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a moderninade, na linguagem da côr

Escolhemos o dia de anos da minha princesa para ver a Exposição Sonia Delaunay. Atelier simultané 1923-1934.
O mais divertido desta colecção de esboços para tecidos em gouache sobre papel, é imaginar as expressões de pessoas que há 70 ou 80 anos se deslocavam ao Atelier de Sonia Delaunay para escolher padrões de tecidos. Deve ter sido um gozo!
Parabéns, filhinha querida!

Sonia Delaunay utiliza a estética do simultaneísmo em objectos têxteis, padrões de tecidos que lhe estimularam a criatividade e permitiram-lhe a própria subsistência, sobretudo após o seu regresso definitivo a Paris, em 1921.
Em 1923 uma empresa têxtil de Lyon encomenda-lhe padrões de tecidos. Foi a profissionalização de uma vocação e as suas concentração nos guaches que, apesar da técnica e do pequeno formato, são experiências plásticas, pesquisas baseadas na sensibilidade e pensadas como pintura.



Em 1924 funda o Atelier Simultané, onde são impressos os tecidos simultâneos e produzidos os acessórios. Entre 1923 e 1934 (data em que os Delaunay decidem de deixar o nº 19 do boulevard Malesherbes onde funcionava o Atelier Simultané) Sonia Delaunay realiza inúmeros “desenhos de tecidos” como lhes chamou, numa pesquisa puramente pictórica de relações de cores com formas geométricas ritmadas.

Era um trabalho de que Sonia gostava e o guache sobre papel foi uma técnica que lhe serviu particularmente; mais leve, rápido e fluído do que o óleo sobre tela, permitiu-lhe multiplicar experiências.

Múltiplas variações executadas metodicamente num ritmo frenético, em cadernos e folhas soltas, com numerações da própria artista, séries de variantes, sucessões e imbricados de estruturas, formas e cores, contrastes, todas estas obras permitiram a Sonia Delaunay de relacionar os desenhos de tecidos com a modernidade e a arte abstracta.

Numa linguagem sensível e rítmica, Sonia Delaunay conseguiu uma divulgação espectacular e democratizada de pesquisas pictóricas, palpitantes de sensibilidade que lhe conferem um lugar privilegiado na criação contemporânea, guaches sobre papel durante muito tempo desvalorizados.

boa pinta

Lisboa & Co. – 2006

Exposição de Pintura e Artes Plásticas da Pintora Sofia Leitão no Espaço «O Século – Centro Cultural» – O SÉCULO
Inaugura amanhã e pode ser visitada até 22 de Dezembro, das 14.00 às 20.00 Horas.

Frei Carlos e o Belo Portátil

De origem flamenga e tendo professado em 1517 no antigo Convento do Espinheiro, junto a Évora, o monge-pintor Frei Carlos foi uma das mais proeminentes e lendárias figuras da pintura retabular em Portugal nas primeiras décadas do século XVI e alguns dos grandes painéis que a sua oficina pintou para os altares daquele convento jerónimo são das obras mais apreciadas na colecção do Museu Nacional de Arte Antiga.

Mas se é nestes grandes formatos que a pintura do Espinheiro revela desde logo especial originalidade, demonstrando em tais registos uma invulgar capacidade de integração espacial dos elementos da imagem em situações narrativas, não deixa de ser nos pequenos painéis devocionais que se afirma com especial nitidez uma sedutora técnica de utilização da própria matéria pictural, sendo também por aí que melhor se reconhece a sua ascendência na inconfundível tradição flamenga.

Esta exposição considera essa particular vertente da produção criativa da Oficina do Espinheiro, a das imagens religiosas para contemplação, meditação e oração individual ou privada, pinturinhas portáteis ou de oratório privativo que, na cela monástica, estimulavam uma piedade afectiva na contemplação de figuras de Cristo, da Virgem com o Menino ou de S. Jerónimo no deserto.

