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Ludovice Ensemble – ALLA BASTARDA

O Recital do Ludovice Ensemble terá lugar na Igreja de São José da Anunciada no dia 18 Dezembro 2012 às 19h00 e será transmitido em directo pela Antena 2.
Diminuições italianas e ibéricas para viola da gamba e órgão
Sofia Diniz, viola da gamba italiana
Fernando Miguel Jalôto, órgão

SOFIA DINIZ

MIGUEL-JALOTO

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PROGRAMA
Sopra “Susanne ung jour” – Orlande de Lassus (1530/32-1594):
Susanna un jour – Francesco Rognioni Taeggio (ca.1575-ca.1626)
Susana passegiata – Bartolomeu de Selma y Salaverde (ca.1595-ca.1638)
Segunda Susana glosada – Manuel Rodrigues Coelho (ca.1555-1635)
Sopra “Ancor che col partire” – Cipriano de Rore (1515/16-1565):
Ancor che col partire – Riccardo Rogniono (ca. 1550 – ca. 1620)
Ancol que col partire – Antonio de Cabezón (1510-1566)
Sopra “Doulce Mémoire” – Pierre Sandrin (ca.1490-1561)
Recercada IV sobre la canción Doulce memoire – Diego Ortiz (ca. 1510 – ca. 1570)
Dulce memoire – Hernando de Cabezón (1541-1602)
Sopra “Ancidetemi pur, grievi martiri” – Jacques Arcadelt (ca.1504-1568)
Ancidetemi pur passaggiato – Girolamo Frescobaldi (1583-1643)
Sopra “Audivi vocem de caelo” – Duarte Lobo (ca.1565-1646)
Audivi vocem passaggiato alla bastarda (Ludovice Ensemble)
NOTAS AO PROGRAMA
No início do período histórico e artístico que vulgarmente conhecemos por Renascimento – grosso modo, os séculos XV e XVI – a esmagadora maioria do repertório musical erudito é ainda vocal e sacra, na continuação do período medieval. Com o despontar do Humanismo e o desenvolvimento de uma cultura urbana, de perfil cortesão, e posteriormente também burguês, a arte musical foi-se libertando desta exclusiva matriz sacra, assumindo formas e conteúdos seculares. Já no final da Idade Média proliferavam vários géneros vocais profanos mas, a partir de meados do século XV, e sobretudo no século XVI, os géneros dominantes num contexto mais erudito são agora o Madrigal – italiano – e a Chanson – franco-flamenga.
No Madrigal e na Chanson predomina a escrita polifónica imitativa, primeiro a quatro partes, depois sobretudo a cinco – mas com abundantes exemplares a três e a seis vozes. Esta última, em língua francesa, tende a uma polifonia mais simples, perfil rítmico mais delineado, harmonia mais imediata, e uma relação com o sentido do texto menos vincada; os textos podem ser sérios e de grande valor literário – como os de Pierre Ronsard (1524-1585) e dos outros membros da Pléiade – mas frequentemente têm um pendor mais ligeiro, convencional e mesmo humorístico. O Madrigal, em língua italiana – ainda que escrito inicialmente por mestres franco-flamengos, como Verdelot (1480/85-1530/32) e Arcadelt (c.1507-1568) caracteriza-se por uma polifonia mais complexa e uma estrutura mais fluída, explora efeitos harmónicos mais intensos ou mesmo inusitados, e busca uma simbiose mais completa – e complexa – com o texto, sobretudo naqueles escritos com o aproximar do final de Quinhentos. Os textos são normalmente sérios e escritos por reconhecidos mestres literários – Petrarca (1304-1374) é o modelo incontornável, bem como os seus imitadores e epígonos, como Ariosto (1474-1533) e Guarini (1538-1612). No entanto, há madrigais com temas jocosos ou eróticos, e mesmo “madrigais espirituais”, com temática religiosa ou moral e que, tal como as “Chansons Spirituelles”, se aproximam muito do género sacro do Moteto, mas em língua vernácula.
