Arquivo de Fevereiro, 2014

‘Juízo Final’, de Michelangelo Buonarroti

Em 1534, vinte e dois anos após concluir o tecto da Capela Sistina, Michelangelo Buonarroti [6 Março 1475 – 18 Fevereiro 1564] deixou Florença e regressou a Roma para atender a uma encomenda do Papa Clemente VII, a de concluir o trabalho na Capela, com a representação de um grande afresco atrás do altar.
No dia em que passam 450 anos da morte de Miguel Ângelo, fica O Juízo Final que o mestre pintou entre 1535 e 1541.


Detail from a large fresco titled ‘The Last Judgement’ painted by Michelangelo (1475-1564) Italian sculptor, painter, architect, poet, and engineer of the High Renaissance. Dated 16th Century. (Photo by: Photo12/Universal Images Group via Getty Images)


La grandiosa composición realizada por Miguel Ángel entre 1536 y 1541 se concentra en torno a la figura dominante del Cristo, representado en el instante que precede a la emisión del veredicto del Juicio (Mateos 25,31-46). Su gesto, imperioso y sereno, parece al mismo tiempo llamar la atención y calmar la agitación circundante: esto pone en marcha un amplio y lento movimiento rotatorio en el que se ven involucradas todas las figuras. Quedan fuera de éste los dos lunetos de arriba, con grupos de ángeles que llevan en vuelo los símbolos de la Pasión (a la izquierda, la Cruz, los dados y la corona de espinas; a la derecha, la columna de la Flagelación, la escalera y la lanza con la esponja empapada en vinagre). Al lado de Cristo se halla la Virgen, que tuerce la cabeza en un gesto de resignación: en efecto, ella ya no puede intervenir en la decisión, sino sólo esperar el resultado del Juicio. Incluso los Santos y los Elegidos, colocados alrededor de las dos figuras de la Madre y del Hijo, esperan con ansiedad el veredicto. Algunos de ellos se pueden reconocer con facilidad: San Pedro con las dos llaves, San Lorenzo con la parrilla, San Bartolomé con su propia piel en la que se suele identificar el autorretrato de Miguel Ángel, Santa Catalina de Alejandría con la rueda dentada, San Sebastián de rodillas con las flechas en la mano. En la franja de abajo, en el centro, los ángeles del Apocalipsis despiertan a los muertos al son de sus largas trompetas; a la izquierda, los resucitados que suben hacia el cielo recomponen sus cuerpos (Resurrección de la carne); a la derecha, ángeles y demonios compiten para precipitar a los condenados en el infierno. Por último, abajo, Caronte a golpes de remo, junto con los demonios, hace bajar a los condenados de su barca para conducirlos ante el juez infernal Minos, con el cuerpo envuelto por los anillos de la serpiente. En esta parte es evidente la referencia al Infierno de la Divina Comedia de Dante Alighieri. Junto con los elogios, el Juicio suscitó entre sus contemporáneos reacciones violentas, como por ejemplo la del Maestro de Ceremonias Biagio da Cesena, quien dijo que “era cosa muy deshonesta en un lugar tan honorable haber realizado tantos desnudos que deshonestamente muestran sus vergüenzas y que no era obra de Capilla del Papa, sino de termas y hosterías” (G. Vasari, Vidas). Las polémicas, que continuaron durante años, hicieron que la Congregación del Concilio de Trento en 1564 tomase la decisión de hacer cubrir algunas de las figuras del Juicio consideradas “obscenas”. El encargo de pintar elementos de cobertura, las llamadas “bragas”, fue dado a Daniel de Volterra, desde entonces conocido como el “braghettone” (Pone-Bragas). Las “bragas” de Daniel fueron sólo las primeras: en efecto, otras se añadieron en los siglos sucesivos.
Via Museu do Vaticano