O ponto de partida e fulcro do percurso expositivo é uma obra inédita de Frei Carlos recém-adquirida para a colecção do MNAA, uma belíssima representação do Ecce Homo (39,5 x 31 cm). Submetida a exames fotográficos e radiográficos, essa documentação sobre a peça é apresentada em termos comparativos com documentação congénere de outras pinturas de tipo devocional produzidas no Espinheiro.
A exposição procura assinalar, através de 30 pinturas de pequeno formato mas de grande qualidade, a extraordinária procura de imagens devocionais na Europa do final da Idade Média e início do Renascimento, correspondendo a uma certa expressão do sentimento religioso e a um incremento do pietismo individual nessa época. As obras são de autoria predominantemente flamenga e portuguesa e algumas das pinturas mais qualificadas provêm de colecções privadas, nunca ou muito raramente tendo sido expostas ao público.

Jesus Cristo está a chorar. Várias lágrimas, oito, escorrem-lhe pela cara. A luz incide sobre elas. Algum sangue surge entre os lábios. O novo Ecce Homo do Museu de Arte Antiga, uma pequena pintura, com 40 centímetros de altura e 30 de largura, é uma obra para se ver muito de perto.
Frei Carlos, o pintor monge do século XVI, fê-la exactamente a pensar nessa proximidade. Fê-la também a pensar que a pudessem levar de um lado para o outro, como um Livro de Horas. “As pessoas meditam, rezam, oram em frente a estas imagens. É uma devoção mais humanista.(…)

Finalmente, coroando uma das componentes iconográficas do percurso expositivo, apresenta-se também o painel Virgem com o Menino e Anjos (1536-38), da autoria de Gregório Lopes, que acaba de ser restaurado pelo Departamento de Conservação do MNAA.

Uma pintura do século XVI para rezar em casa
Isabel Salema – Público

Esta pequena exposição temporária junta 30 obras, 23 das quais são pinturas com esta dimensão pequena. “É essa tipologia de pequeno formato que dá à peça um carácter portátil.” O quadro recém-adquirido pode ter sido pintado para um prior de um convento o utilizar e apreciar em privado. “Estas peças querem estimular um diálogo piedoso com o sagrado numa dimensão privada. É o que nos diz o Ecce Homo do ponto de vista material, mas não há lastro do ponto de vista histórico.” Não se sabe de onde vem, a não ser que estava no século XIX na colecção privada de Jorge O”Neill, em Lisboa.
“Há um realismo sereno na figura. Tem o sangue a escorrer e está como se nada fosse. Mas não deixa de ser fortemente dramática, porque a associamos ao heroismo de Cristo. O diálogo emotivo concentra-se no olhar directo de Cristo, profundamente humanista.” Essa intenção interpelativa, de experiência imediata com a divindade, tem também um carácter sensorial.

O mais poético dos luso-flamengos
Estas peças de devoção privada são o inverso dos grandes retábulos das igrejas – Frei Carlos pintou vários, alguns encomendados pelo rei D. Manuel I -, que podemos considerar a arte pública da época. Ao contrário dos retábulos, onde há uma narrativa detalhada, no Ecce Homo não há representação do espaço ou do tempo. Estas imagens de devoção privilegiam a figura de Cristo e da Virgem Maria, num retrato em busto ou meio-corpo.
Frei Carlos é uma das figuras lendárias da pintura portuguesa. José Alberto Seabra diz que a descoberta desta pintura “foi uma surpresa fortíssima”. É “inconfundivelmente” um Frei Carlos no estilo e terá sido pintada na década em que esteve mais activo, os anos 20 e 30 do século XVI. “Tem essa característica dos bons pintores flamengos, como Van Eyck e Roger Van der Weiden: consegue um apurado realismo da forma e simultaneamente uma idealização poética. Junta o real com o ideal.” As mãos é o que mais impressiona José Alberto Seabra no quadro. “Parecem as de uma Madona. Ele é o mais poético dos luso-flamengos.”
Frei Carlos é entre os pintores três luso-flamengos da época – além dele há Francisco Henriques (o favorito do rei) e o Mestre da Lourinhã – o que melhor domina a perspectiva, uma visão racionalizada do espaço, como se vê nos retábulos. São estes três, aliás, os melhores pintores em Portugal no início do século XVI. Frei Carlos terá estudado em Bruges ou Antuérpia e vem para Portugal porque cá há trabalho.

