Porque me beijou Perico, porque me beijou o traidor.
Este Vilancico pertence ao delicado livrinho ‘Jardim de Poesias Eróticas do Siglo de Oro’, com selecção, tradução, introdução e notas de José Bento, numa edição da Assírio e Alvim.
Quem tiver curiosidade de comparar com a tradução que aqui encontrei, facilmente constata a subjectividade que cada autor empresta à obra traduzida. Não será o caso, mas há textos que nem se deviam traduzir!
Porque me beijou Perico, porque me beijou o traidor. Que estando, mãe, a dormir, do que estou arrependida, senti-o estar a subir minha camisa florida; mesmo de riso esvaída, pensá-lo dá-me temor, porque me beijou Perico, porque me beijou o traidor. E estando eu, como vos digo, a dormir me surpreendeu; tocou-me sob o umbigo, tudo quanto Deus me deu. Assim, como quereis que eu possa por ele ter amor? Porque me beijou Perico, porque me beijou o traidor. Porque, com artes mesquinhas, remexeu pouco a pouquito suas pernas entre as minhas até que me deu no fito: é meu sofrer infinito, já não pode ser maior, porque me beijou Perico, porque me beijou o traidor. Que, como se meneava, mais se mostravam gostosos, dois mil gozos que me dava como açúcares saborosos. Deu-me uns beijos tão sumosos que jamais perco o sabor. Porque me beijou Perico, porque me beijou o traidor.
“Susana y los viejos”, de José de Ribera
Para Ana Margarida 🙂
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