No mesmo período assiste-se à emancipação do repertório instrumental. A atracção pela polifonia e pelas formas mais complexas da música vocal sentida pelos instrumentistas manifestou-se primeiramente pela assimilação de grande parte do repertório vocal, executado por famílias instrumentais, construídas especificamente segundo a imitação das tessituras vocais: os típico “consorts” renascentistas. O desenvolvimento técnico dos intérpretes e o refinamento construtivo dos instrumentos permitiu progressivamente a associação destes às vozes, na execução de repertório cada vez mais complexo, quer sacro quer profano. Finalmente, a par da execução puramente instrumental de obras vocais começam a surgir novos géneros instrumentais independentes, ainda que baseados nos modelos vocais, tais como o Ricercar, mas de que o exemplo mais típico é a Canzona, decalcada sobre o modelo da Chanson, e escritos quer para consort quer para instruemntos solistas.
Esta apropriação do repertório vocal pelos instrumentistas foi um processo complexo, e na grande maioria das vezes estes não se limitavam a executar servilmente as linhas vocais tais como estas se apresentavam escritas mas elaboravam-nas, tornando-as mais idiomáticas, ao acrescentar ornamentos específicos e explorando um novo vocabulário expressivo: efeitos dinâmicos, articulações, extensão dos limites da tessitura original, etc. Tais efeitos, e sobretudo a ornamentação – também praticada por cantores virtuosos – eram sempre improvisados, mas com a criação de padrões ornamentais cada vez mais complexos, surgiu a necessidade de escrever Tratados práticos de ornamentação, em que se ensinavam as novas técnicas de decoração melódica e onde se podiam apresentar modelos proveitosos que pudessem ser imitados pelos aprendizes. Estes Tratados, foram escritos por instrumentistas virtuosos tais como: Silvestro di Ganassi (1492-ca.1550) – Opera intitulata Fontegara, 1535 e Regola Rubertina, 1542; Diego Ortiz (ca.1510-ca.1570) – Trattado de Glosas, 1553; Girolamo Dalla Casa (?-1601) – Il vero modo di diminuir, 1584; Giovanni Bassano (1558-1617) – Ricercate, passagi et cadentie, 1585; Giovanni Luca Conforti (1560-1608) – Breve et facile maniera […], 1593; Riccardo Rognioni Taeggio (ca. 1550 – ca. 1620) – Passaggi per potersi esercitare nel diminuire, 1592; e Giovanni Battista Bovicelli (c.1550-c.1600) – Regole, passaggi di musica, madrigali et motetti passegiati (Venice 1594).
Estas obras apresentavam metodicamente fórmulas ornamentais a utilizar de forma sistemática a todos os intervalos melódicos, do uníssono até à oitava, desde a mais simples até à mais complexa, bem como cadências apropriadas a cada uma das vozes. Por vezes eram apresentados maus exemplos a par dos bons, para o aluno saber não só o que imitar mas também o que evitar; os melhores professores podiam alertar para algumas implicações mais teóricas, tais como harmonias paralelas proibidas entre as vozes, ou a produção de harmonias menos correctas. A improvisação sobre “tenores” (melodias conhecidas) ou padrões de baixo repetidos (“ostinatos”) era também por vezes contemplada. Finalmente, vários dos autores forneciam um ou vários exemplos de obras vocais de referência completamente ornamentadas, em que demonstravam toda a sua maestria e perícia.
As obras escolhidas como modelos para servirem de base à ornamentação eram frequentemente “clássicos” do repertório, com 50 ou mesmo 100 anos de existência, e conhecidos por todos; os seus compositores eram grandes nomes do passado – Jacques Arcadelt, Orlande de Lassus (1530/32-1594), Cipriano de Rore (1515/16-1565), Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594), etc. – que haviam já conquistado a celebridade, e eram admirados – e imitados – por todos. Normalmente estas obras haviam sido publicadas em mais do que uma colecção (frequentemente, também em mais do que um país) ou circulavam abundantemente pela Europa em manuscritos. Antes destas obras haverem sido ornamentadas “por escrito” nos Tratados haviam servido já a inúmeras improvisações, paráfrases, contrafacta e imitações, e eram mesmo citadas em livros teóricos sobre composição. Outras características comuns são a presença de um ou mais episódios melódicos facilmente reconhecíveis, e uma construção formal e harmónica simples, que permitia a fácil memorização do modelo. Obras com harmonias complexas, polifonia muito densa e uma construção formal muito elaborada raramente