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Histórias de Amor

As mãos que trago – Vida e obra de Alain Oulman em exposição no Museu do Fado, até 31 de Dezembro.

Que sentiria Oulman ao verter a poesia de Mourão-Ferreira e de Homem de Mello (entre tantos outros), para Amália cantar? Talvez que se vertia ele próprio, em sangue que corria nas veias de sua amada. Mas que certamente nos condenou a ouvi-la, até que a noite eterna nos liberte da sua voz.

Por teu livre pensamento
foram-te longe encerrar.
Tão longe que o meu lamento
não te consegue alcançar.
E apenas ouves o vento.
E apenas ouves o mar. 

Levaram-te, a meio da noite:
a treva tudo cobria.
Foi de noite, numa noite
de todas a mais sombria.
Foi de noite, foi de noite,
e nunca mais se fez dia.

Ai dessa noite o veneno
persiste em m`envenenar.
Oiço apenas o silêncio
que ficou em teu lugar.
Ao menos ouves o vento!
Ao menos ouves o mar!

Carminho – Bia da Mouraria

O vozeirão é desta gaiata… o vídeo é de autoria de João Botelho e, já agora, recomendo esta entrevista do António Pires, um grande divulgador da guitara portuguesa e um apaixonado pela música do mundo.

Raquel Tavares

Esta menina, que foi recentemente nomeada Revelação Feminina no Prémio Amália Rodrigues, depois de ter vencido a Grande Noite do Fado, em 1997, faz hoje 22 anos. Parabéns!

Através desta entrevista, ficamos a conhecer um pouco melhor o seu fado.
Raquel é acompanhada no disco de estreia com o seu nome por:
Custódio Castelo, guitarra portuguesa; Jorge Fernando e Diogo Clemente (viola, nos temas “Querer Cantar”, “Trazer Pedaços de Mim” e “Fado Raquel”); Filipe Larsen, viola baixo.
Produção de Jorge Fernando.

Alinhamento:
Quando acordas / Olhos garotos / A tarde já morreu nesta varanda / Fado lisboeta / Fado Raquel / Noite / Por momentos (inquietou-se o meu olhar no teu) / Maré alta, sol profundo / Querer cantar / Um caso de amor / Trazes pedaços de mim / Senhor não sei o meu nome.

No âmbito do Tradinvierno 2007, Raquel Tavares actua este sábado-13, no Teatro Adolfo Marsillach, em San Sebastián de los Reyes, Madrid. A entrada custa 3 euros!

O Quinto Elemento

Elmano Coelho (Lisbon Underground Music Ensemble), Nuno Martins, Ricardo Pires e Rodrigo Lima fundaram o CUTSAX – Quarteto de Saxofones de Lisboa.
Actualmente, pretendem acompanhar um fadista ao som dos saxofones, em vez da tradicional viola e guitarra portuguesa.

“É um estilo musical que se identifica com o povo português e que tem sido explorado, maioritariamente, numa vertente tradicional”.
Elmano Coelho

“No entanto, há que ter alguns cuidados para dar seguimento ao projecto. É uma iniciativa que requer uma certa preparação porque é preciso, por um lado, arranjar um quinto elemento (o fadista) e, por outro, estudar as músicas e ver, em termos harmónicos, quais as que se adequam, tanto ao saxofone como ao timbre do fadista”.
Nuno Martins


“Temos um outro projecto musical dirigido para as crianças, que conta histórias infantis através do saxofone. A iniciativa visa essencialmente permitir que os mais pequeninos se interessem pela música em geral, e pelo saxofone em particular”.
Elmano Coelho

“Na nossa vertente, tentamos diversificar ao máximo tocando todos os estilos que vão desde o clássico, ao jazz, passando pelo popular ou pelo ligeiro. Fazemos música com o máximo de seriedade, aproveitando os concertos para brincarmos com situações que nos permitam interagir com o público e torná-las ainda mais apelativas”
Nuno Martins

Dossier Guitarra Portuguesa

Leitura recomendada dos primeiros c i n c o fascículos.
No Raízes e Antenas.

A Severa de Júlio Dantas – 1901

A 30 de Novembro de 1820 nasceu Maria Severa Onofriana, A Severa.Considerada a fundadora do fado, manteve uma relação com o Conde de Vimioso (Dom Francisco de Paula Portugal e Castro).

O Conde assumiu o nome de Marialva na peça de Júlio Dantas, levada à cena no então Teatro D. Amélia, agora Teatro Municipal São Luiz.

A Severa morreu com apenas 26 anos na Rua do Capelão, na Mouraria, vítima de tuberculose.

