Arquivo de Junho, 2004

Ficções.. ou do sentido da vida!

Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,

Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.

Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,

Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.

Assim tudo o que existe, simplesmente existe.

O resto é uma espécie de sono que temos,

Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.

Alberto Caeiro, 1-10-1917

Realidades..

Os dias estão a ficar mais pequenos..!


Contemplas lá no alto a lua errante

Do apogeu, pouco a pouco a aproximar-se

Como alguém que se tivesse perdido

Na vastidão do céu, sem rumo andando

(Il Penseroso)

o sol voltou a brilhar…

Agora, com licença…

Vou para o Marquês de Pombal dar uso ao cachecol e à bandeira..!!!!!!!

Parabéns, Sofia!

Lembro-me, lembro-me

Da casa onde nasci,

Da pequena janela por onde o sol

Vinha espreitar pela manhã;

Nunca chegava um piscar de olhos demasiado cedo,

Nem trazia um dia demasiado longo,

Mas agora muitas vezes desejo que a noite

Me tivesse levado a respiração!

Lembro-me, lembro-me

Das rosas, vermelhas e brancas,

Das violetas e dos lírios,

Daquelas flores feitas de luz!

Dos lilases onde o tordo fazia ninho,

E onde meu irmão plantou

O laburno no dia do seu aniversário,

– A árvore ainda está viva!

Lembro-me, lembro-me

De onde costumava correr

E pensar que o ar devia ser também assim fresco

Nas asas das andorinhas;

O meu espírito, que então voava em penas,

Que está agora tão pesado,

E os lagos do Verão mal podiam refrescar

A febre da minha testa!

Lembro-me, lembro-me

Dos abetos negros e altos;

Costumava pensar que as suas copas esguias

Estavam perto, em comparação com o céu:

Era uma ignorância infantil

Mas agora não é grande alegria

Saber que estou mais longe do céu

Do que quando era menino.

Thomas Hood

duelo ao pôr do sol





Se Portugal ganhar 1-0 e a Grécia perder por 2-0, passamos nós e a Espanha!

O problema é que, para cumprir promessas eleitorais, o primeiro-ministro espanhol quer que todas as forças envolvidas em disputas internacionais regressem ao país até final do mês de Junho!

Poema de Amor de António e de Cleópatra

Pelas tuas mãos medi o mundo
E na balança pura dos teus ombros
Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua.


Sophia de Mello Breyner Andresen

O pé na bola ou a parábola da juventude para toda a vida

Quando se é jovem a sério, é-se jovem para toda a vida

PICASSO

Na Galilea, zurzido (e também bucólico) cata-vento da ilha de Maiorca, o espectador conheceu uma menina de três anos com cara de viúva. A criaturinha chama-se Gildarda, tal qual uma infanta goda, e tem os olhinhos próximos e pequeninos, o cabelo tristemente frouxo, as pernas curtas, o traseiro cheiinho e circunspecto, a voz de grilo, o gesto solene, a saíta plissada e a camisola cor verde alface. Gildarda, vendo bem, é um nojo de miúda. Gildarda nasceu viúva, tem já três anos de viuvez; se não recebe nem um chavo pela viuvez não é por culpa dela: os seguros sociais estão ainda na etapa do direito administrativo. Gildarda e o espectador, às vezes, brincam às cozinhas com feijões e grãos-de-bico. Gildarda é muito trabalhadeira, anda sempre bem disposta e puxa o lustro aos feijões com a ponta da combinação; então, o espectador (que não há maneira de assentar a cabeça) aproveita para lhe dar um pontapé ou para lhe deitar água nas costas. Gildarda chora, e o espectador, arrebanhando as suas últimas energias, consegue que a consciência lhe remorda um bocadinho, quase nada. Gildarda e o espectador, com as suas brincadeiras, divertem-se bastante.