eram escolhidas para este fim. Uma comparação possível na actualidade são os “standards” do Jazz, que todos os profissionais conhecem, e sobre os quais se improvisa, mesmo sem ensaios ou combinações prévias. De facto, frequentemente só a parte ornamentada era fornecida, supondo-se que o “acompanhamento” (normalmente a versão original da obra vocal, numa “redução” – intavolatura – para instrumento de tecla) fosse conhecido por todos. Esta difusão oral é ainda testemunhada por ocasionais “erros” de transmissão, tais como harmonias erradas, ou um tempo ou compasso em falta, em comparação com o original.
Estas versões ornamentadas eram por sua vez imitadas e podiam assumir elas próprias o estatuto de “clássicos” e frequentemente os alunos sentiam-se tentados a também eles deixarem para a posteridade a sua própria versão ornamentada da mesma obra. Como normalmente nestas ornamentações se procedia à Diminuição – ou redução – de intervalos melódicos maiores (como a Quarta, a Quinta ou a Oitava) em intervalos mais pequenos (normalmente Segundas) bem como os valores rítmicos originais, mais largos – Longas, Semibreves e Mínimas – eram Diminuídos em valores rítmicos mais curtos – Semínimas, Colcheias e Semicolcheias – este tipo de elaboração decorativa ficou genericamente conhecido como DIMINUIÇÕES – Diminutioni ou Passaggio em Italiano.
Esta prática ocorreu inicialmente em território italiano, e a maior parte do repertório existente concentra-se sobretudo em centros musicais do norte de Itália, como Veneza e Milão: os Rognoni Taeggio – Riccardo e Francesco (ca.1575-ca.1626); os Gabrieli – Andrea (1532/33-1585) e Giovanni, além dos já citados autores de Tratados. Em Nápoles encontram-se no entanto alguns dos mais antigos exemplos desta prática, em manuscritos ou publicações – além de Diego Ortiz, António Valente (fl.1565-1580) mas também Giovanni de Macque (1548/1550-1614) e Giovanni Maria Trabaci (ca.1575–1647). Através de Nápoles, então uma possessão espanhola, esta prática passou rapidamente à Península Ibérica, onde se generalizou, sobre os nomes genéricos de Glosas (termo já empregue por Ortiz) e Diferéncias. Aqui alguns dos mais célebres cultivadores são os Cabezón – António (1510-1566) e Hernando (1541-1602) – e o português Manuel Rodrigues Coelho (ca.1555-1635), que nos deixou quatro glosas diferentes sobre a chanson “Susanne ung jour” de Lassus. Podemos ainda mencionar o padre Bartolmé de Selma Y Salaverde (ca.1595-ca.1638), ainda que este estivesse activo na Áustria (Innsbruck). A partir do norte de Itália esta prática atingiu a França, onde se generalizou sobre a forma do Double, e sobretudo como ornamentação vocal da “Air de Cour”. Também em Inglaterra (Divisions), Países Baixos e nos territórios germânicos encontramos, a mesma técnica da Diminuição como as inúmeras versões ornamentadas da célebre “Air” de John Downland “Flow my tears” (ou “Pavana Lacrimae”) podem comprovar, bem como muitas outras obras de William Byrd (1539/40-1623), John Bull (1562/63-1628), Peter Philips (ca.1560-1628), Jan Pieterszoon Sweelinck (1562-1621) ou Samuel Scheidt (1587-1654), e ainda o tratado de Christopher Simpson (1602/06-1669). Encontramos ainda Diminuições em lugares tão longínquos como a Polónia, devido à forte influência italiana na cultura musical deste país, manifestada neste caso pelas ligções mantidas com Bartolomé de Selma y Salaverde e com a família Rognioni Taeggio.
