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O grande objectivo das missões dos jesuítas era a evangelização da China, iniciada por Matteo Ricci (1552-1610), um italiano de famílias nobres que tinha partido para o Oriente em 1578, equipado de uma vasta cultura científica. Ricci percebera o grande interesse chinês pelos conhecimentos científicos que os ocidentais possuíam e foi o primeiro europeu a conseguir conquistar a confiança de altos dignitários do Império do Meio. Na sua esteira, os missionários jesuítas, muitos dos quais portugueses, conseguiram pouco a pouco ter uma posição influente em Pequim, chegando a presidir ao Tribunal das Matemáticas, que era um conselho imperial para matérias científicas, nomeadamente para a organização do calendário, para a previsão de eclipses e para a observação astronómica. Na sua correspondência com o Vaticano, Ricci e os seus companheiros insistiam frequentemente na importância da ciência.
«Enviem-nos matemáticos!», pedia Ricci, «enviem-nos livros!»
O texto que se segue foi retirado do blog De Rerum Natura, a partir do artigo de Jorge Fiolhais, publicado no jornal Público de 20 Fevereiro 2012.
Os navegadores portugueses, ao entrar pela primeira vez em Cantão, tinham disparado uma salva num gesto ao mesmo tempo de saudação e intimidação. Os chins estranharam a primeira e não se deixaram impressionar pela segunda. Não era costume na China, onde a pólvora e o canhão tinham sido inventados, cumprimentar aos tiros. Os portugueses, que vinham de Malaca, um protectorado chinês, depressa perceberam que no Império do Meio não podiam, como tinham feito noutros sítios da Ásia, entrar a ferro e fogo. A artilharia portuguesa podia até ultrapassar a chinesa, mas os chins tinham bons navios e boa pontaria, para além da sua superioridade numérica (as duas primeiras batalhas navais foram por isso favoráveis aos chineses). Além disso, o comércio que os portugueses buscavam estava na China bem regulamentado, incluindo os tributos ao imperador. Os portugueses teriam de cumprir as regras se queriam transaccionar ali e, para seu infortúnio, não estavam sequer inscritos nos livros antigos de comércio que os mandarins mantinham. Era um encontro de civilizações em que os extraterrestres eram inferiores aos indígenas.
As relações haveriam, porém, de se normalizar com a cedência de Macau em 1557, como interposto comercial, sem quebrar as normas do império. Através de Macau a faceta humanista e científica da civilização ocidental haveria de chegar à China. Exemplo de um encontro feliz de civilizações foi a chegada a Macau, em 1582, e a Pequim, em 1601, do jesuíta italiano Matteo Ricci, que após ter estudado em Coimbra partiu de Lisboa para o Oriente, onde escreveu dicionários e tratados e traçou mapas. Os jesuítas portugueses tornaram-se peritos da corte imperial, dada a clara supremacia da astronomia ocidental. Só no século XVII, graças à sua influência apareceria na China um globo esférico para representar a Terra, como mostra a exposição “360º. Ciência Descoberta”, comissariada por Henrique Leitão, que está quase a abrir na Gulbenkian.Aproveitando a efeméride, aqui ficam os apontamentos recolhidos na aula do Professor Henrique Leitão, no Museu do Oriente.

Em Setembro de 1608, o holandês Hans Lipperhey anuncia um artefacto revolucionário em forma de tubo, que combinava um par de lentes gémeas e permitia ver com nitidez pessoas e coisas situadas a várias centenas de metros de distância e que, por isso, teria grande utilidade para fins militares; Duas semanas mais tarde, outros dois holandeses, Jacob Metius e Zacharias Janssen, apresentaram objectos semelhantes.
As notícias chegaram a Galileu que, engenhoso como era, se documentou devidamente e não se limitou a copiar, fez muito melhor. Galileu passou os três anos seguintes a efectuar observações telescópicas, período em que escreveu Sidereus Nuncius (1610).
Ptolomeu estava errado!
” A Lua é uma pedra! Nós até aqui não sabíamos nada! Júpiter tem satélites! Saturno não é nada redondo! Vénus anda à volta do Sol!
