Arquivo de Julho, 2008
Quatro décadas depois da frase de Kennedy “Eu sou berlinense”, Obama esteve esta semana em Berlim, numa oportuníssima operação de charme. Muito por culpa da Administração Bush, os europeus preferem encarar o futuro próximo tendo como aliado um presidente americano mais atento às ameaças – prefiro acreditar nas oportunidades – que vêm da China, da Índia e da Rússia.
A emergência destes gigantes, com valores historicamente diferentes do Ocidente, mas hoje mais prósperos, deve estimular a Europa e os Estados Unidos para uma maior concertação política e económica.
Mas para que o vento Obama seja favorável a esta necessária União Ocidental, caso o candidato Democrata seja eleito, o futuro Vice-Presidente, além de saber história, vai ter de saber tocar piano e falar francês.
Quem tiver curiosidade em descobrir virtudes e defeitos destes dois super-gadgets, tem aqui com que se entreter. Brinquei com os dois; A primeira impressão foi mais favorável ao iPhone mas, se tivesse de tomar já uma decisão, escolheria o HTC.
A interface gráfica TouchFLO 3D é notável, embora as dimensões da concorrente sejam mais generosas. Além da melhor performance no vídeo, o HTC é mais versátil nas mensagens, pois para mim a difusão é imprescindível. É incrível como hoje em dia já nem valorizamos o nível de miniaturização de ferramentas tão poderosas como estas!
Claro que recordo aquele jogo que o João fez em Alvalade pelo rival, mas também os que fez pela Selecção e claro, pelo Sporting – o temível duo que formava com Jardel deu um campeonato ao clube do coração. Pelo simbólico acto de ter terminado ontem a carreira de jogador de futebol, um muito obrigado, João!
__________________________________________________________________
Tantos anos sem
Poderes sentir
O prazer da glória
Sempre a jogar bem
Fosse na derrota
Ou na vitória
Como mais ninguém
Queremos que fiques
Na nossa memória
Ver-te de verde
Não sei o que sinto
O Grande Artista
JOÃO PINTO
A música pertence ao novo álbum de Madonna, Hard Candy. Este vídeo, com excelente produção e direcção artística, conta com a participação de Justin Timberlake e Timbaland:
Em 2003 conheci um francês que estava a trabalhar em Portugal. Ao longo das semanas em que colaboramos juntos no projecto, íamos trocando cds, até que um dia ele me disse “Há uma miuda que tens de ouvir, é linda de morrer, tem uma voz maravilhosa, ainda vai dar que falar”.
Poderia resistir a tal chamamento?
Arranjou-me uma cópia do primeiro trabalho – Quelqu’un m’a dit –, acabado de sair em França uns meses antes. A minha primeira vez com Carla Bruni foi no carro. Pronto, apaixonei-me…
O relógio que está lá para trás, na casa deserta, porque todos dormem,deixa cair lentamente o quádruplo som claro das quatro horas de quando é noite.
Não dormi ainda, nem espero dormir. Sem que nada me detenha a atenção, e assim não durma, ou me pese no corpo, e por isso não sossegue, jazo na sombra, que o luar vago dos candeeiros da rua torna ainda mais desacompanhada, o silêncio amortecido do meu corpo estranho.
Nem sei pensar, do sono que tenho; nem sei sentir, do sono que não consigo ter.
Tudo em meu torno é o universo nu, abstracto, feito de negações nocturnas.
Divido-me em cansado e inquieto, e chego a tocar com a sensação do corpo um conhecimento metafisico do mistério das coisas.
Por vezes amolece-se-me a alma, e então os pormenores sem forma da vida quotidiana bóiam-se-me à superfície da consciência, e estou fazendo lançamentos à tona de não poder dormir. Outras vezes, acordo de dentro do meio-sono em que estagnei, e imagens vagas, de um colorido poético e involuntário, deixam escorrer pela minha desatenção o seu espectáculo sem ruídos. Não tenho os olhos inteiramente cerrados. Orla-me a vista frouxa uma luz que vem de longe; são os candeeiros públicos acesos lá em baixo, nos confins abandonados da rua.
