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Ensemble Bonne Corde: violoncelo barroco e cravo

Recital no Auditório da Biblioteca Nacional | 13 de Fevereiro, 18h00 | Entrada livre
Ensemble Bonne CordeDiana Vinagre, violoncelo barroco | Miguel Jalôto, cravo
ensemble_bonne-corde_2015
Programa
Antonio Vivaldi (1678-1741)
Sonata V em mi menor maior para violoncelo e baixo contínuo
Largo / Allegro / Largo / Allegro
J.S.Bach
Suite n. 2 em ré menor. BWV 1008
Prelude / Allemande / Courante / Sarabande / Minuet I e II / Gigue
J.S.Bach (1685-1750)
O Cravo Bem-temperado, livro 2
Prelúdio e Fuga n.12 em fá menor. BWV 881
Prelúdio e Fuga n.16 em sol menor. BWV 885
Francesco Geminiani (1687-1762)
Sonata op.5 n.6 em lá menor para violoncelo e baixo contínuo
Adagio / Allegro assai / Allegro

Luís Serrão Pimentel e a ciência em Portugal no século XVII

EXPOSIÇÃO | 28 fevereiro – 30 abril | Sala de Exposições | Entrada livre
Luís Serrão Pimentel, homem de ciência do século XVII, foi resgatado numa exposição
NICOLAU FERREIRA, PÚBLICO DE 1 MARÇO 2014
Cosmógrafo-mor do reino, engenheiro, professor, académico, bibliófilo, vários matizes da ciência portuguesa convergem neste homem pouco estudado.
Uma exposição inaugurada ontem na Biblioteca Nacional, em Lisboa, vem levantar a poeira.

Foto de Oxana Ianin

Uma maquete de Elvas, no piso de cima da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa, põe-nos no reino da construção dos fortes. Se há área que Luís Serrão Pimentel marcou foi a engenharia. Em 1680, um ano após a morte do cosmógrafo-mor, foi publicada a sua grande obra sobre engenharia de fortes, que se tornou numa espécie de “manual” da disciplina para os engenheiros do reino. Mas Luís Serrão Pimentel acabou por ser um importante aglutinador da ciência da época. É graças à sua vertente de bibliófilo, e às suas ligações europeias, que hoje é possível estudar-se o único manuscrito existente do famoso matemático português do século XVI, Pedro Nunes, ou o documento descoberto no ano passado do matemático Francisco de Melo, do início do século XVI. Uma exposição na BNP inaugurada ontem reúne, pela primeira vez, material deste homem vindo de vários acervos.
“Luís Serrão Pimentel foi um praticante de ciência de grande interesse que merece ser conhecido”, resume Henrique Leitão, historiador de ciência da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que falou ao PÚBLICO enquanto eram dados os últimos retoques aos objectos da exposição “Luís Serrão Pimentel e a ciência em Portugal no século XVII”. O historiador comissariou a mostra juntamente com Miguel Soromenho, investigador do Museu Nacional de Arte Antiga.
Na exposição de entrada livre, que estará aberta até 30 de Abril, é possível ver códices e livros daquele período relacionados com esta personagem histórica. A sua vida está dividida em três partes: a formação, o trabalho de engenharia de fortes, propagado pelas aulas de Engenharia que deu e, finalmente, a vertente bibliófila, com livros de astrónomos como Johannes Kepler ou Nicolau Copérnico, que terão feito parte da sua biblioteca.
Nos documentos, é possível observar vários desenhos de fortificações e desenhos geométricos. “A fortificação é esteticamente bonita”, diz Henrique Leitão, apontando para os desenhos. “Não se espera que ninguém venha à exposição ler os manuscritos, mas espera-se que se perceba com que tipo de ferramentas intelectuais é que se trabalhava. E aqui é a matemática – o estudo, a utilização, a prática da matemática, é isto que os manuscritos mostram.”
Luís Serrão Pimentel nasceu a 4 de Fevereiro de 1613 na freguesia de Santa Justa. O cosmógrafo-mor foi filho de Lisboa, mas foi também filho da Aula da Esfera, o curso de Físico-Matemáticas leccionado pelos jesuítas do Colégio de Santo Antão. Esta escola esteve activa em Lisboa durante 170 anos, entre finais do século XVI e meados do século XVIII, e trouxe importantes pedagogos da Europa. Do colégio de Santo Antão saíram formados milhares de alunos.
“Sem Aula da Esfera não havia Serrão Pimentel”, diz Henrique Leitão. O engenheiro receberia ainda ensinamentos do cosmógrafo-mor Valentim de Sá, tornando-se assim num “matemático muito competente” e no “grande professor de engenharia militar portuguesa do século XVII”, explica. A restauração da independência de Portugal, em 1640, teve muita influência na carreira do engenheiro. A guerra que se seguiu obrigou Portugal a construir fortificações ao longo da fronteira, principalmente no Alentejo, onde o terreno plano era um convite à entrada do exército espanhol.
“A grande modificação dos fortes da altura é por causa da artilharia”, conta Henrique Leitão. A partir de 1641, o rei D. João IV manda vir grandes engenheiros militares franceses, holandeses e da Flandres, para assistir na construção, ampliação e restauro dos fortes. É neste ambiente que Luís Serrão Pimentel, também militar, trabalhou. O engenheiro planeou e edificou a praça de Évora e acompanhou obras de fortificação de Vila Viçosa, Monsaraz, Elvas, Campo Maior, Portalegre, entre outros. “Ele é o primeiro que aparece como grande teórico e doutrinador desta disciplina.”
Na mostra isso é notório, além de vários exemplares do livro póstumo, de 1680, Methodo Lusitanico de desenhar as fortificaçoens das praças regulares, & irregulares…, estão expostos aquilo que parecem ser livros de bolso, manuscritos ainda feitos em vida. “Ele preparava versões mais pequenas do manuscrito que deixava as pessoas usar”, revela Henrique Leitão. “A especulação é que [estes códices mais pequenos] eram levados para o campo para quando se iam inspeccionar as fortificações.” Já a edição de 1680 é um livro grande, sobre engenharia militar com uma base forte matemática, “normal nos bons tratados”.
Em 1647, Luís Serrão Pimentel é nomeado cosmógrafo-mor, cargo directamente relacionado com o rei. Como tal, o engenheiro, que também estudou Náutica, tinha de fazer exames a pilotos, a cartógrafos, a construtor de instrumentos. Além de ser professor na Aula de Fortificação, uma classe criada por D. João IV, também deu aulas como cosmógrafo-mor.
“Ele tem uma influência enorme na engenharia portuguesa, não só nos homens que forma, mas os seus textos são a referência para toda a gente”, explica Henrique Leitão, que defende o estudo deste material para perceber a ramificação do impacto que o cosmógrafo-mor teve na ciência portuguesa. Para o historiador, mostrar Luís Serrão Pimentel é mostrar um exemplo para as gerações de hoje: “Não há coisa mais destruidora para um miúdo em Portugal do que ouvir dizer que os portugueses não gostam de ciência, de matemática. Enquanto não mostrarmos que houve história científica portuguesa, a história introduz um elemento perverso [na educação].”

