Postais de Natal – Lisboa

Praça do Município

Fedra, no aniversário de Racine

Fiou se o coração, de muito isento,
de si cuidando mal, que tomaria
tão ilícito amor tal ousadia,
tal modo nunca visto de tormento.
Mas os olhos pintaram tão a tento
outros que visto tem na fantasia,
que a razão, temerosa do que via,
fugiu, deixando o campo ao pensamento.
Ó Hipólito casto, que, de jeito,
de Fedra, tua madrasta, foste amado,
que não sabia ter nenhum respeito:
em mim vingou o amor teu casto peito;
mas está desse agravo tão vingado,
que se arrepende já do que tem feito.

Soneto de Luis de Camões

Escrita por Racine (1639-1699) a partir do texto clássico de Eurípedes, Fedra, rainha de Atenas e mulher de Teseu, apaixona-se por Hipólito, seu enteado.
Imaginando o marido morto, Fedra declara-se a Hipólito que, por a rejeitar, é acusado de violação; Acaba por sacrificar-se a si própria, pela forma como idealiza uma paixão não concretizada.

Sobe aos palcos:
No Teatro Municipal de Almada, de 28 de Dezembro a 28 de Janeiro.

No Teatro Municipal Maria Matos, de 11 de Janeiro a 18 de Fevereiro.

Esboços Pessoanos – V

Carta para Paris

Tenho andado a pensar,
meu caro Mário,
por que será que os poetas
sempre morreram
e ainda morrem
de cirrose, overdose, tuberculose
e outras formas de suicídio programado!

O inconformismo e a luta
dão-lhes uma vida filha da puta
(desgaste de energia
sem fim!).

Por isso não se pergunte
aos poetas da poesia
mas aos políticos da orgia
por que morrem assim?…

poema de Joaquim Evónio,
desenho de José Jorge Soares

Esboços Pessoanos – IV


Expectância

Expectante,
a vida não vive em mim.

Brota,
fera à solta, lá fora!
Mas hei-de encontrar a hora,
o instante certo,
para trocar o sofrimento
por um amor ao vento,
beijo breve e leve
e sempre
incerto!

poema de Joaquim Evónio,
desenho de José Jorge Soares

Tradição e Vanguarda

Depois da estreia em 2003 com Primeiro Fado e da participação no Álbum Vermelho – ao lado do mano Camané e de nomes como Cristina Branco, Argentina Santos, Mariza e Kátia Guerreiro -, Pedro Moutinho rompe o cordão fraterno e em Encontro aborda o fado tradicional com temas de Carlos e Lucília do Carmo, respectivamente Não me Conformo e A Rua do Desencanto.

Entre nove fados tradicionais, encontramos letras de António Botto, Fernando Pessoa, Manuel Alegre e António Lobo Antunes.

Anda Pacheco!

Albert Gleizes – O Cubismo em Majestade

Após um curto período impressionista, por volta de 1900, Albert Gleizes (1881-1953) dedica-se sobretudo ao desenho. O seu estilo, inicialmente simbolista, evolui para uma extraordinária síntese das formas que inaugura novos caminhos. No “Salon des Indépendants” de 1911, Gleizes participa juntamente com Jean Metzinger, Robert Delaunay e Fernand Léger no escândalo do Cubismo, revelado pela primeira vez ao público.

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Femme aux phlox, 1910

Os quadros enviados por Gleizes para os “Salons de Paris” até à Guerra de 1914, tais como La Femme aux phlox, Les Joueurs de football manifestam, de forma brilhante, as ambições do pintor, no momento em que Guillaume Apollinaire vê na “majestade”, “o que antes de mais caracteriza a arte de Albert Gleizes”.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Gleizes, que se encontra mobilizado na Lorena, aprofunda as suas experiências construtivas e volta-se para a abstracção. Em Nova Iorque, onde viria a refugiar-se, o seu estilo evolui para uma interpretação dinâmica e energicamente colorida do Cubismo. De regresso a França, em 1919, Gleizes torna-se no principal defensor de uma abstracção depurada, animada pelas “translações” e “rotações” de planos coloridos.

