a minha relação com a água
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Alberto Caeiro
Cresci a olhar para o Tejo.
Brincava com ele.. divertia-me a atravessar o rio nos cacilheiros, para lá.. para cá..
Ia atrás do senhor Augusto, que vendia gelados num triciclo.. e pacientemente esperava que o dia lhe corresse bem para que viesse a recompensa.. o que eu gostava da baunilha!
Mas também tenho saudades do Côa, da ribeira seca no verão, onde os animais procuravam pequenos charcos para matar a sede..
Tomávamos banho com água pela cintura, no local onde há pouco tempo submergiram as famosas garrafas de vinho, cuja produção foi vendida para o estrangeiro.. enfim!
A infernal subida, debaixo de um sol abrasador até ao alto da ladeira, à entrada de Foz-Côa – lembro-me, fazia-nos descer novamente numa correria suicida a ver quem chegava primeiro à água..
Tinha a idade certa para essas brincadeiras.. mas hoje repeti-las-ia com prazer!
No trackbacks yet.