Arquivo de Julho, 2006

Espectacular

Tall Ships’ Races – Estuário do Tejo

Não consegui fazer parte dos milhares de vistantes que tiveram oportunidade de observar de perto os grandes veleiros;
No domingo passado, a meio da manhã, tive uma visão inesperada: quando atravessava a Ponte sobre o Rio Tejo, fiquei deslumbrado com o desfile da Regata ao despedir-se de Lisboa.
Dos postais mais bonitos que vi em muitos anos.

Erro de cálculo

Nas Ramblas, em Barcelona.
O homem estátua gosta de ser fotografado… desde que lhe paguem.
O casal de ar britânico, pára. A senhora aponta a objectiva e dispara: uma, duas, três.
O homem estátua avança para ela, esfrega o polegar e o indicador: “peseta!”
A senhora sorri e afasta-se.
O homem estátua não acha graça, abre a mala e começa a disparar maçãs e laranjas.
Falha por pouco.
O senhor, volta-se e avança em passo decidido (vai dar-lhe um estalo, penso), tira-lhe os óculos da cara e vai-se embora.
O homem estátua fica sem a moeda, a provável refeição de fim de tarde… e os óculos.
“Pelo menos, se lhe tivesse acertado…”

A Colhida e a Morte

Às cinco horas da tarde.
Eram as cinco em ponto da tarde.
Um menino trouxe o lençol branco
às cinco horas da tarde.
Uma ceira de cal já preparada
às cinco horas da tarde.
Tudo o mais era morte, apenas morte
às cinco horas da tarde.

O vento levou os algodões
às cinco horas da tarde.
E o óxido semeou cristal e níquel
às cinco horas da tarde.
Já lutam a pomba e o leopardo
às cinco horas da tarde.
E uma coxa com um chifre desolado
às cinco horas da tarde.
Começaram os acordes de bordão
às cinco horas da tarde.
Os sinos de arsénico e o fumo
às cinco horas da tarde.
Pelas esquinas grupos de silêncio
às cinco horas da tarde.
E o touro sozinho coração acima!
às cinco horas da tarde.
Quando o suor de neve foi chegando
às cinco horas da tarde,
quando a praça se cobriu de iodo
às cinco horas da tarde,
a morte pôs ovos na ferida
às cinco horas da tarde.
Às cinco horas da tarde.
Às cinco horas em ponto da tarde.

Um ataúde com rodas é a cama
às cinco horas da tarde.
Ossos e flautas soam em seus ouvidos
às cinco horas da tarde.
O touro já mugia por sua fronte
às cinco horas da tarde.
Irisava-se o quarto de agonia
às cinco horas da tarde.
A gangrena já vem lá ao longe
às cinco horas da tarde.
Trompa de lírio pelas verdes virilhas
às cinco horas da tarde.
As feridas queimavam como sóis
às cinco horas da tarde,
e a multidão quebrava as janelas
às cinco horas da tarde.
Ai que terríveis cinco da tarde!
Eram as cinco em todos os relógios!
Eram as cinco em sombra da tarde!

poema de Federico García Lorca, in Llanto por Ignacio Sánchez Mejías
gravura de Francisco Goya

Santíssima Trindade, de Montoliu

Pintor da Coroa de Aragón, Valentí Montoliu trabalhou em Tarragona entre 1433 e 1447.
Seguidor do catalão Jaume Huguet, foi também autor do retábulo de San Abdón e San Senén de Villafranca del Cid.

Visão da Santíssima Trindade por São Francisco de Assis.
Atribuída a Valentí Montoliu (séc. XV)
Pintura sobre tábua
Catedral de Tarragona

Barcelona – Sagrada Família

Eucaristia – no topo dos pináculos, as uvas sob os cálices simbolizam o vinho e o trigo simboliza o pão

Nesta metáfora da negação, Pedro, ladeado por três mulheres – o número de vezes que negou o Mestre, antes que o galo cantasse – é apontado por uma delas como sendo discípulo de Jesus

No topo destes pináculos, as esferas coloridas representam cestas de frutas, com maçãs, figos, melões e cerejas

Do lado esquerdo da Fachada da Paixão, Jesus pede a Judas – cuja mão cerrada sugere esconder algo – que o atraiçoe o mais rapidamente possível

clique nas imagens para ampliar

a menina dança?

Não sei se por ser a obra mais emblemática de los Picassos des Antibes, mas é a minha favorita.

O mar, com os tons do Mediterrâneo; O bailado da mulher, homenageada; O centauro e os faunos, todos familiares; tudo desperta felicidade, alegria.

No Museu Picasso, em Barcelona.

Le Petit Prince – Antoine de Saint-Exupery

Chapitre XXVII

Et maintenant, bien sûr, ça fait six ans déjà… Je n’ai jamais encore raconté cette histoire. Les camarades qui m’ont revu ont été bien contents de me revoir vivant. J’étais triste mais je leur disais : C’est la fatigue…

Maintenant je me suis un peu consolé. C’est à dire… pas tout à fait. Mais je sais bien qu’il est revenu à sa planète, car, au lever du jour, je n’ai pas retrouvé son corps. Ce n’était pas un corps tellement lourd… Et j’aime la nuit écouter les étoiles. C’est comme cinq cent millions de grelots…

Mais voilà qu’il passe quelque chose d’extraordinaire. La muselière que j’ai dessinée pour le petit prince, j’ai oublié d’y ajouter la courroie de cuir! Il n’aura jamais pu l’attacher au mouton. Alors je me demande: “Que s’est-il passé sur sa planète? Peut-être bien que le mouton à mangéla fleur…”

Tantôt je me dis: “Sûrement non! Le petit prince enferme sa fleur toutes les nuits sous son globe de verre, et il surveille bien son mouton…” Alors je suis heureux. Et toutes les étoiles rient doucement.

Tantôt je me dis: “On est distrait une fois ou l’autre, et ça suffit! Il a oublié, un soir, le verre, ou bien le mouton est sorti sans bruit pendant la nuit…” Alors les grelots se changent tous enlarmes!…

C’est là un bien grand mystère. Pour vous qui aimez aussi le petit prince, comme pour moi, rien de l’univers n’est semblable si quelque part, on ne sait où, un mouton que nous ne connaissons pas a, oui ou non, mangé une rose…

Regardez le ciel. Demandez-vous : le mouton oui ou non a-t-il mangé la fleur? Et vous verrez comme tout change…

Et aucune grande personne ne comprendra jamais que ça a tellement d’importance!

FIN

Ca c’est pour moi, le plus beau et le plus triste paysage du monde. C’est le même paysage que celui de la page précédente, mais je l’ai dessiné une fois encore pour bien vous le montrer. C’est ici que le petit prince a apparu sur terre, puis disparu.

Regardez attentivement ce paysage afin d’être sûr de le reconnaître, si vous voyagez un jour en Afrique, dans le désert. Et, s’il vous arrive de passer par là, je vous supplie, ne vous pressez pas, attendez un peu juste sous l’étoile! Si alors un enfant vient à vous, s’il rit, s’il a les cheveux d’or, s’il ne répond pas quand on l’interroge, vous devinerez bien qui il est. Alors soyez gentils! Ne me laissez pas tellement triste: écrivez-moi vite qu’il est revenu…