La majesté, voila ce qui caractérise avant tout l’art d’Albert Gleizes. Il apporta ainsi dans l’art contemporain une émouvante nouveauté.
On ne la trouve avant lui, que chez peu de peintres modernes. Cette majesté éveille l’imagination, provoque l’imagination et considérée du point de vue plastique elle est l’immensité des choses.

Guillaume Apollinaire
Les Peintres cubistes, 1913

 

Esboços Pessoanos – III


Ofélia

Eu sei!
O mundo fala de mim
sem entender
que o amor é,
ao mesmo tempo,
casto e sensual…

Um dia, alguém julgará o meu ardor
pois
o que a minha alma
mais deseja e quer
é o calor suave
do teu suave
corpo de mulher!

poema de Joaquim Evónio,
desenho de José Jorge Soares

Esboços Pessoanos – II

Heteromorfia

Para enfrentar
a náusea de viver
há que partir o espelho.

E cada vidro
reflecte o outro lado
aonde habita o sonho.
Desliza pela imagem dos destinos
o prisma do poema!…

poema de Joaquim Evónio,
desenho de José Jorge Soares

Os Mensageiros do Jazz

ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA DO JAZZ & BLUES.
Organização de Howard Mandel, com prefácio de John Scofield
Edições Afrontamento, 2006


Da escassa informação disponível em português, esta obra destaca-se naturalmente pela profundidade e riqueza das biografias de nomes maiores da história do jazz.
Vem mesmo a calhar, esta enciclopédia, nomeadamente para dinamizar o Aqui Jazz o Fado, projecto embrionário que pretende ir às origens e
casamentos destas duas forma de expressão musical
Como gostava de ter visto o Carlos Paredes ao lado do Charlie Haden no Coliseu!



As evoluções da música popular nos séculos XX e XXI foram muitas e variadas, passando-se da utilização de instrumentos rudimentares e de estruturas melódicas simples a trabalhos mais complexos e ao recurso cada vez maior a tecnologias avançadas. No entanto, é muitas vezes possível traçar as origens da música popular ocidental a partir dos seus muitos artistas e das influências das duas correntes de música afro-americana que se desenvolveram no final do século XIX: o jazz, que saía quente do caldo urbano multicultural de Nova Orleães, e o blues, vindo das paisagens rurais desoladas do Texas e do delta do Mississipi. Estas misturas de elementos da música afro-americana com o mundo cultural e social da América pós-guerra Civil foram evoluindo gradualmente a partir das suas raizes semelhantes, vindo a constituir dois géneros musicais bastante distintos e criando bases sólidas para o surgimento de outros estilos novos.



Esta Enciclopédia proporciona um olhar profundo sobre essa música poderosa e influente, com informação detalhada sobre os artistas inovadores que ajudaram a dar forma ao jazz e ao blues à medida que os estilos foram evoluindo. Organizados por décadas, todos os capítulos abrem com um texto introdutório com a informação básica essencial. As secções «Temas & Estilos» situam a música no seu contexto cultural, histórico e social e descrevem a evolução do jazz e do blues nesse período. Seguem-se as secções biográficas sobre os «Artistas de Referência» de cada década, contendo detalhes sobre faixas emblemáticas e gravações clássicas de cada um deles. Depois, em «Artistas de A-Z», apresentam-se as histórias da vida de muitos outros músicos, vocalistas, compositores, arranjadores, chefes de orquestra e produtores importantes. A secção de referências, bastante abrangente, inclui informação sobre os instrumentos do jazz e do blues, uma extensa lista de artistas, um glossário e bibliografia complementar sugerida.

Sobre a obra, recomenda-se também este artigo de Rui Branco.

Esboços Pessoanos – I


Extractos de solidão

Uma garrafa, um copo,
meu amigo:
Apenas o tinteiro.

De olhos mudos,
molho a minha pena,
(as minhas penas,
tristezas de ocasião)
para poder trocar contigo
fragmentos de solidão!

poema de Joaquim Evónio,
desenho de José Jorge Soares