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‘El despertar de la conciencia’, de Goya

A Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, na capital espanhola,  acolhe até Junho uma exposição com particular significado, o de apresentar restauradas e pela primeira vez todas as folhas de cobre utilizadas para estampar as gravuras do mais importante artista espanhol na transição do século XVIII para o século XIX, Francisco de Goya y Lucientes [1746–1828], que morreu neste dia 16 de Abril há 196 anos.
A Exposição ‘El despertar de la conciencia’, dividida em quatro secções, vale muito a pena uma visita, pois atravessa as diversas técnicas e atitudes que Goya utilizou durante a sua longa vida, como o óleo, o afresco e a gravura.
Um especial destaque para as placas de cobre realizadas para as séries de gravuras Caprichos (sala 1), Desastres da Guerra, Disparates, Expressividade da Razão e Tauromaquia (sala 2).
Como bónus, um grande trabalho de pequeno formato, que normalmente só se pode ver no Museu do Prado, “Vuelo de brujas” de 1798.


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“El arraste”, 1793 – óleo sobre folha de latão  | Fundação Casa Ducal de Medinaceli


‘Vuelo de brujas’, de Francisco de Goya

De Francisco de Goya [30 Marzo 1746 – 16 Abril 1828] – “Vuelo de brujas”, 1798.

[…] Tres personajes, vestidos con faldillas, con el torso desnudo y tocados con capirotes en forma de mitra, decorados con pequeñas serpientes, e iluminados por un foco de luz exterior al cuadro, sostienen en el aire a otro desnudo, abandonado en sus brazos, al que insuflan aire soplando sobre su cuerpo, como revelan sus hinchadas mejillas. En la parte baja, dos hombres, vestidos de campesinos, han alcanzado la cima de la montaña, cuyo camino tortuoso y ascendente se pierde en la oscuridad del fondo, mientras su asno se ha parado más abajo. Uno, caído en el suelo, se tapa los oídos para no escuchar el ruido de los seres voladores; el otro, avanza con la cabeza cubierta, protegiéndose de la luz y haciendo la higa con sus dedos, contra el mal de ojo. […]

‘Llanto por Ignacio Sánchez Mejía’, de Federico García Lorca

Inteligente e culto, Ignacio Sánchez Mejías [Sevilha, 6 Junho 1891 – Madrid, 13 Agosto 1934] era entusiasta do cante hondo e da dança espanhola. Casado com a irmã do toureiro Joselito, manteve até à fatal colhida uma ligação amorosa com a célebre bailarina Encarnación López, La Argentinita.
Federico García Lorca [5 Junho 1898 – 18 Agosto 1936] dedicou ao bandarilheiro sevilhano uma elegiaA Colhida e a MorteO Sangue DerramadoCorpo Presente e Alma Ausente) intitulada “Llanto por Ignacio Sánchez Mejías”, que Enrique Morente cantava como ninguém.
Recentemente, a Quetzal editou “Romanceiro Cigano seguido de Pranto por Ignacio Sánchez Mejías”, de Lorca, em edição bilingue com tradução de Vasco Graça Moura.

Francisco de Goya Y Lucientes [1746-1828]
‘Desgraciada embestida de un poderoso toro’, 1814-1816

Francisco de Goya visionário

O gigante imóvel de punhos em riste e pronto para a batalha, sobre a multidão que foge desordenadamente com o gado, evidencia o domínio que o destino exerce sobre o homem, numa luta entre o céu e a terra.
Nesta obra onírica de Francisco de Goya (30 de Março de 1746 – 15 de Abril de 1828), estamos perante a ambiguidade de saber se o monstrengo personifica a revolução dos homens ou se representa o perigo em si mesmo.
Confesso a pouca sabedoria para compreender este quadro, pois para isso teria de entender a mentalidade humana, cujas crueldade e bondade se entrecruzam ao longo da nossa história. Vou reler Sun Tzu! 🙂

Francisco de Goya - El Coloso, 1808 - Museu do Prado, Madrid

A Colhida e a Morte

Às cinco horas da tarde.
Eram as cinco em ponto da tarde.
Um menino trouxe o lençol branco
às cinco horas da tarde.
Uma ceira de cal já preparada
às cinco horas da tarde.
Tudo o mais era morte, apenas morte
às cinco horas da tarde.

O vento levou os algodões
às cinco horas da tarde.
E o óxido semeou cristal e níquel
às cinco horas da tarde.
Já lutam a pomba e o leopardo
às cinco horas da tarde.
E uma coxa com um chifre desolado
às cinco horas da tarde.
Começaram os acordes de bordão
às cinco horas da tarde.
Os sinos de arsénico e o fumo
às cinco horas da tarde.
Pelas esquinas grupos de silêncio
às cinco horas da tarde.
E o touro sozinho coração acima!
às cinco horas da tarde.
Quando o suor de neve foi chegando
às cinco horas da tarde,
quando a praça se cobriu de iodo
às cinco horas da tarde,
a morte pôs ovos na ferida
às cinco horas da tarde.
Às cinco horas da tarde.
Às cinco horas em ponto da tarde.

Um ataúde com rodas é a cama
às cinco horas da tarde.
Ossos e flautas soam em seus ouvidos
às cinco horas da tarde.
O touro já mugia por sua fronte
às cinco horas da tarde.
Irisava-se o quarto de agonia
às cinco horas da tarde.
A gangrena já vem lá ao longe
às cinco horas da tarde.
Trompa de lírio pelas verdes virilhas
às cinco horas da tarde.
As feridas queimavam como sóis
às cinco horas da tarde,
e a multidão quebrava as janelas
às cinco horas da tarde.
Ai que terríveis cinco da tarde!
Eram as cinco em todos os relógios!
Eram as cinco em sombra da tarde!

poema de Federico García Lorca, in Llanto por Ignacio Sánchez Mejías
gravura de Francisco Goya