Arquivo de Maio, 2005

Prece


A Cruz, de Graça Morais

Senhora do Pranto Vão,
Meu pranto é teu santuário.
De anos fartos já cansei,
De acre vinho embriagado,
De ter só penas e medos
E ansiar, que mais não sei.

Rezar-te de nada vale,
Cheio de dor o coração.
Teu olhar seria espr’ança,
Mesmo um olhar de desdém.
Concede que eu volte a ser,
como teu filho, criança.

O meu sentir-me é só choro.
De meu peito tenho pena.
Teu manto pr’a me agarrar!
Um berço para meus medos!
Que vivas perto de nós,
Tua mão p’ra nos tocar!

Eu não sei como rezar.
Meu peito é pano rasgado.
Cinza ficou meu cabelo.
Ensina-me a te chamar
P’lo teu nome, noite e dia,
Como se tudo, o dizê-lo.

A fé de meus pais se ergue
Em minha voz, triste a hora.
Te rezo rosários de dor
Com meus olhos. Oh, minh’alma
Dota de doces mentiras,
Por teu filho sofredor!

Esqueci o sabor da fé
E procuro a oração.
Meu coração é jardim
Devastado. Oh, como mãe
Pousa a mão em minha fronte.
Que eu morra com ela em mim!

Fernando Pessoa

Central Lisbon after the earthquake


Quadro a óleo, 1760

Largo de Santa Catarina, perto do bairro Alto, uma das sete colinas de Lisboa.
Os feridos aglomeram-se junto à igreja, severamente destruída.

A Sociedade em Rede em Portugal

O CIES – Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do ISCTE, realizou um estudo sobre Sociedade em Rede em Portugal, publicado agora em livro pela Campo das Letras.
Ainda não o li, mas as conclusões dos investigadores parecem animadoras.

Estamos a caminho da modernidade, com cerca de 30% de internautas.
Este universo é maioritariamente constituido pelos jovens e pelos adultos com qualificação média e superior.
geração dos quarentas ( a minha) parece possuir uma maior apetência, bem como capacidades mais desenvolvidas neste domínio, acrescidas pela utilização profissional da internet. Daí os períodos de acesso ocorrerem com maior incidência no ambiente laboral.

Deste Estudo ressalta – contra alguns indicadores que apontam como deslocadas as pessoas que navegam muitas horas por dia, a maior sociabilidade dos internautas.
Representa assim uma nova e adicional forma de comunicação e, obviamente, de aquisição e partilha do conhecimento.
lgo que há largos anos venho defendendo, como o fim do mito das desigualdades sociais decorrentes do nível de riqueza das famílias, é aqui claramente demonstrado, ou seja, a educação e a cultura estão à distância de um teclado e um rato.
O filho do electricista tem as mesmas ferramentas que o filho do médico, no que ao acesso ao conhecimento diz respeito.

Significativo é também o aspecto de Sociedade em Rede ser constituída – de certa forma, por pessoas com uma cada vez maior vontade de intervenção nos vários domínios da sociedade – política, cultural e social ( os sociólogos devem delirar com isto!).

Seguem-se alguns textos constantes do Relatório Preliminar que deu origem a este interessante estudo, para uma melhor compreensão da importância da internet na nossa sociedade.

Be my guest…

Perfil social dos cibernautas portugueses

Práticas e motivações de uso da internet

Actividades quotidianas e usos do tempo dos utilizadores da internet

Equipamentos tecnológicos disponíveis entre os utilizadores da internet

Relações sociais e sociabilidades

Participação associativa e intervenção cívica

Construção da identidade e desenvolvimento pessoal

Projecto de autonomia

Práticas comunicativas e media

Adenda: penso que os problemas técnicos com o acesso aos pdfs estão resolvidos.

Ar de Rock e o Direito à Diferença

Entre 79 e 82, as noites de sexta-feira eram passadas no Souk, no Bairro Alto.
O disc-jockey era o Vitor, irmão mais velho do Agostinho – O Bocas, que era da minha idade.
Mais tarde, o Vitor mudou-se para o Jamaica no Cais-do-Sodré e o Agostinho ficou com a enorme responsabilidade de substituir o irmão. Foi um desastre.

Mas o que verdadeiramente interessava era a música.


Posted by Hello

Ouvia-se então Pop/Rock e Punk ( Disco-Sound sucks!):
Nina Hagen (ganda maluca) – African Reggae, Cheap TrickI want you to want me, Fischer ZSo long, Madness (Hey You) One Step Beyond, Ramones Rockaway Beach, Kraftwerk The Model, Altered ImagesI Could Be Happy, Duran Duran(!)Planeth Earth, Motors Forget About You, Ultravox Vienna, Generation XDancing With Myself ( grande malha!), Martha & The MuffinsEcho Beach, New MusicThis World of Water.

Esta lista faz parte da antologia em duplo cd com que o Luis Filipe Berros fez o favor de imortalizar o Rock em Stock, programa radiofónico da Rádio Comercial.
Lembram-se do genérico inicial dos Stix – I`m Ok?!