Manuscrito de Niccolò Jommelli

Obra de Jommelli descoberta na BNP

Por Cristina Fernandes, Público de 15-Outubro-2010

António Jorge Marques contará hoje, às 18h, numa conferência, o processo de identificação do Laudate pueri a quatro coros, obra inédita do grande compositor italiano identificada há um ano

Enquanto fazia as suas habituais pesquisas na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), o musicólogo António Jorge Marques deparou-se com uma partitura intrigante: um Laudate pueri Dominum a 16 vozes, que indiciava ser uma imponente peça policoral com quatro coros e prevendo o uso de três órgãos, mas que não apresentava indicação de autor. A obra tinha sido catalogada como anónima, uma vez que faltava o primeiro caderno.

Depois de algumas tentativas e hipóteses goradas, os estudos caligráficos comparativos que realizou confirmaram tratar-se de um manuscrito autógrafo do compositor italiano Niccolò Jommelli (1714-1774), uma das grandes figuras da música europeia no período que medeia entre o barroco e o classicismo. Foi também um dos compositores de referência na vida musical portuguesa do século XVIII, chegando a ter um contrato com a corte de D. José. O processo de identificação e a importância deste manuscrito descoberto há um ano serão abordados esta tarde, às 18h, por António Jorge Marques numa conferência na BNP.

“Como faltam as primeiras páginas, das quais costumam constar o autor, a data e o título, o manuscrito passou despercebido durante muito tempo”, disse o musicólogo ao P2. “A recuperação de uma nova obra de Jommelli, considerado na sua época um dos maiores compositores, seria sempre um facto importante, mas neste caso a descoberta torna-se valiosa pelo facto de ser uma peça completamente desconhecida e sem paralelo na produção do autor.” O investigador refere que o catálogo temático incluído por Wolfgang Hochstein em Die Kirchenmusik von Niccolò Jommelli (1984) não menciona qualquer obra para 16 vozes. Esta devia ter sido composta para uma grande ocasião, provavelmente para a Capela Giulia, na Basílica de S. Pedro de Roma, já que Jommelli foi mestre adjunto da instituição entre 1750 e 1753. O cerimonial e os repertórios das capelas pontifícias serviram de modelo à prática musical na Capela Real e Patriarcal de Lisboa, mas estão por esclarecer as condições concretas da chegada desta partitura a Portugal.