Musica Aeterna – 450 anos sobre o nascimento de Galileu

Emissão do Musica Aeterna, destinado a comemorar os quatrocentos e cinquenta anos do nascimento de Galileu Galilei [15 de Fevereiro de 1564 – 8 de Janeiro de 1642], físico, matemático e astrónomo de importância fundamental na revolução científica do século XVII, acompanhado de poesia, traduzida por Vasco Graça Moura, de Dante Alighieri extraída da “Divina Comédia”, versando a chegada ao céu da Lua e a teoria das manchas lunares e das influências celestes, e repertório de Giorgio Mainerio, Giulio Caccini, Luca Marenzio, Claudio Merulo, Andrea Gabrieli, Girolamo Frescobaldi, Benedetto Ferrari, Claudio Monteverdi, Emilio de’Cavalieri, Jacopo Peri, Carlo Gesualdo, Gregorio Allegri, Marco da Gagliano, Giovanni Rovetta e Francesco Cavalli, todos contemporâneos de Galileu na Península Itálica dos séculos XVI e XVII.

“Mede o que é mensurável e torna mensurável o que não o é!”

Os 450 anos do nascimento de Galileu Galilei

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Os santos da capela do Museu de Lamego estão a sair dos seus nichos

O Museu de Lamego está a restaurar a Capela de S. João Evangelista, um dos tesouros da arte barroca neste museu que foi construído sobre o antigo paço episcopal da cidade. O trabalho já revelou algumas surpresas, entre as quais desenhos escondidos do edifício original.
Por Sérgio C.Andrade, Público de 10 Fev 2014 | Fotos de Bárbara Raquel Moreira
Santa Clara e S. Miguel, Santa Quitéria e Santo Inácio de Antioquia, Santa Úrsula e S. Lourenço Justiniano, Santa Rosa de Lima e S. Tiago… Não é uma ladainha, nem uma procissão – é o início, apenas, da enumeração das 19 esculturas devocionais que por estes dias podemos admirar, dispostas um pouco ao acaso, sobre uma banca, numa das salas do Museu de Lamego.
A comandar esta espécie de exército da imaginária cristã destaca-se, maior do que os restantes, a escultura de S. João Evangelista. Ele é, afinal, o motivo deste desalojamento temporário das imagens dos seus nichos na capela barroca que lhe é dedicada, e que é uma das três estruturas montadas – e em exposição – no referido museu desde a década de 1930.
Desde Dezembro e, previsivelmente, até à Páscoa, duas salas do edifício estão transformadas num estaleiro para a realização do restauro deste que é um dos tesouros do Museu de Lamego (ver caixa). Há escadas e plataformas, bancas de madeira e barras de metal, berbequins e capacetes, chaves-de-fendas e pincéis, além de um sistema de roldanas e uma máquina parecida com um aspirador, que nos dizem ser “um exaustor de químicos”.
Foi com ela que, depois de retiradas dos nichos, as esculturas foram sujeitas a uma primeira intervenção de limpeza, seguida da fixação e conservação da pintura.

Na exposição que inaugura a 18 de Maio as esculturas retiradas dos nichos poderão ser vistas em todo o seu esplendor, isoladamente
Estas imagens e as pinturas que, no final da semana passada, já tinham sido removidas dos caixotões do tecto, vão ser transportadas para Lisboa para o laboratório da Detalhe, a empresa que ganhou o concurso público para a execução da obra. A parte estrutural da capela será tratada, in-loco, no museu, já que não obriga a tantos cuidados.
“Este trabalho exige técnicos especializados e um cuidado extremo, tanto na desmontagem como no tratamento das peças”, explica Luís Sebastian, director do Museu de Lamego, no decorrer da visita em que guiou e explicou ao PÚBLICO o programa dos trabalhos.
A seu lado, Pedro Martins Santos, que dirige a equipa da Detalhe, diz que esta é uma operação igual a tantas outras que a empresa vem desenvolvendo por todo o país desde que foi fundada em 1998. Mas o trabalho que está agora a fazer em Lamego tem uma particularidade, que é a de poder ser acompanhado pelo público que visita o museu.
“Ainda ontem passou por aqui um grupo escolar, de miúdos pequenos muito curiosos, e que já sabiam o que é uma térmita e o que ela faz à madeira”, conta este técnico de restauro, que vê neste trabalho ao vivo um motivo acrescido de interesse. “Temos que estar preparados para responder.”