(Acto II, cenas VIII a X)


SEVERA: Se tu me deixasses? (Agarrando-se ao Conde, desesperadamente) Ah, não! Mas tu não me deixas! Tu não podes! Dize que não me deixas! Eu morria para aqui… Se quiseres, bate-me! Bate-me, mas dize que não me deixas… Dize! Nunca! (Sentindo nos cabelos um beijo do Marialva e mudando a expressão dolorosa num grande riso aberto) Ah! Meu grosseirão! Como eu te quero!
D. JOSÉ (entrando, pela porta entre-aberta, e vendo o desalinho dos móveis e o sangue do soalho): Sangue… Que foi isto?
MARIALVA: És tu? (Com serenidade) Nada. Uns malandros que eu tive de correr à navalha.
D. JOSÉ (vendo-lhe a mão ensanguentada): Feriram-te?
MARIALVA (enrolando um lenço): De raspão.
D. JOSÉ: Não tens juízo!
SEVERA (vendo o lenço empapado): Estás a escorrer sangue… (Saindo para o quarto) Vou buscar água.
D. JOSÉ (ao CONDE): Vês? Antes tivesse ido!
MARIALVA (com curiosidade): Então, que há?
D. JOSÉ (a meia-voz): Só o tempo de chegar e de falar à Marquesa. Quando lhe disse que ias mais tarde, que talvez não fosses, perdeu a cor, cerrou os dentes… Tive de a amparar. Só me disse estas palavras: «Ah! D. José! Eu sei, é uma cigana… Se é meu amigo, vá… Traga-o! Traga-o!» Depois, escreveu qualquer coisa neste lenço, e pediu-me que to trouxesse. (Dando um lenço ao Conde) As rabecas choravam, na sala amarela…
MARIALVA (desdobrando, à luz, o lenço de rendas, e lendo, escrito a lápis, na cambraia): «Venha. Amo-o…»
D. JOSÉ (com entusiasmo mal contido): Uma onda de fardas e de casacas perseguia-a… As golas altas, bordadas de palmas de oiro, brilhavam-lhe em volta… E ela, alheia a tudo, a adorar-te, a querer-te num desespero, com todo o seu sangue a suspirar por ti! E as outras, e todas!… Sabes lá! Sabes lá!
MARIALVA (correndo à Severa, que entra e põe um jarro de água sobre a mesa): Mas que me importam as outras, que me importa isso tudo, se eu tenho a Severa!
SEVERA (deixando-se abraçar, enlevada): Ah!
MARIALVA: Estes olhos que nasceram para o sol, esta boca que nasceu para o fado, estes braços que nasceram para mim! (Estreitando-a, com ternura) Que me importam as outras, se só tu és capaz de me fazer chorar!
D. JOSÉ: Quê… Não vais, decididamente?
MARIALVA (olhando a Severa): Decididamente, não vou!
SEVERA (Numa explosão de alegria): Ah! Não vai! Fica comigo! (Com orgulho) É meu! Muito meu!
D. JOSÉ (pondo a capa e o chapéu): Mas todos te esperam, cheios de entusiasmo! Não é correcto, bem vês…
MARIALVA: Pois que esperem meu velho. Eu passo aqui esta noite! (Cingindo a Severa) Severa! (Dando-lhe o lenço que o D. José trouxe) Amanhã, quando me for, lê o que diz este lenço. Guarda-o bem! (Para D. José) Tu, vai, D. José. E se te perguntarem, dize a toda a gente que o Conde de Marialva, grande do reino, depois de uma cena de facadas, passa a noite com uma cigana!
D. JOSÉ (saindo e atirando com a porta): Adeus!
SEVERA (apaixonadamente, atirando-se ao pescoço do Conde): Como tu gostas de mim! Como tu gostas de mim!
MARIALVA: Vem cá, Severa. Vera cá. Toma a guitarra. Assenta-te aí. Os dois, muito juntos, coração com coração… (A cigana senta-se-lhe aos pés, preludiando na guitarra) É destino de Portugal morrer abraçado ao fado! (Apagando a luz, com a voz cortada de comoção)
Canta… Canta… Canta…
(A Severa começa a cantar; o Conde tem lágrimas nos olhos; o pano cai, lentamente.)

Tradição e Vanguarda

Depois da estreia em 2003 com Primeiro Fado e da participação no Álbum Vermelho – ao lado do mano Camané e de nomes como Cristina Branco, Argentina Santos, Mariza e Kátia Guerreiro -, Pedro Moutinho rompe o cordão fraterno e em Encontro aborda o fado tradicional com temas de Carlos e Lucília do Carmo, respectivamente Não me Conformo e A Rua do Desencanto.

Entre nove fados tradicionais, encontramos letras de António Botto, Fernando Pessoa, Manuel Alegre e António Lobo Antunes.

Anda Pacheco!

“The Soul of Fado”

Tributo de Guus Slauerhoff ao universo do Fado, entendido no quadro da sua plena universalidade.
O fascínio pelo fado levou-o a visitar Lisboa por várias vezes, nos anos de 2004 e 2005.
Alfama, bairro repleto de segredos históricos, e o Museu do Fado que aí se encontra, ganharam para ele um interesse primordial.
Durante as suas estadas em Lisboa, desenhou fadistas nas casas de fado e vagueou quotidianamente por Alfama, cuja ambiência conseguiu assim encontrar mais de perto.


