Arquivo de Janeiro, 2010

Mensagem a Deus

Caro Deus,
escrevo-te estas breves linhas enquanto homem sem capacidade para te admirar, não por falta de doutrina ou por te negar, o que tornaria impossível esta carta, esperando ainda que não tomes estas palavras como um qualquer pedido de natureza pessoal.
Imagino que não tenhas qualquer intervenção sobre os recentes movimentos na crosta terrestre, dos quais certamente terás já tido notícia pela enorme falange de crentes, relatando milhares de mortos, muitos, teus fiéis.
Por todo o mundo se mobilizam meios, humanos e materiais, para acorrer aos sobreviventes e resgatar os corpos dos desaparecidos, pois o tempo urge. Estamos a fazer o que podemos.
Às muitas pessoas soterradas, a quem poucas forças restarão para pedir ajuda, bem como àquelas a quem vai faltando a esperança de encontrar familiares ou amigos ainda com vida, se lhes puderes aquecer um pouco a alma, estou certo que te ficarão reconhecidos.

Onde quer que estejas...

The Grand Turk Giving a Concert to his Mistress

Charles-André van Loo (1705–15 Julho 1765) foi o mais célebre de uma dinastia de pintores de sucesso. Originária de França e fixada na Holanda, a família incluía o avô Jacob van Loo (1614-1670), o irmão Jean-Baptiste (1684-1745) e o sobrinho Louis-Michel (1707-1771).
Estabeleceu-se em Turim em 1727, onde casou com a cantora de ópera Christina Antonia Somis, identificada nesta obra como a pianista que canta a famosa ária Admeto, de Handel.
Em 1734 voltou a Paris onde, no ano seguinte, se tornou membro da Real Academia de Pintura.
Esta obra, de 1737,  é um dos primeiros trabalhos do artista encomendados pelo Rei Louis XV, que o nomeou Primeiro Pintor da Corte em 1762 e, um ano mais tarde, Director da Academia.
A cena, supostamente oriental, é na realidade um concerto de câmara europeu num cenário turco imaginário, muito popular nos anos de 1730.

Charles André van Loo - The Grand Turk Giving a Concert to his Mistress, 1737 - Wallace Collection, Londres

Terminar em beleza

Os Amores de Astrée e Celadon (2007) encerraram o capítulo histórico, iniciado com A Inglesa e o Duque (2001) e Agente Triplo (2004) que, sinceramente, achei uma pessegada.
O venerável Eric Rohmer (1920-2010) foi respeitado como poucos cineastas, pela forma como nos dava a ver a narrativa, arte evidenciada nos Contos das Quatro Estações, a minha série preferida.

Herbie Hancock’s all-star set

Legendary jazz musician Herbie Hancock delivers a stunning performance alongside two old friends – past drummer for the Headhunters, Harvey Mason, and bassist Marcus Miller.
Listen to the end to hear them sweeten the classic “Watermelon Man.”

à grande vitesse pour la nouvelle année, s`il vous plaît!

Da magnífica Exposição «Art Déco, 1925» que hoje terminou na Gulbenkian, sendo impossível escolher a que melhor ilustra o Renascimento da Arte, as Portas de Brandt – autor do gradeamento que ligava o Grand ao Petit Palais -, simbolizam assim a entrada no Novo Ano. 🙂

Princípios que presidiram à organização da Exposição de 1925
Reunir numa exposição internacional, com a colaboração de artistas, industriais e artesãos, todas as artes decorativas: artes da madeira, da pedra, do metal, da cerâmica, do vidro, do papel, dos tecidos, etc., quer se aplicassem a objectos utilitários ou sumptuosos ou até mesmo à arquitectura.
– Não admitir nenhuma cópia ou pastiche, devendo os objectos expostos corresponder à modernidade. Contribuir assim para um verdadeiro renascimento da arte.
– Procurar definir a identidade e supremacia da produção francesa no âmbito do mercado internacional e assegurar a sua autoridade como árbitro do gosto e como produtor de artigos de luxo manifestamente produzidos num novo estilo moderno.
– Criar uma arte mais acessível, verdadeiramente democrática. Se até à data as obras modernas eram únicas, industrializadas e feitas em série, permitiriam servir um público economicamente alargado e mais modesto
.

Edgar Brandt - Portas de Elevador, c.1925 - Ferro forjado, vidro, bronze dourado e patinado, 240 x 85 cm (cada) © Fundação Calouste Gulbenkian / Foto: Carlos Azevedo

ART DÉCO
Designação dada na década de 1960 à expressão artística que surge no primeiro quartel do século XX, e que obteria grande sucesso no período entre as duas guerras, tempo de grande controvérsia, transformações sociais, tecnológicas, económicas e políticas.
Para muitos visitantes da Exposição das Artes Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris em 1925, a impressão mais surpreendente era a de um mundo material que, embora ainda mantendo resíduos da tradição, tinha sido transformado pela introdução de novos materiais e novas técnicas, mas sobretudo pela linguagem visual, pela cor e pela iconografia.
Nos anos de 1920, os modelos decorativos tendem a simplificar as formas, a abandonar a aplicação de ornamentos tridimensionais e deram lugar a motivos abstractos, geométricos e de formas aerodinâmicas, inspirados pelo cubismo, construtivismo, artes primitivas exóticas, essencialmente a africana, e outras fontes «avant-garde».
A Art Déco cria, assim, uma estética decorativa mais compatível com os novos materiais e as tecnologias da produção em série, em vez de uma linguagem figurativa dependente do trabalho manual dos objectos de luxo tradicionais.
O formulário Déco expande-se nos finais de 1920 e na década de 1930 em países europeus e também nos Estados Unidos da América, onde é muito apreciado, chegando mesmo ao Japão e à China.
No entanto, cerca de 1927-1928, a Art Déco em França entrava já em declínio. Assistiu-se ao seu descrédito e à sua marginalização, que persistem até à década de 1960, altura em que os pós-modernistas e os comerciantes de arte a redescobriram no contexto da reacção ao Modernismo.