A desmontagem de elementos permitiu descobrir pinturas decorativas do antigo paço episcopal
Depois do levantamento das esculturas e da desmontagem do tecto, aquando da visita do PÚBLICO, uma equipa de três técnicos terminava a remoção das paredes da capela. Uma acção que reservaria uma surpresa: por trás da estrutura lateral do retábulo despontaram, naturalmente gastas pelo tempo, pinturas decorativas do antigo paço episcopal, transformado em museu na sequência da implantação da República.
“Quando fazemos este género de intervenções, surgem sempre surpresas, especialmente em edifícios que tiveram várias modelações e várias fases construtivas. Desta vez, foi a descoberta das pinturas”, comentou Luís Sebastian, chamando também a atenção, na parede oposta, para a descoberta de “estruturas em ‘gaiola pombalina’, um sistema de construção inventado e difundido por todo o país após o Terramoto de 1755”. Trata-se de uma quadrícula em madeira, com uma cruz de reforço no meio, preenchida com pedra miúda, tijolo e argamassa, com o objecto de garantir maior consistência e segurança às paredes.
Antigo paço episcopal
O Museu de Lamego foi instalado, no final da primeira década da I República, no antigo Paço Episcopal da cidade. No final dos anos 1920, foi aí depositada grande parte do espólio do antigo Convento das Chagas, desactivado na sequência da lei de extinção das ordens religiosas em 1834, e que entretanto entrou em ruínas (a última freira morreu em 1906).
Entre esse espólio estavam três capelas e um altar-retábulo que foram instalados e musealizados em diferentes salas do edifício, na década de 1930, por decisão da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (a extinta DGEMN). É o caso da Capela de S. João Evangelista e das de S. João Baptista e da Sra. da Penha de França, e ainda do Altar do Desterro. Todos eles foram incrustados e adaptados em salas do edifício existente – no caso da Capela de S. João Baptista, por exemplo, foi mesmo necessário rebaixar o chão para a estrutura caber no espaço.
Luís Sebastian estava convencido de que a instalação do museu tinha feito desaparecer a totalidade do velho paço episcopal, construído no século XVIII – à excepção da capela privada do bispo, com a sua decoração barroca, que se mantém como uma das atracções do museu. Mas a intervenção agora em curso está a mostrar que algumas coisas foram mantidas e aproveitadas, designadamente paredes e decorações.
“Isto é importante para se conhecer a história do edifício, além de que é gratificante podermos recuperar a memória do que foi o paço episcopal”, nota o director do museu. E acrescenta que uma situação como esta levanta sempre questões novas. No imediato, obriga a registar documentalmente, e a estudar e conservar, as pinturas encontradas – o que significa sempre o deslizar dos prazos da intervenção. “Depois, é preciso decidir o que é que vamos privilegiar”, diz Sebastian. Mas acrescenta que, neste caso em particular, “a decisão é pacífica: o retábulo tem que voltar a ser remontado, o que significa voltar a esconder os desenhos”. E ressalva que fica assim “aberta a possibilidade de uma geração futura optar por fazer o contrário”. “Trabalhar mal, seria não deixar esta opção em aberto; a reversibilidade das decisões é essencial neste domínio”, explica ainda o director.

A Capela de São João Baptista é um dos aspectos singulares do Museu de Lamego
Três fases do barroco
As três capelas (e o altar) do Museu de Lamego, para além da beleza e do valor patrimonial de cada um, são expressão da evolução da linguagem do barroco no país. “Esteticamente, temos a sorte de que cada uma das capelas corresponde a um período da produção da talha dourada portuguesa, como a sistematizou o historiador americano Robert Smith.” A afirmação é de Alexandra Braga, historiadora de arte e técnica superior do museu, que nos guiou cronologicamente neste percurso estético. A capela de S. João Baptista documenta um primeiro período do barroco, de estilo maneirista; a de S. João Evangelista é de “uma fase de transição, em estilo híbrido, de passagem do estilo maneirista para o nacional” – nota Alexandra Braga –, sendo a capela de N. Sra. da Penha de França “verdadeiro estilo nacional”, com um barroco “profusamente ornamentado com folhas de videira, parras, cachos, aves”, num regresso aos excessos decorativos do manuelino. O Altar do Desterro já revela características rococó.