A arte plástica de Guus Slauerhoff quer representar aquela vivência e experiência do fado, tocando-as, explorando-as, tornando-as palpáveis e visíveis como uma nova dimensão do fado.

“Os meus quadros contam uma história. São uma espécie de ícones de esperança”, diz o artista no vídeo que acompanha a exposição. “Nunca houve um artista como eu que manifestasse desta forma este interesse pelo fado. Gosto de calcorrear as ruelas, de ouvir os intérpretes do fado vadio. Há sempre uma lua no céu, um cão que ladra, um galo a cantar.. Acho isto uma experiência muito valiosa. Eu sou fado, deambulo aqui como o fado, a minha vida é fado”.

Paralelamente às suas pinturas, Guus Slauerhoff criou objectos com materiais que”são uma espécie de atributos da vida”.


Exemplo disso são uns sapatos, que comprou por um euro na feira da ladra, e que o artista deu nova vida caligrafando neles uma letra de fado e baptizando-os de “sapatos de fado”. Porque, como confessa, “o fado possibilita-nos, enquanto seres humanos, contar a poesia intensamente profunda da vida”.

A Exposição “The Soul of Fado” (a alma do fado) inclui 18 pinturas, 14 desenhos,. cinco esculturas e ainda trabalhos de colagem e de ensemblage. De 16 de Novembro a 16 Janeiro de 2007, no Museu do Fado

A Guitarra Portuguesa

A guitarra portuguesa é um instrumento muito difundido em Portugal sendo o que mais se aproxima do sentimento Lusitano do povo português.

A guitarra portuguesa tem um timbre de tal modo inconfundível que, onde quer que esteja, qualquer português a reconhece aos primeiros acordes. É um instrumento musical carregado de simbolismo e, à mercê da sua longa aliança com o Fado, é conotado com o “modo de ser” português. Destino, fado e saudade são palavras que naturalmente se associam ao trinado da guitarra portuguesa.

“Para interpretar o Fado, nenhum instrumento mais de jeito que a guitarra. Está costumada a cantar tristezas desde a mais remota antiguidade e além disso fala tão baixinho que não chega a incomodar os grandes, os felizes, os opulentos. É quase uma criança que chora ou uma mulher que suspira. Impressiona e não atordoa. Faz-se ouvir, mas não se impõe.” – citação de Alberto Pimentel, em Photographias de Lisboa, pág.64.

De origem bastante remota, foi outrora designada por guitarra mourisca, por ter certa semelhança com o alaúde, que os árabes introduziram na Península Ibérica sendo, no entanto, as características dos dois instrumentos algo distintas.

As origens da guitarra portuguesa remontam à Idade Média, a um instrumento chamado cítula. Esta evoluiu ao longo dos tempos, passando pela cítara, culminando na guitarra portuguesa.

Começando por ser instrumento habitual nos salões da alta burguesia, sobreviveu e transformou-se nas mãos do povo, para se tornar, actualmente, num instrumento popular.

A guitarra de Fado, como é hoje designada, foi durante muito tempo conhecida por guitarra inglesa. A razão desta designação era devida ao seu fabrico, em Inglaterra, por um violeiro famoso chamado Simpson, o qual fabricava os melhores instrumentos deste género, alguns dos quais eram exportados para Portugal.

Para a construção de qualquer guitarra portuguesa, usam-se madeiras importadas desde a Idade Média, já que os fundos e ilhargas da guitarra têm de ser fabricados em pau-santo, ácer ou mogno. O tampo é executado em spruce, ou pinho da Flandres. Mas, “a grande diferença entre uma boa guitarra e uma má, feitas exactamente com a mesma madeira está na mão do construtor”(citação de Pedro Caldeira Cabral, actualmente uma das maiores autoridades em guitarra portuguesa e música antiga).

A guitarra portuguesa é, em linguagem técnica, um cordofone composto, cuja caixa harmónica é periforme, ou seja, tem forma de pêra. É constituído por seis pares de cordas e já teve diversas afinações, mas a que realmente se enraizou foi a a Afinação de Fado: a começar pelas cordas mais agudas, Si – Lá – Mi – Si – Lá – Ré.

Existem três tipos de guitarra portuguesa: a de Lisboa, a do Porto e a de Coimbra, com diferentes tradições de fabrico. A de Lisboa é a mais pequena das três, com caixa baixa arredondada e é a que possui o som mais “brilhante”. A de Coimbra é maior, com o corpo assumindo uma forma mais aguçada. A do Porto é semelhante à de Lisboa. Uma das principais diferenças reside na cabeça da guitarra: a de Coimbra possui uma lágrima incrustada, enquanto que a de Lisboa apresenta um caracol.

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