Há quem nasça velho e quem morra, pasmado pelos anos, galharda ou ternamente jovem, conforme o temperamento e o ofício.No Livro dos Provérbios lê-se que a alegria da juventude é a sua força; há quem nasça tendo já abdicado sem o saber (da mesma forma que os príncipes nascem príncipes) e há quem morra com netos e como sem ter dado importância à briga. Para Cristina da Suécia, tudo o que é fraco é velho e tudo o que é forte, novo. Se calhar um dia descobre-se que o calendário não serve para medir a idade. Gildarda é uma velhinha respeitável (embalsamável) que acaba de nascer. Quando Gildarda chegar, aos seus vinte e cinco anos, à senilidade, o espectador – se Deus se dignar a tal – terá de ser procurado nos campos onde se joga à moeda, às caricas e à bola.

– Chuta, Camilo, que estamos empatados a dezoito!

Gildarda, então, gritando como uma possessa “que horror!”, “que horror!”, correrá para se refugiar na delicada sombra onde vivem, se reproduzem e morrem os misteriosos e cautelosos cogumelos do mais atroz esquecimento. Pior para ela!

Camilo José Cela, Onze Contos de Futebol, Edições Asa, pp. 9-10

até onde é capaz de ir a estupidez dos homens?



Uma mãe amamenta a sua criança subnutrida num acampamento perto de uma escola em El Genina, a norte de Darfur – SUDÃO

Genocídio, limpeza étnica, dois milhões de pessoas afectadas, trezentas mil a morrer à fome.

Esta catástrofe humanitária só termina quando as mães morrerem todas..

Le Petit Prince – Antoine de Saint-Exupery

CHAPITRE X

Il se trouvait dans la région des astéroïdes 325, 326, 327, 328, 329 et 330.

Il commença donc par les visiter pour y chercher une occupation et pour s’instruire.

La première était habitée par un roi. Le roi siégeait, habillé de pourpre et d’hermine, sur un trône très simple et cependant majesteuex.

-Ah! Voilà un sujet, s’écria le roi quand il aperçut le petit prince.

Et le petit prince se demanda:

-Comment peut-il me connaître puisqu’il ne m’a encore jamais vu!

Il ne savait pas que, pour les rois, le monde est très simplifié.

Tous les hommes sont des sujets.

-Approche-toi que je te voie mieux, lui dit le roi qui était tout fier d’être roi pour quelqu’un.

Le petit prince chercha des yeux où s’asseoir, mais la planète était toute encombrée par le magnifique manteau d’hermine. Il resta donc debout, et, comme il était fatigué, il bâilla.

-Il est contraire à l’étiquette de bâiller en présence d’un roi, lui dit le monarque. Je te l’interdis.

-Je ne peux pas m’en empêcher, répondit le petit prince tout confus. J’ai fait un long voyage et je n’ai pas dormi…

-Alors, lui dit le roi, je t’ordonne de bâiller. Je n’ai vu personne bâiller depuis des années. les bâillements sont pour moi des curiosités. Allons! bâille encore. C’est un ordre.

-Ca m’intimide… je ne peux plus… fit le petit prince tout rougissant.

-Hum! Hum! répontit le roi. Alors je… je t’ordonne tantôt de bâiller et tantôt de…

Il bredouillait un peu et paraissait vexé.

Car le roi tenait essentiellement à ce que son autorité fût respectée. Il ne tolérait pas le désobéissance. C’était un monarque absolu. Mais comme il était très bon, il donnait des ordres raisonnables.

“Si j’ordonnais, disait-il couramment, si j’ordonnais à un général de se changer en oiseau de mer, et si le général n’obéissait pas, ce ne serait pas la faute du général. Ce serait ma faute.”

-Puis-je m’asseoir? s’enquit timidement le petit prince.

-Je t’ordonne de t’asseoir, lui répondit le roi, qui ramena majestueusement un pan de son manteau d’hermine.

Mais le petit prince s’étonnait. la planète était minuscule. Sur quoi le roi pouvait-il bien reigner?

-Sire, lui dit-il… je vous demande pardon de vous interroger…

-Je t’ordonne de m’interroger, se hâta de dire le roi.

-Sire… sur quoi régnez-vous?

-Sur tout, répondit le roi, avec une grande simplicité.

-Sur tout?

Le roi d’un geste discret désigna sa planète, les autres planètes et les étoiles.

-Sur tout ça? dit le petit prince.

-Sur tout ça… répondit le roi.

Car non seulement c’était un monarque absolu mais c’était un monarque universel.