O primeiro documento que se conhece sobre o monge-pintor é aquele que diz que professa no Convento do Espinheiro, em Évora, em Abril de 1517. “Eu Frei Carlos de Lisboa flamengo faço profissão…” Em 1540, sabe-se que terá morrido, porque outro documento refere o destino a dar ao espólio que estava na sua cela. Depois, várias crónicas falam-nos da sua fama como pintor.

Próximo da cidade de Évora, e bem no coração das vastas planícies Alentejanas, ergue-se o antigo e agora renovado Convento do Espinheiro, transformado num surpreendente hotel de luxoEste convento tem a sua origem numa lenda que relata a aparição da Virgem sobre um espinheiro. Em 1458, dada a importância deste local como destino de peregrinações, foi fundada uma igreja e posteriormente o convento que chegou a receber a visita de reis de Portugal.

“Ele tem uma produção em circuito fechado. Terá só feito obras para os conventos da sua ordem, a dos monges de São Jerónimo.” O Espinheiro, mas também os Jerónimos em Belém, Santa Marinha da Costa em Guimarães ou a Pena em Sintra. A oficina de Frei Carlos, instalada no Convento do Espinheiro, é a única em Portugal, na sua época, que faz estas imagens de devoção, chamadas imago pietatis.
Nos Países Baixos, estas pinturas devocionais de pequeno formato são comuns desde o século XV. (…)

O desdém da mediocridade

AMADEO DE SOUSA-CARDOSO chegou a Paris em Novembro de 1906, alguns meses depois de Modigliani. Neste período, morria Cézanne, enquanto Picasso pintava «Les Demoiselles d`Avignon».
Em Montmartre, nos ateliers de boémia e miséria, começava uma nova época da pintura ocidental; Em Montparnasse, Amadeo procurava nos ateliers do Boulevard Raspail a admissão às «Beaux-Arts», no seguimento dos estudos iniciados em 1905, na Academia das Belas-Artes em Lisboa.

Desde cedo, Manuel Laranjeira, médico no Porto, exerceu grande influência, no plano intelectual e humano, na evolução do jovem Amadeo, a quem via nos verões da praia de Espinho, onde seus pais tinham casa. As tertúlias no Café Chinês, os passeios a dois e a troca de correspondência tornariam Amadeo seu confidente.

Manuel Laranjeira tinha perante a arte um sentimento de raiz literária da Renascença Portuguesa, entre névoas e saudades.

Este melancolismo não afectava Amadeo, antes lhe provocava desgosto pela futilidade da vida que levava; O tédio das cópias a carvão no casarão do Largo da Biblioteca, as caricaturas de professores e colegas, fraca compensação da mediocridade que deixara em Lisboa e Porto.

Fernando Pessoa chegava a Portugal , Santa-Rita pintava o «Orfeu do Inferno» e Almada Negreiros tinha dez anos de idade.

Amadeo, a quem Manuel Laranjeira vaticinara que «haveria de vencer, haveria de triunfar», desenhou o corpo do amigo enrodilhado numa cadeira de café, abandonado, escorregando, um braço estirado sobre o tampo, outro torcido para as costas da cadeira, as pernas magras torcidas e a trunfa negra saindo do chapeirão enfiado pela cabeça abaixo, boneco desarticulado, só de costas e à deriva do destino…


No verão de 1907, Amadeo abandonava os estudos na Escola de Arquitectura, enquanto confessava que, longe de ter perdido tempo por concluir não ter vocação, antes tinha alargado os seus conhecimentos artísticos , cuja utilidade se reflectia na sua evolução natural enquanto caricaturista.

Durante esse tempo, ia estudando os modelos da imprensa parisiense; Ao contrário de outros artistas portugueses que nesse período também estudavam em Paris, como Emmerico Nunes, Manuel Bentes, Acácio Lino, Alfredo Ferraz – modernistas e naturalistas – adquiria um traço mais sintético, de melhor definição formal, fruto da liberdade de quem não dependia dos desenhos para viver.

