a doença do pai leva-os a Leysin, na Suíça. Após a morte do pai, em 1911, Vieira e a mãe regressam a Portugal onde cresce num ambiente intelectualmente rico mas frequentado quase exclusivamente por adultos. No final do Verão de 1913, depois de uma estadia de dois meses em Inglaterra marcada pela descoberta dos museus e do teatro de Shakespeare, Vieira recorda ter decidido tornar-se pintora. Depois de ter estudado desenho, pintura e escultura em Lisboa, vai para Paris em 1928, insatisfeita com o ensino ministrado na Escola de Belas Artes de Lisboa, num período politicamente instável face ao avanço do fascismo e culturalmente pouco estimulante. Em Paris deslumbra-se com a agitação da capital francesa num período rico na partilha de ideias por parte de artistas plásticos, escritores, músicos e bailarinos. Frequenta espectáculos, museus e galerias. Hesitando entre pintura e escultura, frequenta na Academia da Grande Chaumière as aulas de escultura de Bourdelle que era, à época, assitido por Germaine Richier e Alberto Giacometti, e de Despiau na Academia Scandinave, abandonando esta técnica em 1929 para se dedicar exclusivamente à pintura. Trabalha então com Dufresne, Waroquier e Friez e inicia-se na gravura no Atelier 17 de Hayter onde se concentra nas pesquisas de representação do espaço. Frequenta também as aulas de Fernand Léger e de Bissière nesta fase de intensa descoberta e experimentação. No Verão de 1928 faz uma viagem de estudo a Itália que vai marcar definitivamente as suas pesquisas plásticas, ficando especialmente impressionada com Siena e a pintura pré-renascentista. Em 1930 casa-se com o pintor de origem húngara, Arpad Szenes (1897-1985), que conhecera na Academia da Grande Chaumière, perdendo a nacionalidade portuguesa. Torna-se pouco depois apátrida quando por sua vez Arpad Szenes perde a nacionalidade húngara. Pintora de temas essencialmente urbanos, a sua pintura revela, desde muito cedo, uma preocupação com o espaço e a profundidade. Em 1932 conhece Jeanne Bucher, que desempenha um papel decisivo na sua carreira, iniciado com a organização da sua primeira exposição individual no ano seguinte. É por seu intermédio que Vieira da Silva descobre a pintura de Torres-García que a marca profundamente. Em Portugal, as suas obras são vistas pela primeira vez em 1935, na Galeria UP, numa exposição organizada por António Pedro. No ano seguinte, Vieira da Silva expõe com Arpad Szenes no seu atelier de Lisboa. Num momento em que se teme o crescimento do fascismo na Europa, o casal reúne-se regularmente, até ao início da Segunda Guerra, no Café Raspail, com um grupo de artistas e intelectuais de esquerda, para discutir arte e política sob o nome de «Amis du monde». Em 1938 abandona a Villa des Camélias – residência do casal desde 1930 – e instala-se na casa-atelier do Boulevard Saint-Jacques onde convive com Alberto Giacometti, Jean Lurçat, Jacques Lipchitz, e Etienne Hajdu, entre outros. Em 1939, pressionada pelas circunstâncias, deixa Paris, ficando os seus trabalhos e atelier à guarda de Jeanne Bucher. Após uma curta temporada em Lisboa onde Vieira tenta, em vão, reaver a nacionalidade portuguesa e que esta seja atribuída ao marido, parte com Arpad para o Brasil em 1940 onde permanece até 1947. O casal fixa-se na Pensão Internacional, em Santa Teresa, local que se torna um centro de cultura e permuta de ideias. Aí convive com intelectuais e artistas como Cecília Meireles e Murilo Mendes, entre outros. O seu desenraizamento mas sobretudo a angústia da guerra reflectem-se na sua pintura. Vieira ressente-se do clima e da distância e a obra deste período reflecte, em parte, as suas inquietações: a guerra, o absurdo do Homem, a saudade. Expõe no Museu Nacional de Belas Artes (1942) e na galeria Askanazy (1944), no Rio de Janeiro. Após a reserva da crítica brasileira, é a vez de Paris ver os trabalhos de Vieira no Salon des Réalités Nouvelles de 1945. No ano seguinte, Jeanne Bucher organiza a sua primeira exposição individual em Nova Iorque, na Marian Williard Gallery. 1947 marca o regresso a Paris e o progressivo reconhecimento do seu trabalho, reforçado pela aquisição de La partie d’échecs pelo Estado francês, em 1943, e pela monografia que lhe é dedicada em 1949, por Pierre Descargues, editada pelas Presses Littéraires de France, na colecção «Artistes de ce Temps». Inicia-se, na década de 50, a participação em exposições importantes em França e no estrangeiro (Estocolmo 1950, Londres 1952, São Paulo 1953, Basileia e Veneza 1954, Caracas 1955, Londres 1957, Kassel 1959, entre outras) e a sua pintura toma um lugar de primeiro plano. O final da década é marcado pelo profundo envolvimento de Vieira e Arpad com as suas pesquisas plásticas. Constroem uma casa-atelier na rue de l’Abbé-Carton para onde se mudam em 1956, ano em que Vieira e Arpad obtêm a nacionalidade francesa. O Estado francês adquire obras suas e atribui-lhe várias condecorações, sendo a primeira em 1960 (Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres). Vieira da Silva acumula vários prémios internacionais. A partir de 1958 organizam-se retrospectivas da sua obra: Hanover e Bremen 1958, Grenoble e Turim 1964, e em 1969-1970 em Paris, Roterdão, Oslo, Basileia e Lisboa (Fundação Calouste Gulbenkian). Em Portugal, Vieira da Silva expõe na Fundação Calouste Gulbenkian em 1977, na galeria EMI-Valentim de Carvalho em 1984 e na galeria 111 em 1985. Em 1983, o Metropolitano de Lisboa propõe-lhe a decoração da estação da Cidade Universitária. Vieira da Silva escolhe uma obra de 1940, Le Métro, para reproduzir em azulejos e conta com a colaboração do pintor Manuel Cargaleiro. Em 1985 Arpad Szenes morre. Vieira confessa perceber melhor a pintura do marido agora, após a sua morte, e retoma a sua pintura. Em 1988 o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e o Centre Nacional des Arts Plastiques apresentam, em Lisboa e em Paris, uma importante exposição das suas obras. Nessa ocasião, é condecorada pelo Estado português e pelo Estado francês. Em 1989, a Casa de Serralves no Porto organiza uma exposição de obras de Vieira da Silva e de Arpad Szenes nas colecções portuguesas. Em 1990, em Lisboa, é criada a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva cujo Museu, dedicado à obra dos dois pintores, foi inaugurado em 1994. Em 1991, a pedido da pintora, é fundado o Comité homónimo, em Paris. Vieira da Silva morre a 6 de Março de 1992, em Paris. O Catálogo Raisonné da sua obra foi lançado na Fundação no mesmo ano. Pintora da Segunda Escola de Paris, Maria Helena Vieira da Silva teve um papel fundamental no panorama da arte internacional.
por Marina Bairrão Ruivo