-Et les étoiles vous obéissent?

-Bien sûr, lui dit le roi. Elles obéissent aussitôt. Je ne tolère pas l’indiscipline.

Un tel pouvoir émerveilla le petit prince. S’il l’avait détendu lui-même, il aurait pu assister, non pas à quarante-quatre, mais à soixante-douze, ou même à cent, ou même à deux cents couchers de soleil dans la même journée, sans avoir jamais à tirer sa chaise! Et comme il se sentait un peu triste à cause du souvenir de sa petite planète abandonnée, il s’enhardit à solliciter une grâce du roi:

-Je voudrais voire un coucher de soleil… Faites-moi plaisir… Ordonnez au soleil de se coucher…

-Si j’ordonnais à un général de voler une fleur à l’autre à la façon d’un papillon, ou d’écrire une tragédie, ou de se changer en oiseau de mer, et si le général n’exécutait pas l’ordre reçu, qui, de lui ou de moi, serait dans son tort?

-Ce serait vous, dit fermement le petit prince.

-Exact. Il faut exiger de chaqu’un ce que chaqu’un peut donner, reprit le roi. L’autorité repose d’abord sur la raison. Si tu ordonnes à ton peuple d’aller se jeter à la mer, il fera la révollution. J’ai le droit d’exiger l’obéissance parce que mes ordres sont raisonnables.

-Alors mon coucher de soleil? rappela le petit prince qui jamais n’oubliait une question une fois qu’il l’avait posée.

-Ton coucher de soleil, tu l’auras. Je l’exigerai. Mais j’attendrai, dans ma science du gouvernement, que les conditions soient favorables.

-Quand ça sera-t-il? s’informa le petit prince.

-Hem! Hem! lui répondit le roi, qui consulta d’abord un gros calendrier, hem! hem! ce sera, vers… vers… ce sera ce soir vers sept heures quarante! Et tu verras comme je suis bien obéi.

Le petit prince bâilla. Il regrettait son coucher de soleil manqué. Et puis il s’ennuyait déjà un peu:

-Je n’ai plus rien à faire ici, dit-il au roi. Je vais repartir!

-Ne pars pas, répontit le roi qui était si fier d’avoir un sujet. Ne pars pas, je te fais ministre!

-Ministre de quoi?

-De… de la justice!

-Mais il n’y a personne à juger!

-On ne sait pas, lui dit le roi. Je n’ai pas fait encore le tour de mon royaume. Je suis très vieux, je n’ai pas de place pour un carrosse, et ça me fatigue de marcher.

-Oh! Mais j’ai déjà vu, dit le petit prince qui se pencha pour jeter encore un coup d’oeil sur l’autre côté de la planète. Il n’y a personne là-bas non plus…

-Tu te jugeras donc toi-même, lui répondit le roi. C’est le plus difficile. Il est bien plus difficile de se juger soi-même que de juger autrui. Si tu réussis à bien te juger, c’est que tu es un véritable sage.

-Moi, dit le petit prince, je puis me juger moi-même n’importe où. Je n’ai pas besoin d’habiter ici.

-Hem! Hem! dit le roi, je crois bien que sur ma planète il y a quelque part un vieux rat. Je l’entends la nuit. Tu pourras juger ce vieux rat. Tu le condamneras à mort de temps en temps. Ainsi sa vie dépendera de ta justice. Mais tu le gracieras chaque fois pour économiser. Il n’y en a qu’un.

-Moi, répondit le petit prince, je n’aime pas condamner à mort, et je crois bien que je m’en vais.

-Non, dit le roi.

Mais le petit prince, ayant achevéses préparatifs, ne voulut point peiner le vieux monarque:

-Si votre majesté désirait être obéie ponctuellement, elle pourrait me donner un ordre raisonnable. Elle pourrait m’ordonner, par exemple, de partir avant une minute. Il me semble que les conditions sont favorables…

Le roi n’ayant rien répondu, le petit prince hésita d’abord, puis, avec un soupir, pris le départ.

-Je te fais mon ambassadeur, se hâta alors de crier le roi.

Il avait un grand air d’autorité.

Les grandes personnes sont bien étranges, se dit le petit prince, en lui même, durant son voyage.