Cessar, dormir, substituir esta consciência intervalada por melhores coisas melancólicas ditas em segredo ao que me desconhecesse!… Cessar, passar fluido e ribeirinho, fluxo e refluxo de um mar vasto, em costas visíveis na noite em que verdadeiramente se dormisse!… Cessar, ser incógnito e externo, movimento de ramos em áleas afastadas, ténue cair de folhas, conhecido no som mais que na queda, mar alto fino dos repuxos ao longe, e todo o indefinido dos parques na noite, perdidos entre emaranhamentos contínuos, labirintos naturais da treva!…
Cessar, acabar finalmente, mas com uma sobrevivência translata, ser a página de um livro, a madeixa de um cabelo solto, o oscilar da trepadeira ao pé da janela entreaberta, os passos sem importância no cascalho fino da curva, o último fumo alto da aldeia que adormece, o esquecimento do chicote do carroceiro à beira matutina do caminho… O absurdo, a confusão, o apagamento – tudo que não fosse a vida… E durmo, a meu modo, sem sono nem repouso, esta vida vegetativa da suposição, e sob as minhas pálpebras sem sossego paira, como a espuma quieta de um mar sujo, o reflexo longínquo dos candeeiros mudos da rua.
Durmo e desdurmo.
Do outro lado de mim, lá para trás de onde jazo, o silêncio da casa toca no infinito. Oiço cair o tempo, gota a gota, e nenhuma gota que cai se ouve cair.
Oprime-me fisicamente o coração físico a memória, reduzida a nada, de tudo quanto foi ou fui. Sinto a cabeça materialmente colocada na almofada em que a tenho fazendo vale. A pele da fronha tem com a minha pele um contacto de gente na sombra. A própria orelha, sobre a qual me encosto, grava-se-me matematicamente contra o cérebro. Pestanejo de cansaço, e as minhas pestanas fazem um som pequeníssimo, inaudível, na brancura sensível da almofada erguida. Respiro, suspirando, e a minha respiração acontece – não é minha. Sofro sem sentir nem pensar. O relógio da casa, lugar certo lá ao fundo das coisas, soa a meia hora seca e nula. Tudo é tanto, tudo é tão fundo, tudo é tão negro e tão frio!
Passo tempos, passo silêncios, mundos sem forma passam por mim.
Subitamente, como uma criança do Mistério, um galo canta sem saber da noite. Posso dormir, porque é manhã em mim. E sinto a minha boca sorrir, deslocando levemente as pregas moles da fronha que me prende o rosto.
Posso deixar-me à vida, posso dormir, posso ignorar-me… E, através do sono novo que me escurece, ou lembro o galo que cantou, ou é ele, de veras, que canta segunda vez.
Bernardo Soares, O Livro do Desassossego
Claro que não se trata dos outros, que neste espaço não têm tempo de antena. Falo de mais uma edição do projecto Luzboa, entre 8 de Novembro de 2008 e 15 de Janeiro de 2009. O projecto será organizado pela Realizar.
Na edição de 2006, registei imagens da Blue Line, Red Line e Green Line. Este ano e por umas semanas, serão criadas atmosferas que certamente farão do próximo Natal um período mais brilhante. A Baixa e zonas adjacentes verão a luz difundir-se nos tecidos urbanos, afluindo pelas encostas até ao rio.
Luzboa ’08 destaca a arte da Luz de Itália apresentando um conjunto de instalações urbanas cedidas pelo “Luci d’Artista“, o mais importante Festival de Luz europeu, que decorre em Turim.
Lisboa recebe obras de artistas de referência como Marinella Pirelli, Piero Fogliatti, bem como um conjunto de peças históricas do coleccionador Giuseppe Panza di Biumo, numa forma única de arte: arte integrada no espaço urbano, arte acessível a todos, arte como contributo cultural para a celebração do Natal de 2008 em Lisboa.