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do poeta liberal social avançado..

Scène aux quatre personnages, de pablo Picasso

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar…),

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa,
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
Às normas reais ou sentimentais da vida –
Não ser juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas,
E se revoltam contra a vida social porque têm razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-me com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se há uma razão razão exterior para ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter de pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo mais é estúpido como um Dostoievski ou um Gorki.
Tudo mais é ter fome ou não ter que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco, àquele
Pobre que não era pobre, que tinha olhos tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!

Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido.

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Álvaro de Campos

breve pensamento cosmológico..

Os caminhos que cultivamos ao correr da vida fazem parte da natureza humana..
Em grande medida, é ao longo deste percurso que encontramos a nossa real natureza, os nossos princípios, o nosso equilíbrio.
Que aconteceria se os caminhos fossem diferentes? Não importa..
Não creio em caminhos pré-determinados, mas sim em cada um de nós como ponto de partida.. e de intersecção!

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer…
Não sabia por caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
assim quero que possa ser sempre —
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos

Dedicado às gentes do Território de Olivença

Barraw-on-Furness

I

Sou vil, sou reles, como tôda a gente,

Não tenho ideais, mas não os tem ninguém.

Quem diz que os tem é como eu, mas mente.

Quem diz que busca é porque não os tem.

É com a imaginação que eu amo o bem.

Meu baixo ser porém não mo consente.

Passo, fantasma do meu ser presente,

Ébrio, por intervalos, de um Além.

Como todos não creio no que creio.

Talvez possa morrer por êsse ideal.

Mas, enquanto não morro, falo e leio.

Justificar-me? Sou quem todos são…

Modificar-me? Para meu igual?…

– Acaba lá com isso, ó coração!

II

Deuses, fôrças, almas de ciência ou fé,

Eh! Tanta explicação que nada explica!

Estou sentado no cais, numa barrica,

E não compreendo mais do que de pé.

Por que o havia de compreender?

Pois sim, mas também por que o não havia?

Água do rio, correndo suja e fria,

Eu passo como tu, sem mais valer…

Ó universo, novêlo emaranhado,

Que paciência de dedos de quem pensa

Em outra cousa te põe separado?

Deixa de ser novêlo o que nos fica…

A que brincar? Ao amor? à indiferença?

Por mim, só me levanto da barrica.

III

Corre, raio de rio, e leva ao mar

A minha indiferença subjetiva!

Qual “leva ao mar”! Tua presença esquiva

Que tem comigo e com o meu pensar?

Lesma de sorte! Vivo a cavalgar

A sombra de um jumento. A vida viva

Vive a dar nomes ao que não se ativa,

Morre a pôr etiquêtas ao grande ar…

Escancarado Furness, mais três dias

Te aturarei, pobre engenheiro prêso

A sucessibilíssimas vistorias…

Depois, ir-me-ei embora, eu e o desprêxo

(E tu irás do mesmo modo que ias),

Qualquer, na gare de cigarro aceso…

IV

Conclusão a sucata!… Fiz o cálculo,

Saiu-me certo, fui elogiado…

Meu coração é um enorme estrado

Onde se expõe um pequeno animálculo…

A microscópio de desilusões

Findei, prolixo nas minúcias fúteis…

Minhas conclusões práticas, inúteis…

Minhas conclusões teóricas, confusões…

Que teorias há para quem sente

O cérebro quebrar-se, como um dente

Dum pente de mendigo que emigrou?

Fecho o caderno dos apontamentos

E faço riscos e cinzentos

Nas costas do envelope do que sou…

V

Há quanto tempo, Portugal, há quanto

Vivemos separados! Ah, mas a alma,

Esta alma incerta, nunca forte ou calma,

Não se distrai de ti, nem bem nem tanto.

Sonho, histérico oculto, um vão recanto…

O rio Furness, que é o que aqui banha,

Só irônicamente me acompanha,

Que estou parado e êle correndo tanto…

Tanto? Sim, tanto relativamente…

Arre, acabemos com as distinções,

As subtilezas, o interstício, o entre,

A metafísica das sensações –

Acabemos com isto e tudo mais…

Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais!



