Archive for the ‘ Fotografia ’ Category

Nominalmente



Este cais onde nominalmente a corda foi deslocada

fazia-me pensar que eu dissera a uma das vozes
que era uma junção. Mas vi partir à mesma distância
quilha, proa e centro. Começou o afastamento.
Aperfeiçoo as imagens que distinguem os lugares.
Água dispersiva, equidistância do sol, ambivalência
das margens. Cruel grito tradicional da gaivota,
no ponto onde adeja e pesca. Cada sentimento
acumula demasiadas referências para uma respiração.

Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)

Postais de Sintra – Graffiti

Postais de Portugal

Em 30 de Dezembro de 1873 foi constituída a “Companhia do Caminho de Ferro do Porto à Póvoa” que recebe o trespasse da concessão feita por decreto de 19 de Junho de 1873 a J. C. Temple Elliot e ao barão de Kesseler, de um caminho de ferro de via reduzida (Senhora da Hora / Póvoa do Varzim / Famalicão).

Vila Nova de Famalicão tem oito séculos de história; Recebeu Foral de Dom Sancho I em1205 e foi elevada a cidade em 1985.

Do património histórico-cultural, destaque para as igrejas de Santa Eulália do Mosteiro de Arnoso, Igreja do Mosteiro de Landim e Igreja de Santiago de Antas.

Espalhados pelo concelho existem vestígios do período do Cobre (a mamoa de Vermoim), da Idade do Ferro (os castros nos cimo dos montes) e da ocupação romana (vários marcos miliários e a Villa Romana).

Das muitas casas solarengas dispersas pelo concelho, a que acolheu Camilo Castelo Branco em S. Miguel de Ceide (1864 e 1890), ficou tristemente ligada ao concelho pelo suicídio do escritor no primeiro dia de Junho de 1890, já cego e desesperado. A casa oitocentista que habitava foi recuperada e transformada em Museu em 1954.

Famalicão prepara-se para enriquecer o seu património cultural com a construção de um Centro de Estudos do Surrealismo, que receberá o espólio de Mário Cesariny, doado à Fundação Cupertino de Miranda.

Em Junho realizam-se as Festas Antoninas, célebres pelas rusgas populares e as fogueiras de Santo António.

Literatura explicativa

Poema de Ruy Belo, ilustrado pelo último pôr-do-sol de 2006; não é em espinho mas na praia do abano, ao lado do guincho, o que vai dar no mesmo.
O pôr-do-sol é onde quisermos, ou soubermos escolher…

O pôr-do-sol em espinho não é o pôr-do-sol

nem mesmo o pôr-do-sol é bem o pôr-do-sol

É não morrermos mais é irmos de mãos dadas

com alguém ou com nós mesmos anos antes

é lermos leibniz conviver com os medici

onze quilómetros ao sul de florença

sobre restos de inquietação visível em bilhetes de eléctrico

Há quanto tempo se põe o sol em espinho?
Terão visto este sol os liberais no mar

ou antero de junto da ermida?

O sol que aqui se põe onde nasce? A quem

passamos este sol? Quem se levanta onde nos deitamos?

O pôr-do-sol em espinho é termos sido felizes

é sentir como nosso o braço esquerdo

Ou melhor: é não haver mais nada mais ninguém

mulheres recortadas nas vidraças

oliveiras à chuva homens a trabalhar

coisas todas as coisas deixadas a si mesmas

Não mais restos de vozes solidão dos vidros

não mais os homens coisas que pensam coisas sozinhas

não mais o pôr-do-sol apenas pôr-do-sol

Postais de Natal – Porto

Postais de Natal – Lisboa

Praça do Município

Postais de Portugal – Aveiro

Apontamento fotográfico sobre os painéis de azulezos da bonita Estação de Aveiro – a Veneza de Portugal – no âmbito das Comemorações dos 150 de História da CP.
(textos retirados do sítio da Companhia dos Caminhos-de-Ferro Portugueses).
Clique nas imagens para ampliar

Aveiro recebe o viajante com uma luminosidade única e um aroma intenso a maresia.
É a Ria que a envolve e atravessa a responsável por tão singular ambiência, perceptível logo à chegada, ultrapassadas as portas da Estação dos Caminhos-de-Ferro.
O edifício, revestido a painéis de azulejos da Fábrica da Fonte Nova (1916), com motivos alusivos às actividades marinhas, anuncia, desde logo, a ligação da cidade a esse generoso braço de mar.
E mesmo hoje em dia, não constituindo a sua fonte de maior riqueza, as margens da laguna são as favoritas para passeios tranquilos, dado que guardam não só belas paisagens, como os bairros mais graciosos de Aveiro.

Cidade situada em área plana na foz do rio Vouga, Aveiro é porto lagunar e marítimo, em comunicação com a Ria a que dá nome.