Na caricatura de 1910, juntamente com os colegas Manuel Bentes, Eduardo Viana e Emmerico, Amadeo é um rapaz empertigado, o busto envolvido numa capa que lhe esconde parte do rosto, um chapéu sobre os olhos, de pose espanholada.

Assim ele se via na autocaricatura; de peito arqueado e alargando os braços e as mãos enluvadas, caminhando nas pontas da botas para impor uma estatura que não era a sua.

Em noitadas de sacrifício a Baco, Amadeo, desnudano, fazendo peito, coroa de parras na cabeça e garrafas ao pé; a seu lado, Bentes, Alberto e Emmerico faziam figuração, repetindo poses dos «borrachos» de Velasquez.

in Amadeo & Almada, de José Augusto França – Bertrand Editora

Será porventura a Exposição mais importante do ano (para a Gulbenkian), pela importância da obra de Amadeo Sousa-Cardoso; Será que consegue rivalizar com esta?

En passant…

… ou como a progressão imprime movimento à côr.

a menina dança?

Não sei se por ser a obra mais emblemática de los Picassos des Antibes, mas é a minha favorita.

O mar, com os tons do Mediterrâneo; O bailado da mulher, homenageada; O centauro e os faunos, todos familiares; tudo desperta felicidade, alegria.

No Museu Picasso, em Barcelona.

Colecção Rau – Siberechts

A luz fria e cintilante das paisagens e cenas de género de Jan-Siberechts ( 1627-1703), deu lugar neste Gabinete de amador a uma luminosidade mais quente, acompanhada do característico volume redondo que normalmente conferia aos corpos.

O casal coleccionador, rodeado de obras de pintura e escultura, dispostas sem ordem nem sentido, inversamente ao mosaico do chão.

A Marinha, de cunho holandês, atribuida ao também pintor de Antuérpia, Peeters; A Ordenha, característica das paisagens de Siberechts, o retrato que o jovem segura lembra o retratista Thomas Key e a grande natureza-morta de frutos, caça, macaco e gato lembra Jan Fyt – quadros dentro do quadro – representam a evocação dos seus contemporâneos.

Os tons das esculturas antigas, das paredes e dos rostos, revelam a preocupação do autor com a luz nas cenas de interior;
Mas o que me fascina neste quadro é o espelho na parede, que reflete a mão da senhora e o pequeno fio dourado, reflexo de luz na beira da mesa.

Para observar este nível de detalhe que uma obra prima merece, ou exige, é impossível ver esta Exposição en passant, ainda que signifique ter de voltar uma e outra vez.
Ainda não passei da primeira de oito salas!

Quartos Imaginários

Ponto de partida para a Exposição Quartos Imaginários de Nikias Skapinakis, na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, já aqui mencionada.

Composição sobre o desenho “Tin Tin et Gazelle”, de 1964.

Na parede do lado esquerdo, as portadas da janela são réplicas das pinturas de “Mário de Sá Carneiro raptando Vieira da Silva”, de 1972 e de “Homenagem a Fernando Pessoa Oculista”, de 1957.

Na parede do lado direito, encontram-se representados António Maria Lisboa, Cezariny e André Breton.

Por cima, o marinheiro com o cravo, a partir de “Delacroix no 25 de Abril em Atenas”.

Fim-de-semana cultural

El Museo Nacional del Prado y el Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía conmemorarán el 25 aniversario de la llegada del Guernica a España presentando la exposición Picasso.
Tradición y Vanguardia en un año en que también se conmemoran los 125 años del nacimiento del artista.

Para evitar as intermináveis filas de acesso à Exposição, a compra antecipada de entradas na página do El Corte Ingléz será uma boa opção.
Até 3 de Setembro.

deusas menores

Graça Morais “ilustrada” por Sophia de Mello Breyner Andresen.
No Centro Nacional de Cultura, até 30 de Junho.

Soneto de Eurydice

Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.

Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.

Porém nem nas marés, nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.

E devagar tornei-me transparente
Como morte nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.