Poema de Álvaro de Campos

Gravuras de Bravo da Mata (1987, 1988 e 1994)

ARRE, que tanto é muito pouco!

ARRE, que tanto é muito pouco!

Arre, que tanta besta é muito pouca gente!

Arre, que o Portugal que se vê é só isto!

Deixem ver o Portugal que não deixam ver!

Deixem que se veja, que esse é que é Portugal!

Ponto.

Agora começa o Manifesto:

Arre!

Arre!

Oiçam bem:

ARRRRRE!

Álvaro de Campos – Poesias

Cerca de cem anos depois deste poema ter sido escrito, é esta uma questão de fundo?

A busca do conhecimento é ou não a mais nobre e significativa de todas as atividades humanas?

Quem é responsável pelo nosso futuro colectivo? Cada um de nós, por si e pelos outros!

Por agora, o futuro vai passando por Bruxelas.

Assim, há sempre alguém a quem responsabilizar.

«Mensagem» de Fernando Pessoa

3ª Parte – O Encoberto
III – Os Tempos

Primeiro – Noite
A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.
*
Como e um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando, o vêem, vêem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.
*
Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
O Poder e o Renome –
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que partamos.

Segundo – Tormenta
Que jaz no abismo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.
Isto, e o mistério de que a noite é o fausto…
Mas súbito, onde o vento ruge,
O relâmpago, farol de Deus, um hausto
Brilha, e o mar ‘scuro ‘struge.

Terceiro – Calma
Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?
Haverá rasgões no espaço
Que dêem para outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?

Quarto – Antemanhã
O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse: «Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Numa o Terceiro quer desvendar?»
E o som na treva de ele rodar
Faz mau o sono, triste o sonhar,
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar.
Que veio aqui seu senhor chamar –
Chamar aquele que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.

Quinto – Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Numa o que é mal numa o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a hora!
Vale, Fratres.

«Mensagem» de Fernando Pessoa

3ª Parte – O Encoberto
II – Os Avisos

Primeiro – O Bandarra
Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.
Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português mas Portugal.

Segundo – António Vieira
O céu ‘strela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e à glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei DE. Sebastião.
Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.

Terceiro
Screvo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?

«Mensagem» de Fernando Pessoa

3ª Parte – O Encoberto
I – Os Símbolos

PRIMEIRO – D. SEBASTIÃO
Sperai! Cai no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.
Que importa o areal e a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.

SEGUNDO – O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz –
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados as quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu DE. Sebastião?

TERCEIRO – O DESEJADO
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-se sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!
Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.
Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Gral!

QUARTO – AS ILHAS AFORTUNADAS
Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.

QUINTO – O ENCOBERTO
Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.
Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
NA Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.

Cada dia sem gozo não foi teu

Foi só durares nele. Quanto vivas

Sem que o gozes, não vives.

Não pesa que amas, bebas ou sorrias:

Basta o reflexo do sol ido na água

De um charco, se te é grato.

Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas

Seu prazer posto, nenhum dia nega

A natural ventura!

Ricardo Reis

Cada dia sem gozo não foi teu

Foi só durares nele. Quanto vivas

Sem que o gozes, não vives.

Não pesa que amas, bebas ou sorrias:

Basta o reflexo do sol ido na água

De um charco, se te é grato.

Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas

Seu prazer posto, nenhum dia nega

A natural ventura!

Ricardo Reis

«Mensagem» de Fernando Pessoa

2º Parte – Mar Português
POSSESSIO MARIS

IX – ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA
Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Suspendem de repente o ódio da sua guerra
E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,
Primeiro um movimento e depois um assombro.
Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,
E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões.
Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta
Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,
O céu abrir o abismo à alma do Argonauta.

X – MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

XI – A ÚLTIMA NAU
Levando a bordo El-Rei DE. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.
Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou ‘spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.

XII – PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia –,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância –
Do mar ou outra, mas que seja nossa!