Babilónia – Mitos e Realidades

Neo-Assyrian, 7th century BC - From Nineveh, northern IraqAdmito que seja pouco estimulante ver os danos colaterais causados pelos tanques da coligação que esteve no Iraque e que destruiram explorações arqueológicas do reinado de Nabucodonosor II, ou os restos danificados de azulejos da Porta de Ishtar, entretanto reconstruída. Mas eu gosto de filmes trágicos. Feitios!

Se tenho feitio para comer pão-de-forma com geleia e batatas fritas durante dias, para poder ver uns cacos cuneiformes? Não! Mas estou disposto a tudo para ver aquilo de perto! Tudo… menos favores…

dédicace

“Ni queue ni tête, puisque tout, au contraire, y est à la fois tête et queue, alternativement et réciproquement”

Charles Baudelaire, 1862

 

Pablo Picasso (1881 - 1973) - Tête de Femme, 1938

Pablo Picasso (1881 - 1973) - Tête de Femme, 1938

Bedeteca ideal – Cosey

Viagem a Itália, de Cosey

   

Né près de Lausanne en 1950, Bernard Cosendai commence par travailler comme graphiste dans une agence de publicité. Mais, son ambition est ailleurs: le futur «Cosey» pense en dessin, aime raconter par l’image et rêve de bande dessinée depuis ses vertes années. Un désir qui, en 1969, le conduit tout naturellement chez Derib, proche voisin et seul professionnel suisse du 9e art à l’époque. Le créateur de «Buddy Longway» et de «Yakari» devient tout à la fois son ami et son professeur. Quelques portes s’ouvrent alors devant le jeune débutant. Cosey publie les aventures du reporter «Paul Aroïd» dans le quotidien suisse «24 Heures» et, sur des scénarios d’A.P. Duchâteau, illustre trois courts épisodes de «Monfreid et Tilbury» pour le supplément «Jeunesse » du quotidien belge «Le Soir». En 1974, l’éditeur (éphémère) Publishing & Copyright lui commande son premier album: « Un Shampoing pour la Couronne» scénarisé par J. Ralf. Ces essais encore tâtonnants aboutissent en 1975 à la première grande création de Cosey à la fois narrateur et dessinateur: le flâneur des cimes «Jonathan» dans le journal «Tintin». La quête mystique de ce héros très quotidien ouvrira rapidement au Lombard, une série d’albums au succès grandissant (13 titres au Lombard). En 1985, néanmoins, il ressent le besoin de s’échapper momentanément du cadre de la série et signe, toujours au Lombard, son premier diptyque: «A la Recherche de Peter Pan» (réédité sous forme d’intégrale dans la collection “Signé” du Lombard). Ce récit très personnel, tout en émotion retenue, en non-dits et en immenses étendues neigeuses lui ouvre une porte nouvelle. En 1988, il réalise ainsi le «Voyage en Italie» pour la toute nouvelle collection «Aire Libre» des Editions Dupuis dont il devient un des best-sellers. Dans cette même collection, il réalise ensuite «Orchidea», «Saigon-Hanoï», «Joyeux Noël, May» et «Zeke raconte des Histoires»… autant de one-shots qui lui permettent de creuser son goût du voyage et son talent de portraitiste de l’âme et du silence. Parallèlement, il illustre «L’Enfant Bouddha», un texte de J. Salomé édité par Albin-Michel, il inaugure la collection «Signé» du Lombard avec «Zélie Nord-Sud», un ouvrage requis par la Coopération suisse au Développement. En 1997, après plus de deux lustres d’absence, il revient à «Jonathan». Un retour aux cimes neigeuses de l’Himalaya qui s’est également traduit par «Le Bouddha d’Azur», deux albums aux éditions Dupuis. Les modes passent et le travail élégant et subtil de Cosey demeure. Pas étonnant que, plus de vingt ans après, les lecteurs soient toujours «A la recherche de Peter Pan»…