Galileu em Portugal
Importa recuar algumas décadas para perceber a importância da Rede Administrativa da Companhia de Jesus enquanto veículo de transmissão do conhecimento científico da época, nomeadamente na divulgação das descobertas de Galileu entre os Chineses. Os jesuítas portugueses eram em número muito inferior em relação aos outros jesuítas europeus, mas tinham de missionar áreas muito mais vastas, como o Brasil.
No Colégio de Santo Antão (1553), onde é hoje o Hospital de São José, era leccionada a famosa Aula da Esfera, onde se revia aprofundadamente a cosmologia da época. Ora, os professores jesuítas, em contacto constante com o Colégio Romano e os centros científicos da época, não podiam deixar de estar a par das grandes polémicas cosmológicas da altura. Devido à situação de Lisboa no trânsito de missionários, alguns dos mais competentes professores do Colégio Romano, tais como Christopher Grienberger, vieram por algum tempo para Portugal, com o objectivo de ensinar no Colégio de Santo Antão.
Para se ter um ideia da importância da instituição na época em Portugal, note-se que em 1759 havia 20 mil alunos jesuítas, o que, depois de Pombal, só voltou a verificar-se cerca de 150 anos mais tarde; Em Coimbra, não havia professores de matemática capazes, enquanto que o Colégio acolhia dos melhores professores estrangeiros.
A missionar na Índia, o Padre Giovanni Antonio Rubino, que partira de Lisboa para Macau em 1602, dizia em Novembro de 1612 sobre os famosos telescópios:
“Mandem-me as instruções, que aqui arranjarei quem os produza!”
Galileu na China (1609-1618) – Tribunal das Matemáticas conta com a presença de jesuítas com treino avançado:
O grande objectivo das missões dos jesuítas era a evangelização da China, iniciada por Matteo Ricci (1552-1610), um italiano de famílias nobres que tinha partido para o Oriente em 1578, equipado de uma vasta cultura científica. Ricci percebera o grande interesse chinês pelos conhecimentos científicos que os ocidentais possuíam e foi o primeiro europeu a conseguir conquistar a confiança de altos dignitários do Império do Meio. Na sua esteira, os missionários jesuítas, muitos dos quais portugueses, conseguiram pouco a pouco ter uma posição influente em Pequim, chegando a presidir ao Tribunal das Matemáticas, que era um conselho imperial para matérias científicas, nomeadamente para a organização do calendário, para a previsão de eclipses e para a observação astronómica. Na sua correspondência com o Vaticano, Ricci e os seus companheiros insistiam frequentemente na importância da ciência.
«Enviem-nos matemáticos!», pedia Ricci, «enviem-nos livros!»
Manuel Dias – Pequim, 1614: As primeiras notícias sobre Saturno, contadas na China por um português, abriram uma notável discussão sobre astronomia.
O padre Manuel Dias publicou na China o «Tien wen lueh», descrevendo já as observações astronómicas que Galileu tinha feito em 1609 e 1610. Numa altura em que as cartas de Pequim para Roma chegavam a demorar oito anos a chegar ao destino, quatro anos bastaram, mesmo com os longos meses da carreira da Índia, somados à paragem em Goa e aos meses da viagem até Macau, para que a Companhia de Jesus tivesse feito chegar ao Oriente as mais recentes e mais polémicas observações científicas da época.
Giovanni Paolo Lembo (1570?-1618), que ensinou no Colégio de Santo Antão a Aula da Esfera entre 1615 e 1617, promoveu a discussão das observações das Fases de Vénus, no sentido de provar que Vénus girava em torno do Sol.
G. P. Lembo tinha construído em 1610 os telescópios do Colégio Romano e tinha subscrito o célebre parecer de quatro matemáticos de 1611, documento que tinha confirmado às autoridades eclesiásticas a justeza das observações de Galileu.
Deixou-nos instruções sobre como se construir um telescópio, ou longemira, como se designava na época.
Enquanto que no resto da Europa a comunidade científica pouco ênfase ia dando ao assunto, na China e no Japão o telescópio acolhia grande entusiasmo.
Em 1759, os Jesuítas foram expulsos de Portugal…