As salinas, desenvolvidas nesse estuário, dominam a paisagem, ocupando perto de 50 mil hectares, boa parte classificados de Interesse Ambiental pela União Europeia.

Atravessada por três canais, a cidade é conhecida por Veneza Portuguesa.


Povoação de pescadores, provavelmente anterior à ocupação romana, Aveiro assumiu com os Descobrimentos um papel importante no desenvolvimento económico do País, tendo sido elevada à categoria de cidade em 1759.


Com o assoreamento da sua barra conheceu algum declínio, do qual recuperou com a abertura da Barra nova, em 1808, e com a inauguração da estação dos Caminho-de-ferro.

Essa nova pujança é ainda hoje visível no seu ordenamento urbano, onde as casas Arte Nova e os revestimentos azulejares lhe imprimem um carácter único, em especial na zona do Rossio e junto ao pitoresco bairro da Beira-Mar.

No entanto, um dos edifícios mais espectaculares do município é a própria estação ferroviária, revestida de um grande número de painéis de azulejos da Fábrica da Fonte Nova (1916), reproduzindo motivos regionais.





Desde sempre associada às actividades marítimas e piscatórias, Aveiro possui um porto dotado de doca seca, estaleiros navais e grandes espaços reservados à seca do bacalhau.

As indústrias tradicionais estão também ligadas ao barro, funcionando na sua área grandes unidades fabris de azulejos, telhas, tijolos e louças, destacando-se, nesta última categoria, a Fábrica da Vista Alegre, uma visita obrigatória na cidade.


Actualmente consagrada ao comércio e serviços, a cidade conhece um novo fôlego graças ao crescimento exponencial da sua Universidade, criada nos anos 70 do século passado e ocupando hoje um lugar cimeiro no panorama académico português.

No que toca ao seu património histórico, destacam-se o Museu de Aveiro, instalado no antigo Mosteiro de Jesus, com uma importante colecção da arte barroca; a Igreja da Misericórdia, seiscentista, cujo interior está revestidos a azulejos; a Sé e a invulgar Igreja das Barrocas, capela do início do séc. XVIII, com planta octogonal e decorada a talhas douradas em todo o altar-mor e altares laterais.


A cerca de 12 Km encontram-se as Praias da Barra e da Costa Nova, já em Ílhavo, que, com as suas areias finas e águas despoluídas, fazem as delícias de locais e turistas.

As festas da cidade realizam-se a 13 de Maio em honra da Princesa Santa Joana, padroeira de Aveiro.

São igualmente de salientar a Festa de São Gonçalo, em Janeiro, e as Festas da Ria, no mês de Julho ou de Agosto (em função das marés), que integram uma corrida de barcos moliceiros e constituem um óptimo pretexto para experimentar uma das especialidades mais interessantes da doçaria nacional, os ovos-moles.


Recantos pitorescos

Os quarteirões da Beira-Mar, por exemplo, outrora habitados por pescadores, peixeiras e marnotos (homens que amanham as salinas) encantam com ruas estreitas, casas pequeninas protegidas da humidade por azulejos, e pontes coloridas.

O bairro encontra-se disposto ao longo do Canal de São Roque, junto ao animado Mercado do Peixe – lugar de peregrinação nocturna dos mais jovens, acabada a azáfama matinal da venda do pescado –, deixando reflectir nas águas serenas da Ria estendais de roupa esvoaçante e o pitoresco da sua arquitectura.

Do lado oposto ao casario, entre o canal e as salinas, um passeio pedonal – espécie de passadeira flutuante – é frequentado pelos adeptos da boa forma e da invulgar paisagem, ainda mais misteriosa quando envolta na névoa matutina típica das zonas ribeirinhas. A vizinha Marinha da Troncalhada, transformada em Eco-Museu, é lugar de visita obrigatória. Tem como propósito dar a conhecer a tarefa de arrancar o sal à laguna, com a ajuda indispensável do sol, do vento e da sabedoria musculada dos marnotos.


No coração da cidade

Já no Rossio, largo ajardinado junto ao Canal Central, são os barcos moliceiros e os magníficos edifícios Arte Nova, a atrair as atenções.

As embarcações ostentam na proa e na popa painéis decorativos com pinturas naif, acompanhadas de mensagens de carácter satírico, romântico, profissional ou religioso.

Em redor, as pastelarias, restaurantes e casas de petiscos oferecem algumas das mais gulosas especialidades da região: caldeiradas de peixe e enguias, burriés e os célebres ovos-moles.


História e modernidade

Deixando a baixa coroada pela rotunda conhecida por “Pontes”, que atravessa o Canal Central e liga os vários bairros da cidade, há que subir a Rua Direita. Pelo caminho surgem a seiscentista Igreja da Misericórdia, com o interior revestido a azulejo; o recentemente restaurado Teatro Aveirense, obra-prima da arquitectura do séc. XIX; e o edifício da Câmara Municipal, voltado para a estátua do jornalista e político aveirense, José Estêvão.