Nas capelas do museu pode estudar-se a evolução da talha dourada em Portugal
Para lá da sua relevância estética, o Museu de Lamego é “um caso raro, excepcional mesmo, no país” de uma instituição que instalou integralmente as capelas que recebeu de um anterior convento, diz Anísio Franco, conservador do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).
Se em vários museus do país – como o próprio MNAA – é possível encontrar exemplos de capelas musealizadas, o Museu de Lamego tem a particularidade de ter estes quatro exemplares, que expressam, no seu conjunto, o “conceito de arte total que marcou o barroco”. “Enquanto, por todo o país, muitas dessas capelas foram desmanteladas e vendidas ao desbarato, o que aconteceu em Lamego é exemplar do ponto de vista da salvaguarda do património”, acrescenta Anísio Franco, elogiando também a decisão de se estar agora a restaurar as capelas.
Luís Sebastian diz que o objectivo do museu e da Delegação Regional da Cultura do Norte, que o tutela, é intervir nos outros três retábulos, mas que isso só poderá ser feito quando houver condições financeiras – a actual intervenção está orçada em 25 mil euros, verba que inclui a comparticipação de fundos europeus.
“O ideal seria fazermos um faseamento das intervenções, mas isso seria irrealista no actual estado do país. Temos que ir trabalhando aos poucos, consoante o dinheiro e as oportunidades de financiamento”, acrescenta o director.

Os nichos foram cuidadosamente aspirados
O que está já agendado, e que decorre da intervenção agora em curso na Capela de S. João Evangelista, é aproveitar a circunstância de as imagens terem sido retiradas dos seus nichos para a realização de uma exposição que vai reunir não só estas 19 esculturas em madeira de castanho, mas também todas as que integram os outros retábulos do museu. “Trata-se de retirar as esculturas do seu contexto habitual, em que quase passam despercebidas, e permitir que elas se afirmem na sua individualidade”, diz Sebastian, acrescentando que, ao todo, serão perto de 40 as imagens. A exposição abre no Dia Internacional dos Museus, 18 de Maio, e fecha a 22 de Junho.

Dezoito tesouros nacionais no Museu de Lamego

O Museu de Lamego tem no seu espólio 18 peças que fazem parte da lista dos tesouro nacionais, que agrega o que de melhor as colecções públicas têm para oferecer no que toca ao património móvel. Entre elas há uma arca tumular do século XIV e painéis de azulejos do século XVII, mas os dois conjuntos que merecem uma atenção especial são as pinturas de Grão Vasco e a colecção de tapeçarias flamengas.
De Vasco Fernandes (1475-1542), o nome maior da pintura portuguesa do século XVI, o museu tem cinco obras – Criação dos animais, Anunciação, Visitação, Circuncisão e Apresentação no templo – do políptico de 20 que o bispo de Lamego, D. João de Madureira, encomendou ao pintor viseense para a sé catedral da cidade. As pinturas que restaram da colecção inicial deram entrada no paço episcopal em 1912, tendo depois sido integradas no museu.
Da colecção de tapeçarias flamengas, quatro representam o mito de Édipo e, noutra sala, duas têm por tema O templo de Latona e O julgamento do paraíso. Segundo o Museu de Lamego, estas obras deverão ter sido encomendadas pelo bispo D. Fernando Meneses de Vasconcelos (1513-1540) para a residência episcopal, sendo os cartões que lhes deram origem possivelmente da autoria do pintor flamengo Bernard van Orley e a produção atribuída à oficina de Pieter van Aelst, em Bruxelas.

Pormenor de Visitação, de Grão Vasco
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