O intemporal Som da Frente do António Sérgio é uma história diferente.
Dedicado à música alternativa, tem sido ao longo das últimas duas décadas o palco vanguardista de sub-culturas musicais, um laboratório de sons!

Da compilação referente ao período 82-86, destaco:
No disco 1, o grande, enorme Som da Frente dos XUTOS, Atmosphere dos Joy Division, Israel dos Siouxsie And The Banshees, December dos Waterboys, I Will Be a Good Boy dos Gang Of Four, Head Hang Low de Julian Cope, Tiny Children dos Teardrop Explodes.
No disco 2, Wild Wild Life dos Talking Heads, Damaged Goods dos Gang Of Four, o maravilhoso Sketch For Dawn 1 dos Durutti Column, Miss The Girl dos The Creatures e Body And Soul dos The Sisters Of Mercy.

"Deus escreve direito"

para ti.. filhinha!

Deus escreve direito por linhas tortas
E a vida não vive em linha recta
Em cada célula do homem estão inscritas
A cor dos olhos e a argúcia do olhar
O desenho dos ossos e o contorno da boca
Por isso te olhas ao espelho:
E no espelho te buscas para te reconhecer
Porém em cada célula desde o inicio
Foi inscrito signo veemente da tua liberdade
Pois foste criado e tens de ser real
Por isso não percas nunca o teu fervor mais austero
Tua exigência de ti e por entre
Espelhos deformantes e desastres e desvios
Nem um momento só podes perder
A linha musical do encantamento
Que é o teu sol tua luz teu alimento

Sophia de Mello Breyner

Galeria S3G

Em actualização.
Espero dentro de três semanas renovar o merchandising..


Posted by Hello

Hoje vamos celebrar!

aqui – como convém aos mortais –
tudo é divino
e a pintura embriaga mais
que o próprio vinho

Sophia de Mello Breyner

Um grande vinho..

..Para um Grande Final!

Madrid – As execuções de 3 de Maio de 1808

The 3rd of May 1808 in Madrid, or “The Executions”
target=”_blank”Francisco Goya, 1814
Museu do Prado

No início do século XIX, a expulsão dos invasores franceses inspirou Goya para executar esta obra.
Então perseguido por suspeição de simpatia para com o invasor, pretendeu assim afirmar a sua adesão ao povo espanhol.
O protagonista é o povo anónimo, herói colectivo, numa demonstração romântica de ver a guerra.
A resistência dos madrilenos e suas consequências – os fuzilamentos pelos ferozes guardas egípcios que integravam o exército francês, é expressa pela forma como os que vão ser executados olham de frente a morte, uns aterrorizados e abrindo o peito às balas, outros ocultando o rosto, compondo uma galeria de horror.
Aos seus pés jazem corpos; Ao lado, outros esperam pela sua hora.
Os soldados perfilados – personagens secundarizadas pelo patriotismo, estão de costas, pois são meros executantes de ordens superiores.
A atmosfera tétrica é acentuada pela luz que invade o peito dos que vão morrer..

Pole Position.. NOW!


Posted by Hello Clique na imagem para ampliar

Esqueçam o Tiago Monteiro!
Jovem e promissor piloto procura Patrocinador para o SnowmobileWorld Annual Ride em Ontario, Canadá.
Informações para o endereço electrónico do Luminescências.

Promising portuguese rider looking forward Sponsor for SnowmobileWorld Annual Ride in Ontario, Canada.
Reply for Luminescência`s e-mail, thanks.

O Futuro não tem Império

Como encontrámos no mar
uma embarcação pequena
de pescadores, em que iam oito
portugueses(…)
e do mais que António de Faria
fez depois que houve esta vitória
e da liberalidade que aqui usou
com os portugueses de liampó

in Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto

Após as últimas eleições, este executivo tem condições únicas de governabilidade.
Porém, só o conseguirá de uma forma: se for competente.
É tremenda a expectativa de saber haverá capacidade de mobilizar os agentes económicos e a sociedade em geral, para enfrentar os desafios que se nos colocam.
Temos as mesmas condições dos nossos vizinhos espanhóis, ou mesmo dos irlandeses, não haja equívocos nessa matéria.
Temos vantagens competitivas, somos tão competentes como os nossos parceiros europeus, temos empresários com capacidade de investimento e ambição para o fazer.
Receio porém que o nosso governo não esteja à altura deste empreendimento.
Os nosso políticos são estruturalmente mauzinhos.

Temos sido (mal) governados por gente incapaz, que navega à vista. Precisamos de timoneiros que não se preocupem excessivamente em apetrechar a nau com lugares-tenente que mais não fazem do que estudar os mapas, sem saber qual o rumo a seguir.
E que não encham o porão com mantimentos para a engorda da tripulação, perdendo a noção básica e racional que é também a de levar espécies para as indispensáveis trocas comerciais.
Levar só o nome e a bandeira não chega.
É essencial, em lugar de conduzir uma Armada mal preparada, obsoleta nos processos de navegação para enfrentar os mais fortes, incentivar a construção de pequenos navios, mais fáceis de manobrar, com capacidade de navegar em rios onde as grandes embarcações não chegam.