Arquivo de 8 de Fevereiro, 2005

As tuas mãos

Foto de Paul Grant Cutright

Quando as tuas mãos, amor,

procuram as minhas,

que me trazem em seu vôo?

Por que se detiveram

na minha boca, de súbito,

por que é que as reconheço

como se já antes

as tivesse tocado,

como se antes de existir

tivessem percorrido

a minha fronte, a cintura?

A sua suavidade

voava sobre o tempo,

sobre o mar, sobre o fumo,

sobre a primavera,

e quando puseste

as mãos no meu peito,

reconheci essas asas

de pomba dourada,

reconheci essa greda

e essa cor de trigo.

Passei os anos

da minha vida a procurá-las.

Subi as escadas,

atravessei os recifes,

levaram-me os comboios,

as águas me trouxeram,

e na pele das uvas

imaginei tocar-te.

De repente a madeira

trouxe-me o teu contacto,

as amêndoas anunciavam-me

tua secreta doçura,

até que as tuas mãos

em meu peito se fecharam

e ali como duas asas

terminaram a viagem.

in Os Versos do Capitão, de Pablo Neruda

Tradução de Albano Martins