Esta artéria pedonal desemboca na Praça Marquês de Pombal, animada por esplanadas e repuxos refrescantes. À esquerda encontra-se o Palacete do Visconde da Granja, ou casa de Santa Zita, actualmente a maior fachada de azulejos da cidade, com seis painéis alusivos às estações do ano.

Um pouco mais à frente o Museu de Aveiro ocupa o Mosteiro de Jesus, convento fundado em 1458, que acolheu a princesa D. Joana, santa padroeira da cidade. A sua igreja, com rica talha dourada e azulejos, aloja o túmulo da princesa, e constitui uma obra-prima do barroco. Mesmo ali ao lado, a Sé foi construída junto a uma das portas das desaparecidas muralhas medievais, apresentando no adro uma cópia do cruzeiro do séc. XV, cujo original se encontra no seu interior.

Descendo a partir daí em direcção à Ria, vislumbra-se o Jardim Municipal Infante D. Pedro, lugar fresco e romântico com um grande lago e recantos ajardinados. A seus pés tem início o campus da Universidade, cujo Plano de Ordenamento foi coordenado pelo arquitecto Nuno Portas. Possui edifícios da autoria de Souto Moura e Siza Vieira, tendo este último projectado a Biblioteca – lugar aprazível para ler, estudar ou simplesmente descansar, graças às grandes vidraças voltadas para as marinhas, que se prolongam até ao mar.

Ao encontro do Atlântico

As praias, a pouco mais de 10 km, já pertencem ao concelho de Ílhavo, mas são frequentadas assiduamente pelos aveirenses. A mais próxima, a da Barra, possui o farol mais alto de Portugal – o terceiro a nível mundial – e um extenso areal banhado por águas relativamente dóceis.

A praia da Costa Nova permanece como a mais pitoresca, com os seus palheiros de madeira às riscas verdes, vermelhas, azuis ou amarelas. Uma jóia da arquitectura popular portuguesa plantada entre o Atlântico e o estuário da Ria de Aveiro.

Não faltam aí esplanadas para petiscar umas amêijoas ou mexilhões provenientes da ria. Um último momento de prazer antes de regressar ao ponto de partida – a Estação dos Caminhos-de-Ferro.

Perguntai ao muro

Muro, em que meditas,
ao longo da estrada, por estas quintas,
casas, ermos, entre paixões
de alma dos espectros
presentes e vindouros? E os vivos,
porque se escondem
por trás da tua fronte alta,
quieta, seca, que cobiça os astros,
sem saber que o teu corpo
de xisto corre, avança,
mas não pode soltar-se da Terra
e alcançar o Alto?

Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas

O crime qualificado de arte

Grafitti é arte pública? Pode ser, mas na maior parte dos casos é puro vandalismo.
Iniciativas como o recente Seixal Graffiti só servem para legalizar os rabiscos!
A rapaziada quer lá saber de muros preparados por alguém para eles darem largas à criatividade! Isso não tem nada de subversivo nem de ilegal, não é?

Os rabiscos que emporcam as nossas cidades são, na sua esmagadora maioria, puro vandalismo; Sejam feitos por membros de comunidades de rua, tenham natureza política e social ou origem em códigos próprios de gangs.


Confundir isto com murais e arte pública tem um preço, normalmente pago pelos do costume: os contribuintes. A limpeza custa centenas de milhar de euros por ano às autarquias.

Confesso que por vezes tenho um bocadinho de vergonha da minha cidade…

Variações sobre o tema: Graffiti: um crime de arte?

World Press Photo 06

Na Prisão de Maula em Lilongwe, Malawi, centenas de reclusos dormem amontoados no chão.
Estão tão apertados, que só se podem mexer quando um recluso designado para o efeito dá a ordem para se virarem todos ao mesmo tempo.

Faure Gnassingbe, filho do mais antigo ditador africano, Gnassingbe Eyadema, foi eleito presidente de Togo em Abril de 2005. Num autêntico golpe militar, o exército colocou-o no lugar do pai, após a morte deste em Fevereiro.
A oposição organizou um protesto minutos após a eleição e as ruas da capital Lome encheram-se de barricadas.
Os confrontos com as forças militares estão à vista.

A longa guerra-civil na Libéria e o tumulto político deram finalmente lugar a eleições em 2005 e a uma relativa estabilidade. Do conflito resultaram inválidos que representam cerca de 16% da população, entre os quais cerca de 77.000 cegos, consequência ou de sub-nutrição ou porque não foram tratados a tempo.

World Press Photo 2006 e Prémio Visão Fotojornalismo 2006, no Centro Cultural de Belém, até dia 22 de Outubro.