A Diminuição aplicava-se maioritariamente a uma única parte – ou “voz” – do original – normalmente a parte mais aguda, ou “Canto”, para as Diminuições destinadas a um instrumento de registo de soprano, como o corneto, o violino ou a flauta – ou a parte mais grave ou “Baixo” para um instrumento de registo grave, como o baixo de viola, o baixão ou a sacabuxa. Inicialmente apenas as Diminuições para instrumentos de tecla (cravo, órgão), harpa ou alaúde variavam mais do que uma parte em simultâneo. Existem no entanto algumas variações para conjunto, em que duas – ou mais raramente quatro – vozes são ornamentadas. No entanto, havia um outro tipo de variações, conhecidas por “alla Bastarda” – e que são aquelas que ouviremos neste programa – em que uma nova voz ou parte ornamental é criada a partir de extractos de todas as outras vozes, resultando assim numa Diminuição “transversal” que engloba a obra na sua totalidade. Nestas obras a relação entre versão original e versão “diminuída” é por vezes muito longínqua, e parece por vezes admirável, quer ao ouvinte quer ao executante, o facto de ambas as versões estarem “relacionadas”. As variações “alla Bastarda” são as também as mais elaboradas e virtuosísticas, pois requerem um instrumento com uma tessitura muito alargada – frequentemente três oitavas de extensão! – capaz de executar ornamentos rápidos em todos os registos, e com frequentes saltos.
O instrumento mais adequado a este tipo de repertório, pelas suas características organológicas, é a viola da gamba. Por isso mesmo, um determinado modelo italiano de viola da gamba – basicamente uma viola tenor (hoje, comummente identificado como sendo um baixo!) em ré – sendo no entanto possível diferentes afinações (scordatura) – e um pouco mais pequeno que o “normal” (de forma a facilitar a execução) ficou conhecido por “Viola Bastarda”. A “Bastardia” do adjectivo deve-se pois não tanto ao instrumento utlizado mas antes à relação “atribulada” entre o modelo compositivo e a obra resultante, pois a “filiação” é menos clara ou ofuscada. Encontram-se Diminuições “alla Bastarda” para outros instrumentos, como o baixão e a sacabuxa, e podemos mesmo dizer que todas as Diminuições para tecla são, de alguma forma, “alla Bastarda” – com a única diferença que, graças às capacidades polifónicas do cravo e do órgão, estas se mantêm bastante mais próximas dos modelos originais; ainda assim, podemos mencionar como casos extremos deste estilo as Diminuições de Girolamo Frescobaldi (1583-1643) sobre o madrigal de Arcadelt “Ancidetemi pur” – um exemplo magistral das ligações entre esta forma vocal e as célebres “Toccatas” do organista – ou mesmo as “Susanas” de Coelho, em que a única ligação com o original são a progressão das harmonias, e uma ou outra breve e ocasional citação melódica.
De facto, ambos estes exemplos são relativamente tardios (1627 e 1620, respectivamente). A partir da década de 30 do século XVII manteve-se ainda a tradição de se incluir numa publicação uma ou outra “Diminuição” de uma obra vocal de referência – numa espécie de homenagem aos mestres do passado, e como voluntária inclusão numa “linhagem” venerável e tradicional; é já neste contexto que foram escritas as obras citadas. Com o desenvolvimento de novas formas instrumentais mais emancipadas dos modelos vocais – como a Sonata – e sobretudo com a rápida evolução do gosto e do estilo, ao longo do século XVII, as técnicas de Diminuição foram progressivamente sendo abandonadas – subsistindo no entanto várias das suas características nas técnicas de Ornamentação do período Barroco, e até ao despontar do Romantismo, já no século XIX – quando em Itália os instrumentistas de sopro – e mesmo alguns violinistas – eram ainda acusados de “diminuir” as notas longas das partes orquestrais em valores mais curtos, recorrendo a fórmulas ornamentais centenárias. Actualmente, com a generalização do estudo das práticas históricas de interpretação e a consequente recuperação das técnicas de improvisação e ornamentação do passado, é possível encontrar bons intérpretes de instrumentos antigos, e mesmo cantores, que podem facilmente improvisar complexas Diminuições sobre um Madrigal, Moteto ou Chanson, ou, pelo menos, sobre um Tenor ou Baixo Ostinato. É exactamente isso que procuramos exemplificar com a inclusão de uma versão ornamentada “alla Bastarda” de um moteto do compositor português Duarte Lobo (ca.1565-1646) por nós especificamente realizada para este concerto.
Fernando Miguel Jalôto, Dezembro de 2012

