Garcia Fernandes – O aparecimento de Cristo à Virgem Maria
Virgem da Anunciação (Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra)
Fazendo parte do acervo do Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra, e atribuído a Garcia Fernandes, o tríptico que apresenta como painel central O aparecimento de Cristo à Virgem Maria e se encontra cronografado de 1531, terá sido resultante de uma encomenda feita para a igreja do mosteiro de clarissas de Santa Clara-a-Antiga, em Coimbra, pela abadessa, D. Margarida de Castro que iniciou a direcção do convento em 1529. D. Margarida era filha do Conde de Monsanto, D. Álvaro de Castro, alcaide-mor de Lisboa e camareiro de D. Afonso V. Deste modo, a prioresa, quer pela linhagem, quer pelos contactos com a nobreza, adquiriu uma elevada cultura e sensibilidade artística que a levou a encomendar, aos melhores artistas da época, boas obras de arte para o seu mosteiro. […]
Joaquim Caetano de Oliveira evidencia a importância deste conjunto ao afirmar:
“Este tríptico inaugura, no conjunto de obras conhecidas, a década mais prolífera e importante de Garcia Fernandes. […] O pintor inicia com esta obra um processo de autonomização crescente do seu estilo, progressivamente mais aberto a modelos italianizantes com uma nova noção da importância da figura, pelo seu isolamento, pela idealização dos modelos femininos e pela forma como os panejamentos se vão moldar ao corpo.”
O tríptico representa no painel central o tema da Aparição de Cristo à Virgem Maria, cotejado, nos planos secundários, por episódios centrados no tema da Ressurreição e apresenta, no anverso dos volantes, o Anjo Gabriel (à esquerda) e a Virgem da Anunciação (à direita), esta última ilustrada na figura 3. A Virgem encontra-se sentada directamente sobre o tapete, ou sobre um coxim, numa posição frontal. As feições revelam uma jovem de rosto sereno, ligeiramente inclinado, faces rosadas, fronte bastante pronunciada, olhar fixo no chão e lábios fechados. Os braços, abertos em atitude de orante, apresentam as mãos com as palmas viradas para o observador, dedos finos e levemente afastados, obedecendo a um correcto desenho anatómico e a um domínio perfeito da volumetria o que já se verificava no tratamento do rosto através de uma perfeita utilização dos tons das carnações. Sobre o regaço de Maria o pintor representou um livro. Este consiste num belíssimo exemplar de um códice iluminado, indicando que a jovem Anunciada se encontrava ocupada na leitura e meditação das Sagradas Escrituras, ou de umlivro de orações. […]
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Texto de Luis Alberto Casimiro, docente e investigador, douturado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto no Ramo de Conhecimento em História da Arte.