 

The books of Cosey

 

 

fontes: http://livre.fnac.com e http://cosey.rogerklaassen.com

A Arte da Ilusão

Ilustração de Michael Zichy

Ilustração de Michael Zichy

 

“Pum catrapum pum, pum catrapum pum”,
assim, todas as noites, tal e qual.
Ritmo como este nunca ouvi nenhum,
nem um concerto a vozes tão banal.

É sempre a mesma coisa. À mesma hora.
Já sei tudo de cor, está no ouvido.
Este casal que aqui por cima mora
não consegue passar despercebido.

Diz ela: “mete agora, assim, mais fundo…”,
Riposta ele: “isto é o fim do mundo!”,
fazendo o melhor de que é capaz.

Nestas casas do século dezoito,
chamadas pombalinas, não há coito
que nos deixe dormir a noite em paz.

 

poema vigésimo dos Sonetos eróticos & irónicos & sarcásticos & satíricos & de amor & desamor & de bem & e de maldizer do poeta Joaquim Pessoa
Litexa Editora, 2008

Estados Divididos da América

 

 

Estes foram os locais duvidosos onde passei a noite e madrugada: 😛

http://sic.aeiou.pt/online/noticias/mundo/multimedia/resultados_eleicoes_eua.htm

http://www.realclearpolitics.com/

http://thepage.time.com/

http://politica2008.wordpress.com/

http://blog.indecision2008.com/  😉

Aula de Anatomia

Ilustração de Michael Zichy

 

Tens dezanove nos preliminares,
dezoito em sexo oral e quando fodes
vais sempre além do quinze, mas tu podes
melhorar muito a nota se estudares.

Quando te pões de gatas, é profunda
a satisfação no teste. Sem favor.
Mas do que mais gostava o professor
era dar um excelente à tua bunda.

A esse peito erecto dou um vinte
quando o acaricio com requinte,
babado como um porco por bolota.

Na grande faculdade que é a cama,
quanto mais se estuda, mais se ama,
e quanto mais amor, melhores notas.

poema décimo oitavo dos Sonetos eróticos & irónicos & sarcásticos & satíricos & de amor & desamor & de bem & e de maldizer do poeta Joaquim Pessoa
Litexa Editora, 2008

Imagens do Trabalho

Breve troca de palavras, esta tarde,  com um Senhor de 75 anos:

– Posso tirar-lhe uma foto? Está tão giro!

– Espirituoso, respondeu: Eh pá, você está a gozar comigo?  🙂

– Estou nada!

– Eh pá, desculpe lá não lhe dar atenção, mas estou a trabalhar. 😉

José Fonseca e Costa

José Fonseca e Costa

Sermão aos Peixes

Vós sois o sal da terra,Vos estis sal terrae. S. Mateus, V, l3.

         

    Vos quibus rector maris, atque terrae

    Ius dedit magnum necis, atque vitae;

    Ponite inflatos, tumidosque vultus;

    Quidquid a vobis minor extimescit,

    Maior hoc vobis dominus minatur.

     

    Notai, peixes, aquela definição de Deus: Rector maris atque terrae: «Governador do mar e da terra»; para que não duvideis que o mesmo estilo que Deus guarda com homens na terra, observa também convosco no mar. Necessário é logo que olheis por vós e que não façais pouco caso da doutrina que vos deu o grande Doutor da Igreja Santo Ambrósio, quando, falando convosco, disse: Cave nedum alium insequeris, incidas in validiorem: «Guarde-se o peixe que persegue o mais fraco para o comer, não se ache na boca do mais forte», que o engula a ele. Nós o vemos aqui cada dia. Vai o xaréu correndo atrás do bagre, como o cão após a lebre, e não vê o cego que lhe vem nas costas o tubarão com quatro ordens de dentes, que o há-de engolir de um bocado. E o que com maior elegância vos disse também Santo Agostinho: Praedo minoris fit praeda maioris. Mas não bastam, peixes, estes exemplos para que acabe de se persuadir a vossa gula, que a mesma crueldade que usais com os pequenos tem já aparelhado o castigo na voracidade dos grandes?

 

in Sermão de Santo António aos Peixes – capítulo IV, de Padre António Vieira