Fontes: Facebook e Antena 2

Rodrigo Leão e as Vozes

Com três convidados de grande qualidade, a oportunidade de rever Rodrigo Leão era única!
As vozes de Scott Matthew e de Neil Hannon (The Divine Comedy) possuem um timbre de tal modo cativante que  conquistam qualquer plateia; Beth Gibbons (Portishead) foi a presença mais discreta da noite, apesar das credenciais – não entendi a sua timidez em palco. O restante alinhamento foi irrepreensível, mas penso que em palcos como os dos Coliseus se perde um pouco da magia deste notável Ensemble.

«Vozes de Istambul»

En 1453, unos años antes de la caída de Granada (enero de 1492) que marca tras siete siglos el final de la «Reconquista» hispánica contra la presencia árabe en la Península y la expulsión de los judíos (edicto de marzo del mismo año), empieza con la toma de Constantinopla por Mehmed II la gran división del Mediterráneo entre las naciones cristianas y el Imperio otomano.

«La indignación no me permite callar ni el dolor expresarme. Es vergonzoso seguir viviendo. Italia, Alemania, Francia, España, son Estados muy florecientes, ¡y he aquí (oh, vergüenza) que nos dejamos arrebatar Constantinopla por los licenciosos turcos!» Estas dramáticas palabras del cardenal Piccolomini reflejaban el sentir general del mundo occidental tras la caída de la capital Bizancio. De todas partes se alzaban llamamientos de unidad para  reconquistar la ciudad, y en 1455, nada más ser elegido, Calixto III (Alfonso de Borja) proclama la cruzada contra los turcos. Al final, dicha cruzada no se llevó a cabo debido a la falta de recursos y de unidad de acción entre los reinos cristianos; y la ciudad se convirtió así en capital del Imperio otomano y hogar del islam, sin dejar de ser al mismo tiempo un importante centro de los cristianos ortodoxos. De todos modos, conviene no olvidar las alianzas circunstanciales y los tratados comerciales firmados entre quienes no dejaban de ser feroces enemigos. Ahora bien, la novedad más sorprendente de esa segunda mitad del siglo XV fue la carta enviada en 1461 por el papa Pío II Piccolomini al sultán Mehmed II. Misiva doblemente insólita, fue enviada al mismo tiempo en que preparaba una cruzada contra el sultán y en ella el papa ofrece al enemigo jurado de la cristiandad reconocerlo como emperador siempre que se convierta al catolicismo. El paladín de la lucha contra los turcos propone legitimar las conquistas del sultán, reconocerlo como sucesor de Constantino, si aceptaba el bautismo: «Si quieres extender tu dominio a los pueblos cristianos –le escribió– y hacer tu nombre glorioso entre todos, no necesitas oro, ni armas, ni soldados, ni barcos. Una pequeñez bastaría para convertirte en el más grande, el más poderoso y el más ilustre de los hombres que hoy viven: unas gotas de agua para bautizarte, iniciarte en el rito cristiano y a la fe en el Evangelio. Si lo haces […] te llamaremos emperador de Grecia y Oriente, y las tierras de las que te has apoderado por la fuerza y que detentas hoy sin derecho alguno se convertirán en propiedad legítima».

Para comprender cabalmente la propuesta no hay que olvidar que en el mundo occidental se insinúa con regularidad que los turcos son los herederos de los grandes imperios del pasado. No sólo asimilaron la mayor parte de los reinos conocidos en la Antigüedad, sino que heredaron las virtudes del ejército romano. Tras reconquistar uno tras otro los países que habían estado bajo la órbita de Roma, el ejército otomano parece resucitar el programa imperial; no sólo eso, sino que parece capacitado para  ampliar aun más sus límites. En el siglo XV todavía pervive la esperanza imperial. Debe establecerse un emperador que preparará la segunda venida de Cristo. Resulta característico, por ejemplo, que Carlos VIII, al entrar en Nápoles en 1495, se haga aclamar como rey de Francia, emperador de Constantinopla y rey de Jerusalén.

Se trata, en efecto, de reunir Oriente y Occidente. En el curso del siglo XVI, un texto bíblico goza de una gran popularidad y se ve sometido a diversas interpretaciones, la Profecía de Daniel. La historia es conocida: el rey de Babilonia, Nabucodonosor, tiene un sueño cuya interpretación nadie parece capaz de darle. Presentado al rey, el joven Daniel resuelve el enigma. A partir de ese texto, según Lucette Valensi (Venise et la Sublime Porte), se funda la concepción de las cuatro monarquías como secuencias de la historia del mundo. A las monarquías paganas (asirio-babilónica, persa, griega y romana) debía suceder el establecimiento último del Reino de Dios sobre la tierra. El rabino Isaac Abravanel identificó, a finales del siglo XV, el Imperio otomano como la última monarquía. Apoyándose también en el Libro de Daniel, Francesco Meleto, hijo de un comerciante florentino-boloñés y de una esclava rusa, difunde en Florencia la profecía. Se inspira en conversaciones mantenidas con judíos y musulmanes en el transcurso de sus viajes de negocios a Constantinopla. Anuncia la conversión de los judíos, la de los musulmanes y la renovación de la Iglesia al mismo tiempo. Tras ello llegarán la salvación universal y una era de paz y felicidad. Está, por último, el famosísimo libro de Guillaume Postel, De la république des Turcs, en el cual, tras una extensa descripción del Imperio turco, el autor presenta a Turquía como modelo de monarquía universal cuyo excepcional éxito intenta comprender. Los testimonios de la época siguen refiriéndose a Estambul como Constantinopla, incansablemente comparada con Roma; y se continúa viendo en ella a la antigua capital del Imperio romano. No sólo posee una posición estratégica a todas luces privilegiada, sino la vocación de gobernar Oriente y Occidente, ser la capital del mundo entero. En 1503, Andrea Gritti se extasió ante la belleza de la ciudad: «Se considera el emplazamiento de la ciudad, por las temperaturas, por los dos mares que la protegen a ambos lados, por la belleza de las tierras vecinas, como el más hermoso y feliz no sólo de Asia sino del mundo». Casi un siglo después, Donà repite lo mismo y describe también la posición ventajosa de Estambul entre Asia y Europa, «la excepcional belleza» de su emplazamiento y admite que el espectáculo de la ciudad «es verdaderamente lo más hermoso que puede verse en el mundo». Su prolija descripción de la ciudad, al tiempo que trasluce la obsesión por la monarquía universal que el turco podría realizar, refleja la imagen que el propio sultán quiere ofrecer de su posición: es señor de los dos mares y las dos tierras –la fórmula acuñada en la moneda imperial–, está por encima de todos los hombres y todas las cabezas coronadas, es la sombra de Dios sobre la  tierra. A su capital, la Sublime Puerta, la llama «sede de la felicidad».

Estas «Voces de Estambul», con obras vocales y músicas instrumentales (otomanas, griegas, sefardíes y armenias) en torno de la Sublime Puerta (o la corte otomana de esa Puerta de la Felicidad), son la continuación de nuestra primera grabación dedicada a las músicas instrumentales del Estambul otomano, sefardí y armenio de la época de la publicación del Libro de la ciencia de la música del príncipe moldavo Dimitrie Cantemir. A lo largo de las múltiples investigaciones que hemos tenido que hacer sobre la música, la cultura y la historia de los turcos, hemos sido cada vez más conscientes de la asombrosa ignorancia que existe en Occidente acerca de la historia y la civilización otomana.

Como muy bien señala Jean-Paul Roux en su Histoire des Turcs, «sabemos de los turcos más de lo que sospechamos, pero nada liga todos esos conocimientos». De la escuela recordamos que en 1453 tomaron Constantinopla, que Solimán el Magnífico fue aliado de Francisco I de Francia contra la hegemonía de Carlos V o que en 1572 la flota cristiana infligió una terrible derrota a los turcos en la batalla de Lepanto. El gran Miguel de Cervantes, que perdió la mano izquierda en Lepanto, evoca magistralmente el mundo otomano en La gran sultana (1615). Por Racine, conocemos al sultán Bayaceto; por Molière y su El burgués gentilhombre, las turqueries que seguirán estando de moda en el siglo XVIII. Larga es la lista de los autores que nos han hecho soñar con las leyendas y el mundo otomanos: de Théophile Gautier a Anatole France, de Lully a Mozart, de Pierre Loti a Victor Hugo, sin olvidar las frases de Lamartine o Nerval, ciertos cuadros de Ingres y Delacroix… y los tapices de Bellini, Lotto, Holbein, fabricados en Turquía en los siglos XV, XVI y XVII. Numerosas referencias procedentes del modo de vida y los objetos turcos forman parte de nuestra vida cotidiana. Los kioscos, pequeños pabellones que los turcos llaman köşk. El tulipán, importado del Bósforo por los holandeses, toma su nombre de la forma de turbante, tülbent. Comemos con frecuencia alimentos turcos, y no sólo los pinchos que los turcos llaman shish kebab (şiş kebap). El gusto por el café y los cruasanes (con la forma del emblema que adornaba la bandera de los sitiadores) se puso de moda tras un asedio de Viena por los otomanos, y el yogur (yoğurt), definido como el «alimento nacional de los montañeses búlgaros», es conocido desde tiempos inmemoriales entre los nómadas de las estepas y su nombre se deriva de las expresiones turcas yoğun, “denso o espeso” o yoğunluk “densidad” y yoğurmak “amasar”. Nuestro imaginario incluye también las palabras serrallo, harem, odalisca, cimitarra, los cuadros de los orientalistas, el viento de las arenas… Pasamos así de un repertorio de hechos muy poco conocidos a una sucesión de visiones irreales, más o menos transformadas al albur de nuestra fantasía…

Sin embargo, la realidad es diferente. Los turcos son dos mil años de historia que se extienden del Pacífico al Mediterráneo, de Pekín a Viena, Argel y Troyes. Han entremezclado su destino con el de todos, o casi todos, los pueblos del mundo antiguo: Atila y los hunos, el imperio de los tabgach en la China del norte; un reino judío en la Rusia meridional; la fundación de Samarra, capital abasí; la coexistencia pacífica de todas las grandes religiones en el Asia central uigur; los selyúcidas de Irán; Gengis Jan y la hegemonía mongol; los mamelucos de Egipto; la Rusia vasallizada durante dos siglos por la Horda de Oro; Tamerlán; el Renacimiento timúrida en Samarcanda, en Herat; el Imperio otomano, primera potencia mundial en el siglo XVI; Babur Chab Shah y la fundación del imperio de la India; Atatürk y la revolución nacional en Turquía.

Desde el inicio del siglo XVI hasta su desaparición, el imperio de los sultanes fue parte activa en la política europea. Ni en la vida ni en la música fueron Turquía y Europa mundos separados, replegados en sí mismos, impermeables el uno al otro. Como subraya Jean-François Solnon (Le turban et la stambouline), indiferentes en un primer momento, luego los dos mundos sintieron curiosidad por el otro, quedaron seducidos, incluso fascinados, y al final se abrieron a influencias recíprocas. La Sublime Puerta jugó desde el siglo XVIII la carta de la occidentalización y la Turquía de Mustafá Kemal la culminó sistematizando la labor emprendida, erigiendo a Europa como modelo pero sin renegar de sus propias raíces.

El mensaje de esas maravillosas y fascinantes músicas vocales e instrumentales otomanas, en diálogo con las de músicos griegos, sefardíes y armenios en torno a la Sublime Puerta, nos recuerda que en el Imperio otomano hubo holgada libertad religiosa para los no musulmanes: griegos ortodoxos, cristianos y judíos pudieron seguir practicando su fe en tierra del islam, del mismo modo que la multiplicidad de las lenguas habladas transformó las ciudades otomanas en otras tantas torres de Babel.

JORDI SAVALL
Basilea, 19 septiembre 2011

Traducción: Juan Gabriel López Guix

“Musicus Famosissimus” – Tributo de La Morra a Johannes Ciconia

“Musicus Famosissimus”, um tributo a Johannes Ciconia, no 600º aniversário da morte do compositor, será o concerto interpretado por La Morra, que actua pela primeira vez em Portugal, no Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim. O espectáculo será no dia 18 de Julho, quarta-feira, às 21h45, na Igreja Românica de S. Pedro de Rates. Via.
Johannes Ciconia é considerado como uma das mais intrigantes personalidades musicais do seu tempo, assim como o primeiro grande “oltramontano” (músico do Norte da Europa) a ter feito uma carreira de sucesso na Itália no despontar da Renascença. O concerto de estreia do agrupamento La Morra em Portugal iniciar-se-á com um anónimo ‘adieu’, que poderá ser entendido como um retorno à época da aprendizagem musical em Liège. A música de Ciconia guiará o ouvinte através das diversas fases da sua vida (tal como as conhecemos ou presumimos) até acabar numa oração dirigida à Virgem Maria.

Graindelavoix & Rosas – Concerto Cesena

CCB, 8 de Junho | Teatro Camões, 9 de Junho | Mosteiro dos Jerónimos, 10 de Junho
O alkantara festival 2012 encerra com um evento excepcional num cenário extraordinário. Björn Schmelzer e o ensemble graindelavoix, em conjunto com Anne Teresa De Keersmaeker e Rosas, apresentam uma versão concertante exclusiva de Cesena. As linhas complexas da música polifónica quatrocentista da Ars Subtilior irão ressonar sob as góticas abóbadas Manuelinas do Mosteiro dos Jerónimos.
Ambas as formas de arte, apesar de distantes no tempo e no espaço, formulam uma resposta refinada e sofisticada ao contexto da peste e do desespero que envolveu a sua criação.
Em “Cesena”, Anne Teresa De Keersmaeker e a Companhia Rosas partilham o palco com Björn Schmelzer e o ensemble Graindelavoix. São 19 bailarinos e cantores em palco, que exploram os limites das suas capacidades artísticas, num diálogo com o repertório da Ars Subtilior, estilo musical francês do século XIV, e cenografia de Ann Veronica Janssens.
Apoiando-se no uso da luz e da cor, esculpe-se a passagem do tempo, procurando materializar a transformação incessante daquilo que nos rodeia. Criada em 2011, “Cesena” pode ser interpretada como uma continuação da sua obra coreográfica anterior, “En Atendant”. Enquanto nesta há uma transformação do crepúsculo para a noite, em “Cesena”, o espectáculo saúda o nascimento do dia.
Sem luz artificial, no fôlego do pôr e do nascer do sol, respectivamente. Ambas tomam como ponto de partida musical a Ars Subtilior, uma forma altamente refinada e complexa de polifonia, originária do Sul de França e do Norte de Espanha no final do século XIV.
Considerada uma das mais originais e influentes coreógrafas no activo, Anne Teresa De Keersmaeker é em 2012 a artista da cidade de Lisboa; neste contexto, apresentará no Alkantara Festival as suas mais recentes criações, (“En Atendant”, de 2010, e “Cesena”, de 2011), ambas elaboradas para o Festival Avignon e apresentadas ao ar livre.
Fontes: http://lazer.publico.pt | http://www.alkantarafestival.pt/ | http://www.glossamusic.com | http://pt.wikipedia.org |

Cristiano Holtz spielt Bach

Apresentação do novo CD de Cristiano Holtz ”Rare Works for Harpschord” – Johann Sebastian Bach (1685-1750)
10 de Abril 2012 – Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
Cravo M. Kramer, Rosengarten, a partir de um original G. Silbermann, Saxónia de c. 1740
Gravação efetuada nos dias 21, 22 e 23 de Setembro de 2011, na Igreja do Cemitério dos Ingleses, em Lisboa
Edição HERA 2125

Emma Kirkby no CCB

Só ontem tomei conhecimento, via Facebook, que a soprano Emma Kirkby se apresentará em concerto a 17 e 18 de Fevereiro no Centro Cultural de Belém, acompanhada pelo Divino Sospiro; Sob a direcção musical de Enrico Onofri, Dame Kirkby interpretará Eva na Oratória Morte d’Abel de Pedro António Avondano,  um dos músicos mais reputados e influentes artistas na segunda metade do século XVIII em Lisboa. Szuszi Toth e David Hansen, promissoras vozes barrocas, serão também intérpretes desta grande obra da musica portuguesa! Oportunidade a não perder!

Festival Internacional de Órgão Ibérico

A 4ª edição do Festival Internacional de Órgão Ibérico, coordenado pelo organista italiano Giampaolo Di Rosa, Organista Titular e Director Musical da SCMG, organizadora do Festival, está incluída na programação da Capital Europeia da Cultura, vendo o número de concertos passar dos habituais sete para doze, um por mês.

Do compositor valenciano Juan Cabanilles comemoram-se os 300 anos da sua morte e do compositor holandês Jan Pieterszoon Sweelinck os 450 anos do seu nascimento. Estes dois compositores têm, de facto, fundamentado o repertório para instrumento de tecla de raiz europeia, cuja concepção máxima encontra Bach, de quem vai ser executado o célebre Ricercare sobre o tema real, em abertura da oferta musical, uma das maiores obras de todo os tempos. Via SCMG.
Programa
27 de janeiro: Giampaolo Di Rosa
17 de fevereiro: Daniel Ribeiro
23 de março: Eric Dalest
20 de abril: Jean-Cristophe Geiser
25 de maio: Merethe L.K. Hansen
22 de junho: Roland Muhr
20 de julho: Federica Iannella
31 de agosto: Elmar Lehnen
28 de setembro: Roman Perucki, Maria Perucka
31 de outubro: Jan Lehtola
23 de novembro: Josep Vicente Giner
21 de dezembro: Giampaolo Di Rosa, Carlos Miranda

Homenagem a Maria Helena Pires de Matos (1938-2011)

O Coro Gregoriano de Lisboa apresentou-se na noite de 28 de Janeiro na Sé Patriarcal de Lisboa para homenagear a memória da sua fundadora, a Prof. Maria Helena Pires de Matos.  Tradicionalmente dedicado à Liturgia da Apresentação do Senhor, o concerto incluiu excertos do seu último cd, “Os Apóstolos”. A procissão das velas, naquele espaço, possui uma dimensão espiritual que me tocou particularmente…

“Música Antigua” – Cantigas de Santa Maria

A  Mostra Espanha 2011 traz as Cantigas Galaico-Portuguesas a Coimbra. O grupo Música Antigua, que no próximo dia 5 de Dezembro se apresentará em concerto no XIV Festival de Música Antigua de Úbeda y Baeza sob a direcção de Eduardo Paniagua, recupera e interpreta as Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio, bem como a música contemporânea deste singular rei poeta. O concerto na cidade dos estudantes realiza-se a 30 de Novembro, às 21h30, no Teatro Académico de Gil Vicente – Fundação Cultural da Universidade de Coimbra.

Até ao século XIV, o idioma utilizado na poesia e nas canções nos reinos de Castela, Leão e Portugal era o antigo idioma galego, tecnicamente designado galaico-português. Na corte de Afonso X, o Sábio, a língua castelhana é definitivamente considerada como o idioma oficial para os documentos científicos e históricos, suplantando o latim.

Paula vega (soprano), Luis Vincent (countertenor), Cesar Carazo (tenor, viol), Wafir Sheik (‘ud), Luis Delgado (zanfona, vihuela, dotar, santur, tromba marina, tambourine, percussion), Eduardo Paniagua (psaltery, recorders, ney, fahl, shawm, krumhorn, tar, bells, tambourine, percussion)