Em 1752, D. José I (1750-1777) tentou contratar Jommelli, mas o músico preferiu a proposta do duque de Württemberg, transferindo-se para a corte de Estugarda em 1754. O monarca português acabaria por contratar David Perez, outro expoente da ópera napolitana e da música sacra em meados de Setecentos, conseguindo mais tarde assegurar os serviços de Jommelli à distância. Um contrato assinado em 1769 determinava o envio para Lisboa de várias óperas por ano, incluindo duas novas (uma séria e outra cómica), e de uma série de partituras religiosas, em troca de uma avultada pensão anual. Até à morte de D. José, em 1777, os teatros reais portugueses chegaram a levar anualmente à cena quatro óperas de Jommelli.

Algumas das obras religiosas de Jommelli mantiveram-se no repertório das igrejas de Lisboa até finais do século XIX. No Dicionário Biográfico de Músicos Portugueses, de 1900, Ernesto Vieira refere que ainda se interpretava frequentemente a Missa de Requiem e os viajantes estrangeiros setecentistas mencionam amiúde a audição desta e doutras peças de Jommelli na capital portuguesa.

Para uma possível interpretação do Laudate pueri da BNP seria necessário que um musicólogo ou compositor reconstruísse as primeiras páginas. Para já António Jorge Marques, que é também autor de um monumental catálogo da obra religiosa de Marcos Portugal, tem estado sobretudo absorvido com o estudo do manuscrito original, mas a viabilização da execução poderá ser um passo a dar no futuro.

Laudate pueri Dominum a 16 vozes:

autógrafo de uma obra desconhecida de Niccolò Jommelli (1714-1774) descoberto na BNP

CONFERÊNCIA | 15 Outubro | 18h00 | Auditório BNP | Entrada livre

À data da sua morte o compositor Niccolò Jommelli era considerado um dos maiores compositores vivos, vindo posteriormente a ser consistentemente incluído na plêiade dos mais memoráveis autores do século XVIII. Na ocasião Schubart escreveu: “O maior Pã está morto… Se a riqueza de pensamento, a fantasia cintilante, a melodia inesgotável, a harmonia celestial, o profundo domínio de todos os instrumentos e particularmente da poderosa mágica da voz humana […], se tudo isto combinado com a mais acutilante compreensão da poesia musical constitui o génio, então a Europa perdeu o seu maior compositor.”

Dois anos depois de ter subido ao trono, D. José tentou contratar Jommelli que, por esta altura, já era o mais afamado e o mais inovador compositor de ópera italiana em actividade. No entanto, a proposta do Duque de Württemberg, que incluía um novo teatro, acabou por aliciar o compositor, que se mudou para a Corte de Estugarda em 1754. Durante 15 anos produziu música religiosa econtribuiu para reescrever a história da ópera. Em 1769 e a troco de uma vantajosa reforma, D. José conseguiu finalmente obter os serviços de Jommelli, que entretanto passou a viver em Aversa, Itália. O contrato incluía o envio de obras religiosas, e sobretudo de óperas. Até à morte do Rei em 1777, e com adaptações de João Cordeiro da Silva, os teatros reais portugueses chegaram a levar anualmente à cena quatro óperas suas.

No género sacro, a influência de Jommelli em Portugal ainda está por avaliar, mas foi certamente duradoura. Algumas das suas obras religiosas mantiveram-se no repertório das igrejas até finais do século XIX. O Requiem (Hochstein, A.I.3), obra composta em 1756 para as exéquias da Duquesa de Württemberg, foi a mais importante e paradigmática. Ernesto Vieira, na entrada do seu Diccionario Biographico de Musicos Portuguezes (1900), escreve: “Executa-se ainda muito frequentemente nas egrejas de Lisboa a missa de requiemlibera-me de Jommelli, composições primorosas no estylo sacro.”

O estatuto de Niccolò Jommelli e os laços históricos que o ligam a Portugal tornam a descoberta deste autógrafo (ainda que incompleto) um acontecimento relevante no contexto dos estudos de música sacra de estilo romano de meados do século XVIII. O caso em epígrafe é particularmente interessante porque se trata de uma obra policoral para 16 vozes e baixo contínuo (com utilização de 3 órgãos) completamente desconhecida e sem paralelo na produção do compositor. O trabalho seminal de Wolfgang Hochstein, Die Kirchenmusik von Niccolò Jommelli (1984), que inclui um catálogo temático, não menciona qualquer obra para 16 vozes.

A razão para a ausência de referências na bibliografia da especialidade prende-se com o facto de o primeiro caderno (4 fólios) se encontrar desaparecido. Em consequência, informações cruciais como o autor, a data e o título da obra, grafadas na página de rosto, perderam-se.

A identificação do autor foi realizada através de estudos caligráficos comparativos. Uma proposta para a génese da obra assim como a sua contextualização na vida e obra de Jommelli serão alguns dos temas abordados.

António Jorge Marques

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