Arquivo de 8 de Janeiro, 2005

Misteriosos são os caminhos da solidariedade!

A tragédia que ensombrou o Natal, ceifando milhares e milhares de vidas, está a provocar uma onda de solidariedade de tal dimensão no mundo, que é praticamente impossível encontrar paralelo noutra catástrofe natural, algo que se possa sequer comparar!

Quando penso ter uma visão próxima do poder devastador de que o mar é capaz, a brutalidade de cada imagem, de cada vídeo que vai surgindo.. é mais um murro no estômago!

A natureza pode de facto mudar o curso da história dos homens.

Mas os homens também podem mudar o curso da história!

As prometidas ajudas atingem valores inimagináveis!

E porquê?

Porque as imagens entram com tal violência pelos nossos olhos dentro, tão repetidamente, que quase conseguimos sentir o odôr a morte, o gemido sofrido dos que tudo perderam, para além das vidas dos seus..

Ninguém consegue ficar indiferente a isto, afirmamos..

Pois não!

Mas as imagens que não chegam até nós – e não consigo entender porquê!, das piores atrocidades que o homem é capaz de cometer contra o seu semelhante, espalhando o terror e morte numa espiral de violência tão brutal quanto desumana, dizimando aldeias inteiras – mulheres, velhos e crianças, gente que não sabe sequer quão ténue é a linha que os distingue dos outros seres humanos, pois nem chega a saber o que é ter esperança no futuro..

Não conseguem criar a mesma onda de solidariedade!

E falo de um assunto que parece gasto, o que se continua a passar no Sudão com os refugiados de Darfur, com as centenas de milhar de deslocados que neste momento estão na fronteira da vida!

Os refugiados sudaneses sofrem todos de sub-nutrição. Os mais fracos, em particular os doentes, as crianças e os velhos, percorrem o deserto até ao Chade.. os que conseguem!

Porque estes infelizes, de quem não temos uma imagem, um esgar de agonia, um corpo despedaçado, não conseguem chegar ao coração e à compaixão de todos os que valorizamos e prezamos a vida, em qualquer das suas formas..

corpo por enterrar.. em Jijira Adi Abbe, Darfur-Sudão

Porque as imagens não chegam até nós!

Os mais desprotegidos ficam no deserto